• Nenhum resultado encontrado

A eleição do presidente da mesa da Câmara dos Deputados e a constituição do «Bloco Parlamentar das Direitas Republicanas» em

Capítulo I Partidos e Sistemas Partidários na Europa do pós guerra

1. A formação de um partido republicano conservador alternativo ao PRP Um longo caminho de dificuldades

1.4. A eleição do presidente da mesa da Câmara dos Deputados e a constituição do «Bloco Parlamentar das Direitas Republicanas» em

Dezembro de 1922

As negociações entre o PRL e o PRRN intensificaram-se no final de Novembro e início de Dezembro de 1922, tendo as primeiras informações apontado para um primeiro entendimento no dia 2 de Dezembro na Câmara dos Deputados, aquando da eleição do novo presidente da mesa, e posteriormente, um acordo mais amplo para uma acção comum no Congresso262. Este entendimento no Congresso levou à formação de um bloco parlamentar sob a liderança de Álvaro de Castro e posteriormente à formação de uma comissão organizadora do futuro partido, de que faziam parte os membros dos directórios dos dois partidos263.

261

Ibidem.

262 No Parlamento durante o processo de eleição das comissões e das secções as minorias solicitaram que

estas fossem eleitas tendo em atenção a representação proporcional ou pelo menos que todas as correntes de opinião fossem representadas. O PRP contestou, defendendo o sistema de Lista Incompleta e o senador Ribeiro de Melo chamou à atenção para o perigo de se estar avançar para a representação proporcional ou a representação de todas as forças políticas quando se falava “nos jornais que o Partido Liberal se vai agrupar com o Partido Reconstituinte, como considera S. Ex.ª aqueles dois partidos reunidos?”. Diário do

Senado, 5-12-1922, p. 5.

263

Circular do Directório PRRN assinada pelo líder, Álvaro de Castro: “[...] Foi, entretanto, levado à presidência da Câmara dos Deputados um correligionário nosso, por votação cerrada da minoria Liberal; e com este facto se pretendeu uma maior aproximação entre as forças republicanas da oposição que, divididas, se conservariam estacionárias e todavia precisavam entender-se e organizar-se para a hipótese, presumivelmente próxima de abandonar o poder o actual Governo. Em nova reunião conjunta dos parlamentares e comissões políticas do P.R.R.N., o Directório, constatando que se tinham convertido à ideia de uma nova organização partidária os mais declarados adversários dela, e no justo receio de se ver abandonado de quase todos os seus melhores, mais devotados e valiosos correligionários da capital e da província, anuiu em combinar com os parlamentares do P.L. uma acção comum no Congresso, onde funcionaria como líder da direita republicana o Dr. Álvaro de Castro, presidente da comissão executiva do nosso Directório, cujos restantes membros formariam com delegados do Directório Liberal a Comissão Organizadora do grande partido a formar em substituição das fragmentárias forças distribuídas pelos dois aludidos partidos, às quais viriam oportunamente juntar-se os elementos republicanos dispersos, que actuando isoladamente, se afiguravam insusceptíveis de dar à República a coesão e a estabilidade indispensáveis ao seu progresso normal. Na mencionada reunião conjunta votou a assembleia uma moção de confiança ao Directório para prosseguir nos trabalhos encetados; mas não deseja o Directório fazê-lo sem dos seus correligionários e organismos locais colher a certeza de que entre todos e a este respeito possivelmente perfeita a uniformidade de vistas, atenta a desconfiança com que está sendo recebida pelo PRP e pelos e seus e nossos adversários a nossa formação partidária, que sem o propósito de hostilizar ou combater aquele partido, precisa, por bem da República, interpor-se entre ele e os monárquicos, assegurando à defesa de regime o equilíbrio político, em permanente risco enquanto o poder continua

A eleição para a presidência da mesa da Câmara dos Deputados realizada no dia 2 de Dezembro de 1922 iria ter uma repercussão desproporcional na política partidária portuguesa, face à sua real importância. Nesse dia, e como era usual faltaram à sessão vários deputados da oposição e do PRP. A oposição liderada pelo PRL e pelo PRRN sentiu que poderia ter ai a oportunidade de obter uma vitória eleitoral que há muito lhe escapava. Após a formação das listas e da votação verificou-se um empate com 44 votos entre os candidatos Ernesto Sá Cardoso (PRRN) e João Luís Ricardo (PRP). Em virtude das disposições regimentais foi Sá Cardoso, mais velho, que acabou por presidir nessa ano à Câmara dos Deputados. Como vice-presidente foi eleito Afonso de Melo (PRL), outro elemento do Bloco anti-PRP264.

Esta vitória dos representantes do partido reconstituinte e liberal incentivou uma maior aproximação destes agrupamentos no sentido de formarem um partido conservador, forte e coeso, capaz de fazer frente no Congresso e no país ao partido democrático265. Cunha Leal, n’O Século, referiu-se a este acontecimento como o “início da aglutinação dos elementos conservadores da República” e um meio de “aclaramento dos blocos partidários”266

. Alguns meses mais tarde António Ginestal Machado confirmou a importância capital deste acontecimento para a união do partido liberal e reconstituinte267. O novo partido poderia clarificar melhor a situação político-partidária portuguesa, uma vez que, como reconhecia António Ginestal Machado, era necessário “a existência dum partido das direitas, mas também duma força radical. Para o bom equilíbrio é tão preciso um como o outro. [...] O que não faz sentido é que um partido radical, como se diz ser o democrático, tenha de fazer obra conservadora, imposta pelas circunstâncias do momento contra a vontade duma parte dos seus correligionários, aqueles que encarnam a verdadeira corrente radical”268

. O novo partido permitiria encontrar soluções governativas estáveis num período de instabilidade e de fragmentação partidária. Este partido representava as correntes ordeiras e conservadoras do republicanismo, situando-se à direita do radicalismo republicano e à esquerda das correntes reaccionárias de cariz monárquico ou proto-fascista. Propunha soluções governativas de compromisso com a Nação, não excluindo nenhum português através da moderação e da tolerância, pelo que poderia finalmente reunir atrás de si a população rural e conservadora do país, fazendo frente à tradicional hegemonia do PRP269.

A eleição de Sá Cardoso para a presidência da mesa da Câmara dos Deputados teve ainda outra importante consequência. O segundo governo de António Maria da Silva, formado a 30 de Novembro acabou por não se apresentar ao Parlamento, tendo o PRP reunido as suas estruturas centrais para analisar a nova situação política. A união de toda a oposição colocava em risco o novo governo do PRP, dado que este não tinha a maioria absoluta no Parlamento270. Era necessário então, usar a táctica habitual do PRP,

monopolizando pelo mesmo partido, cuja hegemonia, constantemente disputada pelos inimigos das instituições cada vez mais sofrerá e com ela os interesses e a própria vida da República. Pelo Directório. (a) Álvaro de Castro”, A Norma, 25-1-1923, p. 2.

264 Cf., Diário da Câmara dos Deputados, Sessão Preparatória, 2-12-1922.

265 Cf., Circular do Directório PRRN assinada pelo líder, Álvaro de Castro, A Norma, 25-1-1923, p. 2; “O

Partido Conservador”, Correio da Extremadura, 23-12-1922, p. 1.

266 “Palavras serenas”, O Século, 5 de Dezembro de 1922 267 António Ginestal Machado, República, 18-03-1923, p. 1. 268 António Ginestal Machado, O Regionalista, 17-12-1922, p. 2.

269 Cf., Luís Farinha, Francisco Pinto Cunha Leal, intelectual e político... op. cit., pp. 265-266; António

José Telo, Decadência e queda da I República Portuguesa, vol. I, Lisboa, A Regra do Jogo, 1980, pp. 249-250.

270 Constitui-se um segundo Governo partidário liderado por António Maria da Silva em 30 de Novembro

de 1922 “que não pode fazer a sua apresentação ao Congresso da República em virtude do incidente político determinado pela constituição da mesa da Câmara dos Deputados. Apesar das instâncias do

apelando para o perigo que estava a correr a República e chamar para o governo algumas personalidades republicanas, em troca do apoio parlamentar de algum agrupamento político. Desta vez os escolhidos foram os independentes, dada a posição de força, então tomada pelo PRL e PRRN. O segundo executivo de António Maria da Silva pediu a demissão ao Presidente da República no dia 7 de Dezembro de 1922, mas foi encarregue de voltar a formar governo, desta vez já com a inclusão de três ministros independentes271: Abranches Ferrão na Justiça, Fernando Freiria na Guerra e Fernando Brederodeno comércio. João Crisóstomo, líder dos independentes, referiu que António Maria da Silva “procurou no seio dos parlamentares independentes uma efectiva colaboração”. Os independentes reuniram-se, tendo decidido “facilitar uma solução ministerial que correspondesse aos altos interesses da Pátria”. Dai por diante os independentes dariam uma “colaboração efectiva” ao governo e fariam uma “fiscalização benévola” no Parlamento272

, situação que incomodava alguns democráticos273.

Os directórios do PRL e PRRN estabeleceram negociações durante o início de Dezembro de 1922 para se fundirem e criarem um grande partido da direita portuguesa e obtiveram aprovação das suas juntas consultivas para concluírem as negociações274.

Directório para os nossos parlamentares fossem assíduos às sessões das Câmaras, quando se tem de proceder à eleição do Presidente da Câmara dos Deputados fomos surpreendidos por uma combinação de todas as aposições, que, num golpe político, conseguiram conquistar aquela posição parlamentar. Em face da situação criada e por se tratar de um governo exclusivamente partidário, pediu a demissão este segundo ministério do nosso partido com a presidência do sr. António Maria da Silva [7-12-1922]. A conjugação de todas as forças oposicionistas punha em grave risco a vida do Governo, tanto mais que nem o PRP tem a maioria absoluta na Câmara dos deputados, nem podia desde então contar com a dispersão das forças oposicionistas, que assim se mostravam unidas e aguerridas. Estas considerações levaram o Directório, de acordo com as juntas e grupo parlamentares, a aconselhar a constituição de um outro governo presidido por aquele nosso ilustre correligionário, mais fortalecido pela representação de individualidades do grupo dos parlamentares independentes, cuja acção se achava integrada nalguns pontos de vista com a obra administrativa realizada pelo governo do nosso partido. Uma nova dificuldade, porém, surgiu a breve tempo [demissão do ministro da instrução].” O Directório, “Relatório político e administrativo do Directório do Partido Republicano Português”, O Rebate, 21-4-1923, p. 3.

271 O deputado independente, Leote do Rego, explicou na Câmara dos Deputados, alguns meses depois,

como se processou a entrada dos deputados independentes no governo de António Maria da Silva e como se formou o grupo parlamentar dos independentes: “Por ocasião da última crise o Sr. Presidente da República manifestou o desejo de consultar os Deputados independentes. Pela primeira vez reuniram. E porque todos se encontraram de acordo quanto à resposta a dar a essa consulta, ela foi uma só. Foram de parecer que o Sr. António Maria da Silva devia continuar no Governo, desde quo S. Exa. continuasse a empregar os seus esforços para se manter a política de acalmação e concórdia em que foi possível trabalhar-se tão eficazmente na sessão do ano passado e que permitiu a votação dos orçamentos. Nós fomos, mais longe: propusemos que se aproveitasse o ensejo para que algumas pastas fossem ocupadas por Deputados deste, lado da Câmara. Imediatamente foi aceite; e foram escolhidos para as pastas da Guerra, Trabalho e Justiça três Deputados deste lado da Câmara. Mas esses Deputados, depois de haverem aceite as pastas, não nos impuseram obrigação de dar apoio incondicional ao Governo, nem nós aceitaríamos tal imposição” (Diário da Câmara dos Deputados, 15-6-1923, p. 7).

272 Diário do Senado, 6-3-1923, p. 20. O discurso foi proferido no dia 12 de Dezembro de 1922 pelo líder

dos independentes, Joaquim Crisóstomo, na Câmara dos Deputados após a formação do 3.º Governo de António Maria da Silva com a inclusão de independentes.

273 Veja-se a posição assumida por José Augusto Ribeiro de Melo, senador do PRP no Senado, que

criticou a formação do 3.º governo de António Maria da Silva com a inclusão de alguns independentes (Diário do Senado, 12-12-1922, pp. 23-28).

274 A Junta Consultiva do PRL reuniu na noite de 12 de Dezembro de 1922 no Centro do Largo do

Calhariz em Lisboa, tendo aprovado a seguinte moção: “A Junta Consultiva do PRL ouvidas as explicações do Directório e considerando que realmente a aproximação dos partidos republicanos da direita com o intuito de se formar uma grande força partidária, representa um facto de alto alcance político e cujas consequências só podem trazer vantagens para a normalização da vida da República, felicita o Directório pelo seu procedimento, e, reiterando-lhe toda a confiança, espera que ele saberá

Coube ao senador Afonso de Lemos fazer a apresentação do Bloco Parlamentar

das Direitas Republicanas formado pelo PRRN e pelo PRL no Senado no dia 12 de

Dezembro de 1922, há semelhança do que tinha feito o deputado Álvaro de Castro na Câmara dos Deputados. O líder do Bloco no Senado referiu que o seu propósito não era “guerrear o partido Republicano Português, mas sim o propósito de colaborar, não só com este Governo, mas com todos os partidos da República, para a estabilização do regime republicano, para a verdadeira concórdia entre todos os republicanos e para que definitivamente a República possa impor-se ao país, não pelo terror, nem por violências, como até hoje, infelizmente tem sucedido, mas pelo respeito duma instituição dignamente dirigida e que se faça amar”275

. No entanto, o objectivo deste bloco conservador era criar condições para se tornar num partido forte e coeso, capaz de substituir periodicamente o radicalismo republicano à frente do país, como notou Augusto de Vasconcelos276. Artur Brandão esclareceu que o objectivo imediato da fusão era conseguir formar “um governo nacional, que seja organizado no meio político e não nos extremos...”277.

O Bloco Parlamentar levou algum tempo a organizar-se e a transformar-se num novo partido278. Durante o mês de Dezembro e Janeiro realizaram-se inúmeras reuniões dos dois partidos em diversas localidades. Algumas destas reuniões realizaram-se já em sessões conjuntas, como a que ocorreu no dia 4 de Janeiro de 1923, na qual se reuniram as comissões de freguesia de Lisboa do PRL e do PRRN279.

Não obstante, algumas facções dos dois partidos eram contra a fusão ou levantavam sérias dúvidas sobre a exequibilidade da junção de partidos conservadores, que tão maus resultados tinham tido no passado recente280. Inicialmente as comissões

rapidamente a bom termo as negociações iniciadas, para o que lhe confere plenos poderes” [O

Figueirense, 14-12-1922, p. 1]. Os parlamentares e as comissões políticas centrais dos reconstituintes

também se reuniram em meados de Dezembro para apreciar a constituição do Bloco Parlamentar e a eventual fusão de reconstituintes e liberais. Sá Cardoso e Carlos Vasconcelos defenderam que o novo partido deveria nascer “não para guerrear o partido democrático, mas para servir o país e garantir a vida da República”. No final foi aprovada por aclamação uma moção apresentada por Pedro Pitta: “A assembleia ouvidas as explicações do directório, reconhece que este procedeu inspirado nos altos interesses da Pátria e da República, reitera-lhe o seu caloroso apoio, confia na sua acção e passa à ordem da noite” [Distrito da Guarda, 19-12-1922, p. 1].

275 Afonso de Lemos, Diário do Senado, 12-12-1922, p. 12.

276 “Todas as nossas dificuldades políticas, paixões exaltadas, agitações inoportunas e revoluções

desastrosas provinham da falta de partidos solidamente organizados. Havia apenas um, o Partido Republicano Português e com um partido só não pode viver regime algum, mesmo que isso pese aos facciosos e jacobinos. Por um erro de visão política esse partido que tem sem dúvida prestado grandes serviços à República opôs-se sempre à organização e desenvolvimento dos outros partidos republicanos em formação que arrastaram sempre todos eles uma vida precária e incerta. Com a organização do Partido Liberal a situação melhorou consideravelmente: Já se pode constituir um Governo e um Parlamento fora das fileiras do partido Democrático, mas a organização ainda não era ainda bastante sólida para resistir aos embates dos jacobinos e dos exaltados e às suas empresas revolucionárias”. Augusto de Vasconcelos,

O Século, 23-2-1923, p. 1.

277 Artur Brandão, Diário de Lisboa, 10-1-1923, p. 4. 278 Cf., Diário de Lisboa, 25-1-1923, p. 8.

279

Cf., Diário de Lisboa, 5-1-1923, p. 8.

280 “A organização do novo partido, é um facto importantíssimo para a vida do regime e poderia ser a base

do nosso ressurgimento político [...]. E dizemos poderia, porque realmente, o facto político agora, efectivado, nada mais é do que a repetição daquele que praticaram os partidos evolucionista, unionista e centrista, sem que, contudo, resultados práticos dele surgissem. É que a constituição dos partidos deverá sempre ser precedida dum exame de consciência dos seus organizadores, duma análise fria e desapaixonada das circunstâncias em que os partidos se constituem e dos objectivos a realizar. Desde que não seja assim, quaisquer tentativas, por mais hábeis, inteligentes ou bem intencionadas que sejam, estão condenadas a um fracasso retumbante e irremediável”. Costa Santos, “O novo partido das direitas”,

políticas de Lisboa do Partido Reconstituinte não queriam a junção com o PRL281, mas posteriormente aceitaram a formação do novo partido. As maiores dúvidas sobre a fusão prendiam-se com as discrepâncias entre a elite dos dois partidos.Um antigo liberal, que não quis ingressar no novo partido, explicou assim a sua atitude em carta ao jornal

República: “«São muitos gatos dentro do mesmo saco». São muitos os marechais para

um só partido. Os marechais achando estreito o saco partidário para as suas ambições e para a sua vaidade, gastam todo o seu tempo, não a combater os adversários, mas a devorar-se a si próprios”282.

Alguns políticos liberais e reconstituintes decidiram não aderir ao novo partido. Por exemplo, o Dr. Brito Camacho manteve-se estranho ao novo partido, em parte pelas diferenças que mantinha com uma grande parte da opinião reconstituinte na província283.

O deputado do PRRN António Joaquim Ferreira da Fonseca decidiu não aderir ao novo partido permanecendo independente. Na sua opinião “o novo partido não pode exercer, na política portuguesa, a função que se arrogou. Que é que ele quer? Enquadrar os elementos conservadores da República, atraindo-os com a promessa duma orientação moderada. Impossível, porque os conservadores republicanos estão quase todos dentro do partido democrático. Os outros ainda esperam pelo regresso do Sr. D. Manuel...”. Para António Joaquim Ferreira da Fonseca seria mais interessante para equilibrar as forças partidárias do regime a “organização dum agrupamento radical que viesse dar consistência política, no campo da legalidade, às correntes extremistas da esquerda, que vivem hoje ao sabor dos mais desordenados impulsos. A guerra e o desmoronamento económico que se lhe seguiu desenvolveram em todos os países aspirações exaltadas, tendências ainda confusas para uma organização social diferente. Meter na engrenagem constitucional essas aspirações suavizar a sua aspereza com a lubrificação dum programa inteligente e oportunista - eis a grande missão dum partido que se propusesse, na verdade, equilibrar os antagonismos políticos do nosso meio”284. Outro reconstituinte que decidiu tornar-se independente foi o deputado Henrique Sátiro Lopes Pires Monteiro. Embora tivesse reconhecido que poderia ser uma “situação transitória”, naquele momento achava que “devemos subordinar a nossa opinião à existência de programas políticos, que reúnam elementos apreciáveis de acção governativa, evitando a dispersão de energias e a confusão de opiniões resultantes de um individualismo, que prejudica a normalidade do funcionamento constitucional dos dois Poderes do Estado”, não podia ingressar no novo agrupamento político, dado que “essa coesão não se consegue pelo artificialismo de partidos políticos, que se formam sem raízes profundas na opinião pública, sem objectivos claramente definidos, sem uma política positiva a conseguir com soluções perfeitamente estudadas para os diferentes aspectos do problema nacional”285

. Outros deputados reconstituintes decidiram tornar-se independentes, embora a médio prazo se aproximassem do PRP, casos de Francisco da Cunha Rego Chaves, Carlos Olavo Correia de Azevedo e Américo Olavo Correia de Azevedo. Pelo contrário alguns dos deputados «governamentais», próximos de Cunha Leal, que não tinham ingressado com o seu líder no PRL, acabariam por ingressar no novo partido pela mão de Cunha Leal, casos Virgílio Costa e Lúcio Martins286.

281 República, 27-05-1922, p. 1. 282

República, 13-3-1923, p. 1.

283 Cf., Diário de Lisboa, 7-2-1923, p. 5.

284 António Joaquim Ferreira da Fonseca, Diário de Lisboa, 1-3-1923, p. 8. 285

Pires Monteiro, Diário da Câmara dos Deputados, 8-3-1923, p. 4.

Nem todos os órgãos de imprensa dos dois partidos aderiram à fusão. O Correio

do Minho, órgão do PRRN em Viana do Castelo, enveredou por uma linha mais

esquerdista, vindo a aderiu ao Partido Republicano Radical em finais de Janeiro de 1923287.

Outline

Documentos relacionados