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Filion (2000) destaca que uma das diferenças entre gerentes e empreendedores no desenvolvimento de suas atividades está na capacidade em que estes últimos têm em trabalhar centrados na criação de processos que resultem em uma visão diferenciada do meio. Desta maneira, um dos pilares da educação para o século XXI estaria sendo amplamente desenvolvido, o aprender a conhecer, pautado no objetivo de compreender o mundo em seu redor, buscando conviver de forma harmônica com os que o rodeiam e, dessa forma, construir pontes em seus relacionamentos.

Se por um lado, há uma explícita mudança na sociedade e, consequentemente, nos alunos; por outro, ainda há uma tímida e vagarosa mudança nas práxis que permeiam a educação. Mintzberg (2010) nos apresenta um modelo de gestão assertivo, nos convidando a compreender a modelagem gestora entremeado com os aspectos os quais orbitam o cotidiano das organizações, quais sejam: comunicação, gestão de pessoas, liderança, o líder, questões situacionais, planejamento e controle.

As proposições trazidas por Mintzberg (2010) contribuem significativamente para compreendermos a escola como um espaço plural, dotado de significativa relevância social e política, mas, sobretudo, como um ambiente formado por indivíduos que trabalham, produzem, pensam, divergem, mas que necessitam de posicionamentos coerentes, pautados em técnicas consubstanciais as quais visam não só maior eficiência e eficácia na gestão de seus processos diários, como também conseguem identificar e imprimir sentido naquilo que fazem, fortalecendo, assim, não só as suas práticas, como o seu know-how, ampliando, desta forma, o seu compromisso com o cotidiano da escola.

Lück (2000) concebe que se faz necessária uma mudança de paradigma e a mudança de concepções e práticas. Com isso, compreende-se que, à gestão cabe a necessidade de se dominar os conhecimentos técnicos e teóricos que pautam e consubstanciam a sua prática. São as leis, as normas, as regras, os aspectos sociológicos, filosóficos e psicológicos que compõem a estrutura sustentadora que instituem o cerne das práticas gestoras. No entanto, estas não sobrevivem sem a criatividade. Logo, podemos legitimar a importância de práticas inovadoras no âmbito da gestão escolar, não é apenas mais um modismo, mas é uma necessidade

iminente, que é reforçada a cada dia pela própria sociedade, que invoca e atribui à educação e, logicamente, à escola, o papel proeminente de educar e formar para transformar e crescer.

Daí, entende-se que, o perfil deste gestor escolar empreendedor deve estar voltado para o atendimento destes anseios que, cada vez mais, permeiam as discussões nas esferas superiores à escola. É algo mais consistente que formar pessoas para serem líderes de equipes. Lück (2000) ressalta a importância da questão, quando diz que são demandadas mudanças urgentes na escola, com o objetivo de garantir formação competente aos seus alunos.

O convite à reflexão da escola e seus significados políticos e sociais, bem como que rumos serão dados a esta escola pública brasileira, é, na verdade, um convite a uma reflexão pertinente acerca do tipo de gestão que se fará necessária para esta escola que almejamos. É intencional colocar a gestão como o centro das atenções, em uma composição consideravelmente complexa e emergente, no âmbito da educação brasileira, que vive o século XXI com suas demandas e desafios, mas que ainda se encontra devendo tópicos da agenda do século passado.

Há a necessidade de entender como os gestores imaginam a escola, como a projetam e como operam os seus sistemas de atividades humanas, na busca por seus objetivos pessoais e profissionais. Neste sentido, a necessidade de poder, realização e filiação está aqui basicamente atrelada, reforçando o que dizem os teóricos sobre o assunto.

Filion (2000) ressalta que, enquanto os gerentes atuam na busca incessante e determinada por objetivos definidos por outra pessoa, se comportando de maneira efetiva na aplicabilidade dos bens e dos recursos disponíveis, os empreendedores desempenham as suas atividades de acordo com a visão que eles têm constituída sobre o que está acontecendo ao seu redor. Os indivíduos empreendedores não são capazes apenas de determinar situações, mas também detém grande poder imagético sobre aquilo que pretendem alcançar. Ainda, segundo o autor, um dos nichos do empreendedor é o de construir e definir estruturas de trabalho, nas quais ele considera importante, não só que se aprende, mas como aquilo é aprendido e que essa aprendizagem, quando significativa, transforma o cenário a sua volta. Sob esta lógica de pensamento, o empreendedor está muito mais interessado e muito

mais inclinado a desempenhar tarefas onde ocorra um confronto direto sobre o autoconhecimento e aquisição de know-how.

Oliveira (2011), quando aborda os conceitos concernentes ao empreendedor, sob a ótica de McClelland (1961), ainda nos anos 1960, argumenta que o autor classificava os sujeitos em dois grupos: uma minoria que estaria disposta a grandes sacrifícios pessoais para realizar e alcançar determinados objetivos, denominados pelo autor como indivíduos com grande necessidade de realizar; em contraponto a uma maioria, que não está disposta a sacrificar seus objetivos pessoais. Para o autor, os empreendedores bem sucedidos estavam contidos na minoria abnegada dos seus interesses pessoais. Ainda, descrevendo as características de personalidade do indivíduo empreendedor, ele atribuiu a ansiedade por mudanças e o inconformismo como comportamentos inerentes aos sujeitos com grande necessidade de realização, logo, sob sua lógica, empreendedores.

A modelagem para esta figura tão importante para a escola, o Diretor Geral, comporta uma mescla plural, porém não dicotômica. Ou seja, plural, pois suporta em sua composição para o cenário da escola, uma série de conceitos sobrepostos e interdependentes, capazes de se configurarem em uma singularidade muito própria e específica para a razão de ser da escola, considerando-a como um espaço dotado de inúmeras pluralidades e especificidades. Porém, não é dicotômica, pois não é segregada a sua atuação. Neste sentido, o gestor escolar empreendedor, não se separa deste ou daquele atributo, competência ou comportamento empreendedor para a resolução ou solução de problemas tópicos ou generalizados. Sobretudo, ele costuma ter uma entrega íntegra em seus afazeres, em seu planejamento, em sua visão sobre a instituição.

Sendo assim, o resultado desta composição reside, justamente, na junção complementar entre o universo complexo da escola e a capacidade plural que o gestor escolar empreendedor detém para gerir processos difusos e complexos, sempre mantendo o foco em resultados cada vez mais arrojados e presentes no cenário educacional. A escola cada vez mais se constitui em um espaço de discussão e de construção de debates sobre uma mudança significativa no comportamento dos indivíduos presentes na sociedade. À escola, não só cabe o papel de formar, educar, disseminar valores, mas também, é terreno para o fortalecimento da alteridade, da desconstrução das desigualdades e campo protetor das minorias.