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c) Empreendimentos em torno de uma guerra contra obesidade que se instala no mundo

O discurso sobre a epidemia da obesidade gerou um cenário de “guerra contra a obesidade”, no qual circulam diferentes agentes, a exemplo da indústria estética, farmacêutica, de alimentos, motivados por distintos interesses, oferecendo serviços e produtos e, ainda, veiculando informações, questionáveis, no combate ao inimigo – a obesidade.

Há uma diversidade e abundância de produtos alimentares a serviço desta guerra – as mesmas indústrias que produzem alimentos calóricos, também produzem alimentos light e diet, medicamentos, suplementos, dentre outros. Espaços de sociabilidades se reorganizam no mundo moderno – vejamos o exemplo da disseminação e popularização das academias de ginástica, clubes de corrida, personal trainners, spas, grupos terapêuticos, mudanças na arquitetura das cidades criando espaços para que os corpos estejam em constante movimento (AMPARO-SANTOS, 2013). Tudo no contrafluxo ao que Fraga (2005) chama de “o pecado moderno que atende pelo nome de sedentarismo”

(p. 16).

A mídia, por sua vez, tanto exibe programas e peças publicitárias que estimulam o consumo excessivo de alimentos industrializados em detrimento de alimentos mais naturais, quanto pauta o tema da obesidade, e, ainda, se constitui como principal canal

de divulgação de peças publicitárias de produtos que agregam ao seu apelo comercial alegações em torno do saudável e do controle da obesidade. Corresponde a um empreendimento que, em uma sociedade capitalista, se traduz em lucro, já que saúde

“se vende” e o corpo está neste jogo mercadológico (AMPARO-SANTOS, 2013).

Diante desse jogo de verdades, questiona-se: até que ponto, tais ações não reforçam uma estigmatização do corpo gordo? Isso porque falamos de um campo em que convergem muitos estudos do campo das ciências sociais e humanas, vinculando a obesidade à indolência e à gula, além de anunciar que a obesidade (e, por conseguinte, as pessoas com obesidade) é uma das principais responsáveis pelos gastos no orçamento de saúde. Tais imagens estão presentes nas campanhas de programas que promovem o emagrecimento dos corpos e que, mesmo que seja sem intencionalidade, resultam na repugnância social e na “autoflagelação” social.

Em suma, esses estudos nos induzem a debruçar novos olhares sobre a obesidade.

Esse conjunto de autores compreende que a ciência, apesar dos esforços, não tem produzido métodos, técnicas e conhecimentos à altura do fenômeno, e na nossa prática acabamos por reproduzir equações simplistas, sustentadas por uma visão de corpo à semelhança do funcionamento de uma máquina e da obesidade como um produto da relação desbalanceada entre ingestão alimentar versus gasto energético (AMPARO-SANTOS, 2013).

Retornando ao campo da saúde, é importante destacarmos o trabalho que vem sendo desenvolvido, ao longo da última década, por pesquisadores da The Lancet, renomada revista científica no âmbito internacional. Essa revista montou uma Comissão de Obesidade que tem convidado pesquisadores, gestores e profissionais de diferentes áreas, incluindo da saúde, para debater a obesidade a partir de distintos campos disciplinares e referenciais teóricos, ou seja, propondo o necessário e desafiador debate interdisciplinar que o fenômeno exige.

No caminho de ampliar a compressão sobre o tema, destacamos uma publicação relevante na seção Comments da revista The Lancet, em 2018, com o título sugestivo de

“Tempos para novas narrativas sobre obesidade” (tradução nossa), escrito por Johanna Ralston e colaboradores.

Nesta publicação, os autores argumentam que, ao longo das últimas quatro décadas, se produziu uma narrativa sobre a obesidade que pouco contribuiu para uma ação coordenada ao seu enfrentamento, isto porque foi constituída com base em imagens e linguagens que distorceram o problema. As narrativas provocaram uma imagem social sobre as pessoas com obesidade associadas à preguiça e à fraqueza, o que proporcionou estigmatização e discriminação em várias esferas da vida: no emprego, na educação, inclusive, nos serviços de saúde. Assim, este conjunto de ações não tem sido bem sucedido, segundo os autores, devido a um enquadramento inadequado do problema, cujo foco está na culpabilização da pessoa obesa, que não sabe fazer escolhas e pouco se movimenta.

e tecnologia, indústria, negócios, mudanças climáticas, direitos, e outros, debruçou-se sobre nova matriz explicativa da obesidade, entendendo que esta, aliada à desnutrição e às mudanças climáticas, representa o principal desafio para os seres humanos, o meio ambiente e o nosso planeta2.

O relatório traz o conceito de sindemia global, traçando uma associação entre a obesidade, a desnutrição e as mudanças climáticas como fenômenos que interagem entre si, por compartilharem determinantes e, portanto, exercerem uma influência mútua em sua ocorrência e carga para a sociedade.

Um pouco sobre obesidade, desnutrição e fome

Dados publicados pela FAO e outros organismos internacionais sobre a segurança alimentar e nutricional estimam que, no ano de 2018, mais de 820 milhões de pessoas viviam em situação de fome no mundo. Apontam ainda que a subalimentação e a insegurança alimentar grave parecem estar aumentando em quase todas as sub-regiões da África, bem como da América do Sul, embora a situação de subalimentação mantenha-se estável na Ásia (FAO et al, 2019).

Já aqui no Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na publicação

“Síntese de Indicadores Sociais - 2018”, indicou que houve um aumento da pobreza entre a população brasileira quando comparamos os anos de 2016 e 2017. Uma vez que a renda é um importante elemento para o acesso à alimentação, entende-se, pois, que o Brasil também apresentou um aumento do número de pessoas que passam fome3.

2 Quer saber mais? Clique no link: The lancet sumario executivo

3 No período de 2016 e 2017, eram pobres 52,8 milhões de pessoas, passando a 54,8 milhões no ano seguinte. Já as pessoas em estado de extrema pobreza (ou seja, aquelas que vivem com até R$ 140,00 por mês), o número passou de 13,5 milhões para 15,2 milhões de brasileiros, no intervalo entre 2016 e 2017 (IBGE, 2018)

Os autores prosseguem afirmando que, para uma nova narrativa ser contada sobre a obesidade, é necessária uma abordagem mais abrangente sobre o problema. No lugar de ações excludentes e em confronto, como, por exemplo, prevenção versus tratamento, é preciso reposicionar as pessoas como protagonistas, com abordagens interrelacionadas e "assinadas" por essas pessoas "reais e próximas". Ou seja, dar voz às narrativas dessas pessoas que vivem a obesidade, cotidianamente, sobretudo no âmbito de suas subjetividades. Este aspecto será mais aprofundado na Unidade III.

Também nesse sentido, Contrera e Cuello(2016), em sua obra Cuerpos sin patrones (“Corpos sem padrões”, em uma tradução nossa) questionam a história do silenciamento das vozes de quem vive fora dos padrões construídos socialmente, excluindo essas pessoas de se fazerem ouvidas e protagonistas de suas vivências, dos diálogos sobre os enfrentamentos que têm no seu dia a dia.

Deste modo, uma nova história pode ser contada, acompanhada de um novo modelo explicativo para o fenômeno da obesidade, que incorpore o alinhamento intersetorial, abarcando as experiências dos sujeitos que vivem a obesidade, o meio ambiente, os determinantes sociais e comerciais envolvidos, ou seja, que considere, lado a lado, um complexo de fatores que atravessa os indivíduos, tais como: epigenético, biológico e psicossocial, ambientais e aqueles oriundos do sistema alimentar e dos modos de vida modernos.

Trata-se, pois, da necessidade urgente de reescrita de uma narrativa mais coerente, que assuma a complexidade e multidimensionalidade deste fenômeno e que desafia o atual modelo unicausal e simplista, conclamando o potencial, por exemplo, das políticas públicas que podem alavancar mudanças estruturais dentro dos diversos campos da gestão pública implicados no aumento da prevalência da obesidade (educação, saúde, meio ambiente, economia, etc.).

O relatório da sindemia1 global da obesidade, desnutrição e mudanças climáticas

Nesta mesma esteira, e no sentido de olhar a obesidade como um fenômeno complexo, a referida Comissão de Obesidade do The Lancet publicou, em janeiro de 2019, um relevante documento, intitulado “A Sindemia Global da Obesidade, Desnutrição e Mudanças Climáticas: relatório da comissão The Lancet”. Este documento foi traduzido para o português em agosto de 2019 pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, o IDEC (SWINBURN et al., 2019).

A Comissão de Obesidade do The Lancet, composta por pesquisadores, consultores, representantes de distintas partes do Mundo, e de diversos órgãos sobre saúde, ciência

1 Sindemia é a presença de dois ou mais estados de doença que interagem de forma adversa entre si, afetando negativamente o curso mútuo de cada trajetória da doença, aumentando a vulnerabilidade e tornando-se mais deletérios por iniquidades experimentadas (SWINBURN et al., 2019, p.5). Assim, a sindemia é composta por duas ou mais doenças com três características: elas coexistem no tempo e espaço, interagem umas com as outras nos níveis biológico, psicológico ou social, e também compartilham fatores sociais comuns principais (SWINBURN et al., 2019, p.21).

Imagem: Rawpixel

Ou seja, hoje vivemos a chamada dupla carga da má nutrição, a que já nos referimos na Unidade anterior, caracterizada pela coexistência de subnutrição e obesidade em uma mesma população. Assim, apesar da intensa redução da desnutrição em crianças, as deficiências de micronutrientes e a desnutrição crônica ainda são prevalentes em grupos vulneráveis da população, como em indígenas, quilombolas, crianças e mulheres que vivem em áreas mais pobres, tornando-se também uma pandemia.

Retornemos à discussão que o Relatório The Lancet nos apresenta:

O relatório parte da argumentação de que a obesidade, a desnutrição e as mudanças climáticas são fenômenos sistêmicos e interrelacionados aos modelos de sistemas alimentares dominantes no mundo.

Os sistemas alimentares são então marcados por sua complexidade e interdependência entre produção, distribuição e consumo de alimentos, que ultrapassam o âmbito local e são direta e intrinsecamente dependentes de articulações mais gerais, incluindo internacionais. Assim, acordos políticos e econômicos mundiais referentes, em especial, por grandes empresas de alimentos, definem padrões de produção e distribuição de alimentos, podendo ocasionar homogeneização do consumo. Portanto, a conformação de um sistema alimentar é fruto de um conjunto de variáveis, que vão desde a disponibilidade de recursos naturais a interesses financeiros de grandes corporações.

Para compreender a noção de sindemia global, podemos refletir reportando alguns exemplos extraídos do relatório de Sindemia Global para ilustração de como se dá essa relação de interdependência. Vejamos:

• Os modelos predominantes de sistemas alimentares, pautados no uso excessivo de combustíveis fósseis (petróleo e gás natural, por exemplo), na produção em larga escala, estímulo ao consumo excessivo e o descarte, geram resíduos líquidos e sólidos (como os gerados pelas indústrias e os gerados pelo consumo em domicílio, por exemplo), com substâncias nocivas ao ambiente, impactando de diversas formas. Destacamos aqui a produção do gás carbônico e outros que contribuem com o aumento da temperatura e o efeito estufa, impactando em mudanças climáticas vividas em todas as partes do mundo;

IMPORTANTE!

Mas… o que é um Sistema Alimentar?

“Um sistema alimentar compreende todos os elementos (ambiente, pessoas, insumos, processos, infraestruturas, instituições, etc.) e atividades relacionadas à produção, transformação, distribuição, preparação e consumo de alimentos que irão gerar resultados no estado nutricional e de saúde das populações e também impactos socioeconômicos e ambientais na sociedade como um todo (HLPE, 2014).

Portanto, os sistemas alimentares abrangem as várias atividades, sujeitos e processos que repercutem diretamente na segurança alimentar e nutricional, mas também, de maneira mais ampla, nas características ambientais, de desenvolvimento econômico e bem-estar social dos países (ERICKSEN, 2008)” (OPAS, 2017, p.12).

• Essas mudanças climáticas e o aumento da temperatura global propiciam que alguns lugares vivam extrema seca e outros grandes enchentes, além de erosões em solo, aumento da evaporação da água em lagos e açudes. Todos esses fatores impactam diretamente na impossibilidade de manutenção de determinadas lavouras, em especial para pequenos agricultores, impossibilitando-os de plantar para seu consumo e para a venda e aquisição de outros alimentos e produtos para sua subsistência;

• Essa dificuldade para a agricultura, por sua vez, impacta na capacidade produtiva dos alimentos in natura, reduzindo sua oferta no mercado, o que impulsiona a alta dos preços e, por consequência, reduz o acesso a esses alimentos, em especial para as populações mais pobres. Estas populações, em busca de saciar sua fome, associado à carga de valor publicitário oriundo do marketing, ficam reféns do acesso a alimentos mais baratos e também menos nutritivos, como os alimentos ultraprocessados, os quais têm sido associados ao aumento tanto para desnutrição de nutrientes quanto da obesidade;

• Decisões políticas internacionais e nacionais incentivam e fortalecem a manutenção dos modelos atuais de sistema alimentar, com políticas de crédito facilitado para o agronegócio e a grande indústria, fechando-se um ciclo danoso ao ambiente e à saúde humana.

Em suma, os sistemas alimentares vigentes incentivam um ciclo vicioso de acordos internacionais que estimulam a produção e o consumo de alimentos ultraprocessados, impactando o ambiente, gerando aumento da temperatura e mudanças climáticas, aumentando a geração de gases e o efeito estufa, promovendo impactos negativos na agricultura (enchentes em uns lugares e secas em outros), o que gera aumento dos preços dos alimentos in natura, fazendo com que as pessoas, em especial de grupos mais vulneráveis, comprem alimentos de qualidade nutricional questionável, que se associam tanto à obesidade quanto à desnutrição de nutrientes.

Alimentos ultraprocessados

São formulações industriais feitas inteiramente ou predominantemente de substâncias provenientes de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, proteínas), derivadas de constituintes de alimentos (gorduras hidrogenadas, amido modificado) ou sintetizadas em laboratório a partir de matérias orgânicas (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e vários aditivos usados para dotar os produtos de propriedades sensoriais atraentes).

Inclui: biscoitos e bolos industrialmente fabricados, lanches do tipo fast food, refrigerantes, refrescos, bebidas lácteas, pães de forma, de hambúrguer, de hot dog e similares, guloseimas, embutidos e pratos prontos ou semiprontos.

Os alimentos ultraprocessados são produzidos especialmente por grandes conglomerados industriais, nicho empresarial que faz forte lobby junto aos legisladores e aos responsáveis por processos de formulação de políticas de produção, abastecimento, comercialização, acesso e controle dos alimentos, o que pode explicar parte da inércia política de controlar algumas ações dessas empresas, como, por exemplo, a regulamentação de propaganda e publicidade de alimentos para o público infanto-juvenil.

Fontes: Brasil (2014), Louzada et al. (2015) e Swinburn et al. (2019).

| Saiba mais na pag 58

Descrevemos aqui alguns aspectos ilustrativos que o relatório referencia na sua discussão. São eles:

• as mudanças climáticas e o aquecimento global impactam negativamente, em especial, na vida e na saúde de cerca dos “2,5 bilhões de agricultores, pessoas dependentes das florestas, pastores e pescadores do mundo, cuja alimentação e renda provêm de recursos naturais renováveis”;

• mudanças climáticas também estão tornando os alimentos menos saudáveis. Pesquisas indicam que níveis aumentados de dióxido de carbono na atmosfera estão reduzindo os níveis de nutrientes, como zinco, ferro, cálcio e potássio, inclusive no trigo, cevada, batata e arroz (SWINBURN et al, 2019, p.11).

Deste modo, as mudanças climáticas trazem repercussões danosas não apenas ao planeta, mas aos modelos de agronegócio adotados, às formas de atuação das grandes indústrias alimentícias, ou seja, de todas as formas de produção de alimentos, e, por conseguinte, de seu consumo, o que impacta, sobremaneira, na vida e na saúde das populações.

A partir do que foi discutido até aqui já dá para começarmos a entender a dimensão, a complexidade e as interfaces que essas questões (obesidade, desnutrição e mudanças climáticas) possuem, bem como os impactos coletivos que promovem.

Tais premissas declaradas no relatório nos convoca, enquanto campo da saúde, a ampliar nossos olhares sobre a obesidade, que, aliada à desnutrição e as mudanças

Imagem: Rawpixel

climáticas, são fenômenos de escala mundial que interagem uns com os outros, com determinantes comuns e influenciam mutuamente na saúde das populações e do planeta em geral.

Deste modo, para seu enfrentamento, é necessário repensarmos e agirmos coletivamente acerca dos modos como comemos, vivemos, consumimos e nos movemos no nosso cotidiano, pensando em soluções sistêmicas, globais, e não apenas isoladas e setorializadas.

Como consequência deste processo, argumenta-se que não é mais aceitável entender a obesidade como uma responsabilidade do indivíduo e de suas escolhas e motivações equivocadas, sinalizando que o modelo de sistema alimentar hegemônico, de industrialização e de modos de produção e consumo vigentes no mundo são incompatíveis com a sustentabilidade e a saúde dos indivíduos e do planeta.

Importa destacar que não podemos negar as contribuições dos atuais modelos de sistemas alimentares para melhoria das condições de vida e saúde das populações, bem como para o aumento da expectativa de vida, em virtude da disponibilidade e da segurança dos alimentos produzidos. Entretanto, são os alimentos provenientes deste sistema alimentar hegemônico que têm sido um dos principais responsáveis pela carga global de doenças crônicas.

Desta maneira, podemos compreender que as formas de produção, distribuição, consumo dos alimentos estão diretamente ligadas aos modelos de sistemas alimentares vigentes, dos quais os consumidores finais são apenas um dos elos desse processo. Cabe-nos questionar se há outros modelos que possam contribuir, de melhor forma, para a saúde dos indivíduos e dos planetas.

Ao trazer a narrativa de sindemia global, procuramos entender as principais causas e as soluções comuns da/para a obesidade, a desnutrição e das mudanças climáticas,

“sem agravar as complexidades existentes inerentes a cada um dos problemas em si” (SWINBURN et al, 2019, p.33). Procuramos, também, explicitar que, para o enfrentamento dessas questões, há necessidade de ações urgentes que possam superar o desinteresse ou inércia política existente em diversos níveis e setores e entre atores sociais.

Para melhor entender as relações associadas à sindemia global, é necessário pensar o mundo como um processo de relações entre a natureza e seus sistemas e a humanidade, o qual é capaz de criar impactos globais. A Figura 12 expressa, em imagem, essas relações entre sistemas naturais (os que resultam das ações da natureza, independente do homem) e os sistemas humanos (que resultam das diversas formas de interação entre os homens) e os quatro principais resultados globais que são capazes de produzir:

i) saúde e bem estar ecológico; ii) saúde e bem estar humano; iii) equidade social; e iv) prosperidade econômica.

Sabemos, entretanto, que as ações humanas dependem e ao mesmo tempo causam, direta e indiretamente, impactos nos sistemas naturais, que por sua vez impactam na vida humana. E é neste processo de interação entre sistemas naturais e sistemas humanos que temos contribuído para a prevalência da obesidade, bem como da desnutrição e das mudanças climáticas (Figura 12).

Assim, o que são esses níveis de interação? Vejamos a Figura 13 e o texto a seguir.

Figura 12: Visão global de resultados das consequências de sistemas naturais e humanos em interseção. Fonte: Swinburn et a.l (2019, p.30).

Figura 13: A visão da Sindemia Global sobre a interação e os fatores comuns da obesidade, da desnutrição e das mudanças climáticas. Fonte: Swinburn et al. (2019, p. 30).

Explicando, os microssistemas ou redes sociais são formados por indivíduos e suas famílias e/ou grupos sociais. Sua interação afeta diretamente os padrões comportamentais dos sujeitos.

Os sistemas intermediários, por sua vez, são compostos por espaços e ambientes de interação, institucionais ou não institucionais, como escolas, locais de trabalho, comércios, espaços comunitários, espaços de lazer e interação. O sistema macro é geralmente composto por governos nacionais, que criam possibilidades de funcionamento de setores ligados à sindemia global.

Em seguida, temos a governança, que é apresentada no relatório como “os esforços organizados para administrar o curso dos eventos em um sistema social” (SWINBURN et al., 2019, p.55). A governança inclui a totalidade de processos políticos, organizacionais e administrativos por meio dos quais as partes interessadas (governos, sociedade civil e grupos de interesses difusos) articulam seus interesses, exercem seus direitos legais, tomam decisões, cumprem suas obrigações e mediam suas diferenças (BRASIL, 2014b).

Para reflexão...

SDiante desta narrativa, o que indica a amplitude demandada de ações que ofertem respostas mais

condizentes ao problema da obesidade, como o setor saúde pode se organizar para ser mais efetivo? E no seu município, como pode se dar essa (re)organização?

Imagem: Rawpixel

Já paramos para pensar sobre os impactos das mudanças climáticas no

Estado da Bahia?

Vejamos duas experiências.

EXPERIÊNCIA NO SUDOESTE BAIANO

Estudos sobre mudanças climáticas e os impactos na sub-bacia do Rio Catolé para o município de Vitória da Conquista perceberam que, se as mudanças climáticas não forem revertidas, se as fontes de abastecimento de água forem mantidas (de barragens do município vizinho, de Barra do Choça) e a população do referido município continuar a crescer, haverá uma importante crise hídrica, já que o volume de água não será suficiente

Estudos sobre mudanças climáticas e os impactos na sub-bacia do Rio Catolé para o município de Vitória da Conquista perceberam que, se as mudanças climáticas não forem revertidas, se as fontes de abastecimento de água forem mantidas (de barragens do município vizinho, de Barra do Choça) e a população do referido município continuar a crescer, haverá uma importante crise hídrica, já que o volume de água não será suficiente