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Como expus, a rápida identificação da crise e a correta determinação das causas do declínio da atividade econômica propicia ao negócio a adoção de medidas eficazes e satisfatórias para a reversão da curva. Trata-se da reestruturação por excelência.

Exemplos de reestruturação são diversos, tais como, não limitando:

• Diagnóstico: mapeamento, revisão e redimensionamento de processos internos; • Análise e contenção de custos e despesas;

• Readequação de preços e melhora das margens de contribuição (lucratividade); • Revisão do portfólio de produtos/serviços;

• Profissionalização da gestão e/ou contratação de consultoria para implementação; • Mudança profunda na cultura da empresa e na metodologia de gestão;

• Planejamentos societário e tributário; • Outros.

As medidas a serem adotadas variarão de acordo com cada caso, já que dependerão da análise das verdadeiras causas de declínio do negócio.

O sucesso do processo de reestruturação dependerá da celeridade com que se identifica e se mapeia a crise e suas causas, bem como na flexibilidade e capacidade de mudança e transformação do negócio.

Assim, sem sombra de dúvidas, um processo de reestruturação é muito menos traumático e árduo do que um processo de recuperação. Mas há casos em que a única forma de recuperar o valor e otimizar a performance do negócio é justamente a adoção de ferramenta de gestão mais robusta e combativa ao declínio da atividade, como a recuperação judicial.

O conceito legal evidencia as verdadeiras intenções do instituto:

“A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos

trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica”.

Por conta desta natureza, a recuperação judicial deve ser entendida muito mais como uma ferramenta de gestão, do que como um mero processo judicial (apesar de se materializar em juízo).

Infelizmente, apesar dos 10 (dez) anos de vigência da Lei 11.101/2005, a recuperação judicial permanece com o estigma da antiga concordata. Ou seja, um instituto aplicado somente em último caso – quando inevitável a falência – a fim de protelar os efeitos falimentares, o que tem provocado um ativismo judicial sem precedentes.

A recuperação judicial é muito mais abrangente, flexível, e passível de oportunizar, verdadeiramente, o soerguimento da atividade econômica. Uma verdadeira ferramenta de gestão da crise (e do negócio).

Por isso, a recuperação judicial, ao ser aplicada em qualquer empresa, deve ser encarada como uma ferramenta de gestão, a qual possibilitará o alívio da pressão sofrida pela empresa (e pelo empresário), que, se adequadamente instruída, oportunizará a reversão e saída da crise econômico-financeira.

O processo de recuperação judicial é, sem sombra de dúvidas, um mecanismo muito vivo e multidisciplinar, envolvendo o esforço de profissionais especializados em lidar com situações de crise das mais diversas áreas de conhecimento (jurídico, econômico, gestão, etc.). É uma ferramenta de gestão robusta e eficaz, capaz de proporcionar inúmeros ganhos à administração do negócio (especialmente financeira), possibilitando uma efetiva e sólida superação da crise.

É exatamente por ter as citadas características, que a lei conferiu aos credores a análise de viabilidade econômica da empresa em recuperação. Somente os credores, participantes ativos da vida da empresa quando a mesma estava ainda financeiramente sadia, poderão, analisando detalhadamente documentação contábil, financeira, dentre outros, avaliar se o plano apresentado terá o condão ou não de propiciar a recuperação.

Os atores envolvidos somente se apoderarão do instrumento de maneira verdadeira vivenciando-o, tomando decisões boas ou ruins, enfim, conhecendo-o de maneira mais detalhada. E isto somente ocorrerá com a experiência prática que fará com que todos os atores envolvidos amadureçam junto com a lei.

O Judiciário, antes de mais nada, precisa entender com mais clareza seu papel e colaborar para o amadurecimento da lei e dos atores envolvidos, evitando avocar para si poderes que não lhe foram conferidos. Tal entendimento será muito importante para gerar segurança jurídica e dar estabilidade ao instrumento da recuperação judicial.

Não importa se o uso da ferramenta por alguns é inadequado ou se o índice de recuperação das empresas é percentualmente pequeno. Esses dados não podem fazer o Judiciário e a sociedade como um todo sofrerem. Precisam ser entendidos como parte de um processo de amadurecimento que na verdade fortalecerá a legislação e permitirá a todos os atores envolvidos, melhores decisões nas futuras recuperações.

A falência possui um regramento na mesma lei e precisa ser sim encarada por todos, inclusive pelo Judiciário, como uma possibilidade ante a crise da empresa. Muitas vezes o melhor caminho realmente será a falência e este estigma que a falência traz consigo somente será melhor avaliado, se de fato aos poucos todos evoluírem no uso e aplicação da lei.

O ativismo judicial não resolve o problema da falta de maturidade no uso da ferramenta da recuperação judicial e nem melhora o ambiente e o percentual de sucesso das recuperações em que a intervenção do magistrado ocorre. Ao contrário, apenas troca de mãos o poder decisório e aproxima um instituto moderno e amplamente discutido pela sociedade à figura da concordata, um instrumento ultrapassado, arcaico e que historicamente não trouxe resultados para a sociedade brasileira.

O instrumento é bom, é moderno e precisa ser melhor aplicado e utilizado. Tudo isso passa obrigatoriamente pelo amadurecimento defendido neste ensaio. Mudança na lei ou intervenção judicial são placebos em um cenário cujo problema a ser enfrentado é a compreensão maior do que significa o instituto da recuperação judicial, algo que somente o tempo e experiência prática trarão.

O caminho para essa evolução não é simples, mas um bom começo é utilizar um momento de grave crise econômica como a que atualmente vivenciamos para corrigir a rota. Caso contrário, teremos em breve uma nova concordata como essência da recuperação judicial, com todo o seu descrédito já experimentado e efeitos nocivos.

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