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O Enigma das Linhas

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 45-51)

O platô de Nazca, situado no sul do Peru, é um lugar desolado, ressequido e hostil, estéril e sem nenhum valor econômico. Populações humanas jamais viveram aqui, nem o farão no futuro: a superfície da lua dificilmente parece menos hospitaleira.

Se o leitor for um pintor com projetos grandiosos, porém, esses platôs altos e misteriosos parecem uma tela muito promissora, com 520km quadrados de planalto ininterrupto e a certeza de que sua obra-prima não será apagada pela brisa do deserto ou coberta por areia transportada pelo vento.

É bem verdade que ventos fortes sopram por aqui, mas, por um feliz acidente da física, são roubados de seu ferrão ao nível do solo: os seixos que cobrem o pampa absorvem e retêm o calor do sol, lançando para o alto um campo de força de ar quente. Além disso, o solo contém gipso suficiente para colar pequenas pedras à subsuperfície, adesivo este regularmente renovado pelo efeito umidificador do orvalho de começos da manhã. Uma vez desenhadas aqui, portanto, coisas tendem a permanecer desenhadas. Quase não há chuva. Na verdade, a precipitação não passa de meia hora de chuvisco fino a cada década. Nazca figura entre os lugares mais secos da terra.

Se você é pintor, portanto, se tem algo grandioso e importante para expressar, e se quer ser visível para sempre, estes estranhos e solitários platôs parecem a resposta às suas orações.

Especialistas deram opiniões sobre a antiguidade de Nazca, baseando-as em fragmentos de cerâmica encontrados cravados nas linhas e em resultados de testes de carbono radioativo com vários restos orgânicos desenterrados aqui. As datas, objeto de conjecturas, variam entre o ano 350 a.C. e 600 d.C. Realisticamente, eles nada nos dizem sobre a antiguidade das próprias linhas, que são inerentemente tão refratárias à datação quanto as pedras removidas para riscá-Ias. Tudo que podemos dizer com certeza é que as mais recentes têm pelo menos 1.400 anos de idade. Mas é teoricamente possível que possam ser muito mais antigas do que isso - pela razão muito simples de que os artefatos dos quais essas datas são obtidas poderiam ter sido trazidos a Nazca por povos mais recentes.

A maioria dos desenhos espalha-se por uma área claramente definida do sul do Peru, limitada pelo rio Ingenio, ao norte, e pelo rio Nazca, ao sul, formando uma tela aproximadamente quadrada de deserto, de cor fulva, com 46km da estrada Pan-Americana cortando-a obliquamente da parte superior central para o canto inferior direito. Aqui, espalhadas de modo aparentemente aleatório, há literalmente centenas de figuras diferentes. Algumas delas mostram animais e aves (um total de 18 aves diferentes). Um número muito maior, porém, tem a forma de figuras geométricas, sob a forma de trapezóides, retângulos, triângulos e linhas retas. Vistas do alto, estas últimas parecem aos olhos modernos estradas em ruínas, como se algum engenheiro civil megalomaníaco tivesse obtido licença para transformar em realidade suas fantasias mais alucinadas de projeto de um campo de aviação. Não constitui surpresa, portanto, desde que se supõe que o homem só conseguiu voar em inícios do século XX, que as linhas de Nazca tenham sido identificadas por certo número de observadores como campos de pouso de espaçonaves alienígenas. Trata-se de uma idéia sedutora, mas Nazca não é provavelmente o melhor lugar para buscar prova desse fato. É difícil, por exemplo, entender por que extraterrestres avançados o suficiente para ter cruzado centenas de anos-luz de espaço interestelar teriam precisado absolutamente de

campos de pouso. Claro que esses seres teriam dominado a tecnologia do pouso vertical de seus discos voadores, certo?

Além disso, não há realmente a questão de as linhas de Nazca terem algum dia sido usadas como pistas de pouso - por discos voadores ou qualquer outro tipo de nave -, embora algumas delas pareçam exatamente isso quando vistas do alto. Vistas ao nível do chão, elas pouco mais são do que riscos na superfície, feitos pela remoção de milhares de toneladas de seixos vulcânicos pretos para expor a base amarela e parda do deserto. Nenhuma das áreas limpas tem mais do que alguns centímetros de profundidade e todas elas são moles demais para ter permitido o pouso de máquinas voadoras dotadas de rodas. A matemática alemã Maria Reiche, que dedicou meio século ao estudo das linhas, estava sendo apenas lógica quando, com uma frase seca, cortou há alguns anos a teoria extraterreste: "Lamento dizer que os espaçonautas teriam ficado presos na terra.”

Se não foram pistas de pouso para as bigas de "deuses" alienígenas, o que mais poderiam ser as linhas de Nazca? A verdade é que ninguém sabe para que foram riscadas, da mesma maneira que ninguém conhece realmente sua idade. Elas continuam a ser um autêntico mistério do passado. E quanto mais atentamente as observamos, mais enigmáticas elas se tornam.

É claro, por exemplo, que os animais e as aves são anteriores à geometria das "pistas de pouso", porque muitos dos trapezóides, retângulos e linhas retas cortam em duas (e, portanto, obliteram parcialmente) as figuras mais complexas. A dedução óbvia é que a arte final no deserto, como a vemos hoje, deve ter sido produzida em duas fases. Além do mais, embora este fato pareça contrário às leis normais do progresso técnico, temos de admitir que a mais antiga das duas fases era a mais avançada. A execução das figuras zoomórficas

exigia níveis muito mais altos de habilidade e tecnologia do que riscar linhas retas. Mas que distância separava, no tempo, os artistas mais recentes e mais modernos?

Os estudiosos não abordam diretamente essa questão. Em vez disso, reúnem numa só ambas as culturas, dando-lhes o nome de "nazcana”, e as descrevem como membros primitivos de tribos que, inexplicavelmente, desenvolveram técnicas sofisticadas de auto- expressão artística e, em seguida, desapareceram do cenário peruano muitas centenas de anos antes do aparecimento de seus sucessores mais conhecidos, os incas.

Até que ponto foram sofisticados esses nazcanos "primitivos"? Que tipo de conhecimento teriam de possuir para deixar suas assinaturas gigantescas no platô? Para começar, parece que foram astrônomos observadores muito competentes - pelo menos na opinião da Dra. Phillis Pitluga, astrônoma do Adler Planetarium, em Chicago. Após realizar um estudo intensivo, com auxílio de computador, dos alinhamentos estelares em Nazca, ela concluiu que a famosa figura da aranha foi criada como um diagrama terrestre da gigantesca constelação de Órion, e que as linhas retas ligadas à figura parecem ter sido traçadas para acompanhar através das idades as declinações mutáveis das três estrelas do Cinturão de Órion.

A importância real da descoberta da Dra. Pitluga tornar-se-á clara no momento oportuno. Enquanto isso, vale notar que a aranha de Nazca mostra também acuradamente um membro de um gênero conhecido de aranha - o Ricinulei. Acontece que este é um dos gêneros de aranha mais raros no mundo, tão raro, na verdade, que só foi encontrado em partes remotas e inacessíveis da floresta tropical amazônicas. De que modo poderiam esses artistas nazcanos, supostamente primitivos, ter viajado para tão longe da terra natal, cruzando a formidável barreira dos Andes, para obter um espécime do inseto? Mais a propósito, por que deveriam eles ter desejado fazer tal coisa e como puderam duplicar os detalhes minuciosos da anatomia da Ricinulei, que são normalmente visíveis apenas com auxílio de

microscópio, notadamente o órgão reprodutivo, situado na extremidade da perna direita mais longa?

Mistérios desse tipo multiplicam-se em Nazca e nenhum dos desenhos, exceto talvez o do condor, parece realmente estar à vontade aqui. A baleia e o macaco, afinal de contas, estão tão deslocados nesse ambiente desértico como a aranha amazônica. Não se pode dizer que uma figura curiosa de homem, com o braço direito erguido como se estivesse fazendo uma saudação, calçado com pesadas botas e com olhos redondos de coruja olhando para a frente pertença a qualquer era ou cultura. Outros desenhos representando a forma humana são igualmente peculiares: cabeças envolvidas em halos de luz parecem realmente pertencer a visitantes de outros planetas. O puro tamanho dessas figuras é também extravagante e digno de nota. O beija-Bor tem 50m de comprimento, a aranha, 45m, o condor se estende por quase 120m do bico às penas da cauda (como também o pelicano) e um lagarto, no ponto em que a cauda é hoje cortada pela estrada Pan-Americana, mede 190m de comprimento. Todos os desenhos foram feitos na mesma escala ciclópica e à mesma maneira difícil, pelo desenvolvimento cuidadoso de contorno de uma única linha contínua.

Atenção semelhante ao detalhe é encontrada nos desenhos geométricos. Alguns deles tomam a forma de linhas retas de mais de oito quilômetros de comprimento, cruzando o deserto como se fossem estradas romanas, descendo para leitos secos de rios, passando por cima de projeções rochosas e nem por um momento desviando-se da direção certa.

Esse tipo de precisão, embora difícil, não é impossível de explicar em termos de bom senso convencional. Muito mais enigmáticas são as figuras zoomórficas. De que modo poderiam ter sido desenhadas com tanta perfeição quando, sem uma aeronave, seus criadores não poderiam ter conferido o progresso do trabalho, vendo-o em sua perspectiva correta? Nenhum dos desenhos é suficientemente pequeno para ser visto do nível do chão, onde parecem simplesmente uma série de sulcos informes no deserto, e só mostram sua

verdadeira forma quando vistos de uma altitude de várias centenas de metros. Não há por perto uma elevação que pudesse ter servido de ponto de observação.

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 45-51)