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O presente estudo debruçou-se sobre a indústria corticeira, a qual é abrangida pelo Decreto-Lei nº 209/2008 que estabelece o Regime de Exercício da Atividade Industrial (REAI), com o objetivo de prevenir os riscos e inconvenientes resultantes da exploração dos estabelecimentos industriais, visando salvaguardar a saúde pública e dos trabalhadores, a segurança de pessoas e bens, a higiene e segurança dos locais de trabalho, a qualidade do ambiente e um correto ordenamento do território, num quadro de desenvolvimento sustentável e de responsabilidade social das empresas. Este decreto define a Atividade Industrial como sendo “a atividade económica prevista na Classificação Portuguesa das Atividades Económicas (CAE — rev. 3), aprovada pelo Decreto-Lei n.º 381/2007, de 14 de novembro, nos termos definidos na secção 1 do anexo I ao presente decreto-lei, do qual faz parte integrante…”. Através do Anexo I do presente decreto-lei é possível verificar a Classificação Portuguesa das Classes Económicas (CAE – rev.

3), aprovada pelo Decreto-Lei nº 381/2007, de 14 de novembro, sendo as mesmas apresentadas por secções, divisões, grupos, classes, subclasses e respetiva designação. No que diz respeito ao Grupo Amorim e à Amorim Cork Composites, e tendo em conta que dizem respeito à indústria corticeira, são incluídos na Secção 1 (Atividade Industrial), Secção C (Indústria Transformadora), Divisão 16 (Indústria da madeira e da cortiça e suas obras, exceto mobiliário; fabricação de obras de cestaria e de espartaria), Grupo 162, Classe 1621 e Subclasses 16293, 16294, 16295 (Indústria de preparação da cortiça, Fabricação de rolhas de cortiça e Fabricação de outros produtos de cortiça, respetivamente)10.

O Decreto-Lei nº 169/2012 cria o Sistema da Indústria Responsável, que regula o exercício da atividade industrial, a instalação e exploração de zonas empresariais responsáveis, bem como o processo de acreditação de entidades no âmbito deste Sistema. Os objetivos do SIR (Sistema da Indústria Responsável) passam por prevenir os riscos e inconvenientes resultantes da exploração dos estabelecimentos industriais, visando a salvaguarda da saúde pública e a dos trabalhadores, a segurança de pessoas e bens, a segurança e saúde nos locais de trabalho, a qualidade do ambiente e um correto ordenamento do território, num quadro de desenvolvimento sustentável e de responsabilidade social das empresas, e por promover a simplificação e desburocratização dos atos e procedimentos da Administração Pública necessários à aplicação dos regimes jurídicos referidos no número anterior, tendo em vista contribuir para dinamização e competitividade da indústria nacional, num quadro de políticas de desenvolvimento económico sustentável. Este sistema abrange as atividades industriais correspondentes às atividades económicas (CAE) elencadas no Anexo I do Decreto-Lei nº 381/2007, de 14 de novembro. Mais tarde, o Decreto-Lei nº 169/2012 foi alterado pelo Decreto-Lei nº 73/2015, de 11 de maio. A Portaria nº 279/2015, de 14 de setembro, identifica os requisitos formais do formulário e os elementos instrutórios a apresentar pelo interessado nos procedimentos com vistoria prévia, sem vistoria prévia e de mera comunicação prévia aplicáveis, respetivamente, à instalação e exploração de estabelecimentos

10 https://dre.pt/pdf1s/2008/10/21000/0758107613.pdf (Consultado a 31/05/2018)

industriais dos tipos 1, 2 e 3, e à alteração de estabelecimentos industriais, nos termos previstos no Sistema da Indústria Responsável (SIR).

2.1.1 Enquadramento Legal em Estabelecimentos Industriais

A Portaria nº 53/71, de 3 de fevereiro, revogada pela Portaria nº 702/80, de 22 de setembro, que tem por objetivo a prevenção técnica dos riscos profissionais e a higiene nos estabelecimentos industriais11, faz referência aos diferentes riscos que poderão fazer parte do contexto industrial, nomeadamente: condições atmosféricas dos locais de trabalho (capítulo II, secção III da Portaria 53/71, de 3 de fevereiro, cujas prescrições mínimas de segurança e saúde para os locais de trabalho estão designadas no Decreto-Lei nº 347/93, de 1 de outubro), ruído (capítulo II, secção IV da Portaria 53/71, de 3 de fevereiro, cujas prescrições mínimas de segurança e de saúde em matéria de exposição dos trabalhadores aos riscos devidos aos agentes físicos (ruído) estão designadas no Decreto-Lei nº 182/2006, de 6 de setembro), vibrações (capítulo II, secção IV da Portaria 53/71, de 3 de fevereiro, cujas prescrições mínimas de segurança e saúde respeitantes à exposição dos trabalhadores aos riscos devidos às vibrações mecânicas estão descritas no Decreto-Lei nº 46/2006, de 24 de fevereiro), prevenção dos incêndios e proteção contra o fogo12 (capítulo II, secção VI da Portaria 53/71, de 3 de fevereiro, o Decreto-Lei nº 224/2015, de 9 de outubro procede à primeira alteração ao Decreto-Lei nº 220/2008, de 12 de novembro, que estabelece o regime jurídico da segurança contra incêndios em edifícios), substâncias e agentes perigosos ou incómodos (capítulo VII da Portaria 53/71, de 3 de fevereiro, cujas prescrições mínimas em matéria de proteção dos trabalhadores contra os riscos para a segurança e saúde devido à exposição a agentes químicos no trabalhão estão descritas no Decreto-Lei nº 24/2012, de 6 de fevereiro; Regulamento (CE) nº 1907/2006, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 18 de dezembro, relativo ao registo, avaliação, autorização e restrição dos produtos químicos (REACH) e que procede à criação da Agência Europeia dos Produtos Químicos; Decreto-Lei nº 98/2010, de 11 de agosto, que estabelece o regime a que obedece a classificação, embalagem e rotulagem das substâncias perigosas para a saúde humana ou para o ambiente); Decreto-Lei nº 220/2012, de 10 de outubro (Classificação, rotulagem e embalagem de substâncias e mistura); Regulamento (CE) nº 1272/2008 (CRE), de 16 de dezembro de 2008, relativo à classificação, rotulagem e embalagem de substâncias e misturas), substâncias cancerígenas (capítulo VII, secção I da Portaria 53/71, de 3 de fevereiro, cuja regulamentação da proteção dos trabalhadores contra os riscos ligados à exposição a agentes cancerígenos ou mutagénicos durante o trabalho está descrita no Decreto-Lei nº 301/2000, de 18 de novembro), substâncias explosivas e inflamáveis (capítulo VII, secção II da Portaria 53/71, de 3 de fevereiro, cujas prescrições mínimas destinadas a promover a melhoria da proteção da segurança e da saúde dos trabalhadores suscetíveis de serem expostos a riscos derivados de atmosferas explosivas estão descritas no Decreto-Lei nº 236/2003, de 30 de setembro), equipamento de proteção individual (capítulo IX da Portaria 53/71, de 3 de fevereiro, cujas

11 http://www.act.gov.pt/(pt-PT)/Legislacao/LegislacaoNacional/Paginas/default.aspx (consultado a 11/01/2018)

12 http://www.segurancaonline.com/gca/?id=1506 (consultado a 12/01/2018)

prescrições mínimas de segurança e saúde para a utilização pelos trabalhadores de equipamento de proteção individual estão descritas no Decreto-Lei nº 348/93, de 1 de outubro).

2.1.2 Exposição Química Ocupacional

Os agentes que podem afetar a saúde dos trabalhadores são de quatro tipos: químicos, físicos, biológicos e ergonómicos. Neste trabalho serão abordados em detalhe os agentes químicos, sendo estes o grande propósito da realização deste estudo. Agente químico é qualquer elemento ou composto químico, isolado ou em mistura, que se apresente no estado natural, ou seja, produzido, utilizado ou libertado, em consequência de uma atividade laboral. Segundo o Decreto-Lei nº. 24/2012, de 6 de fevereiro, que consolida as prescrições mínimas em matéria de proteção dos trabalhadores contra os riscos para a segurança e saúde devido à exposição a agentes químicos no trabalho, um agente químico perigoso é “qualquer agente químico classificado como substância ou mistura perigosa de acordo com os critérios estabelecidos na legislação aplicável sobre classificação, embalagem e rotulagem de substâncias e misturas perigosas, esteja ou não a substância ou mistura classificada nessa legislação, salvo tratando -se de substâncias ou misturas que só preencham os critérios de classificação como perigosas para o ambiente; qualquer agente químico que, embora não preencha os critérios de classificação como perigoso nos termos da subalínea anterior, possa implicar riscos para a segurança e saúde dos trabalhadores devido às suas propriedades físico -químicas ou toxicológicas e à forma como é utilizado ou se apresenta no local de trabalho, incluindo qualquer agente químico sujeito a um valor limite de exposição profissional estabelecido no presente diploma;…”.

Toda a perigosidade que se encontra associada a um determinado agente químico pode ser consultada na respetiva Ficha de Dados de Segurança. As FDS têm como objetivo informar o utilizador da substância ou mistura, de forma eficaz e completa, sobre a sua perigosidade para a saúde humana, a segurança no local de trabalho e o ambiente. O fornecedor de uma substância ou mistura é obrigado a facultar a FDS quando essa mesma substância ou mistura é perigosa, quando é persistente, bioacumulável e tóxica, quando suscita elevada preocupação ou quando o destinatário solicita uma FDS. O Regulamento REACH prevê no seu artigo 35º o acesso dos trabalhadores às informações, facultadas pelas FDS, relativamente às substâncias ou misturas que os trabalhadores utilizem ou a que possam estar expostos na sua atividade laboral. Este regulamento surgiu com o objetivo de melhorar o quadro legislativo comunitário em matéria de substâncias químicas, substituindo cerca de 40 normativos. Adicionalmente, cria a Agência Europeia dos Produtos Químicos (ECHA – European Chemicals Agency), entidade central responsável pela gestão dos aspetos técnicos, científicos e administrativos do regulamento, a nível comunitário, sediada em Helsínquia, na Finlândia13. Em conformidade com o disposto no artigo 31º, nº 6, a ficha de dados de segurança deve conter 16 secções e respetivas subsecções, que são apresentadas no Anexo I do Regulamento (UE) Nº 453/2010 da Comissão de 20 de maio de 2010.

13 https://www.apambiente.pt/?ref=pf&f_faq_tema=cc0bf46308b6c045d064397a846f2faa#1139 (consultado a 09/05/2018)

No que diz respeito às classes de perigo dos contaminantes químicos, no Anexo I é apresentada a Tabela 7 com os pictogramas atuais e respetivas classes de perigo, descrição e recomendações de prudência, segundo o Regulamento (CE) nº 1272/2008 (CRE), de 16 de dezembro de 2008, relativo à classificação, rotulagem e embalagem de substâncias e misturas14. Este novo sistema de classificação e rotulagem para substâncias e misturas integra a terminologia, os princípios e os critérios de avaliação do Sistema Mundial Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos das Nações Unidas (GHS - Globally Harmonized System) e assegura a coerência entre as regras de classificação e rotulagem aplicáveis à colocação no mercado e ao transporte de mercadorias perigosas15.

Em relação à normalização implementada e que diz respeito a este tema, as normas aplicadas passam por:

NP 1796:2014, na qual são apresentados os valores-limite e índices biológicos de exposição profissional a agentes químicos. Esta norma define que o valor-limite de exposição (VLE) é a concentração de agentes químicos à qual se considera que praticamente todos os trabalhadores possam estar expostos, dia após dia, sem efeitos adversos para a saúde. Define ainda que o valor-limite de exposição – média ponderada (VLE-MP) é a concentração média ponderada para um dia de trabalho de 8 h e uma semana de 40 h, à qual se considera que praticamente todos os trabalhadores possam estar expostos, dia após dia, sem efeitos adversos para a saúde. Na mesma norma, é ainda definido o valor-limite de exposição – curta duração (VLE-CD) que representa a concentração à qual se considera que praticamente todos os trabalhadores possam estar expostos por curtos períodos de tempo, desde que o valor de VLE-MP não seja excedido e sem que ocorram efeitos adversos, … No que diz respeito ao valor-limite de exposição – concentração máxima (VLE-CM), este representa a concentração que nunca deve ser excedida durante qualquer período da exposição;

NP EN 482:2015, relativa à exposição nos locais de trabalho e que retrata os requisitos do desempenho dos procedimentos de medição dos agentes químicos, nomeadamente relativos à não ambiguidade, seletividade, tempo de ponderação, intervalo de medição e incerteza expandida para intervalos de medição mínimos especificados;

NP EN 689:2008, referente às atmosferas dos locais de trabalho, fornecendo orientações para a apreciação da exposição a agentes químicos em atmosferas de locais de trabalho, descrevendo uma estratégia para comparar a exposição dos trabalhadores, por inalação, com valores-limite relevantes para agentes químicos no local de trabalho e para a estratégia da medição;

NP EN 14042, relativa às atmosferas dos locais de trabalho, fornecendo uma orientação para a seleção de procedimentos, bem como para a instalação, utilização e manutenção de dispositivos para a determinação de concentrações de agentes químicos ou biológicos nas atmosferas dos locais de trabalho.

14 https://echa.europa.eu/pt/chemicals-in-our-life/clp-pictograms(consultado a 12/01/2018)

15 https://www.apambiente.pt/?ref=pf&f_faq_tema=8989e470e406af0ee761748efa7e3c2c#1114 (consultado a 09/05/2018)

No que diz respeito à atribuição de incapacidades por acidentes de trabalho ou por doenças profissionais, o Decreto-Lei nº 352/2007, de 23 de outubro, publicou duas tabelas de avaliação de incapacidades: uma destinada a proteger os trabalhadores no domínio particular da sua atividade como tal (no âmbito do direito laboral), e outra direcionada para a reparação do dano em direito civil. O Anexo I diz respeito à Avaliação e Atualização da Tabela Nacional de Incapacidades por Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais, no qual são ajustadas as percentagens de incapacidade aplicáveis em determinadas patologias, como resultado de um trabalho técnico-científico preciso e sério, levado a cabo em obediência não apenas à dinâmica do panorama médico-legal nacional, mas também por recurso ao cotejo com o preconizado em várias tabelas europeias. O Anexo II introduz na legislação nacional uma Tabela Nacional para Avaliação de Incapacidades Permanentes em Direito Civil, que visa a criação de um instrumento adequado de avaliação neste domínio específico do direito, consubstanciado na aplicação de uma tabela médica com valor indicativo, destinada à avaliação e pontuação das incapacidades resultantes de alterações na integridade psicofísica16.