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Enquadramento legislativo relativo à dispensa de genéricos

6.Interação Farmacêutico-Utente-Medicamento

7. Dispensa de Medicamentos

7.8. Enquadramento legislativo relativo à dispensa de genéricos

De acordo com a legislação, a prescrição de medicamentos deve ser feita através da DCI, na qual o doente poderá exercer o seu direito de opção por um medicamento mais barato. Ou seja, se na receita estiver prescrito apenas por DCI, a farmácia deve dispensar o medicamento mais barato salvo se for outra a opção do doente. Caso, esteja prescrito na receita um medicamento por DCI mais nome comercial, o doente poderá da mesma forma usufruir do seu direito de opção, salvo a existência da exceção a) ou b). No caso da exceção c) o doente pode optar por um medicamento de PVP igual ou inferior ao prescrito.22

Assim cabe ao farmacêutico, a competência de informar o doente sobre a existência de medicamentos genéricos ou medicamentos similares ao medicamento prescrito. As farmácias têm que ter em stock, no mínimo, 3 medicamentos de cada grupo homogéneo de entre os 5 medicamentos com preço mais baixo.1,19

8. Automedicação

Automedicação significa, “a utilização de medicamentos não sujeitos a receita médica de forma responsável, sempre que se destine ao alívio e tratamento de queixas de saúde passageiras e sem gravidade, com a assistência ou aconselhamento opcional de um profissional de saúde”. 23

Durante o estágio, tive a oportunidade de observar que a automedicação se trata de uma prática muito comum por parte da comunidade. Esta deve ser executada de forma responsável, para que se possa usufruir dos seus benefícios na autogestão da saúde.

Por vezes, o impacto dos anúncios publicitários e o crescente acesso à informação acerca de MNSRM pelo utente, torna-se um grande contributo para o aumento da automedicação. Para além disso, o doente vê a automedicação como uma modalidade cómoda na tentativa de resolução dos seus problemas de saúde, na medida em que, evita uma possível ida ao médico evitando também os encargos daí decorrentes.

Desta feita, a farmácia torna-se muitas vezes o primeiro local a que o doente recorre a fim de procurar aconselhamento acerca do produto por ele pretendido. Assim, cabe ao farmacêutico assegurar um aconselhamento e orientação para uma automedicação responsável, segura e racional.

De acordo com o Decreto de lei nº 176/2006, MSRM são medicamentos que preencham qualquer uma das seguintes condições9:

-“ Possam constituir um risco para a saúde do doente, direta ou indiretamente, mesmo quando usados para o fim a que se destinam, caso sejam utilizados sem vigilância médica”;

- “Possam constituir um risco, direto ou indireto, para a saúde, quando sejam utilizados com frequência em quantidades consideráveis para fins diferentes daquele a que se destinam”;

- “Contenham substâncias ou preparações à base dessas substâncias, cuja atividade ou reações adversas seja indispensável aprofundar”;

- “Destinem-se a ser administrados por via parentérica”

Os medicamentos que não preencham nenhum dos requisitos anteriores são considerados MNSRM, ou produtos de venda livre. O Decreto de lei nº 72/91, de 8 de Fevereiro, define-os como “todos os produtos que, destinando-se ao tratamento ou prevenção de certas doenças que não requerem cuidados médicos, podem ser adquiridos sem receita médica”.24 Estes

produtos têm que conter indicações terapêuticas que se incluam na lista de situações passíveis de automedicação.25

Esta lista encontra-se disposta no anexo do Despacho 17690/2007 de 23 de Julho.23

O farmacêutico deve diferenciar situações tratáveis com MNSRM de situações mais complexas que requerem um encaminhamento ao médico. Durante o estágio foram inúmeras as situações em que os doentes procuraram ajuda junto do farmacêutico apresentando queixas de sintomas como diarreia, obstipação, flatulência, pirose, febre, congestão nasal, tosse, rouquidão, queimaduras, irritações cutâneas, acne, dermatites da fralda, dores de cabeça, perturbações do sono, dores musculares, articulares e reumatismais, cansaço, problemas associados com o aparelho genito-urinário, entre muitos outros.

Nestas situações, o farmacêutico deve avaliar o utente fazendo para isso as questões que considere necessárias e que o conduzam a uma correta identificação do problema de saúde. O

identificação de outros problemas de saúde coexistentes e identificação de outros medicamentos tomados pelo doente devem ser ponderados quando um doente solicita um determinado medicamento. Após uma correta avaliação profissional, o farmacêutico está em condições de decidir se o problema apresentado pelo doente é suscetível de uma intervenção farmacêutica. Assim, este poderá intervir ao indicar um MNSRM e as respetivas recomendações da sua toma (posologia, modo de administração, duração do tratamento, reações adversas possíveis, etc). A comunicação é feita verbalmente e por escrito, não esquecendo a recomendação de que se os sintomas permanecerem, o utente deverá dirigir-se ao médico. Por vezes, o farmacêutico pode decidir recomendar apenas medidas não farmacológicas caso as considere suficientes. Quando o farmacêutico conclui que está perante um problema de saúde que não é passível de automedicação, este deve encaminhar de imediato o utente ao médico quer seja pela complexidade do problema, quer pela duração do mesmo, ou pela suspeita de interações medicamentosas ou efeitos adversos relacionados com a medicação do doente.

No decorrer do estágio observei diversas vezes a solicitação de MSRM como antibióticos, benzodiazepinas entre outros. Nestas situações, a intervenção farmacêutica deve ir no sentido da educação para a saúde devendo para além de encaminhar o doente ao médico, alertar para os perigos associados com a toma destes medicamentos na ausência de uma avaliação clínica prévia.

Outras situações observadas decorreram durante a medição de parâmetros como a tensão arterial ou colesterol. Ao se deparar com doentes com estes valores acima dos valores de referência, o farmacêutico deve indagar o doente no sentido de perceber se existe um diagnóstico prévio de alguma patologia (neste caso de hipertensão arterial ou hipercolesterolémia). Deve reforçar sempre a importância do cumprimento de uma terapêutica eventualmente estabelecida e facultar medidas não farmacológicas como complemento desta. Ou por outro lado, na ausência de um diagnóstico previamente estabelecido, aconselhar o doente a uma consulta médica.

Na sequência do que foi mencionado anteriormente, nem todas as situações são passíveis de automedicação. O farmacêutico deve avaliar cada caso individualmente, ponderando todos os riscos que poderão advir da dispensa de MNSRM. Apesar de serem medicamentos de venda livre, não implica que não possam trazer consequências nefastas para o organismo, daí a importância da intervenção farmacêutica no sentido de promover o uso seguro e racional destes produtos. O farmacêutico deve transmitir de forma clara todos os riscos associados à automedicação, uma vez que estes medicamentos podem contribuir para mascarar sintomas de outras patologias passíveis de avaliação clínica, interações com outros medicamentos previamente prescritos, risco de reações adversas, de toxicidade, sobredosagem. A falta de aconselhamento adequado no momento da dispensa, juntamente com a falta de informação por parte do adquirente podem muitas vezes resultar em erros como os referidos.

Por outro lado, existem grupos de doentes que pela sua suscetibilidade ou fragilidade requerem uma atenção redobrada e a dispensa de MNSRM tem de ser muito bem ponderada, e muitas vezes não são passiveis de automedicação, refiro-me por exemplo a grávidas, crianças, idosos, diabéticos, insuficientes cardíacos, renais hepáticos, entre outros.