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Em 1928, Hannes Meyer publica directivas para os ateliers, das quais, além das questões de racionalização da produção, advoga “princípios de ensino produtivos”. 13 Este é um dos pontos fundamentais, pois foi esta preocupação e consciência que em parte perpetuou a Bauhaus.

Em 1929 foi criado o atelier de design de interiores, já mais organizado de acordo com objectivos de projecto e de produção industrial de peças, do que propriamente como um atelier de trabalho com um material específico. Sendo

alguns ainda hoje best-sellers, como a já mencionada cadeira Wassily de Marcel Breuer.

Com a dissolução da Bauhaus, e a emigração de Gropius e Mies van der Rohe para os Estados Unidos, onde ensinaram e projectaram segundo o conceito e princípios da Bauhaus, surge o estilo resultante do cruzamento das suas ideias com a realidade industrial americana, ao qual o director do MoMA, Alfred H. Barr Jr. chamou International Style. 15 Caracterizava-se pelo uso de materiais industriais, como vidro e aço, e pela vertente utilitária e não decorativa, assim como por alguma rigidez de linhas e de optimização na utilização dos materiais. O modernismo, nascido em grande parte também da Bauhaus, foi o mais influente movimento em todo o século XX, e o mais longo, crescendo com a industrialização que se deu na transição do século XIX para o século XX. Porém, a sua fase de maior influência surge a partir da Segunda Guerra, como resposta de responsabilidade moral, reacção ao estilo vitoriano e ao que este significava como símbolo de uma velha sociedade em decadência. A ligação entre o ornamento e o estado da sociedade é feita por exemplo por Adolf Loos, em Ornament und Vebrechen, (Ornamento e Crime), 16 no qual defende a criação de objectos bem desenhados e produzidos para o uso diário. Funcionalidade e simplicidade são os principais objectivos perseguidos, assim como o desejo de concretizar a utilização de novos materiais e tecnologias. A purga ao ornamento pelo De Stijl, a celebração da máquina pelo Construtivismo e Futurismo, são fundamentais para o modernismo e pontos de partida para o surgimento da Bauhaus. A Bauhaus é fundamental porque põe em prática pela primeira vez esses princípios, assim como o seu ensino, basilar para compreender a sua influência até aos dias de hoje.

“A Bauhaus não foi uma instituição com uma escola – foi uma ideia” 17 Ludwig Mies Van der Rohe

O fim

A evolução política na Alemanha no início dos anos 30 acabou por ser fatal para a Bauhaus. Por assumirem uma posição política de não dependência do poder, em particular com o nacional-socialismo com o qual decididamente não desejavam colaborar, acabaram por perder os financiamentos estatais, o que implicava procurar soluções de autosuficiência. A Bauhaus foi reorganizada em termos financeiros, e conseguiu sobreviver. Porém, a cultura nazi, cada vez mais preponderante, classifica toda a arte moderna como “não alemã” e “degenerada”, 14 acabando a Bauhaus por ser dissolvida em 19 de Julho de 1933 pelo seu último director, Ludwig Mies van der Rohe.

A Bauhaus é incontornável, tal a quantidade e qualidade dos seus membros, de nomes que são referências centrais para o pensamento, arte e design actuais, sendo Lazlo Moholy-Nagy, Walter Gropius, Marcel Breuer, Wassily Kandisnsky e Paul Klee provavelmente os mais relevantes, não esquecendo outros de menor visibilidade mas enorme importância, como é o caso de Marianne Brandt, Gyorgy Kepes ou Max Bill.

Apesar do seu encerramento, a sua influência prevaleceu principalmente nos Estados Unidos da América, onde se exilaram grande parte dos seus professores e seguidores: Marcel Breuer e Walter Gropius na Universidade de Harvard e van der Rohe e Gyorgy Kepes em Chicago são os maiores exemplos, mas muitos outros continuaram o seu trabalho na Suíça, Rússia, Palestina ou mesmo na Alemanha. A Bauhaus tornou-se o símbolo da modernização radical da vida, do modernismo. Desenvolvida com base nas tendências expressionistas que lhe deram origem em Weimar, passando pelos anos de Dessau de inspiração construtivista, ao destaque posterior da arquitectura em Dessau e Berlim, aquilo que verdadeiramente importa salientar é a sua influência transversal às várias areas do design, particularmente no que diz respeito ao design de equipamento para produção industrial e às preocupações de redução do preço. Muitos objectos criados na Bauhaus são ainda hoje facilmente reconhecidos, sendo

B3, Wassily Club Chair

Marcel Breuer, 1925

Húngaro de nascença, radicado numa Alemanha onde o uso da bicicleta era generalisado, a ideia original de Marcel Breuer foi construir uma cadeira a partir da estrutura tubular da sua própria bicicleta. A inspiração formal e estrutural foi a bicicleta Adler de Breuer, e procurava uar a mesma tecnologia de dobragem. Thonet tinha sido já percursor da dobragem no século XIX, mas nesta cadeira foi aplicada em aço. O seu modelo pretendia ser uma versão abstracta das cadeiras usadas nos English clubs, e a posição do assento é semelhante à Roodblauwe

Stuel, RedBlue stool, de Gerrit Thomas Ritveld.

Cadeirão de braços de tubo de aço, niquelados, encostos e braços de tela, foi produzida desde 1926 pela Standard-Mobel, Berlin, fabricando-se ainda hoje, embora com um preço bastante diferente do que seria determinado pelo propósito da sua criação.

Não há contacto com o aço, conferindo um maior conforto e as partes em couro parecem flutuar no espaço. Segundo Breuer “A experimentação no domínio das cadeiras está tão avançada que futuramente as pessoas passarão a sentar-se numa coluna de ar elástico”. 18

Mas a grande inovação estava na utilização de apenas um tubo maquinado em vez das tradicionais quatro pernas. Mais do que apenas desenhar uma cadeira, um dos seus objectivos era estar na origem de um discurso ou declaração sobre os critérios de produção industrial, sobre a novidade do design e implicações projectuais, de técnica e confrontação com a funcionalidade. Segundo Breuer era “mais lógica que confortável”, 19 aplicando princípios de racionalidade e funcionalismo, pretendendo ser prática e leve, assim como a negação do estilo, afirmação da preocupação social e negação do elitismo. Pretendia ser formal e estilisticamente anónima.

Baptizada na época de modelo B3, no catálogo da Standard Mobel, Berlin, acabou por se tornar famosa sob o nome Wassily. Não foi construída nas oficinas da Bauhaus, mas está profundamente ligada ao seu espírito. Desenhada em 1925, num ano surgem dezenas de novas cadeiras em aço tubular, de todo o

tipo de designers, de Le Corbusier, a Marc Stam, a muitos outros de menor renome.

DA BAUHAUS À GUERRA