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1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.3 ENVELHECIMENTO, QUALIDADE DE VIDA E ACTIVIDADE FÍSICA

Berger (1957) descreve o envelhecimento como a alteração irreversível da substância viva em função do tempo.

Spirduso (1996) define envelhecimento como um processo ou grupo de processos que ocorrem nos seres vivos ao longo do tempo, passando por uma perda de adaptabilidade e danos funcionais que levam à morte. Segundo o autor o processo de envelhecimento assume-se como uma extensão lógica dos processos fisiológicos de crescimento e desenvolvimento.

Jordão (1997), refere que o envelhecimento é um processo natural, dinâmico, progressivo e irreversível, que se instala em cada indivíduo desde o nascimento e o acompanha por todo o tempo de vida culminando com a morte.

Já Berger (1995) define o envelhecimento como processo multidimensional que comporta mecanismos de reparação e de destruição desencadeados ou interrompidos em momentos e ritmos diferentes para cada ser humano.

O processo de envelhecimento é complexo, e embora a idade tenha sido utilizada como indicador de envelhecimento, nem sempre coincide com as reais possibilidades do indivíduo. Apesar de alguns decréscimos de eficiência e capacidade, à medida que a idade aumenta, é possível manter um nível relativamente alto de desempenho físico e mental por muitos anos. Uma vez que existem várias realidades da velhice referenciadas a diferentes condições de QV individual e social, cada pessoa envelhece em função de como tem vivido, e por sua vez, o envelhecimento é um processo diferencial, onde

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determinantes do quotidiano e hábitos de vida são factores extremamente significativos neste processo (Lisboa M. e Cavalcanti K., in Pessoa J., 1997).

Mais recentemente o envelhecimento é definido como, um processo biológico normal que não deve ser encarado como uma doença, mas como um processo natural que se caracteriza pela perda progressiva das capacidades funcionais, culminando com a morte (Dantas e Jacó, 2003).

De acordo com Llano et al (2004) os efeitos, no plano físico, que conduzem ao processo natural de envelhecimento ocorrem:

• Ao nível do sistema motor: havendo uma perda de massa e volume muscular, devido a uma diminuição no tamanho das fibras musculares, e diminuição das reacções eléctricas.

• Ao nível do sistema cardiovascular: endurecimento de artérias e válvulas que levam ao aumento da pressão arterial.

• Ao nível do sistema respiratório. Perda de elasticidade pulmonar e diminuição da superfície alveolar que leva a um decréscimo no nível consumo máximo de O2 e da capacidade vital.

• Ao nível do sistema nervoso: diminuição de células nervosas que leva a um abrandamento no tempo de reacção e no processamento de informação.

• Ao nível do sistema sensorial: perda de eficiência nos órgãos sensoriais e aumento dos limiares para a sua estimulação.

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A diminuição das funções motoras leva, segundo Llano et al (2004), a uma consequente diminuição dos níveis de força, resistência muscular e flexibilidade, importantes para o desenvolvimento das actividades diárias. Ocorrem ainda alterações no plano psico-afectivo e no plano social que advêm da diminuição progressiva das suas capacidades físicas, o idoso perde confiança em si mesmo, a sua auto-estima baixa levando-o a isolar-se e a ter uma atitude regressiva perante a sociedade.

Para Mota, Paiva e Silva, o envelhecimento é um processo progressivo e irreversível que ocorre em todos os indivíduos, sendo a AF um factor de risco modificável que apresenta uma boa correlação com um bom estado funcional e a manutenção da saúde no idoso. A manutenção de um estilo de vida activo, nesta faixa etária, tem sido associada como factor de prevenção contra os decréscimos funcionais paralelos ao envelhecimento, nomeadamente um decréscimo na densidade óssea, na aptidão cardiovascular e na força muscular. Segundo os autores uma exercitação regular permite aumentar a flexibilidade, a força muscular, a capacidade aeróbia, o equilíbrio e a agilidade do idoso (Marques, Bento e Constantino, 1993).

Rowe J.W. (1997) defende que o “envelhecimento com sucesso” engloba três diferentes domínios multidimensionais: evitar as doenças e incapacidades, manter uma alta função física e cognitiva e envolver-se em actividades sociais e produtivas (Franchi e Júnior, 2005).

O processo de envelhecimento é um processo natural e biológico e como tal o indivíduo fica sujeito a um decréscimo de capacidades físicas e psíquicas. Com a diminuição destas capacidades diminui também a

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capacidade de realizar as tarefas básicas diárias e consequentemente a QV do indivíduo. Torna-se então necessário dar um novo sentido à vida destes idosos. De acordo com Llano et al (2004), é importante encontrar actividades que levem os idosos a sair do seu isolamento, a contactar com a sociedade e que essas actividades melhorem a sua condição física e a sua saúde. As AF são para os autores uma boa alternativa para combater o isolamento e melhorar a condição física. Com a melhoria da condição física do idoso também melhora a sua capacidade funcional, o seu bem-estar e consequentemente a sua QV.

Spirduso et al (2001), num estudo de revisão de literatura acerca de estudos transversais e longitudinais, envolvendo grandes amostras, concluíram que os investigadores concluem frequentemente que os níveis de aptidão física em adultos idosos estão positivamente relacionados com o bem-estar e que os adultos idosos que são fisicamente activos apresentam valores mais elevados de bem-estar e de aptidão física funcional.

Segundo Heikkinem (2003), “…a saúde e capacidade funcional são

bastante importantes para a QV social das pessoas: a capacidade funcional determina até que ponto podem viver independentemente na comunidade, participar em eventos, visitar outras pessoas, utilizar os serviços e instalações disponibilizados por organizações sociais e enriquecer as suas vidas e daqueles que vivem próximos”. A possibilidade de realização das tarefas que

mais gosta leva o idoso ao bem-estar e a viver com QV.

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estilo de vida sedentário na terceira idade pode induzir a maiores desgastes no organismo do que no estilo de vida fisicamente activo”. Segundo o autor a falta

de AF leva a uma redução da capacidade aeróbia e anaeróbia, do vigor muscular, da eficiência motora, do rendimento mecânico e a uma perca de reflexos posturais.

O nível reduzido de AF e o número crescente de doenças crónicas que geralmente acompanham o envelhecimento, frequentemente criam um círculo vicioso: doenças e incapacidades reduzem o nível de AF, o que por sua vez, tem efeito negativo na capacidade funcional, aumentando as incapacidades decorrentes das doenças. Um nível mais elevado de AF pode ajudar a prevenir os efeitos negativos do envelhecimento sobre a capacidade funcional e a saúde (Duarte & Nahas, 2003).

Mazo et al (2004), refere que os benefícios das AF estão presentes nos aspectos biológicos, psicológicos e sociais, pois ao envelhecer os idosos enfrentam problemas como: solidão, ausência de objectivos de vida e de actividades ocupacionais sociais, de lazer, artístico-culturais e físicas. A AF auxilia na reintegração destes na sociedade e melhora o seu bem-estar geral.

De acordo com Pinto (2000), os efeitos comprovados do exercício no idoso são: melhoria do estado psicológico, maior agudeza mental, melhoria do padrão do sono, menor risco de depressão, menor risco de doença cardiovascular particularmente de Hipertensão Arterial, menor risco de doença metabólica particularmente Diabetes Mellitus e Dislipidémia, atraso do processo osteoporótico e atraso das lesões degenerativas do aparelho locomotor.

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Um programa de exercício físico bem direccionado e eficiente para idosos deve ter como meta a melhora da capacidade física do individuo, diminuindo a deterioração das variáveis de aptidão física como resistência cardiovascular, força, flexibilidade e equilíbrio, o aumento do contacto social e a redução de problemas psicológicos com a ansiedade e a depressão (Franchi K. e Júnior R., 2005).

Segundo Carvalho (1999), a nível físico a AF pretende aumentar a aptidão através do desenvolvimento das diferentes capacidades físicas, como, a força, resistência, flexibilidade, coordenação e equilíbrio no sentido de ultrapassar os desafios das actividades quotidianas com eficácia e sem fadiga e diminuir a probabilidade de desenvolvimento de patologias.

De acordo com a OMS, Chodzko-Zaiko (1997), a maioria das pessoa que se envolvem numa AF recreativa fazem-no porque é algo agradável e divertido existindo evidências de que está associada a uma melhoria da capacidade funcional e da saúde e que frequentemente previne ou atenua a severidade de certas doenças. A mesma organização reconhece que a prática de AF está associada a melhorias na QV dos idosos e que, através desta, obterão benefícios significativos a nível fisiológico, psicológico e socioculturais. Segundo Spirduso (1995), a QV do idoso é fundamentalmente julgada pelo seu grau de funcionalidade, saúde e pela capacidade de permanecer independentemente dos outros para a realização das tarefas diárias. A autonomia funcional é um factor importante na QV (Llano et al, 2004).

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relações com os outros e das actividades sociais, e exercitar os seus direitos e deveres de cidadão (Pereira et al, 2003).

No idoso o exercício físico surge como factor bastante importante na manutenção da autonomia e QV. Os benefícios da prática regular do exercício físico pelos idosos tem benefícios biológicos, psicológicos e sociais.

De acordo com os estudos realizados por Paffenbarger, o exercício físico não aumenta significativamente a longevidade, é inquestionável que ele retarda o envelhecimento físico e mental, melhorando acentuadamente a QV permitindo que o idoso mantenha por mais tempo a sua autonomia e independência (Pinto, 2000).

Pacheco M. et al (2005), no seu estudo comparativo da QV e Performance em Idosos (no qual usou como instrumento o questionário SF-36) conclui que a QV dos idosos treinados é melhor que a dos não treinados nos domínios capacidade funcional, aspecto físico e dor, no grupo masculino, e capacidade funcional e estado geral de saúde, no grupo feminino. Os indivíduos treinados de ambos os sexos não apresentaram resultados inferiores aos dos não treinados, indicando que a AF é uma mais valia para os idosos. Concluíram ainda os autores que, a prática de exercício fisco, sem orientação nutricional, não modifica os parâmetros antropométricos de idosos.

Duarte e Nahas (2003) referem que resultados de pesquisas indicam que a AF melhora a capacidade muscular, a resistência, o equilíbrio, a mobilidade articular, a agilidade e coordenação em geral bem como o metabolismo, a regulação da pressão arterial e controlo da massa corporal.

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Tribess e Virtuoso (2004) referem que a prática regular de AF tem benefícios como: redução das mudanças biológicas decorrentes da idade, controle e redução das doenças crónicas, maximização da saúde psicológica, aumento da mobilidade e capacidade funcional, ajuda na reabilitação de doenças crónicas agudas.

Franchi KMB et al (2005) revela que a prática de AF promove a melhoria da composição corporal, diminuição de dores articulares, aumento da densidade mineral óssea, melhora da utilização da glicose, melhoria do perfil lipídico, aumento da capacidade aeróbia, melhoria da força e flexibilidade e diminuição da resistência vascular. E, tem ainda benefícios psicossociais levando ao alívio da depressão, ao aumento da auto-confiança e melhora da auto-estima.

Seja qual for a idade em que se inicie a prática de exercício, o seu efeito benéfico faz-se sentir sempre, levando o idoso a passar da curva de envelhecimento patológico ao padrão de envelhecimento fisiológico (Pinto, 2000).

Praticar regularmente uma AF, modificando, desta forma, o estilo de vida sedentário e dando uma maior conotação para a vida activa é um dos principais ingredientes para incrementar a QV (Hilgert e Aquini, 2003).

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