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A ESCASSA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS TRIBUTÁRIAS NO BRASIL DURANTE A PANDEMIA DE

POLÍTICAS PÚBLICAS TRIBUTÁRIAS EM TEMPOS DE PANDEMIA

3. A ESCASSA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS TRIBUTÁRIAS NO BRASIL DURANTE A PANDEMIA DE

COVID-19

A pandemia impactou toda a economia mundial de maneira devas-tadora, implicando uma recessão comparável às decorrentes das guerras mundiais. No Brasil, o PIB teve a maior queda em mais de um século e o índice de desemprego, que chegou a 19%, obtendo uma melhora no primeiro trimestre de 2021 ao diminuir para 14,1% (IBGE, 2021). Toda-via, dentre os empregados, 40% estão no mercado informal de trabalho (AGÊNCIA BRASIL, 2021). Esse número voltou a aumentar com a pan-demia, em função do aumento nas demissões de empregados, principal-mente do setor de entretenimento – que mais sofreu com as medidas de distanciamento. Com essas demissões e mais gente no mercado informal de trabalho, a arrecadação também diminui e como destaca Costa (2020):

Nesse contexto, além da crise sanitária, uma das consequências da pandemia é o aumento do desemprego e, portanto, a elevação da informalização do trabalho, dos terceirizados, dos subcontratados, dos flexibilizados, dos trabalhadores em tempo parcial e do subpro-letariado. Essa população precisará ser assistida com políticas vol-tadas a protegê-la da fome e da pobreza, ou seja, necessitará ser inserida numa rede de proteção social. (COSTA, 2020, p. 972).

Com os fechamentos e restrições do comércio, empresas por todo o país ficaram praticamente sem faturamento, o que impossibilitou até mes-mo o pagamento despesas essenciais. Nessa conjuntura, evidente que o

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adimplemento de obrigações tributárias também foi comprometido, não somente por pessoas jurídicas, mas também pessoas físicas.

Frente a isso, ao invés da implementação de políticas públicas pelo Estado, visando o incentivo à preservação de empresas privadas para que mantivessem seus empregados, o governo optou por editar leis e medidas provisórias restritivas aos direitos do trabalhador – ainda mais prejudiciais do que as promovidas pela Reforma Trabalhista. O Programa Emergen-cial de Manutenção do Emprego e da Renda, previsto pela Medida Pro-visória nº 936, de 2020, além de atingir apenas o mercado formal de tra-balho, reduziu salários e jornada de trabalho e garantiu emprego apenas aos empregados que tiveram essa redução, deixando os demais à mercê da demissão (COSTA, 2020, p. 973).

As medidas tomadas pelo governo a fim de manter empregos em de-trimento dos direitos da parte mais fraca da relação – o empregado, causa prejuízo para esse e retrocesso social. A realização de medidas mais gravo-sas visando resultados imediatos é possível, entretanto, devem ser bem pla-nejadas e executadas para que atinjam a eficácia pretendida e o mínimo de prejuízo social. Ao invés de buscar a manutenção e geração de empregos através da restrição de direitos dos mais vulneráveis à própria pandemia, seria muito mais interessante auxiliar diretamente às empresas a manterem seus empregados, como por exemplo através de benefícios fiscais.

Evidente que diversas outras políticas públicas poderiam e deveriam ter sido realizadas durante o período de pandemia, entretanto, no presente artigo há enfoque nas políticas tributárias que poderiam e ainda podem ser implementadas visando resultados mais imediatos.

Especificamente em relação às medidas fiscais, a partir de abril de 2020, governo federal prorrogou, por duas vezes, o pagamento dos tribu-tos federais no âmbito do Simples Nacional, o pagamento do PIS, Pasep, COFINS e contribuição previdenciária patronal de empresas e empre-gadores de trabalhadores domésticos. Os pagamentos de parcelamentos tributários administrados pela Receita Federal e pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, incluindo os inscritos em dívida ativa da União, também foram adiados (GOVERNO FEDERAL, 2020).

Como é possível perceber, houve exclusivamente prorrogações de pagamentos e parcelamentos – que a curto prazo podem parecer favorá-veis, mas não são efetiva solução. Medida mais eficaz seria a correta uti-lização das técnicas de tributação da seletividade (em produtos essenciais

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não só ao setor da saúde, mas também de alimentação e higiene básicos) e da progressividade (ajustando alíquotas em consonância com a capacidade contributiva) nas áreas mais prejudicadas.

Possível mencionar ainda a necessidade de concessão de benefícios fiscais, tanto de isenções e anistia, principalmente para empresas de médio e pequeno porte, podendo condicionar, na medida do possível, à manu-tenção de seus empregados. Sobretudo, de acordo com S. Baldivieso e P.

Baldivieso (2020, p. 42), é necessário que o governo observe os princípios da capacidade contributiva e da função social da empresa, ambos previstos pela Constituição Federal, a fim de utilizá-los como base para a tributação e para a implementação de políticas tributárias nesse período de pande-mia. Assim sintetizam os mencionados autores:

Diante deste contexto, o princípio da capacidade contributiva se mostra essencial para limitar e proteger todas as pessoas, que, dian-te de uma situação de vulnerabilidade econômica podem não dian-ter condições de honrar a carga tributária imposta pelo Estado da ma-neira que vinha ocorrendo antes do marco pandêmico. Entretanto, cabe inicialmente ao Poder Legislativo, o múnus de determinar qual será a carga tributária que deve recair sobre a sociedade levan-do em consideração toda essa retração na economia. (BALDIVIE-SO; P. BALDIVIESO, 2020, p. 42).

Basicamente, deveria se buscar manter a sobrevivência de empresas pri-vadas, para que continuem cumprindo com sua função social, oferecendo empregos formais e dignos ao trabalhador num momento tão difícil. Além disso, a concessão de incentivos fiscais pode ajudar a diminuir a inadimplên-cia e a sonegação fiscal, que podem aumentar devido às dificuldades finan-ceiras desencadeadas pela pandemia. Entretanto, nada significativo foi feito em relação às políticas tributárias durante a pandemia, deixando o legislador de explorar esse importante instrumento à sua disposição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antes do início da pandemia de Covid-19, o Brasil já vinha de uma situação econômica extremamente delicada, porém com expectativas de

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melhora em 2020 (IPEA, 2020). Entretanto, com a chegada do vírus ao país, vieram os graves problemas de ordem econômica, social e sanitária.

Toda essa conjuntura contribuiu significativamente para o aumento no índice de desemprego e de pessoas no mercado informal de trabalho, re-cessão econômica, aumento da dívida pública e a diminuição da arrecada-ção, além de diversos outros problemas sociais graves.

Diante dessa conjuntura, evidente que o Estado tem o dever de in-tervir para evitar desastres ainda maiores, através de medidas como a im-plementação de políticas públicas de diversos segmentos. A tributação, como explicado anteriormente, se mostra uma importante e eficaz forma de amenizar os impactos econômicos causados pela pandemia, principal-mente através de políticas tributárias.

Esse tipo de política pública tem como diferencial limitações cons-titucionais e princípios tributários a serem seguidos pelo legislador, que protegem ao contribuinte de práticas abusivas. Além disso, podem ter re-sultado rápido a curto prazo, auxiliando contribuintes a se reestruturarem e voltarem a ter a capacidade contributiva novamente. Dessa maneira, ini-cialmente o Estado faz uma renúncia de receita, mas depois de período razoável, voltaria a arrecadar o esperado. Cobrar os tributos normalmente pode ser menos compensatório por não recebê-los e ainda agravar mais a situação do contribuinte.

Nesse ínterim, com estudo da conjuntura atual e cuidadoso plane-jamento baseado nos princípios constitucionais tributários, utilizando-se das técnicas de tributação e concessão de benefícios fiscais adequados, seria possível a manutenção de capital nas empresas, para que pudessem sobreviver à crise. Entretanto, conforme explicitado no último tópico, o atual governo pouco se utilizou desse importante instrumento de promo-ção à justiça social que é a tributapromo-ção.

REFERÊNCIAS

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