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1. O DESIGN NO BRASIL

1.5. A ESCOLA DE ULM

A Escola de Ulm, Hochschule fur Gestaltung Ulm (Hfg-Ulm), foi criada em 1953 na Alemanha. A escola foi uma das mais importantes do design, pois deixou uma contribuição que influenciou várias gerações de designers. A escola

funcionou de 1953 a 1968 e contava em seu corpo docente com Otl Aicher, Inge Aicher-Scholl, Max Bill, Max Bense, Hans Gugelot e Tomás Maldonado. O escultor e ex-aluno Max Bill foi o primeiro diretor da escola e pretendia estabelecer a continuidade das diretrizes da antiga escola; chegou a convidar ex- professores para lecionar na Escola de Ulm. (BÜRDEK, 2006). A visão de Bill, contaminada ainda pelos ideais bauhausianos, causou desentendimentos entre os membros da escola, deixando a direção em 1957. Sobre os desentendimentos na escola, CARDOSO (2004, p. 168) acredita que:

Os outros mestres – sob a liderança de Aicher, Gugelot e Maldonado – consideravam ultrapassadas as concepções de Bill sobre o papel do artista como criador privilegiado, argumentando antes que a própria persistência da arte como um domínio estético separado era retrógrada e contrária ao sentido da vida moderna. Para eles, toda solução criativa deveria passar pelo redimensionamento do uso, da prática, das e dos ambientes cotidianos.

As divergências tornaram-se famosas, sendo explicadas até no catálogo de uma exposição sobre a produção e história da Escola de Ulm, realizada em Curitiba em 2007:

Influenciado pela Bauhaus, Ulm tendia mais para a estética do que para a técnica. Por isso, a partir de 1953, teve início um processo de cisões. Max Bill, que saiu em 1957, era adepto da estética e dizia: “Design é arte”. Já Tomás Maldonado entendia que: “Design não é arte, esta é só um complemento, existe enquanto resultado. O design tem que renovar, ser criativo e mudar o comportamento das pessoas”.Tais cisões, porém, não diminuíram a importância e o percurso inovador e criativo da escola. (CASA ANDRADE MURICY, 2007).

Na Escola de Ulm, eram ministradas disciplinas como Ergonomia, Semiótica, Psicologia, Economia e outras, que mostravam a preocupação em demonstrar que design, ciência e tecnologia se relacionavam (BÜRDEK, 2006). Esta concepção da Escola de Ulm voltava-se a mostrar como o design possuía um diálogo com a ciência e como poderia ser um instrumento de desenvolvimento. Setores da indústria e empresas alemãs perceberam a contribuição da escola para um sistema industrial e para a racionalização de produtos.

A Escola de Ulm contribuiu de modo significativo, para a implantação de muitos cursos de design, não apenas no Brasil, devido ao currículo definido, onde em sua fase final já havia conseguido um equilíbrio entre as disciplinas de caráter teórico e prático. (BÜRDEK, 2006).

1.5.1. A estética de Ulm

A Escola de Ulm influenciou uma linguagem projetual no design, na qual foram definidas e separadas as questões entre arte, design e artesanato. A Escola de Ulm “foi a primeira escola a se integrar de forma completamente consciente na tradição histórica do movimento moderno.” (BÜRDEK, 2006). O ideal de simplicidade e limpeza visual que a escola ajudou a criar estabeleceu parâmetros no design, principalmente de produtos, que depois se tornaram ícones do design moderno e funcional, como as louças brancas empilháveis (figura 7).

Figura 7. Louça de empilhar TC 100 (1959): trabalho de conclusão de curso de Hans Roericht em Ulm. Um modelo de rádio da Braun. Fonte: CASA ANDRADE MURICY, 2007; http: //www.geocities.com/.../Hills/3262/braun.jpg

Outro exemplo da linguagem moderna, herança da Escola de Ulm, é o trabalho de Dieter Rahms para a empresa alemã Braun. Os produtos ficaram conhecidos pela clareza visual, com o mínimo de elementos decorativos ou que

interferissem na identificação de seu uso e de sua função. Esta característica foi adotada em produtos elétricos e eletrônicos, que deveriam ter os componentes mecânicos escondidos no interior de ”invólucros plásticos de contornos suaves e de cor preta, cinzenta ou branca”, geralmente com formas geométricas. (DORMER, 1995, p. 17). Desta maneira, os produtos adquiriam um aspecto mais leve e “limpo” visualmente; elementos associados a uma composição equilibrada, que resultaria em produtos com uma impressão agradável ao usuário. Alguns produtos da Braun receberam o apelido pejorativo de design da “caixa branca” e “caixa preta”, devido à simplicidade compositiva adotada por Rams. (CARDOSO, 2004).

Não eram apenas os produtos feitos na escola que apresentavam esta linguagem construtiva e estética, típica da Escola de Ulm. Na área de identidade corporativa, alguns trabalhos converteram-se em símbolos do design ulmiano. É o caso da reformulação da identidade visual da empresa aérea Lufthansa (1962), na qual a tipografia criada por Otl Aicher apresenta a matemática da criação visual limpa e objetiva. Neste projeto, Aicher contava com o auxílio de Hans Roericht e de alunos da escola, remunerados na tarefa. Entre eles, estava Alexandre Wollner. Aicher utilizava elementos pictóricos mais estilizados para criar um desenho universal, que permitisse a compreensão de maneira eficaz.

Em trabalhos realizados por estes designers ulmianos, é possível perceber alguns princípios da metodologia da escola, como a idéia de retirar o “máximo de eficiência de signos já existentes” (STOLARSKI, 2006, p. 221), que são então redesenhados e rearticulados sob os princípios da percepção (distância, em movimento, com outras marcas, etc).

O trabalho de identidade corporativa envolvia “uma questão moral”, como acredita STOLARSKI (2006, p.222), que explica o método ulmiano: “os elementos de um programa de identidade não se restringem às suas aplicações visíveis, mas também incluem valores como clareza e organização, que normalmente são mais importantes do que a própria marca e não podem ausentar-se em nenhum momento”.