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2.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1.1 Escolha dos participantes

O objetivo da escolha foi obter uma amostra significativa para a obtenção dos dados pertinentes à pesquisa. Desse modo, 18 pianistas foram divididos em três níveis de expertise: seis experts “de elite”, seis pianistas de nível “intermediários” e seis pianistas “novatos”, sendo que metade desses pianistas submeteram-se aos procedimentos em Portugal e a outra metade no Brasil.

Tendo em vista a diversidade e extensão dos procedimentos metodológicos realizados, o número de participantes foi considerado satisfatório, principalmente por conta da quantidade de material coletada de cada participante, o que possibilitou análises por diversas perspectivas e níveis de profundidade sobre cada aspecto. Soma-se a isso a complexidade técnica para cada sessão de coleta de dados, como a preparação da sala para a realização da gravação e a audição comentada da peça, além dos procedimentos posteriores de edição dos áudios gerados, como mixagem e masterização dos áudios para que houvesse equilíbrio e a diferença entre a sonoridade dos pianos exercesse a menor influência possível na avaliação. A divisão entre países justifica-se pelo fato do domínio estudado não ser limitado a condições locais (possibilitando, inclusive a dispersão de viés representado pela coleta em apenas uma país ou região), pelas condições de infraestrutura oferecidas pela Universidade de Aveiro para a realização do estudo e pela padronização da língua em que os procedimentos aconteceriam.

Embora teorias acerca da expertise afirmem que o número de horas dedicadas à prática deliberada em determinado domínio (dez anos ou 10.000 horas, por exemplo) seja um componente fundamental para que seja alcançada a excelência (Ericsson et al., 1993; Sloboda,

2008), pesquisas de outros autores apontam características como a restrição da expertise a um domínio e até mesmo a um contexto dentro de um domínio (Chi, 2006; Hoffman, 1996). Tal constatação trouxe cuidados especiais para a divisão dos participantes deste estudo. Assim, a escolha dos participantes foi feita em duas etapas, principalmente pelo fato de que experts “de elite” no domínio estudado possuem formações bastante distintas, inclusive os participantes deste estudo.

Deste modo, a classificação dos participantes ocorreu em duas etapas: indicação e avaliação por juízes experts11. Os critérios para a escolha foram adaptados do estudo de Després et al. (2017):

1) Possuir conhecimentos musicais contextuais reconhecidos pelos pares;

2) Ter gravado pelo menos um álbum como líder do grupo12;

3) Ter se apresentado em importantes festivais de música instrumental13.

Os participantes do grupo “de elite” foram escolhidos estrategicamente por serem experts reconhecidos no âmbito dos pianistas intérpretes-arranjadores-improvisadores. Os participantes dos grupos “intermediários” e “novatos” foram indicados por membros da comunidade musical acadêmica de acordo com suas atuações nos contextos musicais de suas respectivas cidades/países, além de o que os próprios participantes julgavam acerca de seu histórico musical.

Para a verificação da pertinência em que a categorização foi realizada, as gravações utilizadas para a realização da terceira etapa do estudo (cujo objetivo foi compreender os recursos e critérios mais utilizados para a construção, execução e autoavaliação das performances pelos próprios executantes) foram avaliadas e julgadas por três juízes experts.

Após a avaliação por esses juízes, houve um remanejamento dos indivíduos de acordo com as performances realizadas, como é possível a verificação a seguir.

De acordo com o primeiro procedimento de categorização, participantes foram então divididos em três níveis de expertise, codificados com duas letras e um número para que

11 Os juízes participantes possuem graduação ou pós graduação em música, com suas carreiras musicais e acadêmicas dedicadas principalmente ao desenvolvimento de áreas correlatas ao contexto aqui estudado, como o jazz ou a música popular brasileira. Todos atuam/atuaram como músicos e professores.

12 Situação em que o álbum lançado leva o nome do músico em questão ou que fique evidente a liderança exercida, ainda que seja realizado em grupo. Exemplo: Bill Evans Trio.

13 Montreux Jazz Festival, North Sea, Live Under Sky, por exemplo.

pudessem ser investigados isoladamente e por grupos. A primeira letra do código refere-se ao nível de expertise do participante:

Tabela 3. Primeiras letras dos códigos utilizados para categorizar os níveis de expertise dos participantes da presente pesquisa.

A segunda letra da distinção entre os participantes refere-se ao país onde a coleta foi realizada:

Tabela 4. Segundas letras dos códigos utilizados para categorizar os participantes da presente pesquisa, de acordo com o país onde a coleta de dados foi realizada.

Grupo B P

Significado Brasil Portugal

Fonte: O autor (2019)

O número, terceiro item do código, refere-se à música executada pelo participante:

Tabela 5. Números do código que referem-se à música executada pelo participante.

Grupo 1 2 3 4 5 6

Assim, a seguinte tabela representa a organização parcial dos participantes de acordo com os níveis de expertise sugeridos, o país onde residem e as músicas executadas por eles:

Tabela 6. Organização parcial dos participantes de acordo com seus níveis de expertise sugeridos, o país onde residem e as músicas executadas por eles.

Nível de expertise/ País

Portugal Portugal Portugal Brasil Brasil Brasil

“De elite” EP1 EP2 EP3 EB4 EB5 EB6

“Intermediários” IP1 IP2 IP3 IB4 IB5 IB6

“Novatos” NP1 NP2 NP3 NB4 NB5 NB6

Música14 All the things you are

Caravan Autumn Leaves

Penny Lane Canto de Ossanha

Eu não existo sem

você

Fonte: O autor (2019)

Após as avaliações pelos jurados, alterações foram necessárias. Um integrante do grupo dos “novatos” foi remanejado para o grupo dos “intermediários” (NP2 -> IP2b) e um indivíduo do grupo dos “intermediários” foi remanejado para o grupo dos “novatos” (IB5 -> NB5b). Desse modo, a seguinte tabela representa a organização final dos participantes de acordo com seus níveis de expertise verificados, o país onde residem e as músicas executadas por eles:

14 Os compositores das músicas são: All the things you are – Jerome Kern; Caravan – Juan Tizol e Duke Ellington’

Autumn Leaves – Joseph Kosma; Penny Lane – Paul McCartney e John Lennon; Canto de Ossanha – Baden Powell e Vinícius de Moraes; Eu não existo sem você – Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

Tabela 7. Organização final dos participantes de acordo com seus níveis de expertise verificados pelos juízes, o país onde residem e as músicas executadas por eles.

Nível de expertise/ País

Portugal Portugal Portugal Brasil Brasil Brasil

“ De elite” EP1 EP2 EP3 EB4 EB5 EB6

O teste ANOVA15 demonstrou a existência de diferença significativa entre as respostas para a avaliação geral dos juízes (p<0.001). O post hoc Tukey apresentou diferenças significativas entre todos os grupos: “de elite” e “intermediários” (p=0.005), “de elite” e

“novatos” (p<0.001), “intermediários” e “novatos” (p=0.002). Isso demonstra a coerência entre as médias das notas atribuídas pelos jurados e o grupo de expertise em que os integrantes passaram a figurar.

Por fim, algumas das consequências observáveis da escolha dos participantes foram: (a) a pouca disponibilidade de tempo para a realização das tarefas, principalmente no caso dos experts

“de elite”, o que gerou grandes conflitos de agenda e necessidade de adaptação e (b) a quantidade de desistências dos indivíduos indicados aos grupos “intermediários” e “novatos”, principalmente quando informados sobre a realização do estudo prático, com a realização de gravações e análises de suas execuções, muitos convites foram declinados por conta de um certo receio em relação a suas próprias capacidades.

15 As notas atribuídas pelos juízes se apresentaram como dados distribuídos de maneira normal. Dessa forma foi utilizado o teste paramétrico ANOVA.