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Escravizados, libertos e livres “nos mundos do trabalho” do Rio de Janeiro

O estudo sobre o Oitocentos tem despertado o interesse de um signi-

ficativo número de pesquisadores.5 Este período tem, também, atraído a

atenção dos historiadores da história do operariado não só na Inglaterra6

como, mais recentemente, no Brasil.7 Interessam processos de formação e

evolução das classes trabalhadoras e, particularmente, a formação da clas- se operária em contextos históricos específicos. Na experiência histórica brasileira sobressai o impacto da escravidão no “fazer-se” dessa classe. Uma vez que as experiências sociais de trabalho que antecederam a for- mação de uma classe de trabalhadores livres e assalariados, no caso brasi- leiro, embaraçavam formas de relações de trabalho diversas, cabalmente

estruturadas em lógicas forjadas nas relações escravistas,8 faz sentido

buscar apreender nas vivências, nas reciprocidades entre os trabalhadores de diferentes condições sociais e entre estes e os senhores e empregado- res, elementos característicos desta formação.

Para além de o escravo ter sido por excelência o “trabalhador”, “mãos e pés” de senhores de distintos estratos sociais, durante os períodos co- lonial e imperial, outras formas de pactuar a relação entre os donos dos meios de produção e os que tinham somente a força de trabalho foram ce- lebradas. Trabalhadores livres, brancos e não brancos, eram empregados em atividades agrárias ou artesanais em troca de remuneração monetária ou não. A coexistência destas formas de relações de trabalho torna frou- xas análises relativas a um “mundo do trabalho” no singular, mesmo no 5 Exemplo profícuo vem daqueles que organizaram na Universidade Federal Fluminense o Centro

de Estudo do Oitocentos-CEO, um espaço de trabalho coletivo e interinstitucional, que concentra estudos do Chamado “grande Oitocentos”, referentes ao período de fins do século XVIII até o final da República Velha.

6 Refiro-me aos trabalhos de E. J. Hobsbawm e E. P. Thompson. Conquanto haja divergências sobre

quando as classes trabalhadoras se singularizaram em classe operária, para ambos, a segunda é um fenômeno histórico que ocorreu na sociedade inglesa, mas enquanto para Thompson a classe operária se formou de 1780 a 1832, para Hobsbawm isso somente ocorreu bem mais tarde, de 1870 a 1914. Ainda que considerem que as classes nunca estão prontas e acabadas, no sentido em que suas formações não devam ser pensadas como um processo com início, meio e fim, Hobsbawm e Thompson viram sentido em delinear a emergência da classe operária britânica enquanto grupo social, por entendê-la como um fenômeno historicamente novo. Para tanto, recuaram suas análises para um período anterior ao marco histórico de sua formação. Ver: Hobsbawm, Eric J. Mundos do trabalho. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000; THOMPSON, Edward P. A formação da classe operária inglesa: a árvore da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

7 Ver: Góes, Maria da Conceição Pinto. A formação da classe trabalhadora: o movimento anarquista

no Rio de Janeiro, 1888- 1911. Rio de Janeiro: Zahar: Fundação José Bonifácio, 1988; Batalha, Cláudio de Moraes. Sociedade de trabalhadores no Rio de Janeiro no século XIX: algumas reflexões em torno da formação da classe operária. Cadernos do AEL, Campinas, SP, n. 10-11, 1999; Batalha, Cláudio de Moraes; SILVA, Fernando Teixeira da; FORTES, Alexandre (Org.). Cultura de classes: identidade e diversidade na formação do operariado. Campinas, SP: EdUnicamp, 2004; Mattos, Marcelo Badaró. Escravizados e livres experiências comuns na formação da casse operária trabalhadora carioca. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2008.

contexto da escravidão. Direcionando tal argumento para a proposta des- te artigo, importa destacar que, ao desconsiderar a presença do elemen- to escravo no “fazer-se” da classe operária brasileira, pode-se incorrer no risco de perder algumas das características fundamentais deste processo.

Daí, Marcelo Badaró Mattos, seguindo essa tradição historiográfica inglesa, ser bem-sucedido na defesa de sua hipótese de que, no Rio de Janeiro

a presença da escravidão, as lutas dos escravos pela liberdade e as formas pelas quais as classes dominantes locais buscaram controlar seus escravos e conduzir um processo de desescravização sem maiores abalos em sua dominação foram fatores decisivos para a conformação do perfil da nova classe de trabalhadores assalariados.9

Se o controle a que Badaró Mattos se refere, analisando as décadas finais do século XIX, é aquele baseado na coerção a fim de disciplinar para o trabalho, que teria extrapolado as relações de trabalho escravista, outro tipo de controle declinaria nos anos iniciais do século XIX, corroborando paulatinamente para “conformação do perfil da nova classe de trabalha-

dores assalariada”: o exercido por meio das Corporações de Ofícios.10 De

acordo com Marcelo Mac Cord, com o fim do aparato legal que oficialmen- te sustentava as corporações, que possuíam o monopólio dos processos de aprendizagem das ditas ‘artes mecânicas’, “os mestres artesãos perderam o privilégio de monopolizar o ensino de suas artes e controlar seus respec-

tivos mercados”.11 O artigo 179 da lei constitucional de 1824 permitiria

então o alargamento da participação escrava em uma economia monetá- ria. Uma vez que, ainda na primeira metade do século, segundo Eulália M. Lahmeyer Lobo, o trabalho escravo era “empregado nos serviços públicos urbanos, doméstico, no comércio, tanto nas lojas como na qualidade de

mascates, na produção artesanal, doméstica e manufatureira”, 12 a legis-

lação abria oportunidade para os trabalhadores escravos qualificarem sua mão de obra. Sem correr o risco de ser multado, um alfaiate poderia en- tão mandar publicar em 1873 o seguinte anúncio: “Precisa-se, na Rua do Sabão 119, 2º andar, de um pequeno de qualquer cor, livre ou escravo para 9 Mattos, Marcelo Badaró. Escravizados e livres: experiências comuns na formação da casse operária

trabalhadora carioca. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2008. p. 21.

10 As Corporações de Ofícios eram irmandades organizadas em torno de um ofício mecânico, que

controlavam o processo de produção e de comercialização das obras artesanais. Eram responsáveis pela qualidade da obra e pelo aprendizado dos futuros artesãos.

11 O Estudo se refere a um grupo de artífices “de pele escura” que teriam, na Recife do Oitocentos,

criado uma associação promovendo, entre outras providências, o aperfeiçoamento artístico e so- corros mútuos (Mac Cord, Marcelo. Andaimes, casacas, tijolos e livros: uma associação de artífices no Recife, 1836-1880. Tese (Doutorado)–Programa de Pós-Graduação em História, Universidade de Campinas, Campinas, SP, 2009. p. 3).

12 LOBO, Eulália Maria L. et al. Estudos das categorias socioprofissionais, dos salários e do custo da

alimentação no Rio de Janeiro de 1820 a 1930. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 27, n. 4, out./dez. 1973. p. 132.

aprender o ofício de alfaiate, quem estiver nestas condições pode aparecer

para tratar”.13

Sobressai, a partir de então, o empenho dos senhores na tarefa de trei- nar seus escravos, valorizando assim seus investimentos, e o do próprio Estado imperial, que treinava os “escravos da nação” que atuavam em es-

tabelecimentos manufatureiros estatais.14 Somam-se também, no caso

particular do Rio de Janeiro, a conjuntura urbana e a ação consciente dos próprios cativos que, vivendo “sobre si” nos “labirintos” da cidade, perce- biam a “lógica do mercado” e podiam consagrar suas horas de folga para o aprendizado de uma das chamadas “habilidades mecânicas” para aumen- tar a possibilidade de amealhar o suficiente para o seu pecúlio. Atuando dentro dos limites de sua época, os escravizados podiam aprender na ex- periência cotidiana de trabalho como aprendiz ou observando o ofício dos trabalhadores mais qualificados.

Nas páginas do Jornal do Commercio são estampados anúncios que per- mitem perceber o exposto anteriormente. É o caso dos anúncios de ven- das mandados publicar no dia 17 de janeiro de 1873.

Vende-se dois crioulos de bonitas figuras e de bom comportamento, peri- tos oficiais pedreiros de toda obra. Vende-se juntos ou separados; na Rua do Visconde do Rio Branco, n. 34, sobrado; antiga do Conde.

Vende-se um preto, de nação, bastante robusto, oficial ferreiro, também cozinha o trivial; negócio decidido por ser de precisão; na Rua Gonçalves Dias, n. 32.15

Os números do Censo populacional de 1872, relativa à participação es- crava na economia urbana do Rio de Janeiro, corroboram essa proposição. Para o município do Rio de Janeiro os recenseadores arrolam como operá- rios 2.135 indivíduos escravizados, sendo 1.862 residentes nas freguesias urbanas e 273 nas freguesias rurais. (Tabela 1)

13 Jornal do Commercio, 07/01/1873.

14 Sobre o assunto ver: Soares, Luiz Carlos. Escravidão Industrial no Rio de Janeiro do século XIX.

In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA ECONÔMICA, 5., 2003, Caxambu; CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE HISTÓRIA DE EMPRESAS – ABPHE, 6., 2003, Caxambu. Anais... Caxambu: [s.n.], 2003.

Tabela 1 – População escrava do município do Rio de Janeiro considerada em relação às profissões (por sexo)

Profissões Homens Mulheres Total

Freguesias urbanas Artistas 463 3 466 Marítimos 524 524 Pescadores 52 52 Costureiras 1.217 1.217 Operários 1.862 1.862 Lavradores 149 15 164 Criados e jornaleiros 4.203 709 4912 Serviço doméstico 8.098 12.727 20.825 Sem profissão 3.491 4.054 7.545 Total 18.842 18.725 37.567 Freguesias rurais Artistas 31 31 Marítimos 3 3 Pescadores 122 122 Costureiras 167 167 Operários 273 273 Lavradores 3.059 2.472 5.531 Criados e jornaleiros 794 79 873 Serviço doméstico 560 1.458 2.018 Sem profissão 1.203 1.151 2.354 Total 6.045 5.327 11.372 Total Geral 24.887 24.052 48.939

Fonte: Recenseamento da população do Império do Brasil a que se procedeu no dia 1º de agosto de 1872, volume XIX. Rio de Janeiro, 1873-1876, p. 2 apud SOARES, Luiz Carlos. O “Povo de Cam” na capital do Brasil: a escravidão urbana no Rio de Janeiro do século XIX. Rio de Janeiro: FAPERJ/ Sete Letras, 2007.

Outros que não podem ser desconsiderados ao se pensar na “confor- mação do perfil da nova classe de trabalhadores assalariados” são os tra- balhadores nacionais livres, cuja grande parcela era de descendentes de escravos. O aumento proporcional no número de livres na composição da sociedade carioca, vertiginoso nos anos posteriores a 1850 (Tabela 2), indica ser imprescindível dar atenção à participação destes elementos na economia ainda escravista, assim como sugerido por Peter Eisenberg ao

analisar o contexto paulista do período.16 Era neste conjunto da popula-

ção que os empreendedores tinham nas últimas décadas do século XIX, teoricamente, maiores possibilidades de encontrar oferta de mão de obra,

16 Eisenberg, Peter. Homens esquecidos: escravos e trabalhadores livres no Brasil – séc. XVII e XIX.

uma vez que em 1872 este grupo representava o maior contingente popu-

lacional residindo na Corte Imperial: 152.722 indivíduos.17

Tabela 2 – População livre e escrava no Rio de Janeiro: 1821-1849-1872

Anos População total População livre População escrava

1821 116.444 58.895 50,60% 57.549 49,40%

1849 266.466 155.864 58,49% 110.602 41,51%

1872 274.972 226.033 82,20% 48.939 17,80%

Fonte: AN/RJ – Estatísticas: 1790-1865; Recenseamento da população do Império do Brasil 1872 apud SOARES, Luiz Carlos. O “Povo

de Cam” na capital do Brasil: a escravidão urbana no Rio de Janeiro do século XIX. Rio de Janeiro: FAPERJ/ Sete Letras, 2007. Anexos.

Para além das motivações de senhores, escravos, Estado e até mesmo dos trabalhadores libertos e livres no sentido de formar quadros de mão de obra com o objetivo de atender as demandas por qualificação para os ainda toscos setores fabril e industrial do Rio de Janeiro do Oitocentos, é possível observar nos anúncios dos classificados do Jornal do Commercio a preocupação dos empregadores com a formação destes quadros, ou seja, demandas específicas iam formatando o “mercado”, cujos participantes buscavam criar condições para capacitar novos braços de acordo com ne- cessidades concretas.

Precisa-se de um pequeno para aprender o ofício de chapeleiro de sol, tra- tar na Rua da Quitanda, n. 184. (1873)

Precisa-se aprendizes para uma oficina de costura, podendo morar na mes- ma. Na Rua São Cristóvão n. 93. B. (1890)

Precisa-se de uma pequena para aprender a coser e alguns serviços leves de casa de pequena família, paga-se 10$ e dá-se roupa; carta neste escritório a DSLDM. (1895)

Precisa-se de rapazes para aprender ofício de fundidor, ganhando desde logo bom salário e aprendendo um bom ofício, na Rua do Espírito Santo n. 30.18 (1895)

A competição pelos indivíduos mais qualificados e os benefícios da qualificação podem ser percebidos também nos enunciados dos próprios anúncios. “Precisa-se aprendizes com prática de fundição ganhando mais do que em qualquer fábrica por seu trabalho de empreitada; na Rua do

Espírito Santo n. 30”,19 anunciava certo empregador em 1895.

A participação dos cativos na produção industrial no Rio de Janeiro foi verificada também por Luiz Carlos Soares. Segundo o autor de O “povo de 17 Como demonstrado na Tabela II, os escravizados constituíam 48.939, 17,8% da população. Dos

226.033, 82,2% da população constituída por pessoas livres, 73.311 eram de estrangeiros. Entre os estrangeiros 56.008 eram homens e 17.303 eram mulheres. Entres os nacionais livres havia 77.872 homens e 74. 850 mulheres.

18 Jornal do Commercio, 18/01/1873, 19/01/1890, 05/01/1895 e 06/01/1895, respectivamente. 19 Jornal do Commercio, 03/01/1895.

Cam” na capital do Brasil, a revogação do decreto que proibia instalações

industriais no Brasil incentivaria um maior grupo de pessoas a adotar a prática de comprar “escravos para o fim especial de instruí-lo n’alguma arte útil ou ofício, vendendo-os em seguida por preços elevados, ou alu-

gando seus talentos e trabalho”.20 Detecta a presença de trabalhadores

escravos nos mais variados empreendimentos industriais, sobretudo en- tre as décadas de 1840 e 1860, entretanto, argumenta que ocorre uma “transmutação” no perfil dos trabalhadores e, nos anos que antecederam a Abolição, o número de cativos ocupando cargos nos setores industriais reduz sensivelmente. Esta “transmutação” refletiria o aumento do núme- ro de libertos, em decorrência das políticas de alforria, o volume de entra- da de imigrantes e a inclusão de brasileiros nascidos livres, empobrecidos nas relações de trabalho manufatureiros e fabris. Segundo a linha argu- mentativa que venho buscando desenvolver, na conformação das classes trabalhadoras estas transformações teriam contribuído para o acirramen- to das disputas por ocupar posições e, no preterimento da mão de obra

africana e crioula nos estabelecimentos industriais do Rio de Janeiro.21

Eulália M. L. Lobo contribui também para esta análise. Em outro es- tudo que desenvolve, relativo à capital do Império, indica que no período de 1840 a 1888, em decorrência de uma expansão econômica, ocorreu um crescimento nas atividades comerciais que concorreu para as mudan-

ças das estruturas sociais expandindo as oportunidades de trabalho.22 Na

contramão do sugerido por Eisenberg – que discorre sobre o surgimento de uma “brecha assalariada” entre a população cativa em decorrência do

mesmo processo –,23 Lobo argumenta que a intensificação da utilização

da força de trabalho livre e assalariada, na economia urbana escravista do Rio de Janeiro, teria contribuído na monetarização do trabalho da mão de obra escrava. A análise revela a complexidade e o entroncamento entre as modalidades de trabalho livre e escrava; sobressai que eram os valores cobrados como aluguel dos escravos que serviriam de patamar para a fi- xação e compressão dos valores dos jornais dos trabalhadores livres. Na experiência do trabalho conformavam-se as novas relações sociais.

Ressalto ainda que, a escravidão, enquanto instituição plenamente disseminada, interferiu nas definições de hierarquias sociais e raciais, forjou sentimentos, valores e etiquetas de mando e obediência para além 20 John Luccock, Notas sobre o Rio de Janeiro apud SOARES, Luiz Carlos. O “Povo de Cam” na capital do

Brasil: a escravidão urbana no Rio de Janeiro do século XIX. Rio de Janeiro: FAPERJ/ Sete Letras, 2007. p. 150.

21 Ver SOARES, Luiz Carlos. O “Povo de Cam” na capital do Brasil: a escravidão urbana no Rio de Janei-

ro do século XIX. Rio de Janeiro: FAPERJ/ Sete Letras, 2007. p. 146-159.

22 LOBO, Eulália M. Lahmeyer. História do Rio de Janeiro: do capital comercial ao capital industrial e

financeiro. Rio de Janeiro: IBMEC, 1978.

23 O autor parafraseia Ciro F. S. Cardoso, quando este cria a categoria “brecha camponesa” para dar

conta de explicar a existência de uma economia escrava, autônoma e rendosa, no mundo rural. Ver: SOARES, Luiz Carlos. Os escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX. Escravidão – Revista Brasileira de História, [S.l.], v. 16, p. 107-142, 1988.

dos seus marcos e limites. Tendo a classe operária brasileira emergido do seio de uma sociedade escravista, para tornar possível esta emergência e o seu “fazer-se”, trabalhadores, libertos e livres, nacionais e estrangeiros, presentes neste processo, participaram, juntos aos escravizados, no jogo político para “abolir” as relações sociais de trabalho baseadas no regime de escravidão, uma vez que a disciplina que garantiu e consolidou a for- mação das relações de trabalhos livres e assalariados herdou muito daque-

la utilizada naquele regime.24

Tendo em vista estas confluências, concordo com abordagens que su-

gerem o reexame do papel de africanos e crioulos,25 escravos e libertos,

e dos nacionais livres, na formação da livre e assalariada classe operária

brasileira.26 Convergindo interesses e perspectivas entre a história do tra-

balho e da escravidão – cuja tradição mais recente insiste em considerar a atuação política dos escravizados na superação das mazelas do cativeiro e em denunciar o processo que exclui o trabalhador escravo da história

social do Brasil –,27 faz-se necessário buscar compreender em que medida

as experiências dos trabalhadores foram compartilhadas neste processo. Por conseguinte, analisar a especificidade da dinâmica da experiência his- tórica brasileira, destacadamente a verificada no Rio de Janeiro urbano nas últimas décadas do século XIX, se apresenta como possibilidade de participar deste diálogo mais amplo.

A composição social dos trabalhadores