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Espanhol na América Central e do Sul

Capítulo 2 A música

2.5 Espanhol na América Central e do Sul

As músicas difundidas pelos meios de comunicação em Portugal (e no mundo) são maioritariamente produzidas na América Latina, facto que deve ser tido em conta quando se trabalha um tema musical na sala de aula.

O espanhol falado na América latina é resultado do espanhol peninsular levado pelos colonizadores oriundos, sobretudo, da Andaluzia e da Extremadura, na época pré-clássica do espanhol (século XV). Esse espanhol peninsular sofreria uma forte influência das cento e vinte e três línguas indígenas (Alonso, 1985). Estas influências ocorreram em traços de linguagem popular e culta, mas também na literatura pré-clássica e clássica.

Por este motivo, é possível mapear-se a origem dos colonizadores, apontando a grande aproximação à linguagem do sul de Espanha, que se reflete na fonética e no léxico do espanhol da América Central e do Sul. Mesmo influenciado, o espanhol da América é uma língua unificada com diferenças mínimas entre os vários territórios.

Na dimensão fonética, podemos destacar como exemplos das influências peninsulares do sul de Espanha nos seguintes fenómenos (Alonso, 1985):

1) Passagem do -e átono para -i: “vistido”, “visino”; 2) Passagem do -o pretónico para -u: “tuavía”, “gurrión”;

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3) A mudança do -e em hiato a -i na linguagem culta: “tiatro”, “pasiar”, nos verbos

terminados em –ear;

4) Abertura total do -e no ditongo -ei até soar -ai: “asaite”, “sais”, “raina”; fenómeno oposto: “beile”,” agueitar”;

5) Vocalização do grupo -ct: “aspeito”, “defeito”, “doutor”; 6) Queda do -d intervocálico: “piaso”, “cuidao”;

7) Por outro lado, aparece um -d intervocálico por hipercorreção: “tardido”, “bacalado”; 8) Ditongação excessiva: “piesa”, “dientista” y perda de ditongos como “quebras”,

“apreta”;

Destacam-se outras influências do espanhol peninsular no espanhol da América:

1. Sigún e siguro são comuns em Zamora, Extremadura, Andaluzia e na Mancha, essas formas foram encontradas no Novo México e na Patagónia;

2. A mudança contrária de -i para –e, como em escribir ou vesita, podemos encontrá-la na Cantábria, Aragão, Múrcia, Extremadura e Toledo.

3. A mudança de -o para –u, como em sospirar ou joventud, que podemos encontrar em poemas de Cid e em na obra de Berceo. Em Espanha, verifica-se a sua presença em Albacete e em Salamanca. Espalhou-se pela América, mais concretamente, nas Antilhas, Venezuela, América Central, Chile, México e Colômbia;

4. As mudanças nos ditongos -ai e -ei presentes no registo popular da península podem ser verificados no território que compreende a América central e do sul, estando inclusivamente presentes nos meios de comunicação e na produção literária.

5. Vocalização na linguagem culta, como por exemplo doutor. Encontra-se na península em Castela e na Andaluzia e na América na Argentina, Costa Rica, México, Colômbia e Chile;

6. O grupo -act vocalizado como em carauter, intauto pode ser encontrado no Chile, na Argentina e no Uruguai;

O grupo -ect como em perfeuto, efeuto, vocalizado em -u usa-se na Argentina, Chile, Uruguai e Colômbia;

7. A queda do -d intervocálico usa-se no registo popular em Espanha como em “na”, “pueo”, “peaso”, “ca” e em palavras terminadas em -ado como soldao, lao e particípios verbais;

8. Na linguagem popular desaparece o -d final, tanto na América como em Espanha, como podemos observar em usté, verdá, virtú. No entanto, na Argentina esse -d final trona- se -t como em ustet, bondat (mais tarde imposto a -d final por hipercorreção em Espanha);

9. A ditongação excessiva como em escuendo, compreendo, apriende e tueso, bem como o desaparecimento dos mesmos em greso e nervoso;

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10. A mudança na acentuação das palavras cáido, baúl e máiz usa-se no Novo México e na

Argentina, bem como a eliminação do hiato como em véinte, fláuta, páila.

Este tipo de influência altera a pronúncia de algumas palavras, sendo que os vocábulos greco-latinos têm a liberdade de se pronunciarem de uma maneira ou outra. Na América houve alterações a nível morfológico e lexical também (Alonso, 1985).

Considerando que os povoadores do território da América latina eram sobretudo oriundos do sul da península ibérica, mais concretamente das atuais comunidades autónomas da Extremadura e da Andaluzia (Alonso, 1985), destacam-se aqui algumas influências do espanhol levado pelos povoadores no espanhol americano.

Do ponto de vista da fonologia:

• Agrupamento dos sons das sibilantes -s, -ss, -ç, -z num -s aspirado quando se encontra em final de sílaba;

• O -r e o -l desaparecem no final de palavra;

Do ponto de vista lexical, encontramos presenças de formas antigas como acalenturado (Alonso, 1985) e algumas palavras como:

• Agonía em vez de angustia;

• Acuerdo de ministros em vez de consejo de ministros; • Amargoso em vez de amargo;

• Incómodo em vez de molesto; • Cansado em vez de fatigoso; • Llamado em vez de llamamiento; • Liviano em vez de ligero.

2.5.1 As influências das línguas indígenas no espanhol da América

Os espanhóis, ao chegaram à América no século XV, povoaram um território onde viviam vários povos indígenas, cada um deles com uma língua diferente, convivendo cerca de 120 línguas naquele espaço. A língua espanhola para ali levada sofreu influências de Todas elas, nomeadamente do nahuatl (México); do guarani (Brasil, Cuenca do Paraguai, Paraná); ou do quéchua (Andes, Perú, Equador, Norte do Chile), por exemplo.

Como aponta Alonso (1985), ainda que a linguagem culta fosse mais homogénea do que a linguagem popular, existiam variações geográficas, climáticas e culturais que atuaram de forma direta sobre o espanhol naquele território, verificando-se influências ao nível fonológico, lexical e morfológico. Tomemos como exemplo o possessivo afetivo -y do quéchua que deu origem a formas como viday (“vida mía”) e aguelay (“abuela mía”).

Henriquez Ureña (apud Alonso, 1985) considera que não existe uma pronúncia, uma sintaxe e léxico estáveis na América latina pelo que esta poderá ser dividida em cinco zonas de acordo com os traços linguísticos que apresentam:

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1. Sul e sudeste do México, EUA e as repúblicas da América Central;

2. Cuba, Porto Rico, Santo Domingo e litoral e interior da Colômbia e da Venezuela; 3. Venezuela interior, Equador, Norte do Chile, Perú e Bolívia;

4. A maior parte do território chileno;

5. Argentina, Uruguai, Paraguai e sudeste da Bolívia.

2.5.2 O Tuteo e o Voseo

Tuteo é o uso de tú na segunda pessoa do singular, comum em Espanha e em alguns

países da América Latina. Contudo, é muito frequente na América latina o fenómeno do Voseo, que consiste na utilização do pronome vos para a segunda pessoa do singular (tú) e ocorre sobretudo na linguagem popular. Tanto no registo popular como culto, ustedes é o plural de

tú/vos/usted, o que cria alguma confusão nos usos de tú no espanhol da América.

Na Argentina, no Paraguai e em parte do Uruguai o sujeito é vos sendo que (Alonso, 1985):

• No singular e no plural comporta-se como no castelhano (por exemplo, reís e vivís); • Nas formas mais antigas, como por exemplo pensés, tenés, e nas formas sem -d final

como por exemplo em llegá, vení, poné;

• Nas formas singulares da linguagem culta, como por exemplo em estabas, estarías e

estuvieras.

No mapa1 abaixo podemos observar os territórios onde ocorre o fenómeno de voseo e onde esse fenómeno é inexistente:

1 Cf.: https://www.happyhourspanish.com/spanish-agentina-voseo/. Figura 5 - Mapa dos países onde se usa o voseo.

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Segundo o mapa, a Argentina, parte do Uruguai e do Paraguai são zonas onde se fala e se escreve o voseo (assinalados a azul escuro), o Panamá, Costa Rica, Nicarágua e a Bolívia são zonas onde se fala em voseo, mas não se escreve (assinalados a azul), sul do México, Salvador, Guatemala, Honduras, Chile, parte da Bolívia e o Haiti são zonas onde o voseo coexiste com o

tuteo (assinalados a azul claro) e por fim, parte do Uruguai, Venezuela, Peru, Colômbia, norte

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Capítulo 3 - Escolher espanhol como língua estrangeira

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