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Espontaneidade: o Caminho e o Fim

5. Aspectos Éticos da Pesquisa

2.6 Espontaneidade: o Caminho e o Fim

Como cidadãos, somos submetidos a poderes maiores, limitantes para a nossa atuação, muitas vezes, assumindo o papel ressentido-passivo, "um comportamento passivo, ressentido, reclamão que fica pedindo para o poder algo" (E2). A vida é cheia de problemas inerentes, "não existe sociedade utópica que vai resolver tudo, há contradição entre indivíduo e sociedade sempre" (E2), dessa forma não existe somente um jeito certo de conceber as relações humanas, outras populações trazem outros paradigmas (E2). A compreensão e tratamento das relações humanas não pode se basear em valores pessoais, pois cada um tem suas importâncias (E2). Na investigação dos tus internalizados, espera-se contribuir para que o indivíduo ressignifique seu contrapapel, de não reagir de forma ressentida, mas agir espontaneamente (E2).

A especialista E2 comenta sobre Zaratrusta, dizendo que "o homem é inferior a uma mosca, né? (...) porque ele fica achando que ele tem uma sabedoria, ele fica se achando, né? Na verdade, ele não tem chifre, ele não tem garra, e aí, em cima disso ele tem um complexo de inferioridade, (risos) com relação aos outros animais. (...) Então ele diz, que dai ele fica inventando ciência pra se achar, etc. e tal, mas para sobreviver, ele além de ficar interpretando o mundo para tentar controlar, porque ele só tem córtex não ter força física, coitado, e perdeu essa capacidade de perceber o mundo como mosca, como veado diante do sangue de um animal que quer comer, fica numa falação, perde a realidade e fica tentando se adaptar ao status quo" (E2).

A velocidade contemporânea é um relógio que atormenta o ritmo da sociedade (E2). Todo ser humano tem seus momentos de desequilíbrio (E2). A sociedade é cheia de críticas e julgamento (E6). Tais comportamentos conservados são tendências naturais, "a sociedade que me produziu assim" (E5), pronto para colocar a culpa no outro. Por isso, novas propostas são tão difíceis de serem aceitas. Na vida em sociedade, é importante saber o limite do outro, para se prevenir e realizar uma adequação na sua verdade, "adequação enquanto percepção de que se eu não quero alguma coisa eu tenho que saber o tamanho da resistência do outro" (E2). Segundo Nery (2003), "a espontaneidade-criatividade nos liberta do determinismo absoluto, que nos aprisiona em nossos condicionamentos, afirmando-nos sujeito de nossa história" (p. 20).

Para Moreno (1987), a espontaneidade é fator fundamental para a saúde e a sobrevivência do indivíduo. Apesar de muitas vezes mal compreendida pelo uso comum da palavra que muitas vezes remete à impulsividade, o significado da palavra espontaneidade pressupõe prontidão e adequação de resposta, uma nova resposta a problemas antigos (Gonzalez, 2012). Segundo o autor, o treino e desenvolvimento da espontaneidade ajudam o sujeito a "aumentar a abertura à experiência, reduzir as inibições e promover o bem-estar psicológico" (p. 42).

O Psicodrama trata com criatividade, espontaneidade e curiosidade, podendo estes serem entendidos como partes de um mesmo objetivo (E7). O foco do Psicodrama é fazer crescer o ser espontâneo e criativo (E1). A espontaneidade é a "luta que a própria pessoa vai fazendo para resistir às imposições que vêm de fora e conseguir fazer predominar a sua maneira de ver, o seu caminho, a sua vontade" (E7). Segundo E2, "a criatividade tem que saber avaliar os campos de força com os quais eu preciso contrapor em algum momento para poder eu fazer o meu universo ou achar linhas de fuga para conhecer".

Espontaneidade tem a ver com rapidez e prontidão para colocar para fora imediatamente, "ter uma resposta na hora ali" (E5). Ser espontâneo facilita viver o aqui agora (E5). A abertura de se adaptar ao momento e deixar vir o que deve aparecer e não pensar o que fazer antes disso. (E1, E2, E3, E4, E5). Para E5, a espontaneidade ajuda no improviso de se adaptar às circunstâncias e trazer uma resposta no aqui e agora de forma automática e nova. Tanto o diretor, como o ego-auxiliar ajudam o grupo a fazer surgir e fortalecer a espontaneidade no ato (E5).

A espontaneidade nos ajuda a estar preparado para o aqui e agora, ela ajuda muito no "suportar viver sem a verdade última" (E2). Como conta a especialista (E2), por sermos extremamente frágeis, criamos a ciência e regras para nos sentirmos seguros a partir do controle que supostamente temos do mundo. Pois, nesse movimento acabamos por perder a nossa mais valiosa característica que é a espontaneidade e a capacidade de adaptação e superação diante das situações.

A espontaneidade pode ser desenvolvida em função da experiência, no caso, quanto mais treinamento, mais espontaneidade (E7 e E6). Pessoas com mais experiências têm mais facilidade de atingir altos níveis de espontaneidade (E7). A experiência permite chegar em um grupo sem qualquer preparação, e usar todo o treinamento para elaborar práticas na hora, de forma criativa e espontânea (E5). Segundo E7, os níveis de espontaneidade variam em cada indivíduo, algumas pessoas são mais espontâneas que outras. Não se pode esperar que os níveis de espontaneidade sejam os mesmos, pessoas que treinam a espontaneidade há mais tempo, possuem níveis maiores dela. Ainda, algumas pessoas apresentam rapidez na aprendizagem, outras estão mais dispostas para a ação, enquanto outras vão e ficam mais resistentes (E7). Ainda, para E5, a espontaneidade tem a ver com a maneira como a pessoa foi educada, no sentido de liberdade adquirida de ser espontâneo. A espontaneidade também tem a ver com humor, na medida em que ele traz a permissão de ter "a resposta na hora ali" (E5).

Um diretor de Psicodrama precisa considerar que, na hora da intervenção, pode ser que tenha que improvisar e sua espontaneidade o ajudará nesse sentido (E5). Espontaneidade ajuda na adaptação a situações externas que acontecem sem aviso, ajuda a lidar com contextos e públicos com que não estamos familiarizados, ajuda na abertura para se adaptar ao grupo e receber o que ele tem para propor "(E4). O diretor perde sua espontaneidade quando suas preocupações e expectativas tomam conta (E6). A espontaneidade flui mais quando não se preocupa com erros e se sente seguro, "tem mais segurança assim mesmo acertando, errando, não sei se tem erros, de qualquer modo, acho que flui mais a espontaneidade no ato" (E5).