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CAPÍTULO II - A CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA NA IMPRENSA POTIGUAR

2.3 O ESTADO DA ARTE DA CRÍTICA DE CINEMA EM NATAL

Conforme foi visto na seção anterior, o motivo dos membros da ACCiRN não terem espaço nos jornais hegemônicos de Natal é um mistério que sequer o Presidente da associação sabe classificar a razão exata. Sendo assim, os críticos de cinema da capital potiguar se veem em um contexto local onde precisam escrever de forma autônoma, publicando suas análises em portais independentes.

Durante a entrevista com Sihan Felix, fomos guiados a dois sites que trabalham o cinema de maneira bastante específica. Curiosamente, ambos os portais foram idealizados por algumas pessoas que hoje também são membros da ACCiRN.

Decidimos começar pelo Cine Clube Natal. Segundo o que é dito no site oficial10, o Cine Clube Natal “foi a ideia de um grupo de entusiastas que quiseram retomar uma atividade que ganhou grande notoriedade na Natal da década de 1960, quando o Cineclube Tirol lotava as salas dos cinemas Rex e Nordeste, ambos extintos. A iniciativa partiu sobretudo do professor Giovanni Rodrigues, um dos sócios-fundadores do Tirol e o Cineclube Natal teve sua primeira atividade oficial em 20 de maio de 2005 com uma sessão de Terra em Transe, de Glauber Rocha. Dessa data até então, o cineclube continua funcionando sem hiatos com o propósito de promover a ampla discussão da arte cinematográfica por meio de projeções, debates, cursos, conferências, publicações e atuação na política cultural da cidade”.

Averiguando o site com mais atenção, pudemos notar que a página principal encontra-se desatualizada, com a última crítica sendo de um filme de 2019. Entretanto, na

34 seção “blog”, a crítica mais recente data de 14 de janeiro de 2021. Percebemos que nesse espaço, os últimos textos, entre os anos de 2020 a 2021, foram escritos por Nelson Marques, Presidente do Cine Clube Natal.

Também há o grupo SetCenas11. De acordo com o que é apresentado no site oficial, o SetCenas “é uma empresa inserida no setor da economia criativa que acredita no poder de transformação do ser humano por meio da arte. Transitando pelo vasto cosmos do audiovisual, buscamos proporcionar aos nossos usuários conexões através de ações nos campos do jornalismo, educação, capacitação profissional, produção de conteúdo e incentivo ao desenvolvimento da cena cinematográfica regional e de seus agentes produtores. Tendo em sua gênese o Portal SetCenas, lançado em 28 de fevereiro de 2016, um web-jornal vibrante e contemporâneo voltado para os amantes do Cinema e suas derivações, feito por apaixonados colaboradores especializados, o atual universo em expansão do SetCenas se desdobra em outras frentes de atuação, através de iniciativas próprias e do estabelecimento de grandes parcerias com importantes instituições regionais e nacionais”.

Verificamos uma maior completude no portal do SetCenas. O que vimos lá não se resume apenas a críticas de cinema; existem colunas e uma seção exclusiva para notícias cinematográficas. Além de tudo isso, o grupo também possui um curso de capacitação audiovisual em parceria com o Instituto de Cinema de São Paulo (InC SP). Mas, com o surgimento da pandemia do COVID-19, não sabemos até que ponto o portal e os projetos estão ativos.

O SetCenas ainda tem um projeto para levar escolas ao cinema, intitulado de “Projeto Fé no Cinema”. Outra parceira do SetCenas é a Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas do Rio Grande do Norte (ABDeC/RN).

Além desses já mencionados, em nossas investigações encontramos outros portais, voltados para a cultura em geral, mas que também abraçam a crítica cinematográfica. É o caso, por exemplo, da Revista Pagu. No seu site oficial12, vimos que o nome dado ao projeto é em homenagem à jornalista Patrícia Galvão (1910 - 1962). De acordo com o que é apresentado na aba que corresponde a “Sobre”, ela foi “uma jornalista e artista brasileira, responsável por ser um dos pilares da formação antropológica e cultural do nosso povo. Patrícia era conhecida por sua influência política,

11SetCenas - Viva a magia do Cinema!

35 por sua força, garra e clara visão sócio-cultural do Brasil da primeira década do século XX. Nos seus escritos, cultura, política, cidadania e sociologia se misturavam. A Revista Pagu é, claramente, uma homenagem a essa importante figura. No entanto, pedimos licença para nos apropriarmos não apenas de seu nome para de sua energia – que lhe permitia escrever enquanto se posicionava. Escrever enquanto lutava”.

No portal da Revista Pagu, há cinco editorias, entre elas Filmes e TV. No momento em que essa pesquisa foi realizada, a última publicação que diz respeito a filmes data de setembro de 2020.

Descobrimos também o portal Apartamento 702. Assim como o antecessor mencionado, aqui o foco é para a cultura em geral. Segundo o que diz no site oficial13, “Que tal descobrir o que Natal tem de melhor? Sabe aquele restaurante que ninguém conhece, ou aquela festa bacana que você não sabia que rolava na cidade ou coisas do gênero? Nós conhecemos e temos o prazer de te falar sobre. A equipe do Apartamento 702 trabalha com amor para te fazer redescobrir Natal e incentivar a discussão de temas importantes sobre a cidade. O Apartamento 702 é cultura e eventos, mas é também criatividade, sustentabilidade, questões de gênero e ética. Afinal, a nossa missão é ajudar a fazer de Natal uma cidade mais sustentável e mais plural. O Apartamento 702 é um trabalho coletivo de jornalistas e publicitários que tem como único objetivo cavar aquela informação importante para quem mora em Natal”.

Apesar de outros gêneros, como artes cênicas, música, dança e literatura terem aparentemente um destaque especial no Apartamento 702, o portal não deixa a crítica cinematográfica de lado. No momento em que observamos o site, a última crítica fílmica publicada data de 08 de março de 2021.

Existem outros portais culturais produzidos em Natal, como é o caso do Substantivo Plural, o Papo Cultura e o Típico Local. Contudo, os três se limitam a notícias, divulgação de festivais, ou listas temáticas de filmes que devem ser assistidos, sem a presença - até onde pudemos observar - do gênero crítica.

Neste capítulo, conseguimos comprovar que há uma historicidade do gênero crítica cinematográfica nos grandes jornais de Natal. Também conhecemos o que é a ACCiRN e como ela funciona, e confirmamos que pessoas com formação acadêmica em Jornalismo escrevem análises fílmicas em portais independentes.

36 No capítulo seguinte, iremos nos debruçar sobre a parte teórica da pesquisa, na metodologia escolhida e na análise dos dados que foram apurados, aliando a teoria com a prática. Tudo isso a fim de buscar razões que nos façam entender por que atualmente as mídias tradicionais não publicam críticas cinematográficas.

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