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CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO GERAL

1.1 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

A presente dissertação foi organizada em formato de artigos e está composta por cinco capítulos. Assim, para facilitar o entendimento do conjunto da obra, bem como da pesquisa realizada, o Capítulo I comtempla o componente textual introdutório, a problemática envolvida e a justificativa da pesquisa. Na sequência, encontram-se os objetivos que nortearam o desenvolvimento do estudo.

O Capítulo II apresenta a revisão bibliográfica, base para o andamento deste trabalho. A revisão foi segmentada em quatro grandes tópico principais: i) Contextualização da ovinocultura, no qual apresentam-se informações relevantes sobre o cenário da ovinocultura mundial, brasileira e paulista, de forma de facilitar a compreensão dos fatores que caracterizam a ovinocultura no estado de São Paulo;

ii) Análise econômica, na qual discorre-se acerca da Economia e em especial sobre a Teorias de Custos, ressaltando seu contexto histórico, e importância destes nos sistemas produtivos, além de alguns exemplos metodológicos aplicados ao setor; iii) Impacto ambiental e mudança climática: passa-se a tratar os efeitos dos processos produtivos sobre os ecossistemas naturais; e por fim, iv) Economia ecológica, na qual trata-se do desenvolvimento do pensamento econômico-ecológico e seus avanços na valoração do capital natural, fazendo-se ênfase na metodologia de contabilidade biofísica, chamada de Síntese em Emergia (ODUM, 1996), cujo método é baseado no ponto de vista da biosfera, sendo contabilizadas as contribuições da natureza por meio dos recursos naturais que usualmente são considerados "gratuitos" pelas análises econômicas convencionais.

O primeiro artigo produto desta pesquisa contempla o Capítulo III. Neste artigo foram tomados os resultados das duas metodologias aplicadas no estudo (custos de produção e Síntese em Emergia). Posteriormente foi feita uma discussão de forma isolada, tanto para os resultados econômicos, quanto para os indicadores emergéticos. Na sequência, foram utilizados alguns indicadores das duas metodologias e apresentada uma discussão abrangente, na qual lavado em conta o componente econômico e ecológico, analisandos as forças e fraquezas desses componentes dentro de cada sistema.

No Capítulo IV estruturou-se, de forma concisa, uma proposta conceitual na utilização dos tipos de custos (fixos e variáveis), caraterizados pela Teoria de Custos, na alocação dos fluxos de emergia (recursos da natureza e do sistema econômico) obtidos pela Síntese em Emergia.

As considerações finais da presente dissertação são expostas como um todo no Capítulo V, incluindo os fatos relevantes da pesquisa e suas implicações.

Por fim, na seção Supplementary Material encontra-se o material que contém as características e indicadores zootécnicos de cada propriedade avaliada neste estudo, como também, os resultados detalhados das análises econômicas e emergéticas base desta pesquisa.

1.2 INTRODUÇÃO

Ao longo dos 4.550 milhões de anos que tem a Terra, a vida tem evoluído de diferentes formas, dando origem a infinidade de espécies animais e vegetais, e consigo diversos ecossistemas. Um claro exemplo do “sucesso” evolutivo somos nós, os Homo sapiens, espécie que no princípio viveu sob as restrições impostas pelos sistemas ecológicos. Contudo, após da descoberta da agricultura e a domesticação dos animais, por volta do ano 10.000 a.C., e mais tarde com a revolução industrial no século XVIII, e posterior revolução verde na segunda metade do século XX, os sapiens conseguiriam a colonização do globo terrestre, alterando os ecossistemas naturais na procura do seu “bem-estar”.

Este processo evolutivo levou as sociedades a tornarem-se cada vez maiores e complexas, exigindo um aumento na produtividade e eficiência dos diferentes setores produtivos. Nessa ordem de ideias, o desenvolvimento de teorias e indicadores de desempenho por parte da economia tem se tornado importante para o avanço das sociedades. Um indicador que é amplamente utilizado pelo sistema econômico moderno é o Produto Interno Bruto (PIB), índice que quantifica monetariamente os bens e serviços finais produzidos em uma região, país, estado ou cidade em determinado período. Deste modo, estimou-se que o PIB mundial de 2020 foi de US$ 84,7 trilhões (WORLD BANK, 2021a), no qual a economia brasileira se posicionou como a 12ª maior economia do mundo, com um PIB de aproximadamente US$ 1,4 trilhões ou R$ 7,45 trilhões. Contudo, o Brasil se tornou a 2ª maior economia do continente americano, depois dos Estados Unidos e a 1ª da América Latina e o Caribe, representando o 29,8% do PIB desta última região para o ano 2020 (WORLD BANK, 2021b).

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2021), o setor agropecuário apresentou participação de 6,8% do PIB nacional em 2020, com um valor de R$ 506,45 bilhões; além disso, este setor tem exibido um crescimento médio anual de 5,5% nas últimas duas décadas (entre 2000 e 2020).

Segundo dados do Censo Agropecuário 2017 (IBGE, 2019), no Brasil há cerca de 5,1 milhões de estabelecimentos agropecuários, que ocupam 41% da área total do país (351,2 milhões de hectares). Entretanto, ao comparar esses valores com dados do Censo Agropecuário 2006 (IBGE, 2006), observou-se aumento de 5,8% na área

de ocupação da terra, mas, apesar desse aumento, o número de unidades produtivas rurais diminuiu 2,6% (130.806 unidades rurais) entre 2006 e 2017.

Desde os anos 90, com a abertura comercial do Brasil, a competição entre os agentes econômicos tem aumentado, com uma tendência de redução das margens de lucratividade. No caso da ovinocultura, o comportamento tem sido um pouco diferente. Entre os anos 2008 e 2018 houve crescimento de 12,7% no rebanho efetivo (IBGE, 2019) e nas importações de carne ovina, as quais estiveram em torno das 83 mil toneladas anuais (AGROSTAT, 2019). Entretanto, em relação ao número de unidades produtivas ovinas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste evidenciou-se redução de 33,5% e 10,6%, respectivamente, entre 2006 e 2017, sendo as regiões Nordeste, Norte e Sul as que impulsaram o crescimento do rebanho efetivo (EMBRAPA, 2018).

Não obstante a evidente redução da atividade ovina na região Sudeste, não se evitou que o estado de São Paulo, seja considerado como um dos principais mercados consumidores desta espécie no país (FIRETTI et al., 2017), não apenas pela sua alta população (IBGE, 2021), mas também pela alta concentração de abatedouros certificados para ovinos: 28% do total nacional (EMBRAPA, 2019).

Apesar do papel de destaque, 77,7% dos sistemas produtivos ovinos no estado de São Paulo são constituídos por fazendas com uma superfície inferior a 50 ha (EMBRAPA, 2018), produto da decorrência e competição por terras por parte de outras atividades agrícolas, como a produção de cana-de-açúcar (GABARDO;

CALDARELLI, 2016; RUDORFF et al., 2010).

Sob essa ótica, a produção ovina tem se mostrado como uma atividade com crescimento promissório, não só pelo seu mercado, mas também, como alternativa de diversificação para os sistemas agropecuários, sendo um importante componente de resiliência de alguns sistemas (FARIAS et al., 2014). Ainda assim, na busca da rentabilidade econômica, os ovinocultores da região têm sido estimulados a adotar práticas de produção cada vez mais intensivas, visando aumentar sua produtividade em menor tempo e área. Cabrera (2014) concluiu que o sucesso empresarial dos sistemas agropecuários depende de inúmeras variáveis que se afetam mutuamente, e em alguns casos o produtor tem pouco e nenhum controle sobre elas, como, por exemplo, condições ambientais, o preço de compra de insumos, e/ou o preço de

venda do produto no mercado. Portanto, ações como nutrição, sanidade, produtividade e administrativas, que resultam no aumento da produtividade ou diminuição dos custos, e que possam ser controladas pelo produtor, precisam de maior atenção (GAMEIRO, 2009).

Analisando os dados apresentados para o Brasil do ponto de vista da economia neoclássica a qual se baseia no crescimento econômico, é possível evidenciar que o setor agropecuário, inclusive a ovinocultura, tem colaborado no desenvolvimento da sociedade brasileira. Contudo, a intensificação da produção agropecuária não só interfere no incremento da produtividade e dos indicadores econômicos, mas é também no aumento do uso intensivo da terra e de insumos não renováveis, em detrimento do potencial produtivo futuro, comprometendo a segurança alimentar no longo prazo (BARIONI et al., 2019; TILMAN; CLARK, 2014).

Além disso, a intensificação aumenta a discrepância entre os interesses econômicos e a conservação dos ecossistemas naturais, estimulando o aumento da problemática ambiental (CASTELLINI et al., 2006; SMITH et al., 2016; WILHELM; SMITH, 2018).

Deste modo, na busca por satisfazer as necessidades atuais da sociedade e alcançar aumento da lucratividade, surge o problema do desequilíbrio entre eficiência e sustentabilidade ambiental, onde, geralmente, sistemas com altos níveis de produtividade e lucratividade apresentam baixos níveis de sustentabilidade (KOCJANČIČ et al., 2018; PAUL et al., 2019). Portanto, apresenta-se o seguinte questionamento: é possível alcançar um equilíbrio entre o desempenho econômico e a sustentabilidade ambiental na produção de cordeiros?

De acordo com diversos autores (CECHIN, 2010; DALY; FARLEY, 2011;

ODUM; ODUM, 2001), a análise do desempenho global de um sistema deve levar em consideração não só os fluxos econômicos, mas torna-se importante contemplar também os fluxos de energia e materiais que compõem o funcionamento do sistema.

Odum (1996), com uma visão abrangente, propôs a Síntese em Emergia, metodologia que estima as contribuições dos ecossistemas naturais e do sistema econômico em termos de energia solar agregada, ou emergia utilizada na geração de recursos, produtos ou serviços. Deste modo a Síntese em Emergia proporciona uma análise integral das ações antrópicas na biosfera (BROWN; ULGIATI, 2004a, 2004b).

Na literatura científica encontram-se diferentes pesquisas com foco no entendimento dos sistemas de produção ovinos. Por um lado, tem se utilizado a teoria de custos na avaliação da competitividade produtiva destes sistemas em termos meramente econômicos (BARROS et al., 2009; DEBORTOLI et al., 2021;

MENDES et al., 2016; RAINERI; ROJAS; GAMEIRO, 2015; RAINERI; STIVARI;

GAMEIRO, 2015b). Por outro lado, a Síntese em Emergia tem sido utilizada na avaliação e caraterização do nível de sustentabilidade ambiental (HADEN, 2002;

RODRÍGUEZ-ORTEGA et al., 2017; SALAS et al., 2017). Apesar disso, os resultados obtidos nestes estudos, por não possuir uma integração dos conjuntos econômico e ecológico nas suas análises, às vezes, tornam-se inapropriados para avaliar ou generalizar os resultados da ovinocultura paulista. Em vista disso, aplicar uma abordagem que caracterize o desempenho econômico e emergético dos diferentes níveis de tecnificação utilizados pela ovinocultura de corte desta região, torna-se em uma interessante oportunidade de pesquisa, devido ao fato de que a ausência de uma visão abrangente do setor, pode implicar na criação de barreiras que dificultem a tomada de decisões políticas e privadas em matéria de produção e impacto ambiental.

Isso demostra a importância de desenvolver trabalhos que permitam analisar os diferentes tipos de sistemas produtivos ovinos no estado de São Paulo, possibilitando caracterizar os perfis de desempenho econômico e ambiental destes sistemas, e assim, poder contribuir com resultado e conclusões científicas que auxiliem a tomada de decisão. Por conseguinte, o presente trabalho tem por objetivo realizar um diagnóstico do desempenho econômico e ambiental da produção de cordeiro de corte sob diferentes níveis de tecnificação no Estado de São Paulo, Brasil.

1.3 OBJETIVOS

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