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CAPÍTULO II TEORIAS ORGANIZACIONAIS

2. Avaliação da escola no âmbito dos modelos organizacionais: da perspetiva racional à neo-

2.1. O neo-institucionalismo como perspetiva de análise organizacional escolar: instituição

2.1.1. Estrutura formal da organização

Meyer e Rowan destacam a estrutura formal das organizações como mitos e cerimónias.

Segundo eles (1991: 47), as organizações formais refletem a realidade socialmente construída, incorporando nas suas estruturas regras do meio em que se situam, procedimentos institucionais, moldando-as de modo a garantir conformidade com as instituições. Neste sentido, os elementos da estrutura formal tornam-se de tal forma institucionalizados que funcionam como mitos, rituais ou cerimónias, como é o caso dos programas, das políticas, das avaliações, das atividades letivas, sendo aceites como corretos no âmbito da organização escolar, independentemente da sua eficácia: “Institutionalized products, services, techniques, policies, and programs function as powerful myths, and many organizations adopt them ceremonially” (Meyer e Rowan, 1991: 41). Assim sendo, significa que estão em conformidade com as regras culturais do meio, o que permite assegurar não apenas a aceitação social, mas sobretudo a legitimidade e, consequentemente, a continuidade da organização (Meyer e Rowan, 1991: 49). Neste âmbito, também se identificam os documentos orientadores da escola - Projeto Educativo e o Plano Anual de Atividades - mesmo que não cumpram as funções pretendidas, dado que as atividades desenvolvidas no âmbito do segundo documento nem sempre correspondem às intenções expressas no primeiro, apenas sua existência cerimonial credibiliza a escola, está em conformidade com o que se considera o que deve ser. As escolas procederam à elaboração deste documento mais no sentido da sua legitimação externa. Assim, o Projeto Educativo constitui um “ritual legitimador” (Costa, 1997: 105). O Projeto Educativo assume um valor simbólico ao

serviço da organização escolarque o integra na sua estrutura formal no sentido de corresponder

às necessidades. Deste modo, os documentos orientadores da ação da escola, nomeadamente o

Projeto Educativo, passam a representar mitos racionais que sustentam a identidade da

organização escolar, legitimando-a, como defende Costa (1997: 105):

O projecto educativo constituirá, portanto e essencialmente, uma actividade simbólica, um ritual que, à semelhança de muitos outros, a organização escolar incorpora na sua estrutura formal de modo a pacificar as expectativas sócio-políticas da sociedade em geral e da comunidade em particular, legitimando, assim, a sua função enquanto instituição.

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de procedimentos contribui para a credibilidade da organização, uma vez que está em conformidade com o meio institucional.

É em função dos elementos da estrutura formal, adotados e convertidos em mitos institucionalizados, que as relações com o meio acontecem, assumindo um estatuto de essenciais para garantir legitimidade às organizações escolares e não necessariamente a sua eficácia. Para a perspetiva institucional, a estrutura não é tanto determinada pela necessidade de produzir resultados de forma eficiente, mas pela necessidade de transmitir "sistemas normativos e cognitivos" de regras e símbolos que se consideram institucionalizados e que funcionam como "mitos altamente racionalizados", determinando a forma correta de fazer as coisas. Para garantir a sua legitimidade, a organização precisa de integrar na sua estrutura os elementos institucionalizados, respondendo de forma estruturalmente isomórfica com o meio

institucional (Meyer e Rowan, 1991: 53).

Organizational success depends on factors other than efficient coordination and control of productive activities. Independent of their productive efficiency, organizations which exist in highly elaborated institutional environments and succeed in becoming isomorphic with these environments gain the legitimacy and resources needed to survive.

As organizações, ao investirem na sua identificação como instituições, estruturam-se a partir de um conjunto de “rituais” e de “cerimónias” e esses elementos simbólicos são considerados importantes para a sua legitimação social (Rowan, 1982: 261). As organizações institucionalizadas têm, então, por base um conjunto de “sistemas simbólicos e comportamentais” que ritualizam a ação organizacional (Scott, 1994: 68).

Acontece que, ao longo do processo de institucionalização, as organizações verdadeiramente institucionalizadas adotam elementos estruturais incompatíveis, tornando-se fontes de conflitos, de problemas que as organizações educativas enfrentam devido, precisamente, ao conjunto de racionalidades que nelas concorrem e se mantêm de modo a corresponder, simultaneamente, à eficiência organizacional e à legitimidade institucional (Meyer e Rowan, 1988, 1991; Ellström, 1992; Estêvão, 1998; Sá, 2004; entre outros).

Neste sentido, as organizações educativas, ao incorporarem na sua estrutura formal estruturas socialmente construídas, mitos institucionalizados e racionalidades diversas, a sua ação tem de ser interpretada como consequência de uma interação de processos internos e regras externas que legitimam a sua existência. Para fazer face a esta realidade, as estruturas (formal e informal) precisam manter-se desarticuladas no sentido de evitar fragilidades e

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demonstrar que, aparentemente, as estruturas funcionam. Porém, cada uma das partes

funciona em separado, dando respostas distintas às exigências do meio (Ferreira et al., 2001:

154).

O desacoplamento, que origina as decoupled organizations, significa que existe uma fraqueza estrutural na ligação entre as diferentes partes que constituem a organização. Por não ser solidamente integrada, já que cada uma destas partes funciona livremente e responde de forma distinta aos constrangimentos e oportunidades dos seus ambientes pertinentes específicos, tende a ser pensada como uma estrutura anárquica e de conflito. Contudo, é capaz de promover um funcionamento organizado e coordenado, bem como solucionar a colisão entre as diferentes regras organizacionais adoptadas através da separação de actividades. Tal só é possível na medida em que tanto os participantes internos como os agentes externos desenvolvem rituais de confiança e de boa-fé que dão uma imagem positiva e funcional da organização.

Assim sendo, está-se perante um sistema debilmente articulado das estruturas formal e informal das organizações (loosely coupled). Esta situação reflete-se na facilidade e frequência com que se assiste à infração ou não cumprimento das regras. No seguimento deste raciocínio, o (neo) institucionalismo não destaca muito a estrutura informal das organizações, pelo contrário, é evidenciado o papel simbólico da estrutura formal (Estêvão, 1998: 205) e esta “fachada cerimonial legitimadora” serve de resposta às exigências sociais e legitima, também ela, a existência da organização (González, 1989: 113). Segundo Orton e Weick (1990: 204), “a articulação débil provou ser um conceito durável precisamente porque leva os analistas das organizações a explicar a existência simultânea da racionalidade e da indeterminação sem colocar estas duas lógicas em distintos patamares”. Apesar disso, as organizações apresentam a imagem de credibilidade, recorrendo ao uso da lógica da confiança e boa fé (Meyer e Rowan, 1991: 58).

Despite the lack of coordination and control, decoupled organizations are not anarchies. Day-to-day activities proceed in an orderly fashion. What legitimates institutionalized organizations, enabling them to appear useful in spite of the lack of technical validation, is the confidence and good faith of their internal participants and their external constituents.

Meyer e Rowan (1991) consideram que o caminho está no recurso à desarticulação e à lógica da confiança. Ao evidenciar a desarticulação entre estrutura formal e ação como condição essencial à legitimidade, a organização pode simultaneamente incorporar de forma cerimonial os diversos "mitos racionalizados" e continuar a desenvolver a sua ação. Para que esta situação manifeste consistência é necessário conferir-lhe credibilidade através da lógica da confiança.

No entender destes autores (1991: 58-59), a lógica da confiança nas categorias

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suas potencialidades de “sobrevivência” (Meyer e Rowan, 1988: 90 e Meyer e Rowan, 1991: 53).