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CAPÍTULO I DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: CONCEITO E PERSPETIVAS

2. Perspetivas atuais das dificuldades de aprendizagem

2.2. Etiologia das dificuldades de aprendizagem

Cada vez mais as dificuldades de aprendizagem afetam uma parte significativa dos alunos que não correspondem às expetativas, quanto à aprendizagem. Ainda assim, é pouco o que se sabe acerca das causas destas dificuldades, uma vez que existe uma diversidade grande de perspetivas.

Desta forma, devido aos fatores heterógeneos nas causas e nas apresentações clínicas, podemos afirmar que a conceção acerca da etiologia das dificuldades de aprendizagem é de caráter multifatorial, uma vez que, embora cada investigador defenda a sua teoria etiológica, também admite vários fatores em função da sua orientação e formação.

Causas das Dificuldades de Aprendizagem

Fatores Neurofisiológicos

Fatores Psicológicos Fatores Socioculturais

Fatores Institucionais Linguagem Memória Atenção

Disfunção cerebral mínima Fatores linguísticos de ordem global Défices de memória a curto prazo Défices no alerta, ativação, seletividade, manutenção, nível de apreensão, etc. Malnutrição Ensino insuficiente ou inadequado

Fatores genéticos Fatores linguísticos de ordem específica Défices de memória a longo prazo Pobreza linguística do contexto familiar Condições materiais deficitárias Fatores bioquímicos e endocrinológicos Falta de estimulação, indisponibilidade de livros Inadequação dos programas, da avaliação, etc. Problemas perinatais Desvalorização das aprendizagens por parte da família

Esquema 2 – Causas das Dificuldades de Aprendizagem (Lopes J. A., 2005, p. 33)

Como tal, apresentamos os fatores etiológicos segundo as perspetivas de autores que Fonseca (1999) cita no seu livro. Bannatyne de 1971, é um desses casos, que apresenta as doze caraterísticas de uma criança com dificuldades de aprendizagem, defendendo ainda, que nem todas necessitam de estar presentes, para se detetar DA:

 Problemas de disciriminação auditiva de vogais;

 Inadequada sequência fonema-grafema;

 Fraca associação auditiva e pobre completamento auditivo;

 Problemas de linguagem falada;

 Problemas de maturação nas funções da linguagem;

 Alguma eficiência visuoespacial;

 Problemas de lateralidade;

 Inversão de imagens e de letras;

 Inconstância configuracional e direcional;

 Dificuldades em associar fatores verbais e conceitos direcionais;

 Dificuldades no ditado (integração auditivovisual tatiloquinestésica motora);

 Fraco autoconceito.

Fonseca (1999, p. 135) considera ainda a existência de uma interação mútua e uma distinção considerável entre etiologia hereditária, neurobiológica e sociocultural das dificuldades de aprendizagem, que de seguida abordamos.

2.2.1. Fatores Biológicos

Relativamente aos fatores biológicos, Fonseca (1999, p.135) distingue três deles: Fatores Biológicos Genéticos Pré, Peri e Pós-Natais Neurobiológicas e Neurofisiológicas

Fatores Pré, peri e Pós-Natais Anoxia Complicações na gravidez (sem anoxia) Parto prolongado Prematuridade Baixo peso Outras...

De acordo com os fatores genéticos, como o próprio nome indica, permite-nos identificar que algumas DA são de natureza familiar, ou seja, estas podem passar de pais para filhos ou até serem herdados de familiares próximos, como a definição, de Finucci, 1979 cit in Fonseca (1999, p. 137), indica:

“Os fatores genéticos, por vezes negligenciados em muitos trabalhos e modelos, por outros exageradamente considerados, permitem notar, todavia, que algumas DA (dislexia) são de natureza familiar. O método que lhes está implícito permite a descoberta de fatores que governam distribuições, bem como saber se esses fatores são devidos direta ou indiretamente aos efeitos dos genes”.

Considerando os fatores pré, peri e pós-natais, os estudos que têm vindo a ser efetuados, são pouco conclusivos. Mas, as causas apontadas são:

Esquema 4 – Fatores Pré, peri e pós-natais

Quanto aos fatores neurobiológicos e neurofisiológicos, Fonseca (1999, p. 142), afirma que

“considerando a aprendizagem como essencialmente dependente da organização neurológica do cérebro (Hebb, 1949), e sabendo-se que tal função depende substancialmente de fatores genéticos (Eysenck, 1960), é compreensível que alguns fatores bioetiológicos sejam de natureza neurobiológica e neuropsicológica”.

Desta forma, as teorias baseadas em fatores neurofisiológicos tentam ir ao encontro de uma relação entre os diversos problemas ou DA e disfunções ou lesões do sistema nervoso central, ou seja, entendem o comportamento humano em função do funcionamento neurológico e cerebral do indivíduo.

2.2.2. Fatores Sociais

Os fatores sociais são bastante apontados como causa significativa para as dificuldades de aprendizagem. Vítor da Fonseca (1999, p. 148) destaca dentro dos fatores sociais:

Esquema 5 – Fatores Sociais das DA

Na base dos fatores de envolvimento, de privação cultural e classes sociais, estão as duras condições sociais em que as crianças vivem e que consequentemente, tendem a perder as oportunidades de uma estimulação mediatizada por adultos. E é nesta realidade, que Uzgiris (1973 cit in. Fonseca, 1999, p. 150), admite que as crianças desfavorecidas são bombardeadas por estímulos mais perturbadores e são ainda privadas de uma estimulação auditiva e linguística consistente.

Na base destes fatores estão:

 Carências afetivas;

 Deficiências nas condições habitacionais (sanitárias e de higiene, nutricionais);

 Pobreza de estimulação precoce;

 Inexistência de condições de facilitação precoce; Fatores Sociais Fatores de Envolvimento e de Privação Cultural Classes Sociais

 Fracos desenvolvimentos percetivovisuais e interação sociolinguística;

 Privações lúdicas e psicomotoras;

 Desajustamentos emocionais que provocam alterações nas funções tónicas, de atenção, de comunicação e do desenvolvimento percetivo;

 Envolvimento simbólico e visual restrito;

 Níveis de ansiedade elevados;

 Ocupação dos pais e as suas habilitações académicas;

 Desemprego, insegurança económica e crónica;

 Analfabetismo;

 Hospitalismo;

 Atitude da mãe ao desenvolvimento da linguagem;

 E, métodos de ensino inadequados.

Desta maneira, defendemos a ideia de que para ser possível formar meios adequados a todas as crianças, para estas melhor atingirem as aquisições da linguagem, e assim, se tornarem membros adultos ativos e criadores, devemos, como sociedade e escola, educar todas as crianças e não aguardar pelo critério do insucesso escolar. Assim, podemos e devemos identificar precocemente e prevenir, para nos tornarmos mais humanos e as escolas mais justas.

Para nós, a ludicidade é vista como um desafio do futuro para prevenir as DA e desenvolver a cognição de cada aluno. Queremos investigar e encontrar ferramentas necessárias que justifiquem que é uma estratégia importante e necessária em todas as escolas, para criar nos alunos responsabilidades e interesses que lhes permitirão ser ativos e criadores e não apenas, não se submetendo apenas a critérios de insucesso escolar.

3. Critérios atuais de diagnóstico das dificuldades de