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Nos processos de diferenciação surge muitas vezes o idioma da etnia, da «raça» e da nacionalidade, a par do da classe, como por exemplo, «os populares e os não-populares», que seriam os seres da rua, ou os seres da roça, como é referido em São Tomé. Na presente investigação, relaciono a categorização étnica com outras diferenciações, tais como a «classe» e/ou o estatuto socioeconómico (cf. Weber 1968 in Eriksen, 1993), o género, ou a idade. As classes sociais em Weber dizem respeito a sistemas de classificação/estratificaçao social e de distribuição de poder que combinam diversos critérios na sua definição, tais como «income, education and political influence» (cf. Weber 1968 in Eriksen, 1993:7). A visão marxista de classe social, por outro lado, privilegia os aspetos económicos, com ênfase em quem detém e em quem não detém os meios de produção de capital, considerando-se existir um forte sentimento de pertença e/ou de corporação potencialmente organizacional, enquanto que para

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Barth chamou a atenção para a importância da autodefinição grupal «from within, from the perspetive of their members» (Barth 1969 in Eriksen 1993:37).

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Weber, as pessoas não teriam de partilhar «interesses de grupo», como referiu Eriksen, uma vez que «[…] unlike Marx, Weber dit no regard classes as potential corporate groups; he did not believe that members of social classes necessarily would have shared political interests […]. preferred to speak of ´status groups` rathe than classes» (1993:7). Também Ortner (2006) dirá que os não marxistas, tendem a dividir-se entre aqueles que definem a classe tendo em conta indicadores objetivos, como a ocupação laboral, o rendimento, a educação (que considero poderem ser indicadores tanto objetivos quanto subjetivos, na verdade, por não existir uma divisão entre as duas dimensões) e os que tratam a classe apenas em termos emic, privilegiando as categorias nativas na observação dos modos como as pessoas criam rankings sociais, definição que esta autora considera mais próxima da noção dos «status groups» de Weber (1968 in Ortner, 2006:23). Esta autora afirma ainda que os teóricos não-marxistas, tratam a classe «as a set of differential positions on a scale of social advantage» e que não consideram que exista obrigatoriamente um conjunto de relações conflituais entre classes (cf. Ortner, ibid:229). Ortner refere que os teóricos não-marxistas tendem a perguntar no último capítulo de um livro «how their objectivists indicators line up with native categories», ou como as categorias nativas «line up with objective indicators», como o rendimento ou a educação (ibid:23).

Neste trabalho, privilegio a noção de status groups ou de grupos socioeconómicos – em vez da noção mais marxista de classe, enquanto grupo corporativo, apenas por considerar que não existem obrigatoriamente interesses de classe e de grupo , entre um conjunto de pessoas.

Previligiei, numa primeira instância de análise, a perspetiva emic,40 em relação com alguns dados considerados «objetivos», como a posse da terra e as ocupações laborais (que, repito, poderão ser noções tanto objetivas como subjetivas), tentando perceber a relação entre estas dimensões. Considero que as pessoas não partilham necessariamente interesses de grupo e ou organizacionais à partida, apesar de poder acontecer, o que também exemplifico. Este modo de olhar a classe (ou os estatutos socioeceonómicos) é de algum modo mais flexível, de modo a poderem observar-se processos de constituição de comunalidades, como o seu inverso,o que é de algum modo, semelhante à forma de analisar o processual das fronteiras em Barth (1969) bem como semelhante à análise da etnicidade e do «grupismo» em Brubaker (2004). Os grupos – como as classes – serão, assim, aqui olhados enquanto variáveis que poderão ter maior ou menor relevância, não tendo de corresponder a interesses colectivos e organizacionais, podendo constituir-se por vezes de modo mais situacional e ambivalente do que se pressupôs.

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Regra geral, aos antropólogos interessa estudar as categorias nativas das relações sociais e o estudo «da classe» não seria exceção (cf. Ortner, 2006:23).

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Ainda em relação ao conceito de classe, que não aprofundarei neste trabalho por não ser esse o meu objetivo de análise, relembro a incontornável obra de Bourdieu. Este autor propõe uma abordagem inovadora ao conceito de classe, com a qual no identificamos, nomeadamente no seu livro de 1979, A Distinção, propondo-se a examinar «um espaço multidimensional de diferenças» (Bourdieu in Curto, Domingos, Jerónimo, 2010: [1979]:XXVII). Estas diferenças – e semelhanças - foram apuradas tendo em conta os capitais, económico, cultural, social e tendo em conta o peso e a relevância de cada um, bem como a sua configuração no tempo, o que permitiria efetuar «uma análise longitudinal, das trajetórias de percursos sociais de sujeitos e geracionais» (ibid). Segundo Curto, Domingos e Jerónimo, uma atualização da pesquisa realizada por Bourdieu, revela «mobilidades e novos significados, diferentes práticas distintivas, objetos desclassificados e atividades promovidas, num mercado da distinção em permanente movimento» (Curto et al; 2010 [1979]:XXIX). Esclarecem ainda na introdução da tradução de A Distinção como Bourdieu rejeita conceitos estáticos, dando como exemplo a relação que este estabeleceu entre uma dada classe e uma atividade, como o golfe, pois este autor observou como esta modalidade se altera, bem como o seu significado simbólico, a partir do momento em que o golfe é apropriado por pessoas de outras classes (ibid.:XXVIII). Dito de outro modo, mesmo reconhecendo-se que a «classe social regista, materializa e reproduz divisões ou distinções culturais» torna-se importante perceber que as relações «de classe» são matizadas por diversas variáveis, ou seja, «formas distintas de capital cultural resultam de combinações entre contextos de classe, divisões de género, de idade e de etnia» (ibid.:XXXI), que é a perspetiva que aqui previligio.

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