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M SOM DE MEAL BREVE, E ASHLEN ESAVA PRESO DE NOVO. Quatro homens do Exército do Reinado arrastaram-no a uma prisão de tábuas, e ele olhou aterrorizado para Orion e os outros. Tomas Yerik tinha um sorriso cordial, e uma multidão de soldados acompanhava a cena.

— Ele não é criminoso — disse Orion, seco.

— É procurado em várias nações,sir cavaleiro — o general mostrou os dentes. — Você viu os papéis.

Vira. O general Tomas Yerik tinha papéis que requisitavam o encarceramento de Ashlen Ironsmith, pelo assassinato de dezessete pessoas, em Valkaria. O Exército do Reinado não era uma milícia de cidade, mas não era raro que interceptassem foragidos.

— Limpe a bunda com seus papéis! — rugiu rebane. — Se acha que somos criminosos, então mande todas as porcarias de soldados que tem, e eu vou comê-los no jantar.

— Sei muito bem que não são criminosos — Tomas Yerik mantinha o sorriso incisivo. — São convidados de honra.

rebane estava disposto a espancar o general ali mesmo, mas o homem não demonstrava medo, o que forçava o centauro a um respeito relutante. Ingram e Orion mantinham a atenção ao redor, e viam bastante medo e dúvida, mas também muitas espadas. Azgher estava alto no céu, e o acampamento do Exército do Reinado agitava-se em volta dos recém-chegados.

— Deveria se preocupar com Crânio Negro — disse Orion. — Ele está na região, e tem um pequeno exército.

— Nós temos um exército muito grande — riu o general. — E não vimos Crânio Negro, e nem Mestre Arsenal ou o rei dos dragões vermelhos.Tomas Yerik deu uma nova risada e olhou para os lados, mas Orion continuou encarando-o sem mover o rosto.

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— Se você pede um julgamento,sircavaleiro, ele acontecerá.

— Não estou pedindo nada — disse Orion —, e nem ordenando. Estou dizendo que ele vai ter um julgamento, e isto é um fato.

Tomas Yerik titubeou por um instante, e engoliu em seco. — Claro,sir cavaleiro.

— E meu nome é Orion, general.

Virou as costas e pôs-se a confabular com Ingram e rebane. O general tentou ainda alguns comentários, mas o centauro dispensou-o com um gesto desleixado, e Tomas Yerik ficou vermelho e saiu vociferando ordens.

— Será que todos os oficiais de rebuck são assim? — disse Ingram.

— Este é muito pior — disse rebane. — Ele não é só fraco. Pelo contrário: é forte. Mas tem algo ruim.

Orion assentiu.

inham deixado os sobreviventes do forte Arantar junto com o Exército, onde julgavam que todos teriam segurança e trabalho. No entanto, Orion começava a imaginar a sabedoria dessa decisão. De fato, o acampamento era mais uma junção de batalhões desordenados do que o sonho militar que fora um dia, quando achava-se que aqueles soldados defenderiam o Reinado contra a ormenta. Os homens comiam fora de hora, jogavam dados e brigavam. Isolavam-se em pequenas comunidades de nativos de cada reino, desconfiavam dos demais. As acompanhantes — prostitutas — que existiam em cada exército de tamanho significativo não trabalhavam discretas, fora do caminho: quase comandavam o acampamento, seduzindo um homem e outro pelos seus soldos, e provocando lutas por ciúmes. Prosperava um comércio clandestino de vinho e alucinógenos, e havia sargentos ricos dos vícios de seus homens. Conspirações para desertar, muita raiva do general, e inveja dos que já tinham conseguido fugir.

— Vamos resolver isso tudo — disse Orion.

“E o pior”, pensou Ingram,“é que ele fala sério”.

— Por que você está preso aqui? — disse a mulher.

Ashlen dirigiu-lhe um olhar por entre as barras da minúscula janela da porta de madeira. — Porque o seu general decidiu que eu sou um criminoso.

— Ele não é meu general — disse ela. O pouco que Ashlen conseguia ver era um olho azul enorme, cheio de cílios compridos. A voz era perfumada. — E não estou perguntando isso. Quero saber por que você está aqui preso, em vez de sair sozinho, com esse seu pé falso.Ashlen levantou-se para ver mais de perto. Ela recuou, e ele enxergou uma jovem de talvez vinte anos, com cabelo castanho claro, sardas atrevidas e um vestido azul saído de algum baile de corte. Usava também maquiagem leve, que fazia saltar seus lábios e suas bochechas.

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— Você é a Malabarista? — O quê?

— Esqueça.

Ashlen espiou pelas frestas largas entre uma tábua e outra da parede, mas ninguém prestava atenção neles. A prisão estava abarrotada e, na verdade, parecia ter sido construída às pressas, como se uma súbita explosão na população carcerária tivesse ocorrido há pouco. Havia tanta gente nas celas que algumas pareciam festinhas improvisadas, exceto pela dose farta de ressentimento que vinha em todas as conversas.

— E então? Por que você está aqui? Ashlen deu de ombros.

— Porque acho que vou colocar meus amigos em encrenca se for embora. Como você sabe que eu posso escapar quando quiser?

— Eles são seus amigos? — disse ela, ignorando a pergunta.

— Não sei. Alguns dias se aventurando com um grupo já torna todos amigos, quando você é aventureiro há muito tempo. Você não respondeu o que eu perguntei.

— Não, não respondi. Mas você não é aventureiro há muito tempo. Vocêdeixou de ser aventureiro há muito tempo.

— Como sabe disso?

— Você não é Ashlen Ironsmith? Ele assentiu, apalermado.

— odos conhecem sua família em Valkaria, é óbvio. Você era considerado um bom partido para mim quando eu morava lá.

— Você é de Valkaria? — Ashlen surpreendeu-se por não estar tonto de perguntas; estava se acostumando de novo a gente esquisita e mudanças bruscas.

— Zara Lysande, da família Lysande. Você já ouviu falar. — Sim, já ouvi — disse ele.

— Não foi uma pergunta.

— Vocêtem certeza de que não é a Malabarista? — Que malabarista é essa?

Ele afastou o assunto com um abano da mão.

— Acho que vou ficar aqui por um tempo — disse Ashlen, com uma tremura leve. — Mas você é inocente.

Ele concordou.

— Mais uma vez, não foi uma pergunta. Quer que eu faça algo por você?

— O que uma garota nobre de Valkaria perdida num acampamento decadente poderia fazer por mim?

— Se você não sabe o que uma mulher jovem e linda pode fazer para convencer um bando de homens desesperados, então você realmente não sabe nada, Ashlen Ironsmith.

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Ela era mesmo linda. — Você está dizendo...?

— Vou falar com seus amigos, certo? Vai correr tudo bem no seu julgamento. — Vou ter um julgamento?

— Se eu conheço cavaleiros da Luz, e eu conheço, o seu amigo vai fazer com que isso aconteça.

Era verdade. A garota falava coisas certas, o que não a impedia de ser louca. — Por que você está me ajudando?

— Você poderia ter sido meu marido, se eu tivesse ficado em Valkaria e se você não tivesse fugido da chacina da sua família, e se antes disso não fosse um bêbado imundo e inútil.

Pelo menos ela não sabia sobre a guilda, ou não falava disso em voz alta.

— Não acha que é o mínimo que uma esposa pode fazer pelo seu marido? — disse Zara, mostrando a língua.

— Eu nem conheço você. Não sou seu marido.

— É omínimo que umaesposa poderia fazer pelo marido. Eu não sou sua esposa, mas também não sou de fazer o mínimo.

O mundo estava cheio de gente louca, mas pelo menos eram loucos que o estavam ajudando, raciocinou Ashlen.

— Está certo. Fale com Orion. Súbito, Zara ficou séria.

— Cuidado com o general. Os soldados são bobos, mas ele é perigoso de verdade. — E milhares de homens armados não são?

— Claro que não, se você for mulher.

De repente, ela soprou-lhe um beijo e foi embora. — Boa sorte — disse Ashlen.

— Eu não preciso de sorte. E não precisava mesmo.

Sir Orion Drake fez uma careta para a grande tigela de carne fria, queijo e pão. Ingram comia com ar diligente, num canto, com os olhos dardejando. rebane ocupava um espaço imenso, devorando tudo como um bicho, e secando ânforas de vinho. O centauro tinha pedido aos soldados que trouxessem-lhe carne crua, e Orion não sabia o quanto disso era apenas para amedrontá-los.

Orion não queria comer, porque estava cansado, porque atolava-se em obrigações que lhe reviravam o estômago e principalmente porque a comida fora trazida por recrutas com ar servil, que haviam-no chamado de lorde e feito reverências equivocadas. Ele não era lorde, e acreditava ser cavaleiro por benevolência alheia.

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Ingram resmungou qualquer coisa, e Orion começou a mordiscar um pedaço de queijo, distraído. Não conseguira, com aquilo tudo, descobrir nada sobre seu pai. Poderia estar aqui mesmo.

inham-nos instalado numa das maiores tendas do acampamento. Um lugar de honra, como o general havia dito. Haviam conseguido em algum lugar um estandarte da Ordem da Luz — esquartelado de branco e púrpura, com a balança e espada de Khalmyr e um leão azul. A coisa tremulava na frente da tenda, cheia de orgulho deslocado. Orion sacudiu a cabeça.

Ele era um bastardo. Não importava que servisse há décadas na Ordem da Luz, que tivesse ganho seu título e armadura a custo de calos e insônia, que vivesse sob a balança de Khalmyr desde que era um moleque ranhento treinando com espada de madeira. Era um bastardo, e não faltavam pessoas em Bielefeld para lembrá-lo disso. Orion fora o único filho delady Serina Drake, baronesa de Segfried e filha única de uma família importante. A família foi arruinada quando um cavaleiro misterioso surgiu em Norm, cidade sede da Ordem da Luz, para competir em um torneio. O homem não falava, e cobria-se de alto a baixo com uma armadura reluzente de prateado puro. Nunca tirava o elmo, que era uma coisa inquietante e notável, moldada na forma de uma enorme cabeça com rosto sorridente. Não revelou seu nome, e foi chamado o Cavaleiro Risonho.

Invicto na justa, o Cavaleiro Risonho tinha modos galantes e habilidade ímpar; derrubou dos cavalos os maiores campeões de Bielefeld e de outros reinos, e arrebatou corações aos punhados. As jovens perdiam-se em suspiros pelo desconhecido, e o mistério fazia a imaginação criar castelos. O Cavaleiro Risonho recebeu do Alto Comandante da Ordem da Luz as honras de campeão, e naquela noite houve um baile. Muitos esperavam que, à maneira das histórias, o estranho sumisse, mas ele compareceu, ainda calado, ainda inumano em sua armadura. Não falou, não bebeu uma gota de vinho, mas dançou com as jovens, e era uma brisa e um vendaval, mesmo encouraçado. Percorria os olhos ocultos por todo o salão, a máscara impassível de riso frenético, e escolheu a jovem baronesa Drake. Mais tarde, para seu pai em desespero, Serina Drake disse não se lembrar de como tudo acontecera, mas ela acabou em um quarto com o Cavaleiro Risonho, e foi descoberta, saias erguidas e semi-consciente de álcool, sozinha. O estranho nunca mais foi visto.

Aquela noite matou o futuro de Serina Drake que, com dezessete anos, viu-se pária. Bielefeld era um reino de protocolos, educações, títulos, fingimentos e, acima de tudo, aparências. O pecado de Serina não foi o que fez, foi ser pega. A filha única da família Drake nunca arranjaria casamento. O pai de Serina caiu em arapucas de nobres mais habilidosos, prometeu tributos e terras para que a moça fosse aceita como freira de Khalmyr, e no fim morreu vendo suas propriedades escoarem.Um mês depois, nascia Orion.

O sobrenome viveu. Mas agora Drake era um sobrenome manchado, um sobrenome de bastardo. Os Drake foram roubados em tudo e, se o nome não fora roubado, era porque nada

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valia. O título morreu em Serina, pois não havia quem herdá-lo. Orion, o bastardo, nunca seria barão. Serina foi enganada mais vezes, adiou-se ao infinito e ao esquecimento sua iniciação de clériga, e ficou pobre, vestida em seda e fio de ouro. Vagava de castelo em castelo de parentes distantes e ex-amigos, até que o Alto Comandante apiedou-se e lhe ofereceu uma vida como protegida da Ordem da Luz. Serina sorriu, mas então, com dezoito anos, parecia ter sessenta. Um dia, Azgher amanheceu para encontrá-la morta na cama, e Orion berrando num berço ao lado.

O último dos desgraçados Drake foi adotado pela Ordem da Luz, onde se tornou escudeiro assim que pôde com o peso de uma espada de madeira, e aprendeu a cavalgar quase antes de andar.

— Quem é meu pai? — perguntou um dia o jovem Orion.

Philipp Donovan, o Alto Comandante, não era um homem de mentiras.

— É um cavaleiro misterioso que desgraçou sua mãe e causou a ruína de sua família. Ninguém sabe por que fez isso, já que ele sabia muito bem o que fazia, mas eu suspeito que tenha sido por maldade.

O Cavaleiro Risonho deixara a Orion uma herança de escárnio, e a morte da mãe, e um ataque inexplicável. N ão teria sido mais letal se invadisse a propriedade dos Drake com um exército.

— Um dia vou matá-lo — disse Orion, que tinha então cinco anos. — Faça isso, meu filho — foi a resposta de Philipp Donovan.

Orion viveu em Khalmyr e de espada na mão, e trocou a madeira por aço, o treino por matança, aos quatorze anos. Acompanhando seu senhor em uma viagem até a capital Roschfallen, foi acossado por três bandoleiros.Sir Radcliff, o senhor de Orion, era um cavaleiro de pouca habilidade e muitas ilusões, e quis entregar o que tinha. Mas o rapaz tomou de uma espada longa e lutou pela primeira vez. Salvou o cavaleiro, mas veio a mentira esperada, e sir

Radcliff creditou a si a vitória, e aumentou em dez o número de foras-da-lei. — Foi Radcliff quem derrotou os bandidos? — perguntou Philipp Donovan.

— Não — disse Orion, com cabelos pretos, espinhas e olhar de velho no rosto pueril. — Fui eu.

— Já sabia. O que você fez? Orion ficou um momento quieto. — Matei todos.

eria uma vida mais fácil como clérigo, e certamente tinha a vocação, mas recusou porque, Khalmyr lhe ajudasse, gostara de lutar. Aos quatorze anos, e antes, e depois, Orion Drake não queria ser juiz, queria ser justiça. Manteve-se escudeiro porque conspiravam contra ele, não queriam o bastardo como um cavaleiro de destaque. Por toda parte, filhos de nobres pegavam o título desir

para juntar à sua coleção de honrarias, porque tinham dinheiro, porque tinham prestígio, porque era bonito ser cavaleiro. Exceto que não era, se você fosse um cavaleiro de verdade, e Orion fora cavaleiro de verdade desde que amanheceu berrando porque sua mãe morrera.

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Ninguém chegava perto, porque Orion era sisudo e temível e perigoso. Nunca erguera a mão contra um cavaleiro, embora tivesse sofrido na infância e adolescência com brutalidades juvenis. Falava com os clérigos, embora só respeitasse alguns, e com Philipp Donovan. Mantinha uma admiração afastada por Arthur Donovan III, filho do Alto Comandante, mas achava-se meio indigno de procurar-lhe a amizade. E um dia, um rapaz cinco anos mais velho lhe empurrou um odre de hidromel, disse-lhe que ele precisava tomar seu primeiro porre e seguiu-o apesar das recusas.SirBernard Branalon, jovem conde de Muncy, insistiu até esfacelar a muralha de Orion. Ele acabou ficando bêbado, como o outro queria, e aprendeu a rir, e teve um amigo. Bernard Branalon casou-se jovem com uma moça alegre, e o tempo que passava com ela na cama foi logo recompensado com uma enxurrada de filhos. Orion, ainda escudeiro, era convidado para a mesa dos Branalon, e quase tinha família.

Não trocava sorrisos em bailes com meninas ricas e enfeitadas, porque lá não era bem- vindo. Não se esfregava com servas como os rapazes nobres que, aos dezesseis, já tinham duas ou três crias. Respeitava as garotas e, principalmente, não teria um filho bastardo. Mas, aos dezoito anos, conheceu Vanessa Derrigan, que fugira de casa e voltava, e agora era indesejável, porque nos anos de fuga sagrara-se clériga de Keenn.

Orion e Vanessa passavam um tempo enorme discutindo, e brigavam, e ela ria dele e ele ficava furioso, até que ela agarrou-o num beijo e ele a abraçou. Aos dezenove anos, Orion ainda era escudeiro, e estava casado. Não tinha terras, e Vanessa rejeitara a própria família, que a rejeitara também, e por isso eram pobres.

— Você vai receber o título, Orion — disse, um dia, Philipp Donovan. — em esposa, e será cavaleiro.

— Não.

O Alto Comandante mirou-o por longos minutos, desafiando-o a falar mais. Philipp Donovan podia fazer uma pedra mudar de idéia, e Orion acabou cedendo:

— Não mereço.

Orion Drake fora um garoto orgulhoso, que sabia da própria habilidade e tinha a vontade forte de um javali em fúria. Mas, no fundo, achava-se um pobre bastardo.

— Então você agora acha que sabe mais do que o Alto Comandante sobre o valor de um cavaleiro? — riu Philipp Donovan. — Você vai ser cavaleiro, e vai deixar de pensar idiotices.

ornou-se cavaleiro, mas a mácula não lhe deixou em paz. Foi feliz com Vanessa, vivendo num castelo da Ordem, e fez justiça por longos anos, o melhor dos cavaleiros da Luz. Rejeitou títulos e terras. Viu a guerra contra Portsmouth, viu a tragédia. Viu quando Arthur Donovan III deixou-se enlouquecer pelo mal, estragando seu destino de glórias e matando o pai de desgosto. Orion chorou por Philipp Donovan, mas descobriu uma amizade ainda mais feroz com seu sucessor, o Alto Comandante Alenn oren Greenfeld. E sentia-se triste e aliviado porque, em tantos anos, ele e Vanessa não conseguiam ter um filho. Os deuses lhe negavam a alegria, lhe poupavam da dor de passar adiante a mácula do bastardo.

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Até que Vanessa engravidou, e ele decidiu que era hora de fazer justiça.

Prometera aos cinco anos matar o Cavaleiro Risonho, e agora estava quase com quarenta. Aquela era uma busca de homem jovem, e ele percebia o ridículo. Mas ele fora ridículo por ser escudeiro até tão velho, e por viver de caridade.

Ridículo que fosse, abandonou Bielefeld para caçar seu pai.

Se encontrara Ingram e rebane, se encontrara Ashlen Ironsmith, se ajudara todos eles e agora se propunha a limpar o Exército do Reinado, era porque Khalmyr os botara em seu caminho, e ele os via como merecedores.

Sir Orion Drake era um desgraçado, mas iria esmagar a própria vergonha.

— Ele está daquele jeito — disse Ingram. — Você sabe como ele fica insuportável.

rebane concordou. Saíam os dois da tenda ampla, e o cavaleiro ficava para trás, metido em quaisquer pensamentos que o deixassem daquele jeito sombrio, respondendo às perguntas com monossílabos.

— Só espero que, quando ele cansar dessa comédia e decidir quebrar umas cabeças, me chame — disse rebane.

— Você está bêbado? — Claro.

Os dois passaram pela dúzia de guardas que protegiam a barraca. Era mesmo um lugar de honra, com um destacamento tão grande para defendê-los. O estandarte da Ordem da Luz balançava ao vento, e um pássaro o sujara de merda.

— Aonde vão, senhores? — disse um homem metido em armadura completa, sargento da tal dúzia de guardas.

Ingram e rebane trocaram um olhar de esguelha. — Sair — disse o anão.

— Para onde?

rebane abriu a boca, mas Ingram interrompeu-o porque não queria uma luta. — Vamos procurar um amigo, um oficial de Sambúrdia — mentiu.

— Digam-me o nome dele, e eu mesmo irei trazê-lo aqui, senhores — o sargento era perfeitamente respeitoso, e mantinha sua alabarda perfeitamente pronta.

— Na verdade, queremos dar uma volta, olhar os batalhões.

— Claro — disse o sargento. — Vou destacar quatro soldados para sua escolta.

— Escolte o meu pênis até — começou rebane mas, de novo, interrompido pelo anão. — Obrigado.

rebane olhou-o como se nunca o tivesse visto, e Ingram fez um gesto significativo. Logo, quatro homens postavam-se em sentido ao redor deles, como se os dois fossem nobres.

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— Por favor — disse o sargento, com uma mesura —, não pensem que lhes faltamos com o respeito. Os senhores são convidados de honra, mestre Ingram, mestre rebane.

— Sou mestre de sua mãe, pederasta! — rugiu o centauro.

O sargento ignorou-o, continuou curvado, e Ingram liderou aquela comitiva risível para longe.

— Somos prisioneiros — disse Ingram em voz alta, falando na língua dos anões.

— Mas parece que eles estão forrando as algemas com veludo cor-de-rosa — respondeu rebane, no mesmo idioma.

Os quatro soldados se entreolharam, confusos.

— Finja que eu contei uma piada — disse Ingram, ainda falando em anão.

O centauro deu uma gargalhada, mas ele era o pior ator que Ingram já vira, e o barulho fez um dos soldados dar um pulo.

Calados, arrastavam a escolta que os mantinha em escrutínio. Andaram toda a imensa

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