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Exemplos de investigação em identidade vocacional com a escala Dellas

CAPÍTULO 2- IDENTIDADE VOCACIONAL: CONTRIBUTOS E PERSPETIVAS

2.1. Contributos da psicologia vocacional: perspetivas teóricas e estudos empíricos

2.1.2. Exemplos de investigação em identidade vocacional com a escala Dellas

Identity Status Inventory-Occupation

O estudo da identidade vocacional em contexto educativo tem sido explorado com recurso a diferentes instrumentos. De entre estes, a escala desenvolvida por Dellas e Jerningan (1981) intitulada Dellas Identity Status Inventory-Occupation (DISI-O) é um dos instrumentos que se revela eficaz para medir a identidade vocacional porque tem permitido a abordagem desenvolvimental da avaliação da identidade vocacional (Bosma,1985). De acordo com Meeus (1996) a escala DISI-O é um dos instrumentos que situa a fase de desenvolvimento da identidade em relação com outras variáveis (e.g., idade, sexo, ano de escolaridade, curso frequentado) cujos os valores podem ser facilmente interpretados de acordo com as tendências de desenvolvimento progressistas proopostas por Waterman (1982) e verificadas em estudos posteriores (e.g., Kroger Martinussen, & Marcia, 2010)

Na versão original americana da escala DISI-O encontram-se cinco dimensões (Dellas & Jerningan, 1981) que permitem avaliar os modos de resolução de identidade propostos por Marcia (1966) no domínio vocacional. Concretamente, as dimensões Realização da Identidade (Achievement), Identidade em Moratória (Moratorium), Adopção de Identidade (Foreclosure), Difusão- Difusão (Diffusion-Diffusion), Difusão- Sorte (Diffusion-Luck), confirmadas pelo estudo discriminante das autoras. A dimensão

Achievement designa um período de exploração e comprometimento vocacional mais ou

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encontram em exploração vocacional, mas sem investimento em opções vocacionais;

Foreclosure define a ausência de exploração vocacional, mas com o sujeito a investir

em projetos dos outros significativos nas suas relações; Diffusion-Diffusion define uma fraca exploração vocacional e ausência de investimento em projetos vocacionais; Diffusion-Luck refere ausência de exploração e investimento vocacionais, mas com uma associação ao fator sorte na tomada de decisão vocacional. (Dellas & Jerningan, 1981).

A escala DISI-O é composta por 35 itens organizados por cinco dimensões, com sete itens em cada uma das dimensões referidas. É uma escala de escolha forçada tipo Likert, incluindo a concordância de “totalmente de acordo comigo” (“totally agree with me”) a “totalmente em desacordo comigo” (“totally desagree with me”). A escala DISI-O foi aplicada a alunos americanos do ensino secundário e universitário (N = 354) e a consistência interna deste instrumento revelou coeficientes alpha satisfatórios que variavam de .64 Difusão-Sorte (Diffusion-Luck) a .92 Adopção de Identidade (Foreclosure).

A consulta a algumas bases de dados (e.g., Academic Search Complete (EBSCO), B- on, SciELO, Web of Science, Google Académico) permitiu encontrar estudos onde se recorreu à escala DISI-O no estudo da identidade vocacional. Apresentam-se e descrevem-se alguns desses estudos que permitem sustentar a opção por este instrumento de recolha de dados.

Uma das referências empíricas encontradas à escala DISI-O foi o estudo de Meeus (1993). Este estudo consistiu na adaptação da escala DISI-O para a população holandesa. Concretamente, a 300 jovens dos quais 150 rapazes e 150 raparigas com 18 anos de idade. Destes jovens 50% frequentavam o ensino profissional avançado. Os restantes 25% frequentavam escolas de formação profissional e 25% frequentavam escolas de ensino regular que os prepararam para a entrada na universidade.

Os resultados encontrados no estudo de Meeus (1993) vão ao encontro do estudo prévio de Dellas e Jerningan (1981). Concretamente nos valores de fidelidade da escala, o alpha de Cronbach situou-se sobre os conjuntos de itens dos estatutos de identidade, os quais variaram entre .65 na dimensão Difusão-Sorte e .94 na dimensão Adopção de Identidade. Em relação aos modos de resolução de identidade dos participantes verificou-se que 17% dos participantes se encontravam na dimensão realização de

47 identidade; 28% na dimensão Identidade em Moratória, 15% na dimensão Adoção de Identidade e por fim, 40% dos participantes holandeses situavam-se na dimensão Difusão. De acordo com Meeus (1999) não foram encontradas relações entre os estatutos da identidade e a idade dos participantes, bem como com a variável do sexo dos participantes. Para o autor os resultados encontrados revelaram que a versão holandesa da DISI-O é um instrumento adequado para medir a formação e desenvolvimento da identidade vocacional.

Em Portugal a escala DISI-O tem sido um instrumento recorrente na avaliação dos modos de resolução da identidade vocacional. Com efeito, a adaptação à população portuguesa da versão original de Dellas e Jerningan (1981) nos anos 80 por Taveira (1986) e Taveira e Campos (1987) permitiu a sua utilização em contextos educativos.

Um estudo posterior de Taveira (2000) analisou o uso da escala DISI-O com alunos de escolas da região Norte de Portugal do ensino básico (9º ano de escolaridade) e do ensino secundário (12.º ano de escolaridade) num total de 1400 sujeitos, com idades compreendidas entre os 13 e os 18 anos de idade. Os resultados vão ao encontro dos resultados do estudo original (Dellas & Jerningan, 1981) e do estudo holandês referido anteriormente (Meeus, 1993) entre outros empíricos (e.g., Taveira, 1986: Taveira & Campos, 1987) e teóricos (e.g., Blustein & Normais, 1996; Vondracek, 1992; Vondracek & Porfeli, 2011; Waterman, 1982).

De acordo com a autora (Taveira, 2000) a análise quantitativa dos itens da DISI-O revelou resultados satisfatórios acima de .70 para o alpha de Cronbach para as dimensões Realização, Adopção e Difusão de Identidade. Na maioria dos casos as distribuições de valores nos diferentes modos de resolução de identidade da escala não variam em função do sexo, mas sim em função da idade e do ano de escolaridade.

Outro estudo português no domínio da identidade vocacional com a escala DISI-O (Silva, 2008) teve como participantes estudantes do Ensino Superior (N = 118). De acordo com (Silva, 2008) “resultados obtidos são satisfatórios para todas as escalas. (…), obteve-se valores do coeficiente Alpha de Cronbach de .85 para a Realização, .86 para a Adopção, .65 para a Moratória e .60 para a Difusão” (p. 137).

Mais recentemente estudos com meta-análises (e.g., Kroger, Martinussen, & Marcia, 2010) e estudos longitudinais sobre o conteúdo vocacional (e.g. Meeus, 2011, Meeus, van de Schoot, Keijsers, & Branje, 2012) têm evidenciado que os estatutos propostos

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por Marcia (1966) se encontram atuais e adequados ao estudo da identidade vocacional. Neste sentido, Meeus e colaboradores (2012) confirmam que os estatutos de identidade propostos por Marcia (1966) podem ser considerados como trajetórias do desenvolvimento da identidade dos jovens. Os autores afirmaram que o estudo partiu da concetualização original de Marcia (1966), a qual tinha o objetivo de abranger o processo de formação de identidade e os seus resultados. Isto significa que:

os estatutos de identidade, de preferência, devem ser percecionados como processos ou trajetórias de estado de identidade, ao longo do tempo. Portanto, a primeira hipótese do presente estudo foi que estatutos originais de Márcia (1966) emergiriam como trajetórias de estado de identidade (…). Os nossos resultados confirmam que a realização, moratória, adopção de identidade e difusão, de fato são trajetórias de estado de identidade, e podem ser considerados estáveis ao longo do tempo como soluções do puzzle da identidade. (Meeus, van de Schoot, Keijsers, & Branje, 2012, p.1017)

Numa outra investigação sobre a formação da identidade (Meeus, 2011), baseada nos estatutos de identidade de Marcia (1966) e na definição da identidade progressiva considerada por Waterman (1982), refere que a identidade desenvolve-se de um estado de difusão em direção à realização. Pelo que, a progressão dos indivíduos jovens no desenvolvimento da identidade segue principalmente a ordem Difusão-Adopção- Moratória-Realização. Contudo, nesta trajetória de desenvolvimento há três variáveis que atuam: a estabilidade, a progressão e a regressão. Estas três variáveis anunciam que o estado de desenvolvimento da identidade depende das características individuais e dos fatores do contexto social em que os indivíduos se inserem por exemplo, os estilos parentais, o grupo de pares e os contextos educativos frequentados pelos sujeitos (Meeus, 2011).

Os estudos empíricos abordados revelam que a escala DISI-O permanece atual, adequada e útil no estudo da identidade vocacional, continuando a ser utilizada tanto em Portugal como noutros países para sujeitos em contextos educativos diversificados, como sejam os profissionais como do ensino regular.

A escala DISI-O será desenvolvida no capítulo da metodologia (ver 4.2.2.2) , onde se descreve descrita e a apresenta a adaptação da versão portuguesa

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