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Exigências para revestimentos a aplicar em edifícios antigos, Veiga (2006a)

1.1.3. R EABILITAÇÃO DE R EVESTIMENTOS

1.1.3.1. Exigências para revestimentos a aplicar em edifícios antigos, Veiga (2006a)

Segundo a autora os revestimentos de substituição devem respeitar os seguintes requisitos:

 Não contribuir para degradar os elementos pré-existentes, nomeadamente as alvenarias.

 Proteger as paredes

 Não prejudicar a apresentação visual da arquitetura, nem descaracterizar o edifício.

 Ser duráveis (e contribuir para a durabilidade do conjunto)

Uma argamassa inadequada pode provocar a degradação em vez de proteger os elementos com os quais está em contacto, Veiga (2006a):

 Por introdução de tensões excessivas num suporte eventualmente fraco e com deficiências de coesão, em geral originadas pela retração ou por variações dimensionais de origem térmica.

 Através da tendência para reter a água no suporte, em lugar de facilitar a sua secagem provocando a patologia associada à humidade

 Através da introdução, nas alvenarias e nas outras argamassas, de sais solúveis que não existiam antes, provenientes, por exemplo, do cimento.

Durabilidade de argamassas de revestimento à base de cal hidráulica natural

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Assim a argamassa a formular deve ter um módulo de elasticidade reduzido e uma boa capacidade de relaxação para não desenvolver tensões elevadas quando sofre variações dimensionais restringidas; deve dificultar a penetração da água até ao suporte, mas principalmente deve favorecer a evaporação da água que se introduz quer através da própria argamassa, quer através das fundações, por capilaridade ascendente, quer ainda através de coberturas e remates; não deve ter na sua constituição materiais ricos em sais solúveis, (Veiga, 2006a).

As argamassas de revestimento devem proteger a parede da ação da água, da poluição e dos sais solúveis contidos nos materiais, na água e no solo. Para poder desempenhar essas funções, o revestimento deve ter resistência mecânica suficiente, ser relativamente deformável, apresentar impermeabilidade suficiente e ter um bom comportamento aos sais, (Veiga, 2006a).

Essencialmente, as argamassas a usar em revestimentos de edifícios antigos, têm que ter alguma resistência mecânica mas um módulo de elasticidade reduzido; uma certa capacidade de impermeabilização mas, principalmente, uma permeabilidade ao vapor de água particularmente elevada e uma grande facilidade de secagem; não podem conter sais solúveis em quantidades significativas; para minimizar as tensões devidas a deformações diferenciais, devem ter características físicas semelhantes às da alvenaria, nomeadamente no que se refere a módulo de elasticidade e a coeficiente de dilatação térmica e higrométrica, (Veiga, 2006a).

É importante enfatizar que estas funções são garantidas pelo revestimento no seu conjunto e não por uma única camada de argamassa, executada em condições normalizadas, que é geralmente o objeto de ensaio. Assim, o número de camadas, a respetiva espessura, a composição relativa dessas camadas e a tecnologia de aplicação são aspetos tão importantes como o material utilizado, (Veiga, 2006a).

Estes requisitos devem ser assegurados pela solução de reboco, ou seja pelo conjunto das várias camadas que o constituem. Para os rebocos correntes executados em obra, são recomendadas pelo menos três camadas: chapisco ou camada de aderência, bastante fluida, rugosa, com elevada dosagem de ligante, destinada a homogeneizar a absorção do suporte e a estabelecer a ligação com a alvenaria; camada de base, destinada a promover a regularização e a impermeabilização; camada de acabamento, mais fina, de menor granulometria e mais fraca que as anteriores, vocacionada para proteção e para conferir um acabamento esteticamente aceitável, que será depois complementado por exemplo, por uma pintura. As camadas devem obedecer à regra da degressividade do teor de ligante no sentido alvenaria-exterior, para que o revestimento seja mais poroso e mais deformável do interior para o exterior. Cada camada tem uma função principal diferente e deve ter uma dosagem específica, pois as várias funções implicam características diferentes e por vezes contraditórias da argamassa. Por outro lado, a existência de várias camadas, aplicadas com um período de secagem entre elas, promove, só por si, um melhor comportamento à fendilhação (as fendas que se formam são de menor abertura e, por serem desfasadas, dificultam a passagem da água) e um melhor comportamento à água, gerando barreiras adicionais à entrada da água líquida sem, contudo, prejudicar a evaporação, (Veiga, 2006a).

No entanto, atualmente, devido ao elevado custo da mão-de-obra e aos curtos prazos impostos à construção, usam-se cada vez mais produtos pré-doseados aplicáveis numa única camada (rebocos monocamada) ou em duas camadas seguidas de pintura (massas de reboco). Esses produtos contêm diversas adições e a sua formulação elaborada permite-lhes, em princípio, atingir com menos camadas níveis de desempenho que as misturas correntes apenas conseguem com três ou mais. Naturalmente, as exigências para estas argamassas pré-doseadas têm que ser superiores, para que o reboco, no seu conjunto, tenha desempenho semelhante ao reboco corrente,(Veiga, 2006a).

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Outro requisito relacionado com a composição dos revestimentos é não prejudicar a apresentação visual da arquitetura, nem descaracterizar o edifício, contribuindo assim para a manutenção de uma imagem histórica e esteticamente compatível, nomeadamente em termos de textura e características cromáticas, mas também com a tecnologia de aplicação, Veiga (2006a).

A durabilidade é essencial para que os restantes requisitos adquiram significado. Com efeito, embora no limite os revestimentos sejam camadas de sacrifício, já que é mais importante a preservação das alvenarias antigas, é importante realçar que a degradação do revestimento leva, em geral, à degradação rápida da alvenaria. A durabilidade implica boa resistência mecânica, nomeadamente aos choques, boa coesão interna, boa aderência ao suporte e entre camadas – mas não excessiva para não impedir a reversibilidade – e boa resistência química, designadamente aos sais existentes nas paredes antigas. Implica também um bom comportamento à água: absorção relativamente lenta e, de novo, facilidade de secagem. A durabilidade exige ainda alguma resistência à colonização biológica e com o comportamento à água, já que períodos longos de humedecimento aumentam a probabilidade de fixação de fungos. O objetivo de um revestimento é a proteção da parede, assim a capacidade de proteção e de não degradação deve ser privilegiada em relação à durabilidade do novo revestimento, (Veiga, 2006a).

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