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Expressões meméticas, imagens meméticas e o princípio linguístico de

No documento Jaime de Souza Júnior (páginas 56-59)

Esquema 2 – Princípios constitutivos do processo de propagação de fenômenos

2 A DIMENSÃO EXTERNA DE PROPAGAÇÃO: FENÔMENOS

2.2 Expressões meméticas, imagens meméticas e o princípio linguístico de

55 Recuero (2006) já observara tal aspecto em seu trabalho, no entanto, considerara tais unidades de propagação como

“replicadores”, logo, no sentido de Dawkins (1979; 1982). Neste trabalho, entretanto, não entendemos as unidades de propagação como um “meme”. Elas são aquilo que carrega e transmite o memeplexo linguístico-midiático, portanto.

56 A partir do presente trabalho, o “produtor” será considerado o internauta que posta a informação a ser copiada. O

“replicador”, por sua vez, será aquele que a imita, mantendo sua forma e propósito, no sentido de Dawkins (1979; 1982). O

“retransmissor”, por fim, será considerado aquele que não faz uma cópia como o replicador – suas cópias apresentam algum grau de reelaboração. Ele transmite algo novo, a partir da informação que recebe, quebrando a fixidez da replicação – aqui, temos como base o “designer”, de Dennett (1995). Os verbos derivados desses termos, quando usados, continuarão indicando o significado que seus substantivos apontados expressam.

57 O que vínhamos chamando de princípio linguístico da “produtividade funcional” em Souza Júnior (2012; 2013b), em função do pouco amadurecimento científico dos trabalhos à época em que foram concebidos, passa a ser entendido como princípio linguístico da “funcionalidade”, a partir da presente dissertação. A adequação é necessária uma vez que os termos foram utilizados nos trabalhos citados, porém, após maiores aprofundamentos e discussões passamos a entender que o princípio de produtividade funcional é mais um instrumental investigativo de evolução de aspectos linguísticos do que um princípio constitutivo do processo de propagação de fenômenos meméticos da Internet. Maiores detalhes sobre o impacto dessa alteração dos termos serão explicitados de forma mais ampla, ao longo do presente Capítulo.

Em nosso estudo, defendemos o papel constitutivo da linguagem na propagação dos fenômenos meméticos. Seguindo Recuero (2006), ratificamos, também, os princípios constitutivos básicos de um meme apontados por Dawkins (1979) – obviamente, sem adotar a perspectiva internalista do autor (1979;1982) –, acrescentado, ainda assim, a essa lista de princípios, aqueles reconhecidos como: “design” (DENNETT, 1995) e “alcance”

(RECUERO, 2006).

Entendemos, portanto, que o princípio da “fidelidade” seja aquele que conduz o processo de propagação de memes por um viés de baixíssima variação dos padrões das cópias (especialmente quanto à variação dos propósitos de uma ideia a ser passada adiante). Por outro lado, o princípio de “design” abre precedentes para que essa produção de novas cópias seja permeada pela “reelaboração” (DENNETT, 1995) de uma informação. Esse tipo de

“quebra de acordos” no processo de propagação de cópias pode ser um empecilho para que uma primeira informação chegue “intacta” a outras pessoas (internautas, em nosso caso) do mesmo jeito que ela tinha sido criada.

Por fim, se um processo de propagação de memes deixa de ser guiado pelo princípio da “fidelidade”, sendo esta suplantada pelo princípio de “design”, entendemos que surge, nesse vácuo, a possibilidade de existência da “reelaboração” nas dimensões interna e externa de propalação das unidades de propagação.

Do ponto de vista da linguagem, as unidades de propagação (na dimensão externa, a dos fenômenos meméticos), juntamente com as práticas de produção e distribuição de linguagem e de produção e distribuição por mídia que tais unidades carregam (na dimensão interna, a do memeplexo linguístico-midiático), passariam a ser não só replicadas, mas também retransmitidas. Assim sendo, esse processo de propagação seria orientado majoritariamente pelo princípio constitutivo memético de “design”, seguido pelo princípio constitutivo linguístico de “funcionalidade”. Em menor escala, apareceria o princípio memético de “fidelidade”.

Posto isso, o princípio linguístico da “funcionalidade” caracteriza o memeplexo linguístico-midiatico devido ao fato de uma prática de produção e distribuição de linguagem se propagar porque por ela podem ser indicados diversos propósitos, mesmo que a face da estrutura desse memeplexo não sofra variações. Tais propósitos, dessa maneira, são entendidos como unidades de informação semântico-discursivas atreladas à constituição das unidades de propagação transmitidas no processo de profusão de fenômenos meméticos da Internet.

Ademais, é importante alertar que, em nosso estudo, entendemos que o princípio constitutivo de “longevidade” seja visto a partir da visibilidade que as unidades de propagação dos referidos fenômenos apresentarem. Isto é, tais unidades podem ser mais, ou menos longevas a partir de dois modos da relação de visibilidade que o internauta constrói com elas:

a) visibilidade por recepção (fenômeno de duração curta e/ou de padrão de propagação viral58), não há majoritariamente cópia (ou ela não acontece em número suficiente), nem cópia com reelaboração das unidades de propagação por meio de performance – o internauta não repete uma expressão/imagem nas postagens que produz; b) visibilidade por produção (fenômeno de duração longa) há majoritariamente cópia e/ou cópia com reelaboração das unidades de propagação, por performance, ampliando-se a duração do fenômeno memético propalado.

Assim como Recuero (2006), entendemos que o princípio de “alcance” possa ser de dimensão local ou global dentro da Web. Além disso, defendemos que tal alcance dos fenômenos meméticos não se restrinja ao espaço virtual. Em outras palavras, o fenômeno pode ser analisado em relação à sua extensão na dimensão online (o fenômeno começa e termina dentro da Web, seja em ambiente virtual público ou privado?) ou na dimensão offline (o fenômeno começa na Web, mas migra para fora dela?).

Além disso, há que se considerar o que Souza Júnior (2012; 2013b) chamou de

“alcance linguístico”. Isto é, para quem esses internautas direcionam esses fenômenos: a) elementos animados: pessoas no uso de suas línguas e modos de expressá-las, em seus lugares e atividades na sociedade etc.; b) elementos inanimados: instituições, produtos, produções intelectuais/culturais, etc.

Sugerimos, por meio do alcance linguístico, também, analisar em que idioma os internautas se põem a propagar um fenômeno memético, isto é: nativo ou estrangeiro. Esse é um aspecto importante na ampliação do alcance dos fenômenos – principalmente quando tais começam sendo propagados em um idioma nativo, passando, posteriormente, a serem propalados com postagens híbridas (bilíngues, trilíngues, etc.).

Assim sendo, o alcance de um dado fenômeno seria ampliado, podendo sair de uma escala local para outra global não só por questões midiáticas de propagação – especialmente se essa língua estrangeira que passará a ampliar o fenômeno for o Inglês, dado o atual papel

58 Grosso modo, fenômenos virais da Internet seriam aqueles que não desenvolveriam um padrão de proliferação baseado em cópia (com ou sem reelaboração) que se passa adiante. Apresentariam somente dois princípios constitutivos (alcance e longevidade por recepção) e, por isso, do ponto de vista da Memética, não seriam vistos exatamente como fenômenos meméticos. Um detalhamento desses aspectos pode ser apresentado em trabalhos futuros. Por ora, dedicamo-nos exclusivamente a investigar os fenômenos meméticos.

internacional do idioma em uma série de segmentos e na própria consolidação e profusão de termos tecnológicos ou culturais (musicais, cinematográficos, etc.). O inverso também seria possível de acontecer. Ou seja, práticas globais tornarem-se locais, sendo abraçadas em um novo idioma. Uma análise dos aspectos em questão tem impacto na caracterização do tipo de padrão de propagação que esses fenômenos podem vir a apresentar.

Voltaremos, brevemente, às unidades de propagação de fenômenos meméticos eleitas nessa pesquisa: as expressões meméticas e as imagens meméticas.

As expressões meméticas caracterizam-se pela variação e coexistência de seus padrões de propósitos que possam vir a indicar. As imagens meméticas, por seu turno, caracterizam-se pela variação e coexistência dos tipos de proposição59 ou estruturação multimodal que tais podem se prestar a representar.

A essa variação do padrão de propósitos identificados, bem como à percepção da coexistência de padrões de proposição ou estruturação visuais observados a partir de um mesmo termo daremos o nome de funcionalidades.

Quando essa constatação ocorre, concluímos que tal item investigado se constitui de uma gama de funcionalidades (i.e. modos de funcionar ou de indicar propósitos), apresentando, consequentemente, esse item de funcionalidade como a característica constitutiva do elemento investigado.  Por meio da análise linguística e da visual, investigaremos o(s) modo(s) de funcionamento das expressões e imagens meméticas para podermos ser capazes de determinar sua(s) funcionalidade(s).

Por fim, pretendemos examinar que padrões de propagação, com base nas postulações de Dennett (1995), podem ser gerados pela propalação de fenômenos na Rede. A princípio, consideraríamos os seguintes padrões: 1) internalista; 2) externalista. Detalharemos os aspectos de propagação que envolvem os referidos padrões, a seguir.

No documento Jaime de Souza Júnior (páginas 56-59)