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5. Investigação nos crimes contra o patrimônio

5.4. Extorsão

O crime de extorsão encontra-se tipificado no artigo 158 do Código Penal, nos seguintes termos: “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça e com o

intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa”.

Distingue-se a extorsão do roubo na forma da atuação do sujeito ativo, pois, enquanto que na primeira é a vítima que constrangida tolera que se faça ou deixa de fazer alguma coisa, no roubo a iniciativa da subtração é do próprio agente.

Executada de forma variada, a extorsão tem caracterização diversa, dependendo das condições pessoais da vítima. Há casos em que o trabalho investigativo torna-se bastante difícil devido à relutância da vítima em informar os reais motivos do constrangi- mento pelo qual passou, principalmente quando se trata de chantagem.

Para o êxito da investigação, torna-se necessário conhecer a estória real a fim de que o policial civil possa desenvolver uma linha correta de apuração e seguir hipóteses prováveis. De início, buscar identificar pessoa ou pessoas conhecedoras do segredo ou do fato explorado pelos extorsionários; logo, a colaboração da vítima, revelando todos os detalhes do ocorrido, é indispensável à investigação.

5.4.1. Extorsão mediante seqüestro

A extorsão mediante seqüestro, incluída no rol de crimes hediondos, é crime cuja pena mínima é a mais elevada no ordenamento penal brasileiro, 24 (vinte e quatro) anos. O artigo 159 do Código Penal, assim a define: “seqüestrar pessoa com o fim de obter

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para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate”. Com-

porta, em princípio, dois sujeitos passivos, o seqüestrado e a pessoa que é instada a pagar o preço do resgate.

Na definição do tipo penal, o legislador empregou a expressão qualquer vanta-

gem, significando que, além de dinheiro, o seqüestrador pode exigir qualquer lucro ou

proveito como condição ou preço do resgate. Portanto, suplantando o aspecto patri- monial, sobressai o crime contra a liberdade da vítima, o sofrimento moral que lhe é imposto, a violência física, a grave ameaça, o emprego de armas e de outros meios insi- diosos cruéis.

Agravam a pena-base as seguintes circunstâncias: durar o seqüestro mais de 24 (vinte e quatro) horas; ser o crime cometido por quadrilha ou bando; ser o seqüestrado pessoa menor de 18 (dezoito); resultar do fato lesão corporal de natureza grave ou morte.

5.4.1.1. Dinâmica da negociação

Consumado o arrebatamento da vítima, e mantida em cárcere privado, os seqües- tradores procuram comunicar-se com os parentes e funcionários ou amigos, a fim de ajustar o pagamento do resgate. Geralmente, exigem elevadas quantias em dinheiro, às vezes em moeda estrangeira, e em cédulas de determinados valores, sem numeração contínua.

Quando feito o primeiro contato pelos seqüestradores sem que o fato tenha sido comunicado à Polícia Civil, torna-se imprescindível e urgente esse registro, em boletim de ocorrência, com todos os detalhes possíveis, para que possam ser iniciadas as negocia- ções, sempre com a colaboração dos familiares da pessoa seqüestrada.

O negociador, tanto quanto possível, deve ser um policial civil especializado, deven- do utilizar técnicas que variam de caso para caso, a fim de granjear, desde logo, a con- fiança dos seqüestradores. Numa negociação, a última proposta que estes querem ouvir, quando fazem as exigências, é a negativa daquilo que exigem como condição ou preço para libertar a vítima. Isso significa que o negociador tem que admitir, como possível, o atendimento das exigências feitas, argumentando até a exaustão. Nesse jogo de inte- ligência, deve-se buscar a libertação da vítima, a identificação do cativeiro, o tipo e a composição da quadrilha e de outros elementos que possibilitem a prisão dos seqües- tradores.

Contudo, por mais que se procure estabelecer uma rotina de atuação, esta prática é sempre temerária, uma vez que reveste-se de particularidades que são preponderan- tes para seu desfecho, tais como a saúde da vítima, laços familiares, situação econô- mica, influência religiosa, social ou moral e a disposição, ou não, de colaborar com seus algozes.

5.4.1.2. Providências finais

Outra providência adotada paralelamente à negociação é o rastreamento das liga- ções telefônicas dos seqüestradores, a fim de identificar o local das chamadas e, se possível, o aparelho de onde estão sendo feitas.

Relativamente aos seqüestradores, existem aspectos que necessitam ser observados criteriosamente, a partir do nível que imprimam em seus contatos: índole, equilíbrio, grau de confiabilidade e, sobretudo, disposição de verdadeiramente negociar.

É importante que o desenrolar das negociações seja objeto de cuidadosa anotação cronológica, que servirá como roteiro no curso das investigações.

Finalmente, qualquer que seja o negociador, duas preocupações básicas devem sempre preponderar: a libertação ou o resgate do seqüestrado ileso e a prisão dos seqüestradores. 5.4.2. Extorsão indireta

Na extorsão indireta, o sujeito ativo exige ou recebe, como garantia de dívida, abu- sando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro.

Como nos casos anteriores, a colaboração da vítima, relatando a versão verdadeira, é comportamento fundamental para o sucesso das investigações.

5.5. Alteração de limites

Suprimir ou deslocar tapume, marco ou qualquer sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia, é a descrição do tipo penal, que não comporta maior esforço interpretativo.

Igualmente clara é a necessidade de intervenção de Peritos Criminais que possam reportar-se ao local e constatar, com base em documento preexistente, se houve ou não a supressão, ou o deslocamento do marco ou sinal indicativo da linha divisória.

Confirmando-se as alegações da vítima, inicia-se a investigação propriamente dita, a partir de informações e documentos por ela fornecidos.

5.6. Usurpação de águas

O crime consiste em desviar ou represar, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias.

Como no caso anterior, a Polícia Civil somente poderá iniciar sua atuação investiga- tiva depois da exibição de documentos comprobatórios da usurpação alegada pela vítima. A partir da constatação do fato gerador, fica fácil descobrir quem usurpou a água em proveito próprio ou de terceiro.

5.7. Esbulho possessório

Comete esse ilícito penal quem invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante o concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório. Se o agente usa de violência, incorre, também, na pena a esta comi- nada. Tratando-se de propriedade particular, e não havendo emprego de violência, somente se procede mediante queixa.

Segundo registram os dicionários, esbulhar significa espoliar, privar alguém de algo por fraude.

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Também, neste caso, cabe à vítima fornecer documentos e informações que possam orientar o trabalho investigativo da Polícia Civil, principalmente se a propriedade é par- ticular e, se, para o esbulho, não houve emprego de violência.

No documento Manual Operacional Do Policial Civil SP (páginas 85-88)