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6 RESULTADOS

6.2 RESULTADOS QUALITATIVOS

6.2.5 Categorias: idosos não praticantes de exercícios físicos regulares

6.2.5.2 Falta de tempo

Durante a realização da coleta de dados desta pesquisa foi possível observar que muitos idosos, principalmente os portadores de menor renda, não praticavam exercícios físicos regulares porque precisavam otimizar o tempo para desenvolverem atividades laborais e cuidado para com seus familiares. Logo, é possível observar nesta categoria alguns relatos que comprovam estas afirmações:

[...] sempre tive que trabalhar, sem tempo para fazer exercícios, depende da

situação da pessoa e do tempo que tem”. (inpmD). “[...] não tenho tempo, tenho que cuidar de três netos, para filha trabalha”. (inpfH). “Nunca fiz exercício, não tinha tempo, em função de ter que trabalhar, para sustentar a minha família. O dinheiro apertado, lá em casa, tinha muita despesa, mesmo que tivesse que fazer exercício, não dava”. (inpmC). “Não tenho tempo devido ao trabalho. Nunca me deu na telha de fazer, vi os outros falarem, que era bom para os ossos, mas não quis me mexer para isso”. (inpfD).

Pessoas que vivem na União Européia apontaram, como maior causa para não praticarem exercício físico a “falta de tempo” (34%), seguindo-se a “falta de gosto pelo exercício físico” (25%). Porém, em relação à “falta de tempo”, (34% aumenta para 50%) quando se refere à população portuguesa. Sob ponto de vista mais aprofundado, constatou-se a “falta de tempo” como obstáculo à prática de

exercício físico, evidenciada principalmente em Chipre (66%), Malta (56%) e Portugal (60%).123,135

A prática da atividade física com o passar dos anos se evidenciou como uma estratégia simples, porém efetiva para melhorar a qualidade de vida. Assim, a atividade física torna-se crucial na qualidade de vida, uma vez que o sedentarismo corresponde a um fator de risco que pode originar patologias crônicas não transmissíveis, tais como obesidade e hipertensão.136,137

Observou-se que a percepção de falta de tempo correspondeu a uma das razões mais indicadas para o não envolvimento de programas de exercícios.138

O motivo mencionado (falta de tempo) é referido tanto por indivíduos ativos e sedentários, logo, acredita-se que esta falta de tempo é um determinante real ou percepcionado. Por outro lado, pode ser também uma “desculpa” para justificar hábitos comportamentais inadequados e de organização pessoal ou a falta de motivação para se tornarem ativos.139

Como profissionais de saúde antes de assumir posição frente a uma situação, deve-se analisar e contextualizar a problemática em questão. Neste caso em especial, discute-se que a falta de orientação e de tempo para prática de atividades físicas regulares referidas pelos idosos pesquisados, tanto pode se associar pelo nível de motivação como a forma pela qual está sendo processada a educação em saúde nesta faixa etária da população. Acredita-se que o processo motivacional muitas vezes representa o grau de importância que os idosos delegam para determinado assunto, assim como sua capacidade de entendimento e conhecimento, neste caso, dos riscos da não prática de exercícios físicos regulares.

Já nos anos 90 se dissertava que a opção por praticar ou não exercícios físicos regulares era de caráter livre, trazendo consigo uma gama de saberes intrínsecos e riquíssimos aos praticantes. Porém, por ter caráter livre, normalmente é explorado o conteúdo de esportes aos quais já estamos acostumados no dia a dia como vôlei, futebol, futsal, handbol, entre outros. Este fato decorre da pouca

diversificação do conteúdo abordado, consequentemente gera desmotivação e desinteresse, tais como a habilidade reduzida e destreza nos esportes eleitos, sobrepeso, obesidade entre outros.140

Trazendo para os dias atuais e para o âmbito da terceira idade, nesse estudo alguns idosos referiram não saberem da importância de evitarem o sedentarismo e que poderiam praticar esportes coletivos adaptados para suas condições físicas,

também tentando justificar a falta de tempo. Também se observou que uma parcela de idosos simplesmente relata não gostar de praticar esportes coletivos tais como futsal, handebol, achando ser a única opção de exercícios fora as tradicionais caminhadas e que mesmo assim não eram adeptos regulares.

Porém, redimensionando o pensamento à questão motivação, relaciona-se com a aprendizagem, sendo necessário considerar as características do paciente idoso. Deve-se considerar que as atividades propostas para o nível escolar exigem: atenção; concentração; processamento de informações; raciocínios e resolução de problemas. Em função destas características, acredita-se que aplicar conceitos gerais de motivação humana no ambiente em que estão os idosos, não seria muito apropriado sem entender as singularidades desses ambientes.141

Em estudo realizado os autores investigaram a motivação presente para prática efetiva das aulas de Educação Física com estudantes do terceiro ano do Ensino Médio do município de Araruna/PR e constataram que participantes desse estudo têm em suas razões internas sua principal fonte motivacional. Referiram gostar da prática de atividades prazerosas, as quais permitiam maior entrosamento com os colegas e eram mais fáceis de praticar.142

Ao justapor estas razões no campo da Geriatria e Gerontologia Biomédica é importante comentar que muitos idosos procuram realizar atividades integradoras, nas quais tenham mais facilidade e mantêm ainda vínculos afetivos e prazerosos. Portanto, sugere-se aos profissionais da área da Saúde e de Educação que trabalham com idosos que realizem programas de exercícios físicos e ações preventivas e aplicáveis, possibilitando a diversificação e favorecendo a percepção.

Concorda-se com autores da área que apontam existir uma lacuna na área biomédica sobre essa questão.129

Faz-se necessário refletir o entendimento sobre saúde de forma ampliada em que consideramos o contexto socioeconômico, ambiental e histórico-cultural de indivíduos e populações, os quais poderiam desmistificar o fenômeno da adesão ou não adesão ao exercício físico regular, concordando com a literatura.143

Os dados demonstraram que apesar da população estar ciente dos benefícios físicos proporcionados pela prática de exercício físico, existe um distanciamento entre a vontade, a necessidade, a adoção e a manutenção de um estilo de vida fisicamente ativo. Talvez esse fato esteja relacionado com o nível de escolaridade dos pesquisados. No entanto, a literatura discorre de que o status econômico se

relaciona diretamente com a prática de exercícios físicos, o que foi confirmado no presente estudo, pois a maioria dos idosos não praticantes de exercícios físicos regulares possuía o Ensino Fundamental Incompleto, e ganhava mais de um salário mínimo.144