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FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA (MEADOS DO SÉCULO XIX AO SÉCULO XX)

O CONCEITO DE AULA SOB A PERSPECTIVA DA HISTÓRIA DA

3. FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA (MEADOS DO SÉCULO XIX AO SÉCULO XX)

Esse período é compreendido da metade do século XIX até nossos dias atuais. Filosoficamente consideramos como ponto de partida o filó-sofo alemão Hegel, com sua consideração do homem como “ser históri-co” (HARTMANN, 1983, p. 635). Nesse sentido, o homem histórico é reconhecido por suas ações, onde o externo deixa evidente o seu interior.

Ou seja, “a história é o processo que exibe o espírito objetivo, quer dizer a história é a sua manifestação. Os povos são o que fazem”. (HART-MANN, 1983, p. 640).

Diante de todas as mudanças sociais, econômicas e culturais ocorridas no final do século XIX, podemos destacar algumas mudanças relevantes em relação ao processo educacional. De acordo com Monacorda (1992), a relação da educação e da sociedade apresenta os seguintes aspectos:

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A relação educação-sociedade contém dois aspectos fundamentais na prática e na reflexão pedagógica moderna: o primeiro é a pre-sença do trabalho no processo da instrução técnico-profissional, que agora tende para todos a realizar-se no lugar separado “escola”, em vez do aprendizado no trabalho, realizado junto aos adultos; o segundo é a descoberta da psicologia infantil com suas exigências

“ativas”. (MONACORDA, 1992, p. 304-305).

Esses dois aspectos remontam a uma profunda mutação na pedagogia empregada na época, na Europa e na América.Sendo assim, percebemos que o trabalho verdadeiramente se insere na educação, numa tentativa de formar o homem com capacidade de produção.

Ao considerarmos, de meados do século XIX até nossos dias atuais, constatamos que ocorreram inúmeras transformações sociais, econômicas e culturais em nossa sociedade. Assim, chegamos a uma sociedade com características globais e especificidades locais, na qual a imersão junto às novas tecnologias é algo muito pressente. Nesse contexto, entendemos a importância de nos aproximarmos das ferramentas propostas pelas tec-nologias da informação e da comunicação (TIC), bem como seus efeitos junto a educação. Afinal, estamos num caminho sem volta, onde as novas tecnologias estão incorporadas ao nosso cotidiano.

De acordo com Coll e Monereo (2010, p. 15), estamos há algum tempo diante de “uma nova forma de organização econômica, social, po-lítica e cultural, identificada como Sociedade da Informação (SI)”, na qual implica novas maneiras de interagir, de comunicar, de aprender, enfim uma nova forma de existência humana.

Em um mundo cada vez mais conectado por dispositivos tecnológi-cos, a ideia de um professor meramente transmissor de informação tor-na-se uma “verdade” questionável e completamente fragilizada. Sendo assim, emerge um novo papel para o professor caracterizado por Coll e Monereo (2010, da seguinte forma:

No médio prazo, parece inevitável que, diante dessa nova oferta de meios e recursos, o professorado abandone progressivamente o papel de transmissor de informação, substituindo-o pelos papeis de seletor e gestor dos recursos disponíveis, tutor e consultor no

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recimento de dúvidas, orientador e guia na realização de projetos e mediador de debates e discussões (2010, p. 31).

De forma especial, queremos deixar bem claro que a proposta de mu-dança de foco na ação educativa – do professor para o aluno – sugere que o professor não ocupará o centro do “palco”, sendo que sua participação den-tro do processo de ensino aprendizagem continua sendo essencial, porém, sua postura deverá ser de mudança de mentalidade quanto à sua função.

Em relação à educação, ao pensarmos uma sociedade completamente conectada pela tecnologia, nos questionamos o lugar que a sala de aula ocupa no processo de ensino-aprendizagem. Ou seja, verificamos ao lon-go do tempo a aula – como um espaço físico, em um lugar, a escola – atin-gir um status de supervalorização. Nos questionamos se uma criação da Idade Média: “um momento sagrado com horário marcado (a aula como um local espacial: a escola) atende a nossa necessidade atual como ferra-menta para o ensino aprendizagem.

Diante da nossa realidade contemporânea, acreditamos que é necessá-rio refletirmos a respeito das práticas pedagógicas que estamos utilizando, pois, nem sempre é possível assumir como respostas para os problemas atuais as soluções de tempos atrás.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em relação à educação, observamos que passamos por vários momen-tos, na história, na qual se cristalizaram inúmeras abordagens referentes à instrução formal. Nesse sentido, para a escola contemporânea é difícil aceitar que ela não constitua a única fonte de conhecimento. Que o pro-fessor não é o “deus” guardião da chave do saber. Ou ainda, que a aula em um local que chamamos de escola, não é o único local em que se aprende.

Verificamos que em relação ao processo de controle da instrução for-mal, uma prerrogativa, que na Idade Média era da Igreja, e que na Idade Moderna foi legado ao Estado, permanece até hoje.

A partir da Idade Média vimos surgir as aulas, que estabelecidas em um local específico, as escolas, tornaram-se a referência para se aprender.

Hoje em dia nos deparamos com o conhecimento espalhado e desorgani-zado pelas redes sociais.

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Ainda hoje é incompreensível para a escola moderna aceitar uma po-sição de igualdade entre aluno e professor. Na época medieval, algo pa-recido com isso levava o aluno a ser acusado de presunção, um pecado capital. Nos dias atuais, a escola não consegue admitir a perda do mono-pólio em relação ao conhecimento do aluno e assim, o reivindica para si.

Vimos a Igreja perdendo sua exclusividade, em relação ao conhecimento com a criação da imprensa no século XV, e hoje vemos a escola perder seu monopólio para a internet. A internet está coagindo a escola a transformar sua forma de atuação bem como a função do professor.

De forma especial, estamos vivendo em tempos de pandemia, o que nos sugere o isolamento social. Dessa forma, na impossibilidade da aula presencial abraçamos uma solução pronta para o problema. Ligar uma câ-mera tornou-se a salvação das nossas aulas. Será? Entendemos que esse questionamento merece maior atenção ou outra pesquisa, visto que é ne-cessário conhecer a real dimensão do modelo de aulas adotados para o momento que estamos vivendo.

REFERÊNCIAS

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com.br/michaelis>. Acesso em: 10 jul. 2021.

BITTAR, Marisa. História da educação: da antiguidade à época contemporânea. São Carlos: EdUFSCar, 2009.

BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB – Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educa-ção Nacional. Brasília: MEC, 1996.

CHAUI, Marilene. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000.

COLL, Cesar; MONEREO, Carles. Psicologia da Educação Virtual:

Aprender e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010.

DIEL, Paulo Fernando. As escolas dos mosteiros medievais, di-nâmica social, didática e pedagogia. Educação Unisinos, São Leopoldo, v. 21, n. 2: Setembro/dezembro, 2017. Disponível em:

ROSÂNGELA TREMEL (ORGS.)

<http://revistas.unisinos.br/index.php/educacao/article/view/edu.

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HARTMANN, Nicolai. A Filosofia do Idealismo alemão. Trad. José G. Belo. 2ª ed. Lisboa: Fund. Caulouste Gulbenkian, 1983.

JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico e fi-losofia. 5ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: antiguidade aos nossos dias. 3. Ed. São Paulo: Cortez: Autores associados, 1992.

MARCONDES. Danilo. As origens do pensamento moderno e a ideia de modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2016.