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O Fim dos Viracochas

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 104-107)

Vimos no Capitulo 10 que Tiahuanaco foi construída originalmente como porto nas margens do lago Titicaca, quando o lago era muito mais largo e mais de 30m mais profundo do que hoje. Enormes construções portuárias, pieres e diques (e mesmo locais de descarga de pedra tirada de pedreiras em pontos abaixo da velha linha d'água) não deixam dúvida que tudo isso deve ter existido. De acordo com as estimativas heterodoxas do professor Posnansky, Tiahuanaco funcionava como porto muito movimentado em data tão remota como o ano 15000 a.C., a data que ele sugeriu como a da construção da Kalasasaya, que continuou a servir como tal por aproximadamente cinco mil anos e que, durante esse enorme período, sua posição em relação à praia do lago praticamente não mudou.

Durante toda essa época, o ancoradouro principal da cidade portuária esteve localizado a centenas de metros a sudoeste da Kalasasaya, em um sitio ora conhecido como Puma Punku (literalmente, o Portal do Puma). Nesse local, as escavações de Posnansky revelaram a existência de duas docas artificialmente abertas em cada lado de um "autêntico pier, ou cais... onde centenas de embarcações poderiam, a qualquer tempo, ancorar e descarregar suas pesadas cargas".

Um dos blocos de construção usados na construção do pier ainda se encontrava no local e pesava umas estimadas 400 toneladas. Numerosos outros pesavam entre 100 e 150 toneladass. Além do mais, muitos dos maiores monólitos haviam sido claramente ligados uns aos outros por grampos de metal em forma de L. Eu sabia que, em toda a América do Sul, essa técnica de construção só havia sido encontrada em Tiahuanaco. A última vez em que eu vira as depressões características, em entalhes que lhe provavam o uso, tinha sido nas ruínas da ilha de Elefantina, no Nilo, no Alto Egito.

Igualmente intrigante era a existência do símbolo da cruz em muitos desses antigos blocos. Repetindo-se inúmeras vezes, especialmente no acesso setentrional ao Puma Punku, o símbolo assumia sempre a mesma forma: um crucifixo duplo em linhas muito claras, perfeitamente equilibrado e harmonioso, profundamente rebaixado na dura pedra cinzenta. Mesmo de acordo com a cronologia ortodoxa, essas cruzes tinham nada menos de 1.500 anos de idade. Em outras palavras, haviam sido ali entalhadas por um povo que nenhum conhecimento tinha do cristianismo, um milênio inteiro antes da chegada dos primeiros missionários espanhóis ao altiplano.

Onde, por falar nisso, haviam os cristãos obtido a cruz? Não só da forma da estrutura onde Cristo fora pregado, pensava eu, mas também de uma origem muito mais antiga. Os antigos egípcios, por exemplo, não haviam usado um hieróglifo muito parecido com a cruz (a ankh, ou crux ansata) para simbolizar a vida... o hálito de vida... a

própria vida eterna? Surgira o símbolo no Egito, ou tivera talvez origem em outro local, e em uma era ainda mais remota?

Com essas idéias se atropelando em minha mente, andei vagarosamente em torno do Puma Punku. O extenso perímetro, que formava um retângulo de várias centenas de metros de comprimento, punha em destaque uma baixa colina de forma piramidal, nesse momento densamente coberta por relva alta. Dezenas e dezenas de enormes blocos espalhavam-se em todas as direções, jogados como se fossem palitos de fósforo, argumentou Posnansky, pela terrível calamidade natural que se abatera sobre Tiahuanaco no undécimo milênio a.C.:

Essa catástrofe foi ocasionada por movimentos sísmicos, que provocaram transbordamento das águas do lago Titicaca e erupções vulcânicas... É também possível que o aumento temporário do nível do lago tenha sido causado, em parte, pelo rompimento das barreiras naturais de alguns lagos mais ao norte e situados em maior altitude (...) liberando, dessa maneira, a água que desceu na direção do lago Titicaca em torrentes impetuosas e incontroláveis.

A prova de Posnansky, de que um dilúvio fora a causa da destruição de Tiahuanaco, incluía o seguinte:

A descoberta de flora lacustre, Paludestrina culminea e Paludestrina andecola, Ancylus titicacensis, Planorbis titicacensis etc., misturada em depósitos de aluvião com os esqueletos de seres humanos que pereceram no cataclismo... e a descoberta de vários esqueletos de Orestias, um peixe da família dos atuais bogas, no mesmo aluvião que contém os restos humanos...

Além disso, fragmentos de esqueletos humanos e de animais foram encontrados em desordem caótica entre pedras trabalhadas, utensílios, instrumentos e uma variedade interminável de outras coisas. Tudo isso havia sido movido de um lado para outro, quebrado

e acumulado em uma pilha desordenada. Quem quer que abrisse nesse local um buraco de dois metros de profundidade não poderia negar que a força destrutiva da água, em combinação com movimentos bruscos da terra, deveria ter acumulado esses diferentes tipos de ossos, misturando-os com louça de barro, jóias, instrumentos e utensílios (...) Camadas de depósitos de aluvião cobrem todo o campo das ruínas; areia lacustre, misturada com conchas do Titicaca, feldspato decomposto e cinzas vulcânicas, acumularam-se nos locais cercados por muralhas...

Foi realmente terrível a catástrofe que caiu sobre Tiahuanaco. E se Posnansky tinha razão, isso aconteceu há mais de 12.000 anos. Daí em diante, embora as águas da inundação tivessem baixado, "a cultura do altiplano nunca mais atingiu um alto ponto de desenvolvimento, caindo, em vez disso, em decadência total e definitiva”.

No documento Graham Hancock - As Digitais Dos Deuses (páginas 104-107)