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CAPÍTULO 3. O FINANCIAMENTO POLÍTICO NO BRASIL

3.3. Retrato do financiamento nos dias atuais: sistema normativo do financiamento

3.3.1. Fontes de recursos públicos para o financiamento político

O artigo 79 da LE determina que o financiamento de campanhas eleitorais com recursos públicos seja disciplinado em lei específica127. Embora essa norma ainda não tenha sido editada, já há contribuição do erário para o financiamento da política no Brasil, cujos recursos são provenientes:

(a) do Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos – Fundo Partidário, que, segundo prevê o artigo 38 da LOPP, recebe:

I - multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código Eleitoral e leis conexas;

II - recursos financeiros que lhe forem destinados por lei, em caráter permanente ou eventual;

(...)

IV - dotações orçamentárias da União em valor nunca inferior, cada ano, ao número de eleitores inscritos em 31 de dezembro do ano anterior ao da proposta orçamentária, multiplicados por trinta e cinco centavos de real, em valores de agosto de 1995.;

(b) do custeio da propaganda partidária gratuita, no rádio e na televisão, porque às emissoras é assegurado direito a compensação fiscal pela cessão do horário128;

(c) do custeio da propaganda eleitoral gratuita, no rádio e na televisão, porquanto igualmente às emissoras é resguardado o direito a compensação fiscal pela cessão do respectivo horário.129

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BRASIL. Lei n.º 9.504 (1997). O art. 79 prevê que “o financiamento das campanhas eleitorais com recursos públicos será disciplinada em lei específica”.

128 BRASIL. Lei n.º 9.096 (1995). O art 45 prevê que: “a propaganda partidária gratuita, gravada ou ao vivo,

efetuada mediante transmissão por rádio e televisão será realizada entre as dezenove horas e trinta minutos e as vinte e duas horas para, com exclusividade: I - difundir os programas partidários; II - transmitir mensagens aos filiados sobre a execução do programa partidário, dos eventos com este relacionados e das atividades congressuais do partido; III - divulgar a posição do partido em relação a temas político-comunitários; IV - promover e difundir a participação política feminina, dedicando às mulheres o tempo que será fixado pelo órgão nacional de direção partidária, observado o mínimo de 10% (dez por cento).” E o parágrafo único do art. 52 estabelece que “as emissoras de rádio e televisão terão direito a compensação fiscal pela cedência do horário gratuito previsto nesta Lei.”

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Embora os recursos do Fundo Partidário não sejam propriamente destinados ao financiamento das campanhas, tendo em vista que seu principal objetivo é garantir sua própria sustentabilidade, fazendo frente aos gastos decorrentes da movimentação cotidiana da agremiação, como bem afirma Gomes, “é induvidoso que são largamente empregados para este fim”130. De forma diversa ao que ocorre com a propaganda eleitoral, a propaganda partidária também não se volta (pelo menos não deveria ser) especificamente para a campanha eleitoral, mas, aos disseminar os feitos e ideais do partido, acabam por projetar sua imagem e a de seus afiliados perante o eleitorado, promovendo-os.

Um quarto dos recursos recebidos pelos partidos do Fundo Partidário está vinculado a duas finalidades: pesquisa e educação em formação política (20%) e participação feminina na política (5%). O partido tem plena liberdade para usar o restante dos recursos, desde que respeite o limite máximo de gastos com pessoal (50%)131. Sendo assim, pode destinar até todo o resto que recebeu com propagandas e campanhas eleitorais.

Os recursos do Fundo Partidário são rateados entre todos os partidos segundo uma combinação de dois critérios. A maior parte dos recursos (95%) é distribuída entre os partidos de acordo com seu sucesso eleitoral nas últimas eleições para a Câmara dos Deputados (proporcionalidade de votos), enquanto o restante (5%) é dividido de forma igual entre todos os partidos políticos registrados no TSE132.

Adicionalmente ao fundo partidário, como visto, o Estado contribui com o financiamento das organizações partidárias e das campanhas eleitorais por meio do horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão. Esta forma de apoio não monetário está disponível aos partidos políticos para fazer proselitismo partidário e para as campanhas eleitorais.

129

BRASIL. Lei n.º 9.504 (1997). O art. 99 reza que “as emissoras de rádio e televisão terão direito a compensação fiscal pela cedência do horário gratuito previsto nesta Lei.”

130 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 243.

131 BRASIL. Lei n.º 9.096 (1995). O art 44 prevê que: “os recursos oriundos do Fundo Partidário serão

aplicados: I - na manutenção das sedes e serviços do partido, permitido o pagamento de pessoal, a qualquer título, observado neste último caso o limite máximo de 50% (cinquenta por cento) do total recebido; II - na propaganda doutrinária e política; III - no alistamento e campanhas eleitorais; IV - na criação e manutenção de instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política, sendo esta aplicação de, no mínimo, vinte por cento do total recebido; V - na criação e manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres conforme percentual que será fixado pelo órgão nacional de direção partidária, observado o mínimo de 5% (cinco por cento) do total”.

132 BRASIL. Lei n.º 9.096 (1995). O art 41-A estabelece que: “do total do Fundo Partidário: I - 5% (cinco por

cento) serão destacados para entrega, em partes iguais, a todos os partidos que tenham seus estatutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral; e, II - 95% (noventa e cinco por cento) serão distribuídos aos partidos na proporção dos votos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados”.

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Também nessa forma de financiamento público, o sistema de distribuição, agora do tempo em rádio e televisão entre os partidos e coligações, baseia-se novamente no desempenho na últimas eleições, criando diferentes classes de partidos.

A distribuição do tempo gratuito segue uma mescla de critérios proporcionais e majoritários. A maior parte do tempo, dois terços, é alocada proporcionalmente ao sucesso eleitoral no passado, desta feita, mediante o critério da proporção de acordo com o número de vagas conquistadas na Câmara dos Deputados (e não quantidade de votos). O restante, um terço do tempo, é distribuído de forma igual entre todos os partidos que tiverem candidatos na eleição133.

A importância desse recurso indireto evidencia-se com base em uma série de informações contextuais. Como bem afirma Speck134, em primeiro lugar, o espaço de propaganda é um dos recursos mais importantes e ao mesmo tempo mais caros na sociedade, com alta penetração pelo rádio e pela televisão. Em muitos países, os gastos com propaganda eleitoral na televisão são o item mais caro nas campanhas. Em segundo lugar, a vigilância dos candidatos sobre o uso correto do horário eleitoral nas campanhas eleitorais e as representações na justiça eleitoral contra propaganda abusiva ilustra a importância do item para as campanhas. No caso brasileiro, a situação do espaço na televisão e no rádio se agrava porque a legislação torna o horário gratuito o único recurso, não permitindo a compra de espaço adicional.

Uma das principais críticas que se faz em relação ao financiamento político público brasileiro refere-se aos critérios de distribuição dos benefícios, que acaba por levar a uma ossificação do sistema partidário, uma vez que são distribuídos seguindo um critério de proporcionalidade do sucesso eleitoral, seja relativo a número de votos, seja a quantidade de vagas ocupadas (ambos em eleição para Câmara dos Deputados). Para Speck, a vinculação de

133 BRASIL. Lei n.º 9.504 (1997). O § 2º do art. 47 reza que: “os horários reservados à propaganda de cada

eleição, nos termos do § 1º, serão distribuídos entre todos os partidos e coligações que tenham candidato, observados os seguintes critérios: I - 2/3 (dois terços) distribuídos proporcionalmente ao número de representantes na Câmara dos Deputados, considerado, no caso de coligação, o resultado da soma do número de representantes de todos os partidos que a integram; II - do restante, 1/3 (um terço) distribuído igualitariamente e 2/3 (dois terços) proporcionalmente ao número de representantes eleitos no pleito imediatamente anterior para a Câmara dos Deputados, considerado, no caso de coligação, o resultado da soma do número de representantes de todos os partidos que a integram”.

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SPECK, Bruno W. O financiamento político e a corrupção no Brasil. In: Rita de Cassia Biason. (Org.). Temas de corrupção política no Brasil. 1ed.São Paulo: Balão Editorial, 2012, v. 1, p. 59.

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um dos mais importantes recursos na eleição ao sucesso eleitoral do passado tende a perpetuar a relação de forças entre os partidos135.