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Entende-se por fontes de Direito, em sentido técnico-jurídico, os modos de formação ou de revelação das normas jurídicas16.

O Direito do Trabalho corresponde a um dos ramos de Direito que englobam o nosso ordenamento jurídico e, por isso, compartilha com a generalidade desses ramos um conjunto de fontes a que designamos de fontes comum, como os tratados internacionais, a Constituição e as restantes fontes do Direito interno. Por outro lado, existe um conjunto de fontes que são próprias ao Direito do Trabalho e que são designadas por fontes específicas, dos quais fazem parte os instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho.

No que diz respeito às fontes, estas podem ainda ser internas, isto é, restritas ao ordenamento jurídico português, e externas, quando se tratam de fontes de origem internacional com relevância e aplicabilidade no ordenamento jurídico português.

15 Para mais desenvolvimentos vide, por exemplo, FERNANDES, António Monteiro, Direito do Trabalho, 17.ª Edição, Almedina, 2014, pp. 92-95. 16 Acedido em http://hugolancassocial.blogspot.pt/2007/10/fontes-de-direito_27.html.

1.4.1 Fontes internas

1.4.1.1 Constituição da República Portuguesa

Consagra direitos laborais não só a nível individual – o princípio da segurança no emprego e a proibição dos despedimentos sem justa causa, o direito ao trabalho, o direito a férias –, mas também a nível coletivo – liberdade sindical, direito à greve, comissões de trabalhadores.

A CRP para além de fonte de direitos laborais, é também um parâmetro interpretativo das normas laborais.

Os princípios básicos que dominam os vários institutos do Direito do Trabalho estão consignados na Parte I da Constituição, quer no Capítulo III do Título II, sobre “Direitos, Liberdades e Garantias dos trabalhadores”, quer no Capítulo I do Título III, sobre “Direitos e deveres económicos”.

1.4.1.2 Código do Trabalho e demais legislação laboral

O Código do Trabalho ( aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro17) está dividido em

dois livros: o Livro I, respeitante à parte geral e que engloba três títulos – Fontes e Aplicação do Direito do Trabalho, Contrato de trabalho, Direito coletivo – e o Livro II, relativo à responsabilidade penal e contraordenacional.

1.4.1.3 Instrumentos de Regulamentação Coletiva de Trabalho (IRCT)

Os IRCT são uma fonte específica do Direito do Trabalho à luz do art. 1.º do CT e dividem-se em IRCT negociais e IRCT não negociais.

Dos IRCT negociais fazem parte a convenção coletiva, o acordo de adesão e a decisão arbitral em processo de arbitragem voluntária18.

Dos IRCT não negociais fazem parte a portaria de extensão, a portaria de condições de trabalho e a decisão arbitral em processo de arbitragem obrigatória ou necessária19.

17 Alterado pelas Leis n.ºs 105/2009, de 14 de setembro, 53/2011, de 14 de outubro, 23/2012, de 25 de junho, 47/2012, de 29 de agosto, 69/2013, de 30 de agosto, 27/2014, de 8 de maio, e 55/2014, de 25 de agosto, 28/2015, de 14 de Abril, 120/2015, de 01 de Setembro, 8/2016, de 01 de Abril, 28/2016, de 23 de Agosto.

18 Vide art.º 2, n.º 2 do CT. 19 Vide art.º 2, n.º 4 do CT.

1.4.1.4 Os usos laborais

Consistem em práticas reiteradas não acompanhadas da convicção da sua obrigatoriedade. São nos termos do art. 3.º do CC, fonte mediata de Direito, na medida em que apenas relevam se existir lei remissiva e desde que não contrariem o princípio da boa fé.

Os usos desde sempre assumiram uma relevância prática na regulamentação das relações de trabalho. Indo mais longe, o CT de 2016 leva a concluir que o recurso aos usos laborais dispensa, na maioria das vezes, norma remissiva expressa20.

Os usos laborais não podem contrariar normas legais imperativas e cedem perante disposição de IRCT ou de contrato em sentido diverso.

1.4.2 Fontes internacionais

1.4.2.1 As convenções e recomendações da OIT

As principais fontes internacionais de Direito do Trabalho português são as convenções que se realizam sob a direção da OIT.

A OIT apresenta no seio das suas atividades três que se destacam como principais. A primeira consiste em preparar convenções e recomendações sobre as questões de trabalho, para influenciarem de forma positiva os quadros laborais das legislações de cada estado membro. A segunda consiste em desenvolver atividades de pesquisa a nível económico, social e técnico das relações laborais. A terceira visa assegurar a assistência técnica aos Governos21.

Para o desenvolvimento destas atividades, a OIT usufrui de normas internacionais de trabalho que tanto podem ser convenções, como recomendações.

As convenções e recomendações diferem pelo grau de vinculação que delas resulta. As primeiras correspondem a verdadeiros tratados internacionais, suscetíveis de integração nas legislações internas e estão abertas a ratificação. Por outro lado, as recomendações surgem como instrumentos sem verdadeiro caráter normativo e englobam diretrizes gerais ou técnicas22.

Contudo, a importância das convenções não é diminuta, uma vez que, embora em parâmetros menos exigentes do que em relação às convenções, os Estados têm um dever de diligência relativamente à transposição das diretrizes constantes de uma recomendação para as legislações

20 Existem alguns preceitos laborais que necessitam do uso de normas remissivas que é o caso do art. 258.º, n.º 1, do CT. 21 Acedido em https://apontamentosdedireito.wordpress.com/licenciatura/3-%C2%BA-ano/direito-do-trabalho/universidade-lusiada/. 22 Idem, Ibidem.

nacionais. Estas podem ainda vir a estar na origem de uma convenção ou servir-lhe de complemento através da recolha de diretrizes que nela não puderam figurar.

Relativamente às normas que surgem de convenções internacionais, no direito português vigora o sistema da receção automática na ordem jurídica interna. Assim, à luz do art. 8.º, n.º 2, da CRP as normas constantes de convenções internacionais vigoram na ordem jurídica interna se, após serem regularmente ratificadas23 ou aprovadas24,forem publicadas em Diário da República e enquanto

vincularem internacionalmente o Estado Português. De todo o modo, a vinculação internacional do Estado Português pode cessar com a denúncia da convenção25.

De entre os vários temas nos quais a OIT tem atuado existem quatro que se destacam por estarem subjacentes a convenções fundamentais: a erradicação do trabalho forçado ou obrigatório; a erradicação do trabalho infantil; a liberdade de associação laboral e de negociação coletiva e a igualdade salarial e não discriminação no acesso ao emprego e no trabalho.

1.4.2.2 Declaração Universal dos Direitos do Homem

A Declaração Universal dos Direitos do Homem corresponde a uma convenção internacional, pois trata-se de uma proclamação ou declaração de princípios sem caráter vinculante. Releva importância no âmbito laboral, na medida em que os seus arts. 23.º, 24.º e 25.º proclamam princípios como o direito ao trabalho, a liberdade de escolha do trabalho, a proteção no desemprego, a proibição da discriminação em matéria salarial, o direito a remuneração equitativa e suficiente, a liberdade sindical, o direito ao repouso e ao lazer, o direito a férias periódicas pagas e à proteção da parentalidade.

1.4.2.3 Convenção Europeia dos Direitos do Homem26

Trata-se de um “instrumento vinculativo para os Estados ratificantes”27 e institui um órgão

jurisdicional específico para a apreciação de eventuais violações das suas disposições, designado por Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.

23 A ratificação é feita pelo Presidente da República, conforme o art. 135.º, al. b), da CRP.

24 A aprovação incumbe-se à Assembleia da República ou ao Governo, conforme se trate ou não de matéria de competência reservada do primeiro daqueles órgãos.

25 Acedido em https://apontamentosdedireito.wordpress.com/licenciatura/3-%C2%BA-ano/direito-do-trabalho/universidade-lusiada/.

26 Para um conhecimento mais aprofundado ver, ANDRADE, M. Almeida, “O papel da Convenção Europeia dos Direitos do Homem na proteção dos direitos fundamentais no âmbito comunitário”, in Documentação e Direito Comparado, n.ºs 45/46, Lisboa, p. 35 e ss.

A Convenção Europeia trata, apenas, de direitos individuais que têm como contrapartidas deveres de ação ou de abstenção dos Estados. Por isso, o Tribunal apenas julga comportamentos das autoridades públicas nacionais se receber queixas por parte dos cidadãos.

No âmbito jurídico-laboral consagra, nos seus arts. 4.º e 11.º, a proibição da escravatura e do trabalho forçado e a liberdade sindical28.

1.4.2.4 Carta Social Europeia

A Carta Social Europeia tende a ser pouco valorizada na sua projeção normativa uma vez que codifica direitos que já se encontravam consagrados noutros diplomas internacionais, como as convenções da OIT. É o caso do direito ao trabalho, do direito à segurança e saúde no trabalho, do direito a uma remuneração justa, da liberdade sindical, do direito à negociação coletiva e da proteção do trabalho de menores.

1.4.2.5 Direito Europeu

A União Europeia é uma comunidade jurídica com uma ordem jurídica própria e com um conjunto de disposições pertencentes ao âmbito do Direito do Trabalho29.

O Direito Europeu do trabalho pode definir-se como um “conjunto de regras laborais de origem comunitária aplicáveis a todos os trabalhadores que desempenham a sua atividade em Estados da União Europeia”30.

O Direito Europeu originário é constituído pelos tratados que instituíram a União Europeia. Em 2012, os Estados da União Europeia assinaram o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE) e reviram o Tratado da União Europeia que passaram, assim a ser os Tratados em que se funda a União Europeia31.

O TFUE prevê vários aspetos relativos ao Direito do Trabalho, como a livre circulação de trabalhadores (arts. 45.º a 48.º), a harmonização das legislações dos Estados membros no plano social (arts. 114.º a 118.º), o estabelecimento de uma estratégia coordenada em matéria de emprego (arts. 145.º a 150.º) e a proteção social (arts. 151.º a 156.º).

28 A liberdade sindical aqui surge apenas relativamente à liberdade de constituição de sindicatos e de filiação individual, não sendo considerada a dimensão coletiva dessa liberdade.

29 Acedido em http://apontamentosdedireitodaana.blogspot.pt/2014/04/sebenta-de-direito-do-trabalho-20132014_24.html. 30 MARTINEZ, Pedro Romano, Direito do Trabalho, 6.ª Edição, Almedina, Coimbra, 2013, p. 194.

Já o Direito Comunitário derivado é constituído pelos instrumentos jurídicos provenientes da União Europeia, de que fazem parte as diretivas, os regulamentos, as decisões, as recomendações e os pareceres (art. 288.º do TFUE).

O instrumento mais utilizado pela União Europeia no seio da uniformização das legislações laborais dos Estados membros é a diretiva e as principais áreas de intervenção são a igualdade e não discriminação, os acidentes de trabalho e as doenças profissionais.