• Nenhum resultado encontrado

6.2 ANÁLISE VIA TEORIA DA OTIMALIDADE

6.2.2 As siglas de três letras

6.2.2.5 O formato VVC

De acordo com Barbosa et alii (2003), o formato em análise é variável.

Conforme os autores, se C for <S, R, L, M, N>, as siglas serão acrônimos; nos demais casos, constituir-se-ão alfabetismos. Os dados que os testes aplicados revelaram para o formato em análise confirmam essa informação.

Dessa maneira, pode-se afirmar que a terminação em letra que representa um segmento soântico, no formato VVC, favorece a formação de acrônimos, como se vê em UEL (Universidade Estadual de Londrina), UEM (Universidade Estadual de Maringá) e IAR (Instituto Ambiental Ratones).

Assim, os acrônimos formados segundo o formato VVC são dissílabos, sendo a primeira sílaba leve, constituída apenas de núcleo, e a última sílaba pesada.

120 6.2.2.6. O formato VCV

Conforme Barbosa et alii (2003), o formato VCV é, em geral, constituído por acrônimos. Quando V2 for <I>, no entanto, ocorre, de acordo com os autores, a formação de alfabetismos. Os dados levantados nos testes corroboram essa informação. Dessa forma, UNE (União Nacional dos Estudantes), UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e ONU (Organização das Nações Unidas) são acrônimos, e UTI (Unidade de Terapia Intensiva), IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e EPI (Equipamento de Proteção Individual) são alfabetismos.

A informação fonológica que emerge a partir da consideração feita acima diz respeito ao fenômeno conhecido como neutralização das postônicas (CAMARA JR, 1970). Esta é o resultado do desaparecimento de uma oposição, isto é, deixa de operar, entre dois ou mais segmentos, um traço distintivo relevante. A neutralização, no caso em questão, é detectável entre os segmentos /e/ e /i/, de um lado, e /o/ e /u/, de outro, nas posições átona e postônica. Sendo extinta a oposição /e/ e /i/ e /o/ e /u/ átonos em final de palavras, postulam-se os arquifonemas vocálicos /I/ e /U/, que representam a perda do contraste entre /e/ e /i/, no primeiro caso, e /o/ e /u/, no segundo (CALLOU & LEITE, 1994).

Sendo assim, o falante produz [ˈu.fɪ] para UFE (União Fabril Exportadora), ou seja, compreende uma sigla com o formato VCV terminada em <E> como acrônimo, mas interpreta como alfabetismo a sigla ABI (Associação Brasileira de Imprensa) pelo fato de esta terminar em <I>. Se essa

121 sigla fosse interpretada como acrônimo, seria produzida pelo falante a sequência [ˈa.bɪ], exatamente o que ocorre caso a sigla termine em <E>. Isso significa que, por conta do fenômeno fonológico conhecido como neutralização, o falante marca essa diferença e compreende como acrônimo a sigla VCV em que V2 = <E> e a interpreta como alfabetismo quando V2 = <I>.

6.2.2.7. O formato VCC

Barbosa et alii (2003) afirmam que siglas constituídas segundo o formato VCC são alfabetismos, com exceção feita quando C1 for <S, R, L>. Nesse caso, ocorre a formação de acrônimos. Os testes realizados para esta tese também confirmam essas realizações.

Dessa maneira, os acrônimos constituídos segundo esse formato caracterizam-se por serem dissílabos paroxítonos, ocorrendo epêntese de [ɪ] junto a C2, sendo esta uma obstruinte. Assim, realizam-se [ˈuʃ.pɪ], [ˈax.pɪ] e [ˈiw.pɪ] para, respectivamente, USP (Universidade de São Paulo), ARP (Associação Riograndense de Propaganda) e ILP (Instituto do Legislativo Paulista).

A formação de acrônimos, no formato em análise, constitui mais um caso em que se produzem dissílabos paroxítonos, ratificando a questão da palavra mínima e a tendência de que o pé básico do português é o troqueu moraico.

122 6.2.2.8. Análise conjunta dos acrônimos de três letras

Uma vez feitas as descrições dos formatos de siglas de três letras, cabe, nesta seção, a análise dos acrônimos através dos mecanismos da TO. Para isso, é necessário que sejam formuladas as restrições, muitas delas já explicitadas na descrição dos formatos, e que estas sejam ranqueadas. Abaixo, em (21), enumeramos as restrições relevantes:

(21)

CODA-COND [+ soante / - soante, + contínuo, + coronal] (Condições sobre a coda): Na posição de coda, só são permitidos segmentos soânticos (nasais, líquidas e vogais) e sibilantes (fricativas alveolares e álveo-palatais); oclusivas e fricativas labiais são penalizadas nessa posição (LEE, 1999).

Violação: quando oclusivas e fricativas labiais aparecerem na posição de coda.

TROCHEE (TROQUEU): Todo pé tem duas moras, estejam elas localizadas em uma mesma sílaba ou em sílabas distintas. Nesse último caso, a sílaba proeminente está à esquerda (RONDININI, 2009: 104).

Violação: sempre que um pé dissilábico não apresentar cabeça na sílaba inicial ou houver formação de um pé constituído apenas por uma sílaba leve.

*MID]MWd: Palavras morfológicas não podem terminar em vogal média.

Violação: quando palavras morfológicas terminarem em vogais médias.

123

* coronal coronal

+ aberto 3 - aberto 2 MWd

O ditongo aberto [ɛj] não deve figurar na borda direita de palavras morfológicas.

Violação: sempre que palavras morfológicas terminarem com o ditongo aberto [ɛj].

STRESS-TO-WEIGHT (STW): Toda sílaba acentuada deve ser pesada.

Violação: Toda sílaba leve acentuada deve receber infração.

OPEN-TO-STRESS (OTS): Abertura ao acento: as vogais médias acentuadas devem ser abertas.

Violação: quando as vogais médias acentuadas forem fechadas.

DEP-IO (Dependência do input no output): nenhum segmento deve ser inserido; não pode haver qualquer tipo de acréscimo no output.

Violação: quando houver epêntese.

A seguir, em (22), as restrições estão hierarquizadas:

(22)

CODA-COND >> TROCHEE >> *MID]MWd >> *

ɛj]

MWd >> STW >> OTS>> DEP

124 Da mesma forma como ocorre com os acrônimos de duas letras, a restrição CODA-COND [+ soante / - soante, + contínuo, + coronal], que impede que venham à superfície candidatos que apresentem segmentos oclusivos ou fricativos labiais na posição de coda, deve ser a mais alta da hierarquia. Sendo assim, um candidato como [ˈfab], para FAB (Força Aérea Brasileira), é impossibilitado de emergir como vencedor na disputa, uma vez que apresenta o segmento oclusivo [b] na posição de coda.

O restritor TROCHEE é o segundo no ranking de restrições. Segundo Hayes (1995), existem três tipos de pés: o troqueu moraico, o troqueu silábico e o iambo. Nesta análise, a restrição TROCHEE compreende o troqueu moraico e será violada “sempre que um pé dissilábico não apresentar cabeça na sílaba inicial ou houver formação de um pé constituído apenas de uma sílaba leve” (RONDININI, 2009: 105). Essa restrição é necessária, pois os dados mostram que os acrônimos de três letras, quando dissílabos, têm proeminência à esquerda e, quando monossílabos, são constituídos por sílaba pesada. Por dar conta de aspectos mais gerais, TROCHEE, na análise dos acrônimos de três letras, substitui HEAD-DEP-IO, que compôs a hierarquia da análise dos acrônimos de duas letras. Isso se deu, uma vez que os candidatos que seriam eliminados por HEAD-DEP-IO são excluídos por TROCHEE. Dessa forma, um candidato como [fi.ˈa], para FIA (Fundação para a Infância e a Adolescência), viola TROCHEE por se tratar de um pé dissilábico com cabeça à direita (um iambo) e, portanto, deve ser eliminado da disputa. Da mesma forma, o candidato [sƐ.ˈgi], para CEG (Companhia Estadual de Gás), que insere um [ɪ] junto ao segmento obstruinte e o acentua, infringe essa restrição

125 pela mesma razão. Como se nota, o restritor HEAD-DEP-IO, que desfavorece elementos inseridos portadores de acento, é dispensável na análise dos acrônimos de três letras (e consequentemente nos de duas), pois os candidatos que seriam bloqueados por ele já são desfavorecidos por TROCHEE.

A seguir na hierarquia, o restritor de marcação *MID]MWd, que também é ranqueado na análise dos acrônimos de duas letras, proíbe a realização de vogais médias no final de palavras prosódicas. Essa restrição é necessária para que uma vogal média não seja inserida junto ao segmento flutuante na posição de coda. Com isso, um possível candidato como [ˈku.te], para CUT (Central Única de Trabalhadores) violaria *MID]MWd e seria eliminado da disputa.

Após *MID]MWd, aparece hierarquizada a restrição *

ɛj]

MWd, que proíbe

que uma palavra morfológica termine com o ditongo aberto [

ɛj

]. Essa restrição impede, por exemplo, a emersão do candidato [ˈsɛj], para CEI (Comunidade dos Estados Independentes). Como já se mostrou, esse restritor foi postulado para atender aos dados dos testes, uma vez que estes explicitam uma questão fonológica do português brasileiro: não há qualquer palavra na língua que termine em [

ɛj

] – essa sequência, na verdade, só ocorre em sílabas finais quando há travamento por sibilante, a exemplo de ‘dez’, ‘pés’ e ‘réis’.

Na sequência, a restrição STRESS-TO-WEIGHT (STW) determina que toda sílaba que porta acento deve ser pesada. Esse restritor é indispensável

126 para que se evite que um candidato como [ˈsɛ.ɐ], para CEA (Companhia de Eletricidade do Amapá), pelo fato de a sílaba acentuada ser leve, chegue à superfície como output ótimo. Como se sabe, a inserção do glide para a formação do ditongo, nesses casos, é um aspecto relevante na fala carioca (objeto de análise), e a restrição, nesse sentido, mostra-se essencial na hierarquia, como o foi no trabalho de Rodrigues (2012) sobre os hiatos finais em português.

A próxima restrição no ranking é OPEN-TO-STRESS (OTS), proposta neste trabalho para postular que as vogais médias acentuadas devem ser abertas. Trata-se de mais uma restrição criada para dar conta de aspectos fonológicos que se revelaram nos dados mostrados pelos testes. A atuação do restritor inibe a emersão, por exemplo, de um candidato como [ˈsej.jɐ], para CEA, pois esse acrônimo é realizado foneticamente com a vogal média aberta.

A última restrição a ser ranqueada, tal como ocorre na análise dos acrônimos de duas letras, é DEP-IO, um restritor de fidelidade anti-epêntese.

Uma vez que é comum, na realização fonética de alguns acrônimos de três letras, a inserção da vogal [ɪ] em contextos diferenciados, tal como ocorre junto ao segmento obstruinte em acrônimos cujo formato seja CVC ([ˈuʃ.pɪ], para USP, por exemplo) e na formação de ditongo na primeira sílaba de acrônimos que seguem o formato CVV ([ˈfƐj.jɐ], para FEA), é nítido o motivo pelo qual DEP-IO é a restrição menos cotada na hierarquia. Mesmo no fim, sua entrada na hierarquia justifica-se para que se evite a inserção, no acrônimo, de outros possíveis segmentos.

127 É importante ressaltar que algumas restrições que foram enunciadas durante a descrição dos formatos (ONSET, PEAK ou NUC e *MWd = ) não foram hierarquizadas por razões de inoperância na análise de acrônimos.

Esses restritores foram comentados a fim de que se mostrasse por que determinadas siglas são realizadas como alfabetismos e não como acrônimos.

Como a análise é restrita a acrônimos, essas restrições seriam, de fato, inoperantes, visto que são sempre satisfeitas.

A seguir, serão iniciadas as análises nos tableaux. Para isso, selecionamos alguns acrônimos pelos formatos, de forma a tentar dar conta de todas as diversidades possíveis de acrônimos de três letras. Dessa maneira, foram selecionados os seguintes acrônimos: ONG (VCC), CEG e COL (CVC), FIA, CEI, CEA e COI (CVV), UEL (VVC) e UFE (VCV). Deve-se salientar que os formatos CCC, VVV e CCV não são contemplados nas análises por constituírem apenas alfabetismos, e o objetivo desta tese, enfatizamos, é a realização fonética dos acrônimos.

6.2.2.8.1. Análise do acrônimo ONG: o formato VCC43

Nas análises, optamos por tableaux mais enxutos. Por conta disso, disporemos apenas as restrições que de fato são relevantes para os formatos que estão sendo analisados. As restrições inoperantes em determinados formatos não serão abordadas. Segue abaixo, em (23), o tableau com a análise

43 É importante observar que a sigla ONG também pode ser compreendida como alfabetismo na fala cotidiana. Os informantes, nos testes, tenderam à acronímia.

128 do acrônimo ONG (Organização Não-Governamental). Nos candidatos, pés métricos são delimitados por colchetes.

(23)

ONG CODA-COND TROCHEE *MID]MWd DEP-IO

a)  [(ˈõ.gɪ)] *

b) [(õ.ˈgi)] *! *

c) [(ˈõg)] *!

d) [(ˈõ.ge)] *! *

Como se pode verificar, o primeiro a violar uma restrição e deixar a disputa é “c”, pelo fato de apresentar uma oclusiva na posição de coda (o segmento [g]) e, por isso, infringir CODA-COND. O candidato “b”, por sua vez, sai da competição ao violar a restrição TROCHEE, uma vez que constitui um pé dissilábico com cabeça à direita (é um iambo, portanto), e o restritor assevera que todos os pés dissilábicos devem ter cabeça à esquerda. Na sequência, o candidato “d” viola a restrição *MID]MWd, pois insere uma vogal média junto ao segmento obstruinte, ou seja, na borda direita da palavra. Com isso, “a” emerge como vitorioso na disputa.

Os candidatos “a”, “b” e “d” violam, cada um uma vez, a última restrição, DEP, já que inserem segmentos vocálicos junto ao segmento oclusivo [g], e DEP, como se sabe, é uma restrição anti-epêntese. Essas violações, entretanto, não interferem na emersão de (‘õ gɪ)] como output ótimo, porque

129 DEP é a restrição menos cotada na hierarquia e os demais concorrentes violam demandas de maior relevância.

A análise proposta para ONG também vale para os demais acrônimos de três letras que seguem o formato VCC, que são sempre dissílabos paroxítonos caracterizados pela epêntese de [ɪ], tais como USP ([(ˈuʃ.pɪ)]) e ARP ([ˈax.pɪ])44.

6.2.2.8.2. Análise do acrônimo CEG: o formato CVC em seu primeiro aspecto – os dissílabos paroxítonos

Em (24), abaixo, segue a análise do acrônimo CEG (Companhia Estadual de Gás):

44 Convém salientar que, com as restrições que apresentamos no tableau, um candidato como ‘ ʃ.pɪ], para o acrônimo ESP, sairia vitorioso na disputa. Seria necessário, se analisássemos esse acrônimo, dispor a restrição OPEN-TO-STRESS no tableau para que emergisse ‘ɛʃ.pɪ], o output ótimo. Falaremos disso mais adiante, a respeito do tableau em (24).

130 (24)

CEG CODA-COND TROCHEE *MID]MWd OTS DEP

a)  [(ˈsƐ.gɪ)] *

b) [(ˈse.gɪ)] *! *

c) [(ˈsƐg)] *!

d) [(sƐ.ˈgi)] *! *

e) [(ˈsƐ.ge)] *! *

A análise mostra que o candidato “c” é eliminado da competição ao infringir CODA-COND, pelo fato de apresentar, na posição de coda, um segmento oclusivo ([g]). O candidato “d”, na sequência, sai da disputa ao violar TROCHEE, visto que se caracteriza por constituir um pé dissilábico com proeminência à direita (iambo). O candidato “e” viola *MID]MWd, uma vez que apresenta a vogal média [e] na borda direita da palavra, o que é proibido pela restrição e, portanto, é eliminado da disputa. A seguir, “b” também é eliminado da disputa, porque infringe OPEN-TO-STRESS, restrição que determina que as vogais médias acentuadas devam ser abertas, por apresentar, na sílaba acentuada, vogal média fechada. Assim, o candidato “a” vem à tona como vitorioso, embora viole DEP uma vez, já que ocorre epêntese de [ɪ].

O formato CVC, como já foi comentado na descrição dos padrões, apresenta duas formações possíveis: dissílabos paroxítonos com epêntese de [ɪ], como é o caso de CEG, e monossílabos pesados, como é o caso COL. A análise realizada para CEG também vale para os demais acrônimos de três

131 letras que seguem o formato CVC e são dissílabos paroxítonos caracterizados pela epêntese de [ɪ], tais como FAB ([(ˈfa.bɪ)]) e CUT ([ˈku.tʃɪ]).

6.2.2.8.3. Análise do acrônimo COL: o formato CVC em seu segundo aspecto – os monossílabos pesados

Abaixo, em (25), segue a análise do acrônimo COL (Comitê Organizador Local):

(25)

COL TROCHEE STW OTS

a)  [(ˈkɔw)]

b) [(ˈkow)] *!

Pelo fato de ser difícil propor candidatos variados para acrônimos monossilábicos por conta de sua estrutura, a análise em (25) se deu de forma bastante enxuta, com apenas dois candidatos e a atuação de três restrições:

TROCHEE, STRESS-TO-WEIGHT e OPEN-TO-STRESS. Embora tenhamos disponibilizado três restrições, apenas uma é, de fato, necessária na análise, visto que os dois candidatos são monossílabos pesados e, por isso, não violam TROCHEE e STW.

Fica, dessa maneira, comprovada a vitalidade da restrição OPEN-TO-STRESS nesta análise, pelo fato de ser a única capaz de eliminar um candidato que apresente a vogal média fechada em uma sílaba acentuada,

132 como o candidato “b”. Emerge, com isso, [(ˈkɔw)] como vitorioso na disputa, realização fonética do acrônimo COL.

6.2.2.8.4. Análise do acrônimo FIA: o formato CVV em seu primeiro aspecto

Segue abaixo, em (26), a análise do acrônimo FIA (Fundação para a Infância e a Adolescência):

(26)

FIA TROCHEE STW DEP

a)  [(ˈfij.jɐ)] *

b) [(ˈfi.ɐ)] *!

c) [(fi.ˈa)] *!

Como se pode ver no tableau, o candidato “c” viola TROCHEE e deixa a disputa pelo fato de a cabeça estar à direita. Na sequência, STRESS-TO-WEIGHT é violada pelo candidato “b”, uma vez que a sílaba acentuada é leve, e esse candidato, portanto, sai da competição. Sendo assim, [(ˈfij.jɐ)], que não infringiu qualquer uma das restrições em destaque, vem à superfície como output ótimo do acrônimo FIA. O preço por satisfazer as demandas mais altas é inserir um segmento ambissilábico: o glide [j].

133 6.2.2.8.5. Análise do acrônimo CEI: o formato CVV em seu segundo aspecto

A análise do acrônimo CEI (Comunidade dos Estados Independentes) segue abaixo, em (27):

(27)

CEI TROCHEE

*

ɛj]

MWd STW OTS

a)  [(ˈsej)] *

b) [(ˈsƐj)] *!

c) [(se.ˈi)] *! *

d) [(ˈsƐ.i)] *!

A observação ao tableau nos mostra que a competição fica por conta de dois principais oponentes, (a) e (b), os quais diferem unicamente na realização do núcleo da sílaba. Os demais competidores são eliminados pelas restrições mais importantes. A forma “b” viola *

ɛj]

MWd em virtude de apresentar o ditongo aberto [ɛj] na borda direita da palavra. Pelo crivo de STRESS-TO-WEIGHT, deixa a competição o candidato “d”, visto que a sílaba que porta acento é leve.

Com isso, “a” vem à superfície como vencedor da disputa, embora infrinja OPEN-TO-STRESS pelo fato de apresentar a vogal média fechada. A

134 realização do núcleo vocálico como fechada é preço que se paga por atender à restrição de marcação contextualizada *

ɛj]

MWd.

6.2.2.8.6. Análise do acrônimo CEA: o formato CVV em seu terceiro aspecto

Segue abaixo, em (28), a análise do acrônimo CEA (Companhia de Eletricidade do Amapá):

(28)

CEA TROCHEE STW OTS DEP

a)  [(ˈsƐj.jɐ)] *

b) [(ˈsej.jɐ)] *! *

c) [(ˈsƐ.ɐ)] *!

d) [(se.ˈa)] *! *

O tableau em (28) mostra que o primeiro candidato a infringir uma restrição é “d”, por ser um dissílabo com proeminência à direita. O candidato

“c”, na sequência, é eliminado por STRESS-TO-WEIGHT, uma vez que a sílaba acentuada é leve. A seguir, “b” deixa a competição ao infringir OPEN-TO-STRESS pelo fato de a sílaba que porta o acento apresentar vogal média fechada. Nesse momento, então, [(ˈsƐj.jɐ)] emerge como output ótimo do

135 acrônimo CEA, a despeito de violar DEP por conta da epêntese de um [j]

ambissilábico.

6.2.2.8.7. Análise do acrônimo COI: o formato CVV em seu quarto aspecto

Abaixo, segue, em (29), a avaliação dos candidatos a output do acrônimo COI (Comitê Olímpico Internacional):

(29)

COI TROCHEE STW OTS

a)  [(ˈkɔj)]

b) [(ˈkoj)] *!

c) [(ˈko.i)] *! *

d) [(ko.ˈi)] *! *

Na análise, [(ko.ˈi)] viola TROCHEE, pelo fato de constituir um pé dissilábico com proeminência à direita. Na sequência, o candidato “c” é eliminado por infringir STRESS-TO-WEIGHT (sua sílaba tônica é leve). A seguir, “b”, em virtude de apresentar vogal média fechada na sílaba portadora de acento, deixa a disputa por violar OPEN-TO-STRESS. Logo, sem infringir qualquer uma das restrições, (‘kɔj)] vem à superfície como candidato ótimo para o acrônimo COI.

136 6.2.2.8.8. Análise do acrônimo UEL: o formato VVC

Em (30), a seguir, verifica-se a análise do acrônimo UEL (Universidade Estadual de Londrina):

(30)

UEL TROCHEE STW OTS

a)  [u(ˈƐw)]

b) [u(ˈew)] *!

c) [ˈu(ew)] *! *

Como se pode ver no tableau, nenhum dos candidatos infringe TROCHEE, já que essa restrição determina que todo pé tem de apresentar duas moras, estejam elas localizadas em uma mesma sílaba, como é o caso, ou em sílabas distintas. Em “a”, “b” e “c”, como se pode notar, as duas moras estão localizadas em uma mesma sílaba (as sílabas finais são pesadas).

Em seguida, [(ˈu(ew)] deixa a disputa ao violar STRESS-TO-WEIGHT em virtude de a sílaba portadora de acento ser leve. Pelo crivo de OPEN-TO-STRESS, “b” sai da competição (apresenta sílaba tônica com vogal média fechada). Dessa maneira, [u(ˈƐw)], realização fonética do acrônimo UEL, vem à tona como candidato vitorioso, apesar de deixar uma sílaba desgarrada (sem

137 integração a qualquer pé), o que corresponderia, numa leitura otimalista, a uma violação da PARSE-σ, que, no entanto, não apresenta relevância nesta análise.

6.2.2.8.9. Análise do acrônimo UFE: o formato VCV

A seguir, em (31), parte-se para a análise do acrônimo UFE (União Fabril Exportadora):

(31)

UFE TROCHEE *MID]MWd STW

a) [(ˈu.fɪ)] *

b) [(ˈu.fe)] *! *

c) [(u.ˈfi)] *! *

Verifica-se, no tableau em (31), que o candidato “c” viola TROCHEE, por apresentar cabeça à direita. Na sequência, “b” é eliminado ao violar *MID]MWd, uma vez que apresenta vogal média na borda direita da palavra, o que é desfavorecido pelo restritor em questão. Após essa infração, [(ˈu.fɪ)] emerge como output ótimo do acrônimo UFE, a despeito de violar, assim como todos os demais candidatos, STRESS-TO-WEIGHT, já que a sílaba portadora de acento é leve.

Terminadas as análises dos acrônimos de três letras, convém salientar que todos os formatos foram abordados com suas diversidades estruturais e

138 fonológicas. Pôde-se verificar a atuação de todos os restritores que compõem o ranking e a relevância de cada um para a análise. Alguns, como TROCHEE, por exemplo, são fundamentais, praticamente, para todos os formatos e, por isso, são altamente cotados no ranqueamento. Outros, como *ɛj]MWd, são específicos para a análise de um caso. Todas as restrições, contudo, dispostas como estão na hierarquia, são necessárias para dar conta da totalidade de acrônimos de três letras com suas diversidades estruturais e fonológicas. Vale ressaltar, ainda, que as siglas de duas letras são perfeitamente acolhidas pela hierarquia proposta, ainda que preliminarmente tenham sido descritas com restritor diferente, ali postulado com um único objetivo: evidenciar que o acento, nos nomes, nunca incide em elementos epentéticos45.

6.2.3. As siglas de quatro letras

São dezesseis os formatos possíveis para as siglas de quatro letras:

(i) CCCC (Consoante-Consoante-Consoante-Consoante)

Exemplos: PMDB, para Partido do Movimento Democrático Brasileiro; CNPJ, para Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica; CPMF, para Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira; CMRJ, para Colégio Militar do Rio

Exemplos: PMDB, para Partido do Movimento Democrático Brasileiro; CNPJ, para Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica; CPMF, para Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira; CMRJ, para Colégio Militar do Rio

No documento Universidade Federal do Rio de Janeiro (páginas 119-0)