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Fraude à execução

No documento Manual Operacional Do Policial Civil SP (páginas 96-98)

5. Investigação nos crimes contra o patrimônio

5.30. Fraude à execução

Prescreve o artigo 179 do Código Penal que fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens ou simulando dívidas, é crime punido com detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos ou multa. Somente se procede mediante queixa.

Nos casos de fraude à execução, o policial civil incumbido das investigações deverá iniciar seu trabalho pela “queixa” formulada, que certamente conterá indícios de autoria. Não será difícil descobrir quem alienou, desviou, destruiu ou danificou os bens que seriam objeto da execução, simulando dívidas.

5.31. Receptação

Adquirir, receber ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser pro- duto de crime, ou influir para que terceiro, de boa fé, a adquira, receba ou oculte, confi- gura crime de receptação descrito no artigo 180 do Código Penal, com pena de 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão e multa. A Lei nº 9.426/96 acrescentou ao núcleo do tipo penal mais dois verbos: transportar e conduzir.

A receptação é considerada crime acessório, já que pressupõe a existência de um crime anterior. Respondem pelo crime todos que, sucessivamente, negociem a coisa saben- do de sua origem espúria.

São condutas típicas do tipo adquirir, receber, transportar, conduzir e ocultar, sendo que as três últimas modalidades dão ao crime o caráter de permanente, permitindo a prisão em flagrante a qualquer momento.

A investigação parte, geralmente, da confissão do autor do ato criminoso de que pro- veio a coisa produto de crime. O concurso da vítima, proprietária dos objetos receptados, facilita o trabalho do policial civil.

Nada impede, entretanto, que sejam investigados locais reconhecidos como antros de receptadores, estabelecidos comercialmente ou não.

Por outro lado, dependendo do tipo da mercadoria subtraída, sabe-se quem são os possíveis receptadores. É o caso das jóias que, invariavelmente, são receptadas por artesãos que lidam com ouro. Isso também ocorre com certos tipos de veículos que, após furtados, são levados diretamente para os desmanches. Obras de arte, imagens e objetos antigos também têm destino certo, os antiquários, os ferro-velhos etc.

5.32. Receptação qualificada

Por força da Lei nº 9.426/96, o § 1º do artigo 180 do Código Penal passou a ter a seguinte redação: “adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito,

desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício da atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime”. A pena prevista, nestes casos, é de 3 (três) a 8 (oito)

anos de reclusão e multa.

Essa nova tipificação visou, sobretudo, punir o agente que pratica o crime no exer- cício de atividade comercial ou industrial, transformando seu meio de trabalho em forma,

evidentemente, mais fácil, de cometer o delito. Nessa linha, o § 2º do artigo 180 do Código Penal equipara à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.

5.33. Receptação culposa

Caracteriza a receptação culposa, adquirir ou receber coisa que, por sua natureza

ou pela desproporção entre o valor e o preço ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso. É crime punido com pena de 1 (um) mês a 1 (um)

ano de detenção ou multa, ou ambas as penas.

Diz o Código Penal que a receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa.

No caso do § 3º do artigo 180 do Código Penal, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena, concedendo o perdão judicial previsto no § 5º desse tipo penal.

Nos casos de receptação dolosa, cabe a aplicação do disposto no § 2º do artigo 155 do Código Penal.

Quando se tratar de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista adquiridos dolosamente, a pena é de reclusão de 1 (um) a 5 (cinco) anos e multa.

O trabalho investigativo no crime de receptação culposa não difere daquele que deve ser empregado nos casos de receptação dolosa, ou seja, as informações devem partir da reclamação feita pela vítima ou da confissão do autor do delito de que proveio a coisa receptada.

5.34. Receptação imprópria

A segunda parte do núcleo do tipo penal, influir para que terceiro de boa-fé adquira,

receba ou oculte, descreve a conduta que caracteriza a chamada receptação imprópria, ou

seja, o agente, ciente da procedência ilícita de determinado produto, convence terceira pessoa, desconhecedora dessa circunstância, a adquirí-lo, recebê-lo ou ocultá-lo.

5.35. Imunidades absolutas

Por disposição do artigo 181 do Código Penal, é isento de pena quem comete qual- quer dos crimes previstos no título dos crimes contra o patrimônio, em prejuízo do cônjuge, na constância da sociedade conjugal ou de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, civil ou natural.

5.36. Imunidades relativas

Na mesma linha, o artigo seguinte prescreve que “somente se procede mediante

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desquitado ou judicialmente separado; II – de irmão, legítimo ou ilegítimo; III – de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita”.

5.37. Exceções

O artigo 183 do Código Penal prevê que não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: “I – se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego

de grave ameaça ou violência à pessoa; II – ao estranho que participa do crime”.

Assim, se o filho, em companhia de um amigo, furta um objeto do seu pai, é isento de pena, mas o amigo, entretanto, responde pelo crime, incidindo, também, na qualificadora do concurso de agentes.

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