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2 CONHECIMENTO CIENTÍFICO, COTIDIANO E ESCOLAR

3.2 Funções da Divulgação Científica

A Divulgação Científica constituiu-se tendo não apenas o propósito de levar ao grande público a notícia e a interpretação dos progressos de pesquisas científicas, mas, sobretudo, buscando familiarizar esse público com a natureza do trabalho da ciência e da vida dos cientistas (REIS, 2006, p.3).

A apropriação popular do universo cultural é outra função da Divulgação Científica pontuado por Hernando (2006). Aliado a isso, inclui-se como objetivo conscientizar a população a respeito dos benefícios e possíveis riscos da ciência.

Moreira (2006) aponta como uma das iniciativas do governo para democratizar o acesso à informação científica e tecnológica, a criação de um departamento voltado para a popularização da Ciência e Tecnologia, dentro da Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social (Secis) no Ministério da Ciência e Tecnologia. Entre os objetivos centrais da popularização da Ciência e Tecnologia

A Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social definiu linhas prioritárias de ações que visam apoiar centros e museus de ciências; ampliar a visibilidade da ciência na mídia e melhorar a qualidade das informações por ela veiculadas; colaborar na melhoria do ensino de ciências nas escolas; apoiar eventos nacionais de divulgação científica; apoiar a formação e qualificação de comunicadores em ciências; incentivar ações junto às universidades e agências de fomentos para valorização do trabalho em extensão e Popularização da Ciência e da Tecnologia, entre outras coisas.

Na concepção de Melo5

(1982) citado por Nascimento (2008), a divulgação científica tem, também, como uma de suas atribuições, realizações de atividades de cunho educativo. Nessa perspectiva, a função educativa da divulgação científica principalmente como fonte de conhecimentos para a superação de situações problema do cotidiano de toda a população

deve ser uma atividade principalmente educativa. Deve ser dirigido à grande massa da nossa população e não apenas à sua elite. Deve promover a popularização do conhecimento que está sendo produzido nas nossas universidades e centros de pesquisa, de modo a contribuir para a superação dos problemas que o povo enfrenta. Deve utilizar uma linguagem capaz de permitir o entendimento das informações pelo leitor comum (p.25).

Pérez e Molini (2004) atribuem algumas funções básicas da divulgação científica tais como: função informativa, educativa, social, cultural, econômica e político-ideológica. No entanto, direcionaremos o nosso olhar para os estudos sobre a divulgação científica como função educativa no espaço escolar, pois, hoje, é

notável o desinteresse, principalmente dos jovens, pelos assuntos relacionados às ciências.

3.2.1 A Divulgação Científica no ensino

No contexto atual, é perceptível o quanto os avanços tecnológicos tem sido marcantes nas diversas áreas do conhecimento. Esses avanços têm relação direta entre o desenvolvimento científico-tecnológico e a melhoria na qualidade de vida das populações. Por outro lado, muitas pessoas criaram uma falsa imagem de que a ciência é capaz de resolver todos os problemas do mundo e, muitas vezes, ignoram como a ciência funciona, seus obstáculos, seus possíveis riscos à sociedade e que acertos e erros constituem o processo da ciência produzida.

Na escola, essa visão de uma ciência dogmática é bem perceptível no discurso dos alunos e professores. Visões de ciência e cientistas é um tema discutido em trabalhos reportados na literatura (KOSMINSKY; GIORDAN, 2002). Vários desses trabalhos têm incorporado a ideia que o estudante tem do cientista, sendo a visão mais comum a de um individuo do sexo masculino, solitário e que interage somente com seu mundo. Uma visão de cientista do tipo “trabalhador”, que pensa na sua ciência desde o acordar até o dormir ou, talvez, até no sonhar.

Nesse sentido, um dos papeis da divulgação científica no ensino seria contribuir para desmistificação do cientificismo, de forma que possa influenciar as concepções de alunos a respeito da prática científica. Sobre isso, os autores defendem que: “as visões de mundo dos estudantes também devem ser influenciadas pelo pensamento científico e pelas expressões de sua cultura, cujos traços são parcialmente divulgados na mídia” (p.2).

No entanto, Reis (2002) chama a atenção para a forma como, muitas vezes, a ciência é divulgada. Para esse divulgador científico, durante muito tempo, a divulgação “se limitou a contar ao público os encantos e os aspectos interessantes e revolucionários da ciência. Aos poucos, passou a refletir também a intensidade dos problemas sociais implícitos nessa atividade”.

Nesse contexto, Cini (1998) faz uma crítica ao tipo de divulgação da ciência que se limita apenas ao lado positivo da ciência. Para ele, esse modo de divulgar a ciência

parte do mercado do espetáculo e, portanto, não transmite a ideia da ciência como uma forma de conhecimento do mundo, associada com a vida diária das pessoas, além disso, transmite, uma imagem da ciência como algo espetacular que descobre coisas estranhas e, sobretudo, como uma atividade que produz verdades absolutas. Dessa forma, essa imagem da ciência leva a pensar que se uma coisa é científica, ela deve ser aceita sem discussões, que é inevitável e que é também necessariamente, um bem para humanidade (p.10).

Para este autor, esse tipo de divulgação é errônea e não contribui para a compreensão das pessoas quanto às atividades da ciência, para onde ela vai, quais os problemas debatidos internamente, como as ideias se confrontam dentro das várias disciplinas científicas e também como ela se insere no contexto tecnológico e econômico.

Outra função da Divulgação Científica no ensino está relacionada ao apoio da educação científica na escola. Sobre isso, Kreinz, Pavan e Filho (2007,) afirmam que, na perspectiva de José Reis um dos papéis da divulgação científica está relacionado à educação formal: "a divulgação científica realiza duas funções que se completam: em primeiro lugar, a função de ensinar, suprindo ou ampliando a função da própria escola; em segundo lugar, a função de fomentar o ensino” (p.15).

Da mesma forma, para Carneiro (2009), a divulgação científica pode contribuir na melhoria do ensino de ciências no ambiente escolar formal: ”a divulgação científica assume novo papel social: apoiar a educação científica ministrada na escola” (p.33).

Por fim, uma das recomendações dos PCN para o ensino é o estímulo aos alunos em acompanhar as notícias sobre ciência publicadas em jornais e revistas. Dessa forma, o aluno poderá desenvolver habilidades de leitura e interpretação sobre assuntos científicos (BRASIL, 1998).

Com base nas reflexões anteriores, acreditamos na importância da divulgação científica para a sociedade, particularmente no ensino, favorecendo ao aluno uma intervenção crítica na realidade que o cerca. Considerando que, a cidadania se refere à participação dos indivíduos na sociedade, torna-se evidente que, para o cidadão efetivar a sua participação comunitária, é necessário que ele disponha de informações (SCHNETZLER e SANTOS, 2003). Portanto, acreditamos na divulgação científica como atividade educativa no âmbito escolar para promover a

compreensão da ciência pelos alunos e possibilitar a utilização de seus conceitos em situações cotidianas.