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Erro de Descartes – relações entre corpo, mente e cérebro

Platão e a analogia da carruagem

O termo neurociência é muito novo, uma vez que o seu uso só se tornou corrente, designando um ramo específico da Biologia e da Neurologia, a partir do início da década de 1970 (Bear e outros, 2002). Ao mesmo tempo, questões relativas à função do cérebro no comportamento e nas escolhas que fazemos remontam à Grécia antiga e também apontam para pesquisas futuristas, como a Neurorrobótica, a inteligência artificial e as pesquisas com células tronco.

Por tudo isso, ao estudar as aplicações da Neurociência às disciplinas típicas da Gestão empresarial, o Neurobusiness se caracteriza como um campo de vanguarda, dialogando com pesquisadores que estão na fronteira do conhecimento humano, ao mesmo tempo em que leva adiante a pesquisa filosófica iniciada na Antiguidade.

Nesse sentido, um dos temas mais típicos do Neurobusiness se refere ao papel – relevância e limitações – da racionalidade como guia para compreender nossos comportamentos, nossas preferências, escolhas e decisões. A visão de que instinto, emoção e razão representam elementos conflitantes no comportamento humano foi proposta por Platão (427-347 a.C.). No seu famoso diálogo Fedro (cerca de 370 A.C.), o filósofo já afirmava que a alma humana – o termo moderno seria mente – é como um carro puxado por dois cavalos: um afetivo e outro instintivo. Esses cavalos estariam amarrados ao carro, e o caminho que ele segue é resultado do equilíbrio instável e da contínua disputa entre ambas as forças que tentam levá-lo cada qual para um caminho. O condutor é a razão, que tem a difícil tarefa de manter a carruagem no rumo que ele mesmo define.

Posteriormente, muitos estudiosos como o próprio Aristóteles (384-322 a.C.), o maior filósofo de todos os tempos, expressaram a tese de que a inteligência, a razão e a memória estavam localizadas no coração. Por isso, até hoje, quando guardamos algo de memória, dizemos que

“sabemos de cor”, isto é, “de coração”. Para ele, a função do cérebro era apenas esfriar o sangue.

Por isso, até hoje, quando dizemos “esfrie a cabeça”, estamos querendo dizer “acalme-se” e, sem querer, estamos pagando um tributo à visão errônea de Aristóteles.

No final do século passado, o neurocientista português António Damásio (nascido em 1944) expôs a compreensão, já bastante consolidada pela Neurociência, de que razão, emoção e instinto são processos neuronais envolvendo uma ou mais áreas do sistema nervoso central e periférico. Mais do que isso, a separação entre mente e corpo, sugerida no Discurso sobre o Método de René Descartes (1596-1650), é completamente falsa, já que o cérebro não é, de forma alguma, apenas uma “ponte de comando” do corpo que executa as decisões cerebrais. Daí o nome da obra mais impactante de Damásio, O erro de Descartes, publicada em 1996 pela primeira vez.

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A relevância dessas breves referências para o estudo do Neurobusiness pode ser resumida da seguinte forma: o estudo das ações, escolhas, dos comportamentos e das relações humanas, típicas da vida corporativa, ganharam um novo e imenso campo a partir dos novos conhecimentos sobre o funcionamento de nosso sistema nervoso; e os elementos racionais que estão na base de todos esses aspectos se mostram, nos dias de hoje, tão ou mais relevantes do que os instintivos e emocionais.

Neurobusiness: o que é?

O Neurobusiness se caracteriza por ser o campo transdisciplinar de aplicação de elementos da Neurociência às disciplinas tradicionais da Gestão Empresarial.

As suas disciplinas adotam, como regra, um padrão de análise comportamental, sempre referido a processos típicos da vida corporativa, como as decisões de consumo e investimento (Neuroeconomia), as relações interpessoais dentro das organizações (Neuroliderança), os processos de comunicação (Neurocomunicação e Neurolinguística), a influência do ambiente construído sobre a percepção e as condutas humanas (Neuroarquitetura), etc.

O seu aspecto transdisciplinar decorre das amplas vias de diálogo que se abrem entre áreas anteriormente isoladas entre si, como Arquitetura e Liderança, por exemplo, ou entre Economia e Comunicação.

De Ramón y Cajal à década do cérebro

O avanço da Neurociência e, consequentemente, de suas aplicações como as do Neurobusiness deve muito ao avanço da tecnologia de pesquisa. Nesse sentido, ao final do século XIX, o cientista (1852-1934), considerado o “pai da Neurociência”, foi o primeiro a observar células nervosas ao microscópio ótico. Desde então, os novos instrumentos dedicados ao estudo do sistema nervoso evoluíram rapidamente, passando pelos microscópios eletrônicos e eletroencefalogramas e, nas décadas finais do século passado, aos equipamentos de neuroimagem, com destaque para a ressonância magnética funcional.

Atualmente, podemos observar o cérebro humano não apenas vivo, mas em pleno funcionamento e sujeito a estímulos relevantes para as aplicações à vida corporativa. Estudos assim estão na origem de disciplinas como o Neuromarketing, que teve um impulso decisivo quando, em 2004, foram testadas as reações de 67 voluntários que aceitaram beber Pepsi ou Coca-Cola, tendo as suas reações cerebrais registradas por meio de neuroimagens (ver McClure e outros, 2004).

Confirmando que a separação entre corpo e mente é equivocada, esses testes revelaram que as reações de consumidores não se prendem apenas a aspectos sensoriais, como o paladar, uma vez que os resultados sugerem a influência direta da marca sobre os processos cerebrais associados ao ato de ingerir o refrigerante.

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Caso Phineas Gage

Um dos casos mais amplamente estudados pela Neurociência, mesmo antes que esse termo fosse utilizado, é a história de Phineas Gage (1823-1860). Gage era um trabalhador nas obras de instalação de linhas ferroviárias nos EUA em meados do século XIX. No fatídico dia 13 de setembro de 1848, ele foi o encarregado de colocar a pólvora em um profundo buraco aberto na rocha. O objetivo, é claro, era explodir a pedra para dar continuidade às obras da ferrovia. No momento em que ele pressionou a pólvora para dentro do orifício, utilizando um vergalhão metálico, o atrito provocou uma faísca. A explosão fez a barra, de cerca de 1,5 metro de comprimento, ser projetada em direção ao seu rosto em alta velocidade. O vergalhão penetrou a cabeça de Gage pela bochecha, atravessou a parte frontal do seu cérebro e saiu pelo topo do crânio. Incrivelmente, apesar de perder muito sangue, ele sobreviveu, mesmo perdendo completamente a visão do olho esquerdo. Depois de alguns dias, ele era plenamente capaz de falar, caminhar e mesmo continuar trabalhando nas obras da ferrovia.

O que mais interessa para o estudo neurocientífico e comportamental são as mudanças na personalidade de Gage. Relatos de pessoas próximas dizem que ele passou a ter atitudes estranhas para a personalidade que tinha antes do acidente. Passou a dizer blasfêmias, palavras chulas, comportamentos arriscados e até repulsivos do ponto de vista social. Ele perdeu a capacidade de pensar no futuro e agia de forma imediatista e inconsequente.

Figura 1 – Retrato de Phineas Gage e ilustração do vergalhão que atravessou o seu crâneo

Fonte: https://theoriesonx.wordpress.com/2017/04/24/the-curious-case-of-phineas-gage-the-frontal-lobe/

Acesso em: out. 2019.

A interpretação atual do caso de Phineas Gage sugere que razão e emoção trabalham muito mais juntas do que se imaginava. Em O Erro de Descartes, Damásio explora outros casos de pessoas com lesões do córtex frontal que desenvolveram uma incapacidade por vezes absoluta de tomar decisões. Por estranho que pareça, isso foi decorrência da dificuldade de reagir aos próprios estados emocionais. A partir dessa observação, o autor sugere que decisões racionais decorrem de uma avaliação sobre nossas emoções. Segundo Damásio, a razão envolve, é claro, nossa capacidade de

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avaliar custos e benefícios, mas a tomada de decisão surge quando damos um basta a essa avaliação.

No entanto, ao que tudo indica, a razão, por si só, não sabe quando começar ou parar de avaliar custos e benefícios para poder tomar uma decisão. Parece que nossas memórias emocionais são decisivas para que uma decisão seja escolhida e adotada, motivando a ação.

O quadro de emoções que guardamos na memória nos dá elementos para selecionar opções.

E, dado que as emoções envolvem reações corporais – batimento cardíaco, dilatação da pupila, respiração, sudorese, etc. –, o “erro de Descartes” se torna ainda mais evidente.

Teoria do cérebro triuno – conceituação e desconstrução

Paul MacLean e a formulação original da teoria

A chamada teoria do cérebro triuno foi formulada, originalmente, por Paul MacLean (1913-2007), médico e neurocientista norte-americano. Na atualidade, essa teoria é considerada radical demais, pois exagera na especialização das três grandes áreas cerebrais. No entanto, ainda se mostra um excelente ponto de partida para a compreensão da anatomia e da fisiologia do sistema nervoso central.

Essencialmente, a teoria de MacLean destaca que o cérebro humano atual é resultado de um processo evolutivo. Mais do que isso, as marcas dessa evolução persistem em nós até hoje de tal forma que as três grandes áreas de nosso sistema nervoso central – o sistema reptiliano, o sistema límbico e o neocórtex – surgiram sucessivamente, desempenhando funções que vão desde as mais primitivas no reptiliano, especialmente comportamentos de luta ou fuga, até as mais avançadas e cognitivas, típicas do neocórtex e, sobretudo, da sua região pré-frontal.

Entre as várias críticas à teoria, destacam-se a excessiva linearidade em termos evolutivos e o excesso de “localizacionismo”, isto é, a atribuição de funções cerebrais específicas a áreas relativamente isoladas do cérebro. No entanto, como vimos anteriormente, até as escolhas racionais, típicas do neocórtex na visão de MacLean, possuem componentes associados à memória e à emoção – processos vinculados, sobretudo, ao sistema límbico.

Desse modo, é importante expor a teoria do cérebro triuno como um referencial didático útil para, em seguida, desconstruí-la, deslocando a ênfase do elemento trino – três cérebros e uma só mente – para o elemento uno – a relevância dos circuitos que integram várias áreas em cada função típica do cérebro.

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Paul MacLean

Paul Donald MacLean (1913-2007) – médico e neurocientista, na Yale Medical School e no National Institute of Health (NIH) – foi oficial médico do exército norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial. Foi um dos primeiros a utilizar o termo sistema límbico a partir de estudos sobre epilepsia (1952). Em 1964 e 1966, deu as palestras Thomas William Salmon na Academia de Medicina de Nova York. Em 1972, recebeu o Prêmio G. Burroughs Mider

Lectureship do NIH. Em 1971, MacLean tornou-se Chefe do recém-inaugurado Laboratório de Evolução e Comportamento Cerebral, Poolesville, Maryland. Foi, ainda, chefe do Laboratório de Evolução e Comportamento Cerebral de 1971 a 1985.

A sua teoria do cérebro triuno foi elaborada e apresentada em 1990, no livro The Triune Brain in evolution: role in paleocerebral functions.

Neuroevolução

A história evolutiva de nosso cérebro pode nos dar pistas importantes para compreender o seu funcionamento atual. Hoje em dia, nossa espécie, o Homo sapiens, possui o maior cérebro entre os primatas em termos absolutos, e o aumento progressivo desse tamanho está bem documentado nos registros fósseis. Nos últimos 2 milhões de anos, esse processo registrou grande aceleração (ver Figura 2).

Uma característica importante dessa neuroevolução é que nosso cérebro evoluiu, espacialmente, de dentro para fora e, no caso das camadas mais externas, o córtex, de trás para frente. Com isso, as áreas mais primitivas do sistema nervoso central, que MacLean chamou de sistema reptiliano, estão localizadas bem no interior do crânio, quase como um simples prolongamento da medula e diretamente ligadas a ela. Até hoje, o cérebro dos répteis e dos peixes – menos desenvolvidos do que o dos mamíferos, por exemplo – está quase inteiramente limitado a essa área.

15 Figura 2 – Evolução do crânio humano. Dimensão em centímetros cúbicos (cc).

Fonte: elaboração dos autores.

Voltando ao cérebro humano, sobre as estruturas do reptiliano, encontra-se o que MacLean chamou de sistema límbico, bem mais desenvolvido em espécies animais com comportamentos sociais e de bando. Por fim, sobre esses dois sistemas, surge o córtex, a chamada massa cinzenta, tipicamente enrugada – com sulcos – e que, no caso dos primatas e do ser humano em especial, ocupa a maior parte do volume total de nosso encéfalo. O córtex também está presente, por exemplo, nas aves, mas é bem menos desenvolvido nesses animais. As camadas mais externas dessa grande estrutura, ausente nas aves e típica dos mamíferos, é chamada de neocórtex. Dentro dessa grande área cinzenta, uma subárea em especial faz de nós, humanos, o que somos: o neocórtex pré-frontal, a região cerebral bem atrás de nossas testas. Essa é uma área muito desenvolvida nos seres humanos em comparação com outros animais. É a área essencialmente executiva do sistema nervoso, capaz de processos associados à análise de causa e efeito, avaliação de riscos, autocontrole, projeção de cenários futuros, sejam de ameaça ou de recompensa, precisamente a área mais afetada pelo acidente de Phineas Gage, visto na Unidade anterior.

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Características do cérebro triuno

Mantendo em mente que a teoria do MacLean é apenas uma primeira aproximação didática para o estudo do cérebro, podemos resumir da caracterização das três grandes áreas do cérebro da seguinte forma (Gonçalves e Paiva, 2018, p. 29):

a) Cérebro reptiliano – parte mais primitiva e instintiva do cérebro. Nessa área, concentram-se processos involuntários, menos conscientes e instintivos voltados para satisfazer as necessidades básicas, como reprodução, dominação, autodefesa, medo, fome, fuga, etc. A área também é responsável pelos processos automáticos, como a respiração e o ritmo cardíaco, e se localiza no tronco encefálico, no diencéfalo e nos gânglios da base.

Muitas reações instintivas, como puxar o braço quando a mão encosta em uma superfície quente ou pontiaguda, envolvem reflexos medulares que, primariamente, sequer envolvem o encéfalo.

b) Cérebro paleomamífero ou sistema límbico – parte do cérebro responsável pelos sentimentos e experiências emocionais. Também está associado ao armazenamento e à recuperação de memórias permanentes. Segundo MacLean, está presente tanto no cérebro de mamíferos como no de aves. É formado pela parte média da superfície cerebral (parcela mais interna do córtex) e por estruturas como o hipocampo, a amígdala cerebral e o núcleo acúmbens.

c) Cérebro neomamífero ou neocórtex – parte lógica, racional e executora do cérebro.

Especializada em processos de compreensão de causa e efeito, autocontrole, codificação e decodificação de elementos da linguagem, sobretudo visuais. Corresponde às camadas mais exteriores do córtex e é bastante desenvolvida em mamíferos superiores e, principalmente, no ser humano.

Figura 3 – Três grandes áreas do cérebro humano

Fonte: Gonçalves e Paiva (2018, p. 39).

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Pode-se ver que MacLean sugere que o cérebro humano guardou marcas estruturais da sua evolução na sua estrutura atual. No centro, está o velho cérebro, o reptiliano. Logo depois, vem o cérebro intermediário ou sistema límbico, que se desenvolveu muito ao longo da história evolutiva, com as primeiras gerações de mamíferos, inclusive antes do surgimento dos primatas e, por isso, também é chamado de cérebro paleomamífero. E, na periferia, por fim, o neocórtex – a parte mais externa do encéfalo atual e que recobre as estruturas mais velhas.

MacLean desconstruído

Apesar de muito didática, a teoria do cérebro triuno deve ser vista com cautela. Autores como Dalgalarrondo (2011, p. 21) esclarecem que a visão de MacLean é excessivamente linear e, frente aos estudos mais recentes sobre o funcionamento dinâmico do cérebro, está superada. Em boa medida, essa crítica se apoia nas novas teorias da evolução. Esse é um processo que se dá por ramos, como os galhos das árvores, e não de forma retilínea. O próprio cérebro dos répteis, por exemplo, continuou evoluindo e encontrou soluções diferentes para a perpetuação da sua espécie, se comparado ao dos primatas, por exemplo. De modo semelhante, o neocórtex é, de fato, menos desenvolvido nas aves. E, como essa área está muito associada às habilidades motoras e à capacidade de aprendizado, além de habilidades complexas de comunicação, como compreender o fato de que tais habilidades estejam tão presentes em algumas espécies de pássaros? Ao mesmo tempo, sabe-se que os não mamíferos não possuem um neocórtex propriamente dito, composto por seis camadas de neurônios ao todo. Apesar disso, esses animais têm regiões no pálio dorsal – área mais interna do córtex – que desempenham funções semelhantes às do neocórtex dos mamíferos – o que inclui percepção, aprendizado e memória, tomada de decisão e controle motor.

Outra crítica possível se refere às interações entre as diferentes regiões cerebrais, negligenciadas pelo excessivo “localizacionismo” da teoria do cérebro triuno. Diante de uma expectativa de recompensa, por exemplo, as áreas mais primitivas do reptiliano podem disparar um neurotransmissor chamado dopamina. Essa substância percorre um caminho em nosso encéfalo – chamado de circuito dopaminérgico –, interagindo com áreas do límbico e do neocórtex. A excitação típica da expectativa de recompensa – seja um prêmio em dinheiro, um alimento saboroso ou a perspectiva de fazer sexo – envolve todas as grandes áreas cerebrais, de modo que nosso comportamento não pode ser compreendido de maneira correta por meio de uma visão excessivamente segmentada das grandes áreas cerebrais.

Tudo isso mostra que nosso cérebro é muito mais uno do que trino e, como já sugeriu António Damásio (1996), mesmo nossas decisões mais racionais exigem certa avaliação emocional baseada em nosso repertório de memórias afetivas.

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Resumindo:

O neocórtex corresponde às três últimas camadas do córtex cerebral. Assim, é uma espécie de

“capa” ou superfície mais externa do nosso encéfalo.

O neocórtex se desenvolveu mais recentemente na escala de evolução. Por isso, recobre outras áreas corticais denominadas (em algumas classificações mais aceitas) de mesocórtex e alocórtex.

Nos humanos, o neocórtex corresponde a 90% do córtex total, restando ao mesocórtex-alocórtex os 10% restantes.

A complexidade e a capacidade de processamento do necórtex são muito superiores. Já o alocórtex responde por algumas funções, como o processamento olfativo.

Figura 4 – Camadas do córtex cerebral

Fonte: https://human-memory.net/allocortex/

Memória – mecanismos de formação e a sua relevância

Inato versus adquirido

Quando observamos diferentes grupos de pessoas, fica claro que diferenças na constituição física (cor da pele, altura, cabelo e outras) são biológicas. No entanto, as diferenças comportamentais costumam confrontar o observador com um problema: elas são determinadas cultural ou geneticamente? Ao longo da história, grande parte das discussões sobre as origens ou causas do

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comportamento nos revela a existência de uma questão altamente controversa. Trata-se da questão inato-adquirido, tema que será discutido neste tópico.

No campo da filosofia, o debate entre inato-adquirido se torna bastante acirrado. Filósofos como John Locke (1632-1704) defendiam que o ambiente é o principal responsável pela formação das características básicas do homem, especialmente da sua capacidade intelectual. Segundo ele, a mente do recém-nascido era uma tábula rasa, que seria preenchida pelas experiências vividas. O psicólogo John B. Watson (1878-1958), fundador do behaviorismo nos Estados Unidos, foi um dos adeptos mais importantes dessa ideia. Ele defendia uma explicação "cultural" ou "ambiental"

do desenvolvimento do comportamento humano. Para ele, os humanos são seres infinitamente maleáveis, quase totalmente a mercê do seu ambiente. Por outro lado, filósofos como René Descartes (1596-1650) defendiam a ideia de que muitos dos nossos comportamentos são inatos.

Ou seja, nós nascemos com determinadas tendências e propensões, que não podem ser alteradas por aprendizagem. Afinal, quais são as diferenças entre comportamentos inatos e adquiridos?

De modo geral, comportamentos inatos são bastante previsíveis e apresentados de uma maneira bastante similar por todos os membros de uma espécie. Por exemplo, um recém-nascido sugará qualquer coisa que toque o palato superior da sua boca, garantindo que ele consiga se alimentar. Esse é um tipo de comportamento inato, já que o bebê não precisa aprender como nem quando se faz. Nesse caso, o ato de sugar é um reflexo instintivo que já vem pré-programado no bebê desde o seu nascimento.

Outro tipo de comportamento inato são os padrões fixos de ação, que é uma série previsível de ações desencadeadas por um estímulo-chave. Um exemplo desse tipo de comportamento é o que ocorre com os gansos-bravos. Se o ovo de uma fêmea rola para fora do seu ninho, ela usará, instintivamente, o seu bico para empurrá-lo de volta ao ninho em uma série de movimentos previsíveis. A visão de um ovo fora do ninho é o estímulo que desencadeia o comportamento de recuperação. Esse padrão de comportamento inato é muito útil para garantir a sobrevivência da

Outro tipo de comportamento inato são os padrões fixos de ação, que é uma série previsível de ações desencadeadas por um estímulo-chave. Um exemplo desse tipo de comportamento é o que ocorre com os gansos-bravos. Se o ovo de uma fêmea rola para fora do seu ninho, ela usará, instintivamente, o seu bico para empurrá-lo de volta ao ninho em uma série de movimentos previsíveis. A visão de um ovo fora do ninho é o estímulo que desencadeia o comportamento de recuperação. Esse padrão de comportamento inato é muito útil para garantir a sobrevivência da

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