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Gatekeepers na Comunicação

No documento O SECRETÁRIO EXECUTIVO COMO (páginas 113-116)

2.4 CONTRIBUIÇÕES DA LITERATURA SOBRE O GATEKEEPER

2.4.5 Gatekeepers na Comunicação

Dentre os campos que foram se relacionando à teoria de Lewin, o primeiro deles relaciona-se ao estudo de canais de comunicações entre os grupos, preconizado por David Manning White, assistente de pesquisa de Lewin na Universidade de Iowa, sublinhando o peso dos constrangimentos organizacionais no trabalho jornalístico.

Por essa teoria, só viram notícia aqueles acontecimentos que passam por um portão (gate). Quem seleciona as notícias é uma espécie de porteiro, vigia ou selecionador (o gatekeeper), que é o próprio jornalista, responsável por dar continuidade ao tratamento do fato, transformando-o em notícia ou retendo-o numa escolha pessoal, subjetiva e arbitrária. Dessa forma, White (1949) aplicou a teoria de Lewin e iniciou uma tradição na pesquisa do ‘media gatekeepers’, trabalhando a questão de como as organizações poderiam resolver a questão de muita informação e pouco espaço. Essa adaptação do estudo de Lewin foi firmemente individualista, enfatizando mais o gatekeeper que o canal, abordagem que perdurou em estudos subsequentes, os quais identificavam a seletividade do jornalista como a principal fonte de seleção das notícias (SHOEMAKER et al, 2008, p. 75-76).

O estudo de caso de David White deu-se na cidade de Midwest, Oklahoma, com cerca de 100 mil habitantes, com um editor de um jornal, que trabalhava com White na universidade, a quem batizou de Mr. Gates. Ele tinha a seu cargo selecionar, a partir de uma grande quantidade de notícias nacionais e internacionais que chegavam das agências, as que apareceriam na primeira página e como seriam desenvolvidas nas páginas seguintes. Foram anotados os motivos que levavam Mr.

Gates a rejeitar ou não as notícias. A rejeição compreendia 90% do total das

sugestões recebidas. White (1950, p. 386) explicou que os artigos foram recusados em virtude do seu conteúdo ser sobreposto com histórias já selecionadas, falta de interesse jornalístico, de representatividade ou de falta de qualidade da escrita, além de dizerem respeito a acontecimentos presumivelmente desprovidos de interesse para o leitor. Outro motivo foi o fato de não coincidir com o que o jornalista acreditava ser verdadeiro e também por falta de espaço. A conclusão foi que as decisões de Mr. Gates foram altamente subjetivas e arbitrárias, dependentes de juízos de valor, baseados no seu conjunto de experiências, atitudes e expectativas.

Em outras palavras, as características da personalidade do gatekeeper sobrepunham-se sobre qualquer outro elemento para a tomada de decisão.

Alguns anos mais tarde, Gieber (1956, apud SHOEMAKER, 1996)11

expandiu a base do estudo feito por White, analisando 16 editores de jornais americanos. O autor encontrou poucas diferenças entre as seleções feitas entre os diferentes órgãos, embora houvesse diferenças entre as explicações dadas pelos editores para as suas decisões. Sua conclusão foi que os editores tinham em comum as pressões da rotina burocrática das redações e eram mais passivos do que assinalara White (SHOEMAKER, 1996, p. 82).

Ao destacar a análise por ele empreendida em 1955, Breed (1993) também aponta o poder de um gatekeeper central: o proprietário do jornal. Dentre os principais fatores encontrados nas entrevistas realizadas por Breed com 120 jornalistas, relacionados à influência organizacional na produção jornalística, encontra-se o sentimento de obrigação e estima para com os superiores. Dessa forma, predominava o conformismo dos jornalistas subordinados ao chefe, a qual se constituiu em premissa básica de que o editor impunha a sua linha editorial. Tal fato garantia que apenas as notícias consistentes com a política organizacional fossem divulgadas.

Reese (2007, p. 642) assegura que análises como a de White e Reese, a despeito de não conter os maiores avanços em termos de teoria ou método, capturou a imaginação, prestando-se a base para estudos posteriores sobre o tema. Quando se foca nas decisões de alguns indivíduos que, em virtude de sua localização estratégica nos ‘gates’, têm o poder de afetar o fluxo de informação; a estrutura da série de gates é de menos interesse que os traços e julgamentos dos indivíduos dentro dele. Salienta que os estudos iniciais sobre a pesquisa da comunicação não se preocupavam com a criação e o controle de conteúdo da mídia: assumia-se até então que as notícias fluíam do ambiente e chegavam à comunidade, num balanço harmonioso. Com a identificação dos gatekeepers, White trouxe à ribalta a noção intuitiva de que nem tudo o que acontece no mundo vira notícia, e que os gatekeepers escolhem as notícias com base em sua subjetividade (REESE, 2007, p. 647). O parecer de Shoemaker et al (2008, p. 78) é que este

trabalho de Reese reconhece que o mais importante gatekeeper pode não ser aquele que está mais diretamente envolvido com a seleção.

Shoemaker e Reese (1996) investigam o poder das influências sobre o conteúdo midiático, as quais – por reconhecem estar ligadas a fatores internos e externos das organizações midiáticas – exigem um olhar para os diferentes elementos que compõem cada um destes fatores. Como premissa inicial, lançam a definição de que a mensagem se constitui numa dependente variável. Dessa forma, se por um lado exploram as rotinas dos meios e dos papéis e estruturas dessas organizações, por outro se dedicam a investigar a relação entre os jornalistas e as fontes, as pressões do público leitor, dos anunciantes, do mercado, do governo, estendendo-se aos paradigmas vigentes nessa área. O objetivo precípuo é evidenciar ‘onde’ os estudiosos da área têm concentrado a sua atenção e ‘por que’.

Os autores categorizam a sua pesquisa em duas dimensões: o ‘nível de análise’ (de micro para macro, ou seja, desde o exame da comunicação como uma atividade que afeta o indivíduo até o exame das estruturas sociais, das redes, organizações e culturas) e ‘o quê’ será estudado. Adotam sugestão formulada por Harold Lasswell12: who, says what, through which channel, to whom, with what

effect. O comunicador (who); o conteúdo mediático (says what); o intermediário

(through which channel); a audiência (to whom); os efeitos (with what effect). Na investigação, os autores abordam como o conteúdo mediático é influenciado pelos antecedentes pessoais e profissionais, pelas atitudes pessoais e pelos papéis profissionais dos trabalhadores de comunicação. Eles analisam as rotinas organizacionais e as restrições características das organizações, ressaltando que as características e poder variam de organização para organização, talvez em grau inversamente proporcional aos efeitos das atitudes individuais do comunicador, dos seus valores e suas crenças. (SHOEMAKER e REESE, 1996, p. 87).

Barzilai-Nahon (2009) sumariza que o fundamento basilar das teorias de comunicação tem focado em gatekeeping como um processo de controle da entrada de mensagens dentro do espaço do gatekeeper. Torna-se relevante que se acrescente que a abordagem social para o estudo da comunicação em massa parte da premissa de que ela é uma construção humana. Essa visão, evidentemente, é resultante de pesquisas, dentre as quais se cita algumas representativas e que

12

Lasswell, The structure and function of communication in society, 1948, apud Shoemaker e Reese; 1996, p.10).

expressam as constatações e implicações mais relevantes nesse campo. Uma boa parte delas, a despeito de terem sido feitas há um longo tempo, é particularmente importante para o estabelecimento de uma tradição e modelo, a serem utilizados como base para novos estudos.

Ainda no âmbito da área de Comunicação, Shoemaker et al (2008) definem

gatekeeping como o processo de, entre outras atividades, selecionar, escrever,

editar, posicionar, agendar e repetir informações para se tornarem notícias. Os autores salientam que apesar de todos os gatekeepers tomarem decisões, existem diferenciados graus de autonomia, os quais oscilam diante das suas idiossincrasias. O processo de gatekeeping, dado o contexto do web jornalismo e do ciberespaço, tem exigido uma atualização, inclusive em termos de nomenclatura, reconhece Bruns (2003), que passa a denominar o processo de gatewatching. Esse autor avalia que atualmente a avalanche de notícias exige ‘portões’ de informações controladas por jornalistas responsáveis pelos critérios de noticiabilidade. A necessidade atual é de seleção e não de descarte, uma vez que existe espaço para publicar absolutamente tudo, mas é preciso agora uma classificação em termos de ênfases e prioridades. O gatewatcher combinaria funções de bibliotecário e repórter.

Após a leitura e interpretação dos estudos, especialmente aqueles efetuados por Barzilai-Nahon (2009), Shoemaker (1996), Shoemaker e Reese (1996) e Shoemaker et al (2008) e da busca às fontes originais da produção acadêmica e artigos representativos no campo, foi possível a exploração do tema e a construção de visão crítica sobre o processo de gatekeeping na mídia, a qual será essencial para a elaboração da presente pesquisa.

No documento O SECRETÁRIO EXECUTIVO COMO (páginas 113-116)