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Geovane Diógenes da Silva (Gegê Pankararu) Amanda Post da Silveira

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Introdução

Este capítulo surgiu através da nossa atuação nos cursos de Inglês para Indígenas entre os anos de 2019 e 2021. Nesse sentido, o objetivo geral desta proposta é apresentar a importância de um programa de curso baseado na cultura indígena, que leva em consideração o contexto do aprendiz de inglês como língua estrangeira. Esta proposta apresenta ainda, como objetivos específicos: 1 - Entender a necessidade de utilizar uma metodologia que aproxima a língua alvo da cultura do aprendiz; 2 - Identificar os processos de aprendizagem de inglês como língua estrangeira dos alunos indígenas; 3 - Analisar o percurso de aprendizagem dos alunos indígenas no curso de inglês básico 1 do Instituto de Línguas, doravante IL. A partir disso, se faz necessário buscar solucionar as questões norteadoras: A) Qual é a importância de oferecer um curso específico para indígenas? B) O contexto do aprendiz de uma língua estrangeira interfere na sua aprendizagem? C) Quais caminhos o professor de língua estrangeira deve percorrer para garantir a aprendizagem deste grupo específico?

Para enriquecer a discussão desta temática, serão utilizados dados de um formulário de avaliação do curso de inglês para indígenas respondido pelos alunos. Inicialmente, serão utilizadas como amparo teórico as concepções de Pennycook (2001) (Linguística Aplicada Crítica) e Freire (1996) (Pedagogia da Autonomia) que levam em consideração o contexto social e cultural do aprendiz de línguas e as usam como meio de valorização e conexão desse indivíduo com o novo. Assim, pode-se compreender que o professor deve utilizar elementos da cultura e da realidade do aluno para que este possa adquirir integralmente os conhecimentos desejados.

Constata-se, então, que é de fundamental importância explorar este tema e entender as diversas realidades de sala de aula dos processos próprios de aprendizagem que os aprendizes indígenas de uma língua estrangeira possuem.

A discussão para a criação de um curso de inglês voltado para a realidade dos povos indígenas iniciou-se dentro do coletivo indígena da UFSCar – Centro de Culturas Indígenas CCI – a partir das observações feitas pelo primeiro autor sobre as dificuldades dos estudantes indígenas ingressantes no curso de Letras, que chegavam na universidade sem a bagagem exigida para língua inglesa. A partir desta discussão, foram surgindo demandas outras, em relação ao desempenho dos estudantes indígenas nos cursos de graduação, havendo a necessidade de acompanharem materiais dos cursos publicados em inglês. Desse modo, foi apresentado pelo primeiro autor deste capítulo um projeto para a coordenadora de área de Língua Inglesa do IL com a proposta de criação de um curso específico para estudantes indígenas, tendo em vista a importância de garantir a aprendizagem da língua estrangeira levando em consideração a cultura indígena a qual o aprendiz pertence. A criação deste curso foi de suma importância

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para os estudantes indígenas da UFSCar por ser um dos poucos lugares da universidade que colaboram com a reafirmação da identidade indígena.

A aprendizagem da língua estrangeira pode acontecer a partir do conhecimento de mundo que o aprendiz possui. A partir dos conhecimentos dos estudantes indígenas em relação a sua cultura e costumes, fica mais fácil relacionar os elementos culturais com a aprendizagem de inglês. Desse modo, a aula de inglês para estudantes indígenas deve fazer com que eles possam aprender inglês falando da sua própria cultura, utilizando vocabulário de uso diário e explorando situações de uso da língua que se aproximam dessa realidade.

A criação dos cursos de inglês para indígenas do IL da UFSCar teve como base uma proposta de ensino descolonizado de inglês e, para a realização destes cursos, algumas práticas e concepções de ensino de línguas foram se constituindo ao longo das aulas. Nesse sentido, foi necessário fazer uma sondagem dos conhecimentos prévios da aprendizagem dos alunos, buscando entender como se dava a aprendizagem de inglês durante sua vida escolar e, diante disso, discutir os propósitos de aprendizagem de língua inglesa, ou seja, o que motivou o estudante indígena a continuar aprendendo inglês nos cursos do IL da UFSCar. Depois dessa sondagem, foi necessário buscar uma maneira de fazer com que os alunos aprendessem o idioma a partir da sua realidade e, para isso, foi feito um planejamento que envolvia a cultura indígena, as narrativas orais (lendas indígenas) das comunidades/aldeias indígenas. Com isso, foi possível criar oportunidades para que os estudantes indígenas pudessem falar da sua cultura e da sua vivência em um idioma outro. Assim, os caminhos que o professor deve percorrer para garantir a aprendizagem dos alunos são a construção de um programa de curso acolhendo as necessidades dos alunos, construindo junto com eles e deixando claro que a aprendizagem de uma língua estrangeira não deve acontecer passando por cima da sua realidade, da sua cultura, da sua crença e muito menos da sua identidade indígena.

É importante relatar a adaptação do curso de inglês para indígenas do modo presencial para a modalidade remota em decorrência da pandemia do COVID-19. Falarei da experiência de cursos preparatórios para as aulas on-line e preparação de materiais, a formação do GT de Inglês para indígenas para a coordenação dos trabalhos no modo remoto, a recepção das aulas pelos alunos (facilidades e dificuldades) e a avaliação final das aulas e monitores-professores, bem como a autoavaliação dos alunos que foram feitas através de um questionário como atividade final do curso.

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Histórico da criação do curso de inglês específico