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2.1 As práticas de gestão no contexto escolar

2.1.1 Gestão Estratégica

Segundo Estevão (1998) a gestão estratégica pode ser definida como:

[...] um processo global que visa a eficácia, integrando o planejamento estratégico (mais preocupado com a eficiência) e outros sistemas de gestão, responsabilizando ao mesmo tempo todos os gestores de linha pelo desenvolvimento e implementação estratégica; ela é um processo contínuo de decisão que determina a performance da organização, tendo em conta as oportunidades e ameaças com que esta se confronta no seu próprio ambiente mas também as forças e fraquezas da própria organização. (ESTEVÃO, 1998, p. 5)

Dessa forma, gestão estratégica é uma metodologia que procura assegurar o sucesso de uma instituição, inclusive educacional, no momento atual e futuro, por meio de três etapas distintas, como o planejamento estratégico, execução e controle. De acordo com Pereira (2009, p. 10), tal gestão visa:

(i) - identificar os riscos e propor planos para minimizá-los e até mesmo evitá-los;

(ii) - identificar os pontos fortes e fracos de uma organização em relação a sua concorrência e ao ambiente de negócio em que você atua;

(iii) - conhecer seu mercado e definir estratégias para seus produtos e serviços.

Uma das etapas da gestão estratégica é o planejamento estratégico, que segundo Oliveira (2009, p. 36), envolve nove fases, sendo elas:

1. Definição de objetivos;

2. Identificação dos objetivos e estratégias atuais; 3. Análise do ambiente;

4. Análise dos recursos disponíveis;

5. Identificação das oportunidades e das ameaças à organização; 6. Definição do grau de mudança necessário;

7. Escolha da estratégia a ser utilizada; 8. Implantação da estratégia; e

9. Mensuração e controle dos resultados obtidos.

A execução e controle nos permitem colocar em prática o que se definiu no planejamento estratégico, além de possibilitar o direcionamento e monitoramento das ações para que possamos atingir os objetivos almejados. Dessa forma, ao se consolidar ideias por meio do planejamento, deve-se implementar e reavaliar, considerando os resultados a serem alcançados, no movimento cíclico de planejamento, execução, avaliação e replanejamento.

Diante disso, um dos grandes objetivos de um gestor é integrar o planejamento e execução, visando alcançar as metas estabelecidas, tornando-se conselheiro e facilitador das decisões tomadas em todos os níveis da instituição, para gerir as ações, interagindo com os diferentes aspectos de seu processo. Segundo Gatti (2008, p. 11):

[...] os gestores educacionais em suas formas de atuação têm que desenvolver e mostrar novas perspectivas quanto à escola e todos com ela envolvidos, escolhendo e executando ações estratégicas que permitam impulsionar as aprendizagens escolares, viabilizando uma concreta democratização da disseminação do conhecimento sistematizado a parcelas mais amplas da população. Trata-se aqui de pensar aprendizagens efetivas, domínio de linguagens e saberes diversos, diminuindo ou eliminando a perversa equação: para uns, conhecimentos aprofundados, para outros conhecimentos superficiais.

Estevão (1998) destaca que, apesar do potencial inovador que a gestão estratégica pode trazer às organizações educativas, deve-se alertar para os perigos de certo gerencialismo, o que pode empobrecer a nobreza do estatuto da educação. Como exemplo de implementação da gestão estratégica, temos a GIDE, sistema de gestão implementado nas escolas estaduais do Rio de Janeiro, que também é abordado neste trabalho. Para Godoy e Murici (2009), as fases do modelo estratégico estabelecidos pela GIDE, como a construção do Marco Referencial, que se subdivide em Marco Situacional (análise dos aspectos positivos e negativos do mundo, ser humano e educação, além da realidade socioeconômica do país), Marco Doutrinal (construção e análise da missão, visão de futuro e valores, ou seja, a construção de sua identidade) e Marco Operativo (objetivo educacional geral, definidos pelas dimensões pedagógicos e administrativos-comunitários).

No referido sistema, a escola também faz um diagnóstico, com análise de resultados e análise estratégica, estabelece metas e elabora planos de ação para que as mesmas possam ser atingidas, mediante análise dos resultados dos anos anteriores em reunião com a comunidade escolar.

De acordo Lück (2009, p.55) a gestão de resultados educacionais:

[...] promove e orienta a aplicação sistemática de mecanismos de acompanhamento da aprendizagem dos alunos, de modo a identificar alunos e áreas de aprendizagem que necessitam de atenção diferenciada e especial, de forma individual e coletiva. Embora todas as escolas vinculadas à Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro recebam as mesmas orientações pautadas na GIDE, principalmente no que se refere ao papel do gestor, sendo ele um ator fundamental para a efetivação de tal sistema dentro da unidade escolar, na escola pesquisada nota-se que ela se diferencia das demais escolas que acompanho. A escola pesquisada realiza o acompanhamento das ações planejadas pela equipe escolar, promove o acompanhamento bimestral dos resultados dos alunos nas avaliações, possibilitando identificar as disciplinas críticas, ou seja, aquelas que apresentam maior percentual de alunos com desempenho abaixo do esperado, observando o desempenho coletivo, além do desempenho individual e, sempre que necessário, é realizado um replanejamento, como verificados em C. E. Ministro Raul Fernandes (2015a) e nas visitas para realização da pesquisa de campo. Essas ações compõem a

documentação da unidade escolar referente à Gestão Integrada da Escola, sendo divulgada em painel próprio para que comunidade tenha acesso. Lück (2010) afirma que, para promover a gestão democrática e participativa, deve-se associar o compartilhamento de responsabilidades no processo de tomada de decisões, fato que implica promover espaços de participação para a comunidade escolar.

Diante das ações desenvolvidas pela escola, com práticas de planejamento e acompanhamento, temos indícios de que a equipe gestora direciona seu trabalho por meio da gestão estratégica, uma vez que:

[...] A nova direção oferecida pela perspectiva prática da estratégia é uma preocupação para a eficácia dos gestores e, consequentemente, para as organizações. Certamente, estes profissionais precisam saber as técnicas de formulação e análise de planejamento, mas os estrategistas deste nível atuam em outro domínio de habilidades e conhecimentos: o domínio da prática. (ROCHA, 2012, p. 6)

O planejamento estratégico tem como base a coordenação e monitoramento das decisões planejadas e executadas pelos diversos atores, necessitando de organização com participação e comprometimento dos envolvidos.

Segundo Freitas, Scaff e Fernandes (2006), como esse modelo de gestão é submetido aos processos de recepção, de interpretação e de recontextualização, ele depende, também, dos atores envolvidos e dos contextos, mesmo que sejam firmemente orientados para uma ação em conformidade. O olhar dos demais atores deve ser considerado para que possamos avaliar os efeitos sobre o dia a dia da escola e as expectativas em relação ao seu futuro.

Para que tenha êxito na gestão estratégica, cabe ao gestor envolver os profissionais nas ações a serem realizadas, capacitá-los para que possam expor suas ideias e tomar decisões, estabelecendo um clima de empatia para que todos compartilhem dos mesmos desejos e realizações. De acordo com Coelho e Linhares (2008) é importante o estabelecimento de um clima relacional na instituição, que provém

[...] basicamente, dos educadores que nela atuam. São eles que determinam as relações internas, através do acolhimento, da aceitação, da empatia, da real comunicação do diálogo, do ouvir e do escutar, do partilhar interesses, preocupações e esperanças. (COELHO e LINHARES, 2008, p. 5)

De maneira geral, a gestão estratégica permite analisar a missão da instituição escolar para mantê-la relevante e adequada à escola, estabelecendo objetivos em função de sua atividade fim, determinando meios e estratégias para alcançar seus objetivos, uma vez que conseguimos identificar suas necessidades, estabelecer prioridades e definir meios de efetivá-las.

A implementação de um modelo de gestão estratégica, no qual o diretor compreenda o funcionamento e a demanda da escola, que utilize o planejamento como ferramenta de gestão, compartilhe de decisões e promova espaços de participação; produz indícios do oferecimento de um ensino de qualidade, uma vez que, permite alcançar os objetivos propostos, caracterizando práticas de sucesso escolar, conforme veremos mais detalhadamente a seguir.