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A definição mais usual de risco em finanças está associada à ocorrência de resultados negativos dentro de um universo de possibilidades positivas e negativas. Nesse sentido, risco remeteria instintivamente ao vocábulo “arriscado”, ativando também a conexão com a palavra

“perigo”. Tratando-se de empresas e investidores poderia ainda gerar uma associação com a palavra “aversão”. Para Jorion (2007, p.3) o risco representaria os resultados da volatilidade inesperada que geralmente afetaria o valor dos ativos ou passivos de interesse.

A teia de operações e decisões dos investidores (precificar ativos, opções de investimentos, decidir o que produzir e em que quantidade etc.) obstaculiza o surgimento de modelos perfeitos de gestão de riscos. No entanto, a evolução da tecnologia da informação e da econometria fez avançar de maneira significativa as pesquisas empreendidas nessa área.

Contudo a incerteza é inerente à própria condição do ser humano enquanto ser que age no tempo e no espaço buscando maximizar seus recursos, seja de capital ou trabalho.

Em regra, as decisões de investimento ou financiamento visam o maior retorno com menor risco associado. O grande dilema com o qual o investidor se depara constantemente é como otimizar a alocação de recursos de maneira racional, administrando o trade-off representado pelo antagonismo entre risco e retorno.

Apesar do seu avanço ser mais perceptível em instituições financeiras, investidores e empresas também se beneficiam da utilização de técnicas econométricas sofisticadas para alcançar projeções mais fundamentadas para gerenciar os riscos das suas atividades. Nas palavras de Jorion (2007):

O aumento da volatilidade das taxas de câmbio, taxas de juros e preços de commodities tem criado a necessidade de novos instrumentos financeiros e instrumentos analíticos para gestão de riscos. A gestão de risco financeiro refere-se à concepção e implementação de procedimentos de controle de riscos financeiros. Isso se tornou possível graças às inovações tecnológicas. As mudanças tecnológicas surgiram de avanços em duas frentes: equipamento físico e teoria de finanças. Por um lado, o advento de comunicações mais baratas e poder de computação levou a inovações como um mercado global 24 horas e sistemas de gestão de riscos on-line.

Por outro lado, avanços na moderna teoria de finanças têm permitido às instituições criar, precificar e controlar os riscos dos novos instrumentos financeiros.3 (JORION, 2007, p.10).

2.1.1 Riscos Operacionais, Estratégicos e Financeiros

Encontram-se na literatura diversas classificações para os riscos. A taxonomia proposta por Rocque (2007, p.18) focaliza a natureza e tem como propósito explanar uma visão mais abrangente daqueles que incidem sobre as principais operações das empresas. De acordo com essa classificação, os riscos principais seriam:

a) Riscos Operacionais: relacionados à condução das atividades habituais das empresas, envolveriam as perdas relativas a falhas, deficiências ou inadequadação de processos e gestão.

b) Riscos Estratégicos: decorrentes da posição da empresa no mercado em que atua, envolvendo condições ambientais e competitivas. As decisões estratégicas visam e influenciam a condução da empresa num maior horizonte temporal. Silva (2007, p.22) alega que os riscos estratégicos são aqueles assumidos voluntariamente com a finalidade de criar vantagem competitiva e valorizar a empresa, maximizando o preço de suas ações. Assim, os riscos estratégicos relacionam-se aos setores da economia em que a empresa está atuando, incluindo o desenvolvimento de novos produtos e ações de marketing, implicando em minuciosa análise no que se refere aos custos e à estrutura organizacional. É possível estabelecer uma íntima conexão desse risco com os estudos de Porter (1947), Mintzberg (1939) e outros estudiosos da área da administração estratégica.

3 The increased volatility in Exchange rates, interest rates, and commodity prices has created the need for new financial instruments and analytical tools for risk management. Financial risk management refers to the design and implementation of procedures for controlling financial risks. Risk management has emerge as a response to the increased volatility in global financial markets. This was mad possible though technological innovations. Technological changes have arisen from advances on two fronts: physical equipment and finance theory. On the one hand, the advent of cheaper communications and computing power has led to innovations such as global 24 hour trading and online risk management systems. On the other hand, breakthroughs in modern finance theory have allowed institutions to create, price, and control the risks of new financial instruments (JORION, 2007, p.10).

Risco

c) Riscos Financeiros: relacionados às perdas oriundas principalmente da variação de preços e taxas nos mercados financeiros. Jorion (2007, p.4) define como riscos financeiros aqueles conectados a possíveis perdas nos mercados financeiros, cuja exposição pode ser mitigada pela utilização de ferramentas financeiras, a exemplo dos derivativos.

A taxonomia retro citada serve para ilustrar os riscos mais associados às atividades empresariais e que devem ser considerados na estruturação de um portfólio equilibrado, principalmente em relação a incorporação de ações à carteira e está relacionada ao tipo de análise, denominada no mercado como fundamentalista.. Existe outra classificação fundamental para a Moderna Teoria das Finanças e mais relacionada com a análise técnica que será aprofundada na subseção seguinte.

2.1.2 Riscos Sistemáticos e Não Sistemáticos

Essa tipologia, proveniente do Capital Asset Pricing Model (CAPM), modelo que será explicado adiante, divide o risco total de uma empresa em apenas duas partes, de um lado estariam os riscos sistemáticos, ou seja, comuns a todas as empresas. De outro, os riscos que são privativos de apenas uma empresa ou de um setor econômico, denominados não sistemáticos (GITMAN, 2010, p.200). Essas duas categorias podem ser encontradas na literatura também como riscos não diversificáveis e riscos diversificáveis.

Figura 1 – Riscos sistemáticos e não sistemáticos

Fonte: Própria autor desta dissertação (2015).

O risco sistemático se refere ao risco de todo o sistema financeiro ou mercado, com reflexos nas taxas de juros, câmbio, commodities e preços dos ativos em geral, afetando a economia de uma forma total. A função do ouro no gerenciamento desse risco pode ser

visualizada nos estudos de Chiu e Ratner (2014) que contrapuseram o risco sistemático às propriedades do ouro utilizando a metodologia GARCH4, encontrando evidências de que em 10 dos 21 países da amostra no período de 1979 a 2012, o ouro atuaria como hedge em momentos de normalidade e, na maioria desses países, o ouro serviria como valor refúgio em momentos de instabilidade sistêmica.

Por outro lado, o risco não sistemático estaria associado ao risco individual de cada empresa ou de determinado setor. Esse tipo de risco é o mais suscetível de ser mitigado através de estratégias de diversificação da carteira, pois ao manter ativos de variados tipos e setores de atividade a carteira ficaria exposta basicamente apenas ao risco sistemático (GITMAN, 2010, p.200).

Figura 2 – Riscos e efeitos da diversificação

Fonte: Adaptado de Gitman (2010).

A partir da concepção e do comportamento dos riscos sistemáticos e não sistemáticos é possível explorar as principais implicações da Teoria do Portfólio, que será abordada na seção 2.2. Antes, porém, é necessário salientar que apesar de boa parcela da literatura fazer a associação automática entre:

a) Risco sistemático e riscos não diversificáveis e;

b) Riscos não sistemáticos e riscos diversificáveis.

Essa associação irrefletida pode induzir os estudiosos ao erro, pois ela prioriza a perspectiva do investidor que estruturará seu portfólio principalmente com ações.

4 Modelos GARCH são ferramentas econométricas para lidar com séries temporais que tendem a exibir períodos de baixa volatilidade seguidas de períodos de alta volatilidade, denominados de volatilidade de clusters (TULLY; LUCEY, 2007, p.319).

Assumindo como correta essas associações, o risco do câmbio não poderia ser gerenciado através da diversificação, o que inviabilizaria a metodologia proposta e aplicada nessa dissertação que focaliza justamente a mitigação desse risco. Portanto, é necessário alargar a abrangência do conceito de risco diversificável para incluir o risco cambial, de maneira similar a outros estudos que enfocaram a atuação do ouro diante do risco inflacionário (CHUA; WOODWARD, 1982), (BLOSE, 2010), (WANG et al., 2011). Em suma, algumas categorias classificadas como riscos sistemáticos na literatura, também podem ser objetos de estratégias de diversificação conforme será demonstrado adiante.

Uma implicação dessa assertiva poderia ser visualizada no deslocamento para baixo da linha pontilhada na figura 2, caso sejam recolhidas evidências empíricas da atuação do ouro como valor refúgio ou hedge diante de desvalorizações cambiais numa carteira composta exclusivamente por moeda.

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