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Gojchbarg Chozjajsivennoe pravo p 5.

CAPÍTULO III RELAÇÃO E NORMA

78. Gojchbarg Chozjajsivennoe pravo p 5.

ilimitado na vida econômica prejudica os interesses do conjunto; mesmo nos países que não presenciaram uma revolução proletária existem numerosas instituições onde se misturam os domínios do di­ reito privado e do direito público e, finalmente, entre nós, onde a atividade econômica está concentrada principalmente nas mãos dos organismos do Estado, a delimitação do conceito de Direito Civil com relação, aos outros conceitos já não tem sentido. Parece-nos que tal argumentação apóia-se em toda uma série de mal-entendidos. A esco­ lha de uma ou de outra direção na política prática não é determi­ nante com relação aos fundamentos teóricos da distinção entre os diversos conceitos. Deste modo, por exemplo, podemos estar convic­ tos de que a edificação das relações econômicas sobre a base das relações de mercado tem inúmeras conseqüências desastrosas. Porém, isso não implica que a distinção entre os conceitos de "'valor de uso” e de "valor de troca” seja teoricamente inconsistente. Em se­ gundo lugar, a afirmação (que por sinal nada contém de novo) segun­ do a qual os domínios do direito público e do direito privado se interpenetram, não teria nenhuma espécie de significado se não se pudessem diferenciar estes dois conceitos. Efetivamente, como é que coisas que não têm existência separada se poderiam interpenetrar? As objeções de Gojchbarg têm fundamento na idéia de que as abstrações de direito público” e de "direito privado", não são o fruto de um desenvolvimento histórico, mas simplesmente o produto da imagina­ ção dos juristas. Contudo, é justamente esta oposição que se apresenta como a propriedade característica da forma jurídica como tal. A sepa­ ração do direito em direito público e em direito privado caracteriza esta forma jurídica, tanto do ponto de vista lógico como do ponto de vista histórico. Se negamos esta oposição, de modo algum nos ele­ varemos acima daqueles juristas práticos "retrógrados", mas, ao con­ trário, seremos coagidos a servirmo-nos daquelas mesmas definições formais e escolásticas com as quais eles operam.

O conceito de ''direito público” não pode, ele próprio, desenvol- ver-se a não ser em seu movimento: aquele mediante o qual ele é continuamente repelido do direito privado, enquanto tende a determi­ nar-se como 0 seu oposto e através do qual regressa a ele como o seu centro de gravidade.

A tentativa inversa, ou seja, a tentativa para encontrar as defi­ nições fundamentais do direito privado, que não são outras a não ser as definições do direito em geral, partindo do conceito de norma, somente pode gerar construções inertes e formais que, além disso, não estão isentas de contradições internas. O direito, como função, deixa de ser direito, do mesmo modo que a permissão jurídica sem 0 interesse privado que a sustenta se transforma em qualquer coisa

de inconcebível, de abstrato, que facilmente se transforma por sua vez no seu contrário, isto é, em obrigação (todo o direito público é, efetivamente, ao mesmo tempo, uma obrigação). Do mesmo modo como é simples, compreensível e '’'naturar' o ''direito do credor” à restituição da dívida, também é precário, problemático e ambíguo, digamos, o "'direito" do parlamento a votar o orçamento. Se, no Direito Civil, os litígios são tratados no plano daquilo a que Ihering costu­ mava chamar de sintomatologia jurídica, é o fundamento da própria jurisprudência que aqui é posto em dúvida. Nisto consiste a origem das hesitações e das incertezas metodológicas que ameaçam transfor­ mar a jurisprudência, seja em Sociologia seja em Psicologia.

Alguns dos meus críticos, por exemplo, Razumovskij e T. irinskij acreditaram, ao que tudo indica, com base nos desenvolvi­ mentos precedentes, que eu me tinha fixado a tarefa "de construir uma teoria da jurisprudência pura'". Em conseqüência disso, irinskij chega à conclusão de que este objetivo não foi atingido. Escreve ele: "o autor produziu uma teoria do direito que em sua essência é socio­ lógica, ainda que tenha tido a intenção de a construir como jurispru­ dência pura”

Quanto a Razumovskij, mesmo que ele não exprima nenhuma opinião precisa sobre meus objetivos, atribui-me, no entanto, a inten­ ção acima mencionada, que censura muito severamente: “o seu (isto é, 0 meu, E. P.) receio de ver as investigações metodológicas trans­ formarem a jurisprudência em Sociologia ou em Psicologia demonstra apenas que existe uma compreensão insuficiente do caráter da análise marxista”. "Isto é ainda mais estranho, surpreende-se o meu crítico, que o próprio Pachukanis vê uma certa discordância entre a verdade sociológica e a verdade jurídica e sabe que a concepção jurídica é uma concepção unilateral” Isto é, efetivamente, estranho. Por um lado, receio que a jurisprudência se transforme em Sociologia; por outro lado, reconheço que a concepção jurídica é uma concepção "unilateral" De um lado, quero produzir uma teoria da jurisprudên­ cia pura; por outro, concluo que produzi uma teoria sociológica do direito. Como resolver essa contradição? A solução é muito simples. Enquanto marxista não me obriguei a construir uma teoria da juris­ prudência pura e sequer poderia, como marxista, fixar-me semelhante tarefa. Desde o princípio estava perfeitamente consciente do objetivo a que, segundo a opinião de irinskij, teria chegado inconscientemen­ te. Este objetivo era o de dar uma interpretação sociológica da forma jurídica e das categorias específicas que a exprimem. Foi justamente por isso que ao meu livro dei o subtítulo de "Ensaio de crítica dos

7 9 . Vestnik Kommunnisticeskoj Akademii, v. VIII.

conceitos jurídicos fundamentais" Contudo, minha tarefa teria sido totalmente absurda se não tivesse reconhecido a existência desta mes­ ma forma jurídica e se tivesse rejeitado as categorias que a exprimem como elucubrações desnecessárias.

Quando censuro a precariedade e a inadequação das construções jurídicas no domínio do direito público ao falar das hesitações e das incertezas metodológicas que tentam transformar a jurisprudência ou em Sociologia ou em Psicologia, é estranho pensar que eu queira precaver-me contra a tentativa de uma crítica sociológica da juris­ prudência sob o ponto de vista marxista.

Tal precaução dirigir-se-ia, então, em primeiro lugar, contra mim mesmo. As linhas que provocaram a surpresa de Razumovskij e que ele explica pela minha insuficiente compreensão do caráter da análise marxista, dizem respeito às conclusões da jurisprudência burguesa, a qual perde confiança na estrutura das suas concepções desde que (em largo sentido), ela se afasta da relação de troca. Talvez eu devesse ter mostrado mediante uma citação explícita que esta frase que diz respeito '’ ao perigo que ameaça a jurisprudência" constitui uma alu­ são às lamentações de um filósofo burguês do direito. E tais lamen­ tações não se referem certamente à crítica marxista, uma vez que esta não inquietava ainda os espíritos dos "juristas puros" de então, mas às próprias tentativas da jurisprudência burguesa visando mas­ carar a estreiteza do seu próprio método através de empréstimos pe­ didos à Sociologia e à Psicologia. Porém, nem me passou pela cabeça que, pelo fato de recorrer a tais medidas de precaução, se pudesse ver em mim um ‘'jurista puro" de alma modificada pelas ameaças que a crítica marxista impõe sobre a jurisprudência.

CAPITULO IV