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O “GRANDE ORIENTE ESTADOAL DO PARANÁ”

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 95-100)

PARTE III – A MAÇONARIA NO PARANÁ

3.3. O “GRANDE ORIENTE ESTADOAL DO PARANÁ”

A experiência de alguns anos da existência da Delegacia do Grande Oriente do Brasil no Paraná provavelmente fez com que os maçons do Estado enxergassem os benefícios de uma organização independente, com propósito expansionista e que pudesse expedir os materiais necessários à atividade maçônica. Portanto, a autonomia surgia como um caminho interessante, experimentado e que poderia

obter algum êxito. Neste sentido surgiram as primeiras reuniões destinadas à fundação do Grande Oriente Estadoal do Paraná, uma potência maçônica independente, mas contendo integrantes e lojas oriundas da então Delegacia do GOB no Paraná. Em suma: este “Novo Oriente Estadoal” surgia com o objetivo de consolidar a autonomia e os interesses dos membros da maçonaria do Paraná.

Os maçons da futura potência participaram de um congresso no Rio de Janeiro de 07 de janeiro de 1925 e lá se deu início aos preparativos para a fundação do Grande Oriente Estadoal do Paraná. Em 21 de abril do mesmo ano, Petit Carneiro (na época Delegado do GOB-Paraná) enviou uma correspondência para que os Veneráveis Mestres (Presidentes) das lojas maçônicas de Curitiba se reunissem em sua residência no dia 26 do mesmo mês. Outra reunião ocorreu em Setembro, no mesmo local (ZUCOLI, 2001).

O anúncio de jornal, inclusive, cita as lojas participantes da futura potência maçônica do Paraná: Fraternidade Paranaense, Luz Invisível, Unione e Fratellanza, Acácia, Garibaldi, Concórdia, Cardoso Júnior e 27 de dezembro. Ainda há a indicação de que as capitais que possuíssem ao menos cinco lojas poderiam se reunir em torno de um Grande Oriente estadual, apontando-nos a premissa regulamentar do GOB utilizada pelas lojas para que houvesse a criação do mesmo (SPOLADORE, 2007).

Além disso, o Orador da Loja Luz Invisível, Dario Persiano de Castro Vellozo, providenciou uma correspondência para as demais lojas maçônicas de Curitiba, a com o intuito de demonstrar os benefícios que a maçonaria paranaense poderia alcançar a partir da fundação da potência, algo inédito para as estruturas do Grande Oriente do Brasil na época.

Figura 5. Anúncio de jornal noticiando a reunião de janeiro na capital federal (Rio de Janeiro)

Fonte: Jornal "O Dia", 3 de abril de 1925, sexta feira, p. 4

Uma nova reunião alusiva à fundação do Grande Oriente Estadoal do Paraná ocorreria em 09 de novembro de 1925 e, finalmente, aos dezesseis dias do mesmo mês, há a aprovação por unanimidade para a criação da referida “potência”

maçônica. Após a fundação, dois decretos foram publicados no mês de outubro de 1927 reconhecendo a existência do referido Grande Oriente. O primeiro deles (nº 878, de 19 de outubro de 1927), de autoria do então Grão-Mestre geral do Grande Oriente do Brasil, Octávio Kelly, acata a criação do mesmo, mediante pedido das lojas maçônicas do Paraná; o segundo (nº 879, da mesma data do anterior), fixa o dia 03 de dezembro como data para que as lojas maçônicas integrantes do Grande Oriente Estadoal realizassem eleições, visando escolher os representantes para a Assembleia Estadual do mesmo (ZUCOLI, 2001).

Um relevante destaque é dado relativo à edição de 1 de maio de 1928 do jornal “A Gazeta do Povo”, retratando a história da maçonaria no Paraná e os avanços obtidos desde sua fixação no território:

A INSTALLAÇÃO, HOJE, DO GRANDE ORIENTE DO PARANÁ Um pouco de historia da Maçonaria Paranaense

Installa-se hoje, solemnemente, nesta Capital, o Grande Oriente do Paraná.

A organização de Orientes Estadoaes confederados é permittida pela Constituição da Maçonaria Brasileira, desde que, em um Estado, existam, no mínimo, 21 Lojas em plena actividade.

E, por isso a installação de hoje, exprime com serena, mas incisiva eloquencia, o incessante e surpeendente progresso da multi-secular instituição de Hiram em terras paranaenses.

Não deixa de ser, com effeito, consoladora surpreza tão notavel desenvolvimento quando, ao contrario do que se fazia supor pela premencia das circunstancias ambiente, ella parecia em tacito e largo esmorecimento.

Não é mysterio que, este Estado, acaba de passar por uma phase de verdadeira compreensão a (ilegível ) Universal Ordem dos franco-maçons, a qual o Brasil deve os mais assignalados serviços em toda sua historia polico-social. - Ostentava e implacavelmente hostilisada, como todo e todos que discrepassem do fanatismo religioso do ex-presidente deste Estado, a Maçonaria Paranaense, com animo inquebrantavel dos que sabem cumprir o seu dever, correspondia á intolerancia governamental com a pertinencia silenciosa de sua acção fecunda, arregimentando proselytos, disciplinando o exercito do Bem e desdobrando mais amplo o pallio de sua discreta filosofia. (A GAZETA DO POVO, 1928).

Em outro trecho da referida matéria jornalística, há a citação de integrantes da instituição da época:

O SEGREDO DA MAÇONARIA . . .

Acampanhando a evolução social, a Maçonaria, apezar da venerabilidade de suas tradições, não hesita em acceitar praxes e ceremonias rituaes postas ao nível da mentalidade contemporanea.

Assim, identificada com o organismo social possue, como elle, armas de defeza - as intrinsecas virtudes vitaes que inutilizam os elementos nocivos, cujos olhos jamais conseguem passar por sobre os proprios interesses.

Eis o segredo pelo qual a Maçonaria prospera sempre e a prova inconcussa é a inauguração de hoje.

Diante do Grande Oriente do Paraná, em penhor de brilhante exito, estão velhos e dedicados legionarios de Hiram, como sejam o dr. Petit Carneiro que empunha com serenidade e ponderação, o malhete de Grão Mestre; o professor Dario Vellozo, o cel. José Carvalho, o cel. Euclides Bandeira, o cel. Francisco Simas e o cel. Isaias Miranda e outros denotados paladinos do livre pensamento. (A GAZETA DO POVO, 1928).

Na aludida data da publicação do jornal houve a posse das autoridades maçônicas do Grande Oriente Estadoal do Paraná. A sessão de posse ocorreu às 20 horas, no templo da loja Fraternidade Paranaense, situada na Praça Zacharias, onde atualmente encontra-se o templo da loja Dário Vellozo, no edifício Acácias, nº 46 – 2º andar. Zucoli (2001) relata que o então maçom Dário Vellozo se fez presente

na posse, comentando o fato ocorrido. Neste mesmo templo, o Grande Oriente Estadoal fez sua sede, proporcionando expediente diário para atendimento de interesse maçônico.

A foto abaixo é de 1932 e retrata a fachada do edifício-sede:

Figura 6. Sede do Grande Oriente Estadoal do Paraná

Fonte: ZUCOLI, 2001.

O eleito para o Grão-Mestrado foi Affonso Alves de Camargo (1873-1958)45, que possui carreira na política paranaense. Natural de Guarapuava, mudou-se jovem para Curitiba, sendo promotor público e professor de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Foi Governador do Estado do Paraná entre 1916 e 1920, passando posteriormente um período como Deputado Federal (1921-1922) e Senador (1922-1928), retornando ao governo entre 1928 e 1930. Muito possivelmente por conta do retorno das atividades como Governador do Estado, Camargo não assumiu o Grão-Mestrado, deixando para que o adjunto eleito (uma espécie de vice grão-mestre) assumisse o mandato – no caso Abdon Petit Guimarães Carneiro46, ou simplesmente Petit Carneiro (ZUCOLI, 2001).

A trajetória de Petit Carneiro perpassa basicamente entre os municípios de Paranaguá (local de nascimento) e Curitiba. Médico, Petit atuava na seara

45 Objeto de análise das publicações do Núcleo de Estudos Paranaenses, como os casos de Oliveira

(2001); Alves (2014); Goulart (2014)

46 Filho de Delfica Guimarães, era neto do Visconde de Nácar (CARNEIRO JÚNIOR, 2014, p. 158)

epidemiológica e morou em São Paulo durante um período e, retornando a Paranaguá, foi iniciado na loja Luz e Perseverança em 28 de abril de 1900. Carneiro era primo de Joaquim Américo Guimarães, um dos fundadores do Clube Atlético Paranaense47 e auxiliou, em 1912, na fundação da Universidade Federal do Paraná48.

Entretanto, o percurso do Grande Oriente Estadoal do Paraná não durou muito. Em 01 de Agosto de 1932, o então Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, Octávio Kelly, assinou um decreto de extinção daquele organismo maçônico, sob a justificativa de que aproximadamente 75% (setenta e cinco por cento) das lojas maçônicas do Paraná passaram à subordinação do poder central (ZUCOLI, 2001).

Assim, sem a manutenção de lojas maçônicas jurisdicionadas a presença de uma potência maçônica estadual também passava a não se justificar.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 95-100)