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6 – Héstia: deusa da lareira e do templo, mulher sábia e solteirona

No documento As Deusas e a Mulher.pdf (páginas 92-110)

A deusa Héstia

Héstia era a deusa da lareira, ou, mais especificamente, do fogo queimando numa lareira redonda. E a menos conhecida dos deuses olímpicos. Héstia e sua equivalente romana, Vesta, não foram representadas em forma humana por pintores ou escultores. Ao contrário, esta deusa se fazia representar pela chama viva no centro do lar, do templo e da cidade. O símbolo de Héstia era um círculo. Suas primeiras lareiras eram redondas, assim como seus templos. Nem o lar nem o templo ficavam santificados até que Héstia entrasse. Ela santificava ambos os lugares quando estava lá. Héstia era tanto uma presença espiritual como um fogo sagrado que proporcionava iluminação, calor e aquecimento para o alimento.

Genealogia e mitologia

Héstia era a filha primogênita de Réia e Crono, a irmã mais velha da primeira geração de deuses olímpicos, e a solteirona da segunda. Por direito de primogenitura, era uma das doze deusas olímpicas principais, mas não podia ser encontrada no monte Olimpo, e não fez nenhum protesto quando Dioniso, deus do vinho, cresceu em proeminência e a substituiu como uma das doze. Por não tomar parte nos romances e guerras que então ocupavam a mitologia grega, é a menos conhecida dos principais deuses e deusas gregas. Contudo, foi grandemente honrada, recebendo as melhores ofertas feitas pelos mortais aos deuses.

A breve mitologia de Héstia é esboçada em três hinos homéricos. Ela é descrita como "aquela virgem venerável, Héstia", uma das três que Afrodite é incapaz de dominar, persuadir, seduzir, ou ainda "provocar nela um desejo de prazer".1

Afrodite induziu Posídon, deus do mar, e Apolo, deus do sol, a se apaixonarem por Héstia. Ambos a queriam, mas Héstia recusou-os firmemente, prestando solene juramento de que permaneceria virgem para sempre. Então, conforme o "Hino a Afrodite" explica "Zeus lhe concedeu um bonito privilégio, ao invés de um presente de casamento: ela tem seu lugar no centro da casa para receber o melhor em ofertas. E honrada em todos os templos dos deuses, e é uma deusa venerada por todos os mortais."2 Os dois hinos homéricos a Héstia são invocações, convidando-a a entrar em casa ou no templo.

Rituais e cultos

Ao contrário dos outros deuses e deusas, Héstia não era conhecida através de seus mitos e representações. Ao contrário, a importância de Héstia é encontrada em rituais, simbolizada pelo fogo. Para que uma casa se tornasse um lar, a presença de Héstia

1

"The Hymn to Aphrodite I", in Homeric Hymns. Spring, Irving, Texas, 1979, p. 70.

era solicitada.3 Quando um casal se unia, a mãe da noiva acendia uma tocha em sua casa e a transportava diante do casal recentemente casado até sua nova casa, para que acendessem a primeira chama em seu lar. Esse ato consagrava o novo lar. Depois que uma criança nascia, acontecia um segundo ritual. Quando a criança tinha cinco dias de idade, era levada ao redor da lareira para simbolizar sua admissão na família. Então seguia-se um festivo banquete sagrado.

Da mesma forma, cada cidade-estado grega tinha uma lareira comum com um fogo sagrado no edifício principal, onde os convidados se reuniam oficialmente. Cada colônia levava o fogo sagrado de sua cidade natal para acender o fogo da nova cidade.

Portanto, onde quer que um novo casal se aventurasse a estabelecer um novo lar, Héstia vinha com eles com o fogo sagrado, ligando o lar antigo com o novo, talvez simbolizando continuidade e ligação, consciência compartilhada e identidade comum. Posteriormente, em Roma Héstia foi venerada como a deusa Vesta. Lá o fogo sagrado de Vesta uniu todos os cidadãos de Roma numa família. Em seus templos, o fogo sagrado era cuidado pelas virgens vestais, que eram solicitadas a personificar a virgindade e a onimidade da deusa. Em certo sentido, elas eram representações humanas da deusa; eram imagens vivas de Héstia, transcendendo a escultura ou pintura.

As meninas escolhidas para serem virgens vestais eram levadas ao templo quando eram bem jovens, em geral com menos de seis anos. Vestidas de forma igual, o cabelo aparado como novas iniciadas, o que quer que fosse distinto e individual quanto a elas era apagado. Eram deixadas à distância de outras pessoas, honradas, e esperava-se que vivessem como Héstia, com terríveis conseqüências se não permanecessem virgens.

Uma virgem vestal que tivesse relações sexuais com um homem tinha profanado a deusa. Como punição ela devia ser enterrada viva, sepultada numa área pequena e sem ar no subsolo, com luz, óleo, alimento e um lugar para dormir. A terra acima dela seria então nivelada, como se nada estivesse embaixo. Portanto, a vida de uma virgem vestal como personificação da chama sagrada de Héstia era extinta quando ela parava de personificar a deusa. Era coberta com terra como o carvão que se extingue numa lareira.

Héstia era freqüentemente parceira de Hermes, o deus mensageiro, conhecido pelos romanos como Mercúrio. Ele era uma divindade eloqüente e astuciosa, protetor e guia dos viajantes, deus do discurso e patrono dos homens de negócio e dos ladrões. Sua representação primitiva foi uma pedra em forma de pilar chamada de "hérnia". Nas casas, a lareira redonda de Héstia ficava no interior, enquanto o pilar fálico de Hermes ficava na entrada. O fogo de Héstia proporcionava calor e santificava a casa, enquanto Hermes permanecia à porta para trazer a fertilidade e manter fora o mal. Nos templos, essas divindades também apareciam ligadas. Em Roma, por exemplo, o santuário de Mercúrio ficava à direita dos degraus que conduziam ao templo de Vesta.

Portanto, nos lares e templos Héstia e Hermes estavam relacionados, mas separados. Cada um desempenhava uma função separada, altamente considerada. Héstia ministrava o santuário, onde as pessoas se uniam numa família, lugar considerado lar. Hermes era o protetor na porta, e o guia e companheiro no mundo, onde a comunicação, o saber se virar e ter boa sorte fazem muita diferença.

O arquétipo Héstia

A presença da deusa Héstia em casa e no templo era fundamental para a vida diária. Como presença arquetípica na personalidade da mulher, Héstia é da mesma forma importante, proporcionando-lhe sentimento de integridade e inteireza.

A deusa virgem

Héstia era a mais velha das três deusas virgens. Ao contrário de Ártemis e Atenas, ela não se aventurava pelo mundo para explorar a selva ou fundar uma cidade. Ficava dentro de casa ou do templo, encerrada dentro da lareira. Exteriormente, a anônima Héstia parecia ter pouco em comum com a ágil Ártemis ou com Atenas, de mente viva e couraça de ouro. Apesar disso, as qualidades essenciais e intangíveis eram compartilhadas por todas as três deusas virgens, embora com diferentes esferas de interesse ou métodos de ação. Cada uma tinha a qualidade de uma-em-si-mesma que caracteriza uma deusa virgem. Nenhuma delas era vitimada pelas divindades masculinas ou pelos mortais.

Cada uma tinha habilidade de enfocar aquilo que lhe interessava e de se concentrar nisso sem ser perturbada pelas necessidades dos outros ou pela necessidade de outros.

Consciência enfocada interiormente

O arquétipo de Héstia compartilha a consciência enfocada com as outras três deusas virgens (em latim a palavra para "lareira" éfocus). Contudo, a direção interior do foco é diferente. Exteriormente orientadas, Ártemis ou Atenas enfocam alcançar objetivos ou implementar planos. Héstia se concentra em sua experiência interior subjetiva. Por exemplo, ela fica totalmente absorvida quando medita.

O modo de aprender de Héstia é olhar para o interior e sentir intuitivamente o que está se passando. O modo hestiano nos permite entrar em contato com nossos valores trazendo ao foco o que é pessoalmente significativo. Através desse enfoque interior, podemos perceber a essência da situação. Podemos também obter insight do temperamento de outras pessoas e ver o padrão ou sentir o significado de suas ações. Essa perspectiva interior proporciona clareza no meio da confusa miríade de detalhes que se apresentam aos nossos cinco sentidos.

A Héstia interior pode também se tornar emocionalmente imparcial ou perceptivamente desatenta aos outros ao seu redor enquanto atende a seus próprios interesses. Esse desligamento é característica de todas as três deusas virgens. Além do mais, acrescentada à sua tendência de retirar-se da companhia dos outros, a unicidade em-si-mesma de Héstia procura calma tranqüilidade, e isso é mais facilmente encontrado na solidão.

A protetora da lareira

Como deusa da lareira, Héstia é o arquétipo ativo nas mulheres que acham que tomar conta de casa é atividade significativa e não tanto uma tarefa. com Héstia, proteger a lareira é um meio através do qual a mulher coloca a si mesma e sua casa em ordem. A mulher que adquire um sentimento de harmonia interior conforme executa as tarefas diárias está em comunicação com esse aspecto do arquétipo de Héstia.

Cuidar dos detalhes do lar é uma atividade fundamental, equivalente à meditação. Se ela estiver articulada com seu processo interior, a mulher tipo Héstia pode escrever um livro intitulado Zen and the Art of Housekeeping (Zen e a Arte de Cuidar da Casa). Ela faz as tarefas do lar porque estas em si mesmas lhe importam, e porque lhe agrada fazê-las. Ela obtém paz interior vinda daquilo que está fazendo, como a mulher numa ordem religiosa, para quem toda atividade é feita "para o serviço de Deus". Se Héstia é o arquétipo, quando ela termina suas tarefas sente-se bem interiormente. Ao contrário, Atenas tem um sentimento de realização, e Ártemis fica simplesmente calma quando uma tarefa está terminada, livrando-a de fazer alguma coisa mais.

Quando Héstia está presente, a mulher empreende suas tarefas no lar com sensação de que há bastante tempo. Não fica com o olho no relógio, porque não tem horário nem precisa bater cartão. Conseqüentemente, ela está no que os gregos chamam de tempo kairó - ela está "participando no tempo", o que é psicologicamente nutritivo, como quase todas as experiências em que perdemos a noção do tempo. Conforme põe em ordem a lavanderia, lava as louças e limpa a desordem, ela sente uma absorção sem pressa e pacífica em cada tarefa.

As protetoras da lareira permanecem em segundo plano, mantendo o anonimato. São muitas vezes tomadas por garantidas e não são personalidades colunáveis ou famosas.

A protetora do templo

O arquétipo de Héstia desenvolve-se em comunidades religiosas, principalmente nas que cultivam o silêncio. As ordens católicas contemplativas e as religiões orientais cuja prática espiritual se baseia na meditação proporcionam bons ambientes para as mulheres tipo Héstia.

As virgens vestais e as freiras compartilham o padrão arquetípico de Héstia. As jovens que ingressam nos conventos desistem de suas identidades antecedentes. Seus nomes de batismo são mudados e seus sobrenomes não são mais usados. Vestem-se da mesma forma lutam para serem abnegadas, vivem vidas celibatárias, e dedicam a vida ao serviço religioso.

Como as religiões orientais atraem cada vez mais os ocidentais, as mulheres que personificam Héstia podem ser encontradas em locais de retiro religioso e conventos. Ambos os lugares dão enfoque interior fundamental à oração e à meditação. Dão enfoque secundário à proteção da comunidade ou à direção da casa, que é feita com a atitude de que também esta tarefa é uma forma de culto.

Em muitos templos as Héstias são também mulheres anônimas que discretamente participam da devoção diária e dos rituais de direção da casa de suas comunidades

religiosas. Mulheres notáveis membros dessas comunidades combinam Héstia com outros fortes arquétipos. Por exemplo, a mística santa Teresa de Ávila, notável por seus arrebatadores escritos, combinava um aspecto de Afrodite com Héstia. Madre Teresa, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz, parece uma combinação da maternal Deméter com Héstia. As madres superioras que são espiritualmente motivadas, administradoras efetivas têm usualmente traços de Atenas junto com os de Héstia. Os aspectos da casa e do templo de Héstia vêm juntos quando os rituais religiosos são observados no lar. Héstia poderia ser vislumbrada, por exemplo, quando se observa a mulher judaica preparar o Seder. Enquanto põe a mesa ela fica envolvida num trabalho sagrado, um rito tão significativo quanto o intercâmbio silencioso entre um coroinha e o sacerdote durante a missa católica.

A sábia anciã

Como mulher mais velha da primeira geração de deuses olímpicos e solteirona da segunda geração, Héstia ocupou a posição de honrada anciã. Ela permaneceu acima ou fora das intrigas e rivalidades de seus parentes e evitou ser apanhada em paixões de momento.

Quando esse arquétipo está presente na mulher, os acontecimentos não têm o mesmo impacto nela como em outras pessoas. Com Héstia como presença interior, a mulher não fica "ligada" às pessoas, às conseqüências, posses, prestígio ou poder. Sente-se completa como é. Seu ego não está em jogo. Pelo fato de sua identidade não ser importante ela não fica ligada às circunstâncias externas. Ela portanto não se torna exultante ou arrasada pelo que acontece. Ela tem a liberdade interior dos desejos corriqueiros, a libertação da ação e do sofrimento, a libertação da compulsão interior e exterior, por uma graça de senso, uma luz branca tranqüila e em movimento (T.S. Eliot, The Four Quartets)4

O desligamento de Héstia dá a esse arquétipo uma qualidade de "mulher sábia". Ela é como uma pessoa idosa que tudo viu, e passou por isso com seu espírito não abafado e com o temperamento moderado pela experiência.

A deusa Héstia era honrada nos templos de todas as outras deusas. Quando Héstia compartilha o "templo" ou a personalidade com outras deusas/arquétipos, ela estabelece sua sábia perspectiva em seus objetivos e propósitos. A mulher tipo Hera, portanto, que reage com sofrimento ao descobrir a infidelidade de seu companheiro, não é tão vulnerável se ela também tiver Héstia como um arquétipo. Os excessos de todos os outros arquétipos são também melhorados pelo conselho sábio de Héstia, uma presença sentida que comunica uma verdade ou oferece insight espiritual.

O si-mesmo: centralização interior, iluminação espiritual e significado

Héstia é um arquétipo de centralização interior. Ela é "ponto tranqüilo" que dá significado à atividade, o ponto de referência interior que permite à mulher permanecer firme no meio da confusão, desordem ou afobação do dia-a-dia. Com Héstia em sua personalidade, a vida de uma mulher tem significado.

4 T. S. Eliot, Four Quartels. Harcourt Brace Jovanovich, New York (sem data; originalmente

A lareira redonda de Héstia com um fogo sagrado no centro é uma forma de mandala, uma imagem usada na meditação e que é um símbolo de integridade ou de totalidade. Sobre o simbolismo da mandala, Jung escreve: Seu tema básico é a premonição de um centro da personalidade, uma espécie de ponto central no interior da psique, com o qual todas as coisas estão relacionadas, pelo qual tudo é ordenado, e que é em si mesmo uma fonte de energia. A energia do ponto central se manifesta como quase irresistível compulsão e necessidade de se tornar o que alguém é, exatamente como todo organismo é impelido a assumir a forma que é característica de sua natureza, não importando quais as circunstâncias. Tal centro não é sentido ou pensado como o ego, mas, se alguém puder expressá-lo, como o si-mesmo.5

O si-mesmo é o que nós experienciamos interiormente quando sentimos afinidade com a unicidade que nos liga à essência de cada coisa fora de nós. Nesse nível espiritual, a "conexão" e o "desligamento" são, paradoxalmente, o mesmo. Quando nós nos sentimos em contato com uma força interior de calor e luz, metaforicamente aquecidos e iluminados, por um fogo espiritual, o "fogo" aquece aqueles que amamos em nossos lares e nos mantém em contato com os outros que estão distantes.

O fogo sagrado de Héstia era encontrado na lareira da família e no interior dos templos. A deusa e o fogo eram um, unindo famílias com famílias e cidades-estado com colônias. Héstia era o elo de conexão espiritual entre todos eles. Quando este arquétipo proporciona centração espiritual e conexão lógica com os outros, ele é uma expressão do si-mesmo.

Héstia e Hermes: dualidade arquetípica

O pilar e o anel em forma de círculo representam os princípios masculino e feminino. Na Grécia antiga o pilar era o "hérnia" que ficava do lado de fora da casa representando Hermes, enquanto a lareira redonda no interior simbolizava Héstia. Na índia e em outras partes do leste, o pilar e o círculo ficam "copulados". O lingam, ou símbolo fálico, penetra o yoni ou anel feminino, o qual se estende sobre ele como num jogo infantil de arremesso de argolas. Lá o pilar e o círculo juntavam-se, enquanto os gregos e os romanos conservavam esses mesmos dois símbolos de Hermes e Héstia relacionados, mas à parte. Para enfatizar mais essa separação, Héstia é uma deusa virgem que nunca será penetrada, como também a mais velha deusa olímpica. Ela é tia solteirona de Hermes considerado como o mais jovem deus olímpico - uma união altamente improvável.

Desde os tempos gregos as culturas ocidentais têm enfatizado a dualidade, uma divisão ou diferenciação entre masculino e feminino, mente e corpo, logos e eros, ativo e receptivo, que depois se tornaram valores superiores e inferiores, respectivamente. Quando Héstia e Hermes eram ambos honrados nos lares e templos, os valores femininos de Héstia eram os mais importantes, e ela recebia as mais altas honras. Na época havia uma dualidade complementar. Héstia desde então foi desvalorizada e esquecida. Seus fogos sagrados não são mais cuidados e o que ela representa não é mais honrado.

Quando os valores femininos de Héstia são esquecidos e desonrados, a importância do santuário interior, interiorização para encontrar significado e paz, e da família como santuário e fonte de calor ficam diminuídos ou são perdidos. Além disso, o sentimento de uma ligação básica com os outros desaparece, como desaparece também a necessidade dos cidadãos de uma cidade, país ou da terra se ligarem por um elo espiritual comum.

Héstia e Hermes: misticamente relacionados

Num nível místico, os arquétipos de Héstia e de Hermes se relacionam através da imagem do fogo sagrado no centro. Hermes-Mercúrio era o espírito alquímico Mercúrio, imaginado como fogo elementar. Tal fogo era considerado a fonte do conhecimento místico, simbolicamente localizado no centro da Terra.

Héstia e Hermes representam idéias arquetípicas do espírito e da alma. Hermes é o espírito que põe fogo na alma. Nesse contexto, Hermes é como o vento que sopra a brasa no centro da lareira, fazendo-a acender-se. Do mesmo modo, as idéias podem excitar sentimentos profundos, ou as palavras podem tornar consciente o que foi inarticuladamente conhecido e iluminado o que foi obscuramente percebido.

Cultivando Héstia

Héstia pode ser encontrada na calma solidão e sentimento de ordem que advêm da "manutenção contemplativa da casa". Desse modo, a mulher pode ficar totalmente absorvida em cada tarefa, sem pressa de fazê-la e com tempo para apreciar a harmonia resultante. Até a mais não-hestiana dona de casa pode usualmente rememorar tempos em que ela era governada por esse arquétipo. Por exemplo, tomar um dia para limpar um guarda-roupa pode envolver pôr fora de uso e guardar roupas, lembrando e antecipando eventos, pondo em ordem ambos, tanto os pertences como a si mesma. No final, a dona de casa fica com o guarda-roupa organizado, que reflete quem ela é e um dia bem aproveitado. Ou a mulher pode experimentar Héstia no prazer e satisfação de lidar com fotografias velhas, separando, colocando legendas e pondo-as num álbum.

As mulheres que não são do tipo Héstia podem decidir passar o tempo "com Héstia" - o aspecto interior, quieto, centrado de si mesmas. Para fazer isso, elas devem conquistar e achar espaço, especialmente se forem mulheres dirigidas para os outros, cujas vidas transbordam de atividades e relacionamentos, que não só se orgulham, mas também se queixam do fato de que "nunca têm um momento de paz".

Convidar Héstia para tomar parte das tarefas diárias da casa, quando ela usualmente não está presente, começa com o intento de mudar uma atitude hestiana. Depois de se decidir por uma tarefa a mulher deve proporcionar amplo tempo para ela. Por exemplo, dedicar-se à lavanderia é uma tarefa repetitiva para muitas mulheres que se apressam e se sentem disputadas. Adotando o modo de Héstia, a mulher pode dar boas-vindas à oportunidade de dobrar roupas como tempo empregado para aquietar

No documento As Deusas e a Mulher.pdf (páginas 92-110)