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3.2 Os tipos de abordagens nas pesquisas em História da Educação Matemática

3.1.2 História e Memória

O segundo item da nossa categorização constitui-se na abordagem História e Memória. Neste momento, as informações que inserimos foram caracterizadas pela análise de documentos de diferentes formas de produção da história. Conservam-se certas informações, propriedade que se refere a um conjunto de funções que permite o indivíduo atualizar impressões ou informações passadas, ou reinterpretadas como passadas. Assim, a memória alicerça a História, confundindo-se com o documento, com o monumento e com a oralidade (LE GOFF, 1992).

Além disso, dar-se-á destaque aos estudos que perpassaram os lugares de memória, configurando o cenário da reconstrução de uma época histórica, a preservação da memória, bem como o patrimônio cultural. Vale salientar que a percepção de memória não corresponde ao que conhecemos como História. Na realidade, o que chamamos de memória não é memória, mas implica em História. Essa memória é a tradição vivida e sua eterna atualização é espontânea e afetiva, múltipla e vulnerável. Já a história é o seu contrário, uma operação profana, uma reconstrução intelectual sempre problematizadora que demanda análise e explicação, uma representação sistematizada e crítica do passado (SEIXAS, 2004).

Em conformidade com Nora, o que se chama de memória é, de fato, a constituição do estoque material daquilo que é impossível lembrar, repertório insondável daquilo que poderia ter necessidade de lembrar. Por conseguinte, segundo sua visão teórica, à medida que desaparece a memória tradicional, os indivíduos sentem- se obrigados a acumular vestígios, documentos, imagens, discursos, entre outros.

Desse modo, os lugares de memória, imbuídos por Nora, são lugares que pertencem ao domínio do natural e do artificial, do diretamente oferecido à experiência sensível e, ao mesmo tempo, à abstrata elaborada. Ou seja, são híbridos e mutantes,

intimamente enlaçados de vida e de morte, de tempo e de eternidade (NORA, 1993). Complementando a análise das dissertações e das teses que envolveram esse tipo de abordagem em suas pesquisas, conferimos o estudo de Halbwachs sobre a memória coletiva e História.

De acordo com as informações acima, iniciamos o processo de inserção das produções dentro deste tipo de abordagem, desvelando as principais características que favoreceram para tal inserção. A seguir, mostraremos o quadro 07 que representa todas as dissertações e as teses que conseguimos mapear no território brasileiro.

Quadro 07: relação de dissertações e de teses que envolveram a História e Memória

TÍTULO DA PRODUÇÃO AUTOR INSTITUIÇÃO ANO DE DEFESA NÍVEL

A voz do passado e a memória dos homens: um estudo sobre

os periódicos (1974-1979) antecedentes ao e do BOLEMA - Boletim de Educação matemática (1985- 1994) da Pós-Graduação em educação matemática, do IGCE da UNESP, Campus de

Rio Claro, São Paulo

Ena Nunes da Costa Tassinari

UPM 1999 Mestrado

Três décadas de educação matemática: um estudo de caso

da baixada no período de 1953 – 1980 Gilda Lúcia Delgado Souza UNESP-Rio Claro 1999 Mestrado Os programas de ensino de matemática do Colégio Pedro

II: 1837 – 1932

Josilene

Beltrame PUC-RJ 2000 Mestrado

A sinfonia dos números - Maria Fialho Crusius: uma

vida dedicada à Educação Matemática na UPF Ana Maria Rickziegel Teixeira UPF 2000 Mestrado Os Livros Didáticos de Matemática no Brasil do século XIX Glaucia Márcia Loureiro Costa PUC-RJ 2000 Mestrado Movimento da Matemática Moderna no Brasil: Avanço ou

Retrocesso?

Flávia Soares PUC-RJ 2001 Mestrado Memória, história e formação

de professores: o caso da disciplina Fundamentos da Ana Carolina Bartijotto Paschoalin UNICAMP 2005 Mestrado

Fonte: elaboração própria.

Na sequência, apresentamos uma descrição das dissertações e das teses que compõem o quadro acima, com vista na identificação de elementos que favoreçam para o reconhecimento da produção nesta categoria. Assim, vislumbramos fazer uma leitura dos resumos e texto completo (quando necessário) para traçarmos um panorama geral do corpus dessa categoria.

Assim, a dissertação intitulada de “Memória, história e formação de professores: o caso da disciplina Fundamentos da Metodologia do Ensino de Matemática II”, de Ana Carolina Bartijotto Paschoalin, contemplou sua própria reminiscência quando estudante da disciplina Fundamentos da Metodologia do Ensino de Matemática II, trazendo contribuições acerca dos conhecimentos produzidos por meio da História da

Matemática II

Núcleo de estudo e difusão do ensino de matemática – NEDEM Helenice Fernandes Seara UFPR 2005 Mestrado

História Oral e Educação Matemática: um estudo, um

grupo, uma compreensão a partir de várias versões

Luzia Aparecida de Souza UNESP-Rio Claro 2006 Mestrado A Matemática do curso complementar da Reforma Francisco Campos Maryneusa Cordeiro

Otone e Silva PUC-SP 2006 Mestrado O Projeto Minerva e o desafio

de ensinar matemática via rádio

Márcia Prado

Castro PUC-SP 2007 Mestrado

O papel da imprensa no Movimento da Matemática Moderna Mário Nobuyuki Nakashima PUC-SP 2007 Mestrado

Praça da Matemática: as faces da História na construção de um monumento Augusto Cesar Aguiar Pimentel PUC-SP 2008 Mestrado

Matemática escolar da década de 1970: esquecimento,

abandono gestação ou nascimento

Ivo Pereira

da Silva UFMT 2009 Mestrado

Alguns aspectos sobre a prática docente na década de

1970: o ensino colegial e a disciplina de matemática Regina Thaíse Ferreira Bento PUC-SP 2009 Mestrado

Práticas e discursos: análise histórica dos materiais didáticos no ensino de geometria Cristiani Maria Kusma Rocco UFSC 2010 Mestrado

Matemática. Neste sentido, sua intenção era favorecer o entendimento do uso da história para a formação inicial e continuada de professores.

Dentro do texto, apresentou uma revisão bibliográfica indicando alguns questionamentos sobre o uso da história da matemática que não é utilizada em sala de aula por professores que não conseguem visualizar os benefícios de tal postura para o entendimento dos conceitos matemáticos. Para tanto, mostrou a história na formação de professores de Matemática na Universidade Estadual de Campinas (uma experiência), com depoimentos de professores que lecionaram as disciplinas de História da Ciência I e II, subsidiando a formação de professores de matemática por meio da História da Matemática.

Dessa forma, a produção apoia-se na abordagem história e memória, de modo que a pesquisadora relata o seu envolvimento com a disciplina, caracterizando-a com detalhes. Além disso, a mesma utiliza o espaço da dissertação para elencar todos os elementos que compuseram sua experiência ao lado da professora Maria Ângela Miorim.