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Histórico da inserção da temática ambiental na educação superior brasileira

No documento V.3, N.1 - Edição Impressa (páginas 91-94)

ambiental de revista brasileira

EDUCAçãO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO:

Caminhos percorridos e

perspectivas para políticas públicas

Haydée Torres de Oliveira1

Carmen R. O. Farias2

Alessandra Pavesi3

Resumo

Neste artigo é explorada a inserção da temática ambiental nas instituições de Ensino Superior (IES) a partir de um levantamento bibliográfico sobre o tema e dos resultados de uma pesquisa empírica em caráter piloto realizada pela Rede Universitária de Programas de Educação Ambiental (RUPEA), que visou subsidiar a formulação de políticas públicas.

Introdução

Neste texto, abordaremos a questão da inserção da temática ambiental na educação superior no Brasil, com referência a alguns marcos históricos importantes. Em seguida, discutiremos alguns resultados de uma pesquisa-piloto recém-concluída que procurou identificar elementos indicadores do processo de ambientalização em curso nas IES. A pesquisa em seus propósitos e metodologia parte da premissa de que, para conceber políticas públicas para esse setor, é fundamental conhecer as experiências, os problemas e as vicissitudes das ações de EA já produzidas e em desenvolvimento.

Histórico da inserção da temática ambiental na

educação superior brasileira

Nos últimos anos, assistimos, no Brasil, a proliferação de cursos de graduação e programas de pós-graduação e extensão que apresentam em suas denominações o predicado ambiental ou o termo ambiente. Viola e Leis (1995) atribuem esse fenômeno a um processo que tomou impulso nos anos 80, de institucionalização e profissionalização das organizações ambientalistas, cujo trabalho havia sido até então devotado quase que exclusivamente à denúncia da degradação ambiental e de seus agentes responsáveis.

1 haydee@power.ufscar.br 2 crfarias@yahoo.com.br 3 sandra_pavesi@hotmail.com

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educação ambiental

de revista brasileira A busca de alternativas viáveis de conservação, recuperação e gestão ambiental, novo

propósito que se configurou no horizonte dessas organizações, estimulou o intercâmbio de conhecimentos e influências entre os vários setores que integravam o movimento ambientalista brasileiro, entre os quais a comunidade científica e a acadêmica.

A universidade, em conseqüência foi induzida a redefinir seu papel diante das novas demandas sociais postas pela problemática ambiental, envolvendo-se em um dos maiores desafios da nossa época, que consiste em buscar novas definições para os riscos socioambientais associados ao desenvolvimento das sociedades industriais, e em esclarecer os fundamentos teóricos para a construção de um novo modelo de civilização, isto é, de uma maneira alternativa de pensar o mundo, a relação entre as pessoas e entre a sociedade e a natureza (TOLEDO, 2000).

No Brasil, esse movimento é concomitante à consolidação do campo de conhecimentos da educação ambiental (EA) e à irrupção da temática ambiental nas políticas públicas voltadas à normatização dos mais diversos setores sociais e institucionais, desde o empresarial ao educacional. Na mesma década de 80, o então Ministério da Educação e da Cultura inicia, de fato, uma campanha que visa à inclusão de conteúdos ecológicos a serem explorados nas propostas curriculares das escolas de ensino fundamental e médio e, em 1999, após uma anosa discussão que empenha órgãos governamentais e organizações não-governamentais, o Congresso Nacional promulga a Lei nº 9.795, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Em seu terceiro artigo, a Lei incumbe o Poder Público, atendendo aos artigos 205 e 225 da Constituição Federal, a definir políticas que incorporem a dimensão ambiental e a promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino, e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente.

Apesar de não existirem até hoje políticas públicas especificamente voltadas a regulamentar a inserção da dimensão e da EA na educação superior, não se pode afirmar que a universidade esteja à margem desse processo. Como foi mencionado anteriormente, a ambientalização da educação superior no Brasil vem ocorrendo, de maneira relativamente autônoma, no seio de um movimento global que envolve cada vez mais a sociedade. As particularidades da organização institucional e do próprio conhecimento acadêmico, das relações que a universidade mantém com o Estado e com outros setores da sociedade, de suas funções sociais e culturais representam fatores determinantes da dissociação do movimento para a ambientalização da educação superior do movimento mais amplo de institucionalização da EA.

Já em 1986, a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) havia atentado para a interação entre as agências ambientais estatais e a comunidade científica, por meio dos seminários “Universidade e Meio Ambiente”. A própria Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) atuou como catalisadora tanto da constituição de grupos científicos que abordavam de modo interdisciplinar a problemática ambiental como de posicionamentos políticos que se referiam à questão ambiental (VIOLA; LEIS, 1995).

Os seminários nacionais aos quais nos referimos serviram para promover um fórum de debates entre acadêmicos sobre ensino e pesquisa em matéria de meio ambiente e, pelas experiências apresentadas, foi possível esboçar um primeiro quadro das perspectivas (e dificuldades) para a internalização da temática ambiental nos programas de pós-graduação e graduação das universidades brasileiras. Ainda hoje,

educação ambiental de revista brasileira

“apesar das instâncias aglutinadoras existentes, o setor científico carece ainda de um espaço permanente, de caráter interdisciplinar, que possa canalizar e maximizar corretamente os diversos esforços que se vem realizando” (VIOLA; LEIS, 1995).

A explicitação da necessidade de um espaço de interlocução entre IES levou os inscritos no II Simpósio Estadual sobre Meio Ambiente e Educação Universitária (SÃO PAULO, 1989) a criar uma comissão interinstitucional formada por representantes das principais universidades do estado em articulação com a Coordenadoria de Educação Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente, com o propósito de conjugar esforços para possibilitar a inserção da temática e da educação ambiental nos respectivos programas de estudo e pesquisa. No entanto, até hoje não foram divulgados os resultados produzidos pela comissão, o que nos leva a supor que a iniciativa não tenha obtido êxito.

É nesse contexto histórico, caracterizado pela inexistência de canais e instrumentos de intercâmbio e divulgação das experiências de ambientalização da educação superior, que se constitui a RUPEA, cuja origem se dá na parceria entre três IES, duas do estado da Bahia – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e a Universidade de São Paulo (USP). O convênio de cooperação técnica entre a UESB e a USP teve como resultado a criação de cursos de especialização que visavam construir processos educativos subsidiados no ideário ambientalista - tendo como eixos a pedagogia da práxis, a constituição de comunidades de aprendizagem e a qualificação de conceitos como participação,

sobrevivência e emancipação. Além da formação de agentes locais de sustentabilidade

socioambiental nas regiões de sua abrangência, tais cursos buscavam criar e fortalecer espaços de locução que promovessem a inserção da EA nas ações de pesquisa, ensino e extensão no interior das IES.

Em 2001, em ocasião de uma primeira avaliação das atividades desenvolvidas até aquele momento, apresentou-se a proposta de criação da RUPEA; entre outros objetivos, visava-se à ampliação do diálogo com indivíduos/grupos provenientes de universidades que desenvolviam ações de formação em EA em uma perspectiva convergente.

A partir de então, em encontros realizados entre representantes de diversas universidades públicas e privadas – Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Centro Universitário Moura Lacerda (CUML), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Centro Universitário Fundação Santo André (FSA), Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e Universidade São Francisco (USF) – foi consolidado um conjunto de referenciais que identifica o coletivo como rede, regido por uma carta de princípios.

No V Encontro da RUPEA, que integrou as atividades do V Fórum Brasileiro de EA (Goiânia) realizado em novembro de 2004, foram desenvolvidas várias atividades, entre as quais, a realização do grupo de trabalho “Programas Universitários de EA”, que contou com a participação de 62 representantes de 34 universidades brasileiras. Na ocasião, foi apresentada a proposta de uma pesquisa-piloto a ser conduzida pela RUPEA com o apoio da Coordenadoria-Geral de Educação Ambiental, do Ministério

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educação ambiental

de revista brasileira da Educação. Intitulada Mapeamento da Educação Ambiental em Instituições Brasileiras

de Educação Superior: elementos para discussão sobre políticas públicas (RUPEA, 2005),

a pesquisa foi o resultado da convergência de demandas tanto para a elaboração de diretrizes para a implementação da PNEA quanto de estratégias para consolidação da EA em âmbito universitário.

No documento V.3, N.1 - Edição Impressa (páginas 91-94)