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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

2.9 HISTÓRICO DOS ESTUDOS DAS MINERALIZAÇÕES AURÍFERAS NA REGIÃO DO QF

Minas Gerais é uma das regiões do mundo conhecidas pela produção aurífera, iniciada desde os tempos mais remotos da colonização do país por povos ultramarinhos. Estes recursos minerais impulsionaram os estudos geológicos promovidos pelos mais famosos pesquisadores do seu tempo, ao cargo das monarquias e posteriormente da iniciativa privada.

Castro & Solla (1968) ao historiar a influência portuguesa na mineração brasileira registra que em Sylvio de Abreu há o relato de que ao final do século do descobrimento, foram encontrados os primeiros depósitos de ouro aluvionar, em 1578 na região de Paranaguá no litoral do Paraná e em 1590 no entorno do pico do Jaraguá, perto da vila de São Paulo.

Até 1822 estima-se que as sucessivas levas de bandeirantes que palmilharam Minas Gerais, Bahia, Goiás e Mato Grosso e lavraram depósitos aluvionares além das atividades de empresas que operaram pequenas escavações e minas produziram cerca de 1200 toneladas de ouro, segundo cálculos de Eschwege, Calógeras e Antônio Olinto dos Santos (CASTRO & SOLLA,1968).

Moraes (1937) reitera que no século XVIII o Brasil foi o maior produtor de ouro, quase atingindo o monopólio na produção mundial. Registros da época mostravam

que entre 1523 e 1835, ou seja, por 311 anos, o Brasil remeteu para a Europa uma média anual 5000 kg de ouro.

Reportam-se a Ferrand (1894) as primeiras tentativas de organizar sistematicamente o estudo dos jazimentos auríferos da região central do estado de Minas Gerais.

Moraes & Barbosa (1939) supervisionaram um grupo de trabalho que reavaliou o potencial aurífero da porção central de Minas Gerais, entre os anos de 1933 e 1939, enfocando galerias e escavações antigas nos distritos auríferos de Caeté, Santa Bárbara, Mariana e Ouro Preto.

Na região de Ouro Preto foram estudadas mais de 350 galerias e escavações, dentre as quais as de Taquaral, Águas Férreas, Mina Tapera dentre outras. Nas proximidades de Mariana foram estudadas as ocorrências do Tesoureiro, Ouro Fino, Morro do Fraga, Bonito, Brumado, etc. No distrito de Santa Bárbara destacaram-se as minas de Santa Quitéria, São Bento, Capoeirinha, Pedra do Judeu, Quebra Ossos, Jambeiro, Bahú, Patrimônio, Pari, além de Pitangui, Serra de Cocais, Trindade, Brumado, Brumadinho, Ouro Fino e Paracatu. Em Catas Altas foram estudados os depósitos de Cata Preta e outros nas imediações de Santa Rita Durão e Fonseca. No Distrito de Caeté foram estudados acuradamente 12 depósitos, dentre estes se citam Juca Vieira, Catita, Caeté, Veremos, Rocinha, Roça Grande, Descoberto, Vira Copos, Carrancas, dentre outros menores com descrição sumarizada.

Heineck et al. (1983) cadastraram cerca de 450 citações de ocorrências auríferas da porção central de Minas Gerais, registrando sua localização aproximada, aspectos geológicos e mineiros das escavações além das referências bibliográficas utilizadas e disponíveis à época.

Com o objetivo de classificar os tipos de mineralizações auríferas de Minas Gerais foram publicados inúmeros estudos sumarizando as principais particularidades dos jazimentos auríferos (Ladeira, 1985b, 1988, 1991; Ribeiro-Rodrigues, 1998b, Lobato et al., 1998;Thorman, 2001; Hartmann, 2001; Lobato et al.2001b; Vial et al., 2007).

Ladeira (1985b, 1988, 1991) descreve as mineralizações auríferas no Supergrupo Rio das Velhas como hospedadas tanto em um metachert carbonático impuro, denominado lapa seca, descrito nas minas de Morro Velho, Urubu, Bela Fama e Bicalho e ainda em formação ferrífera bandada, arqueana, característica dos depósitos Raposos, Cuiabá, São Bento e Faria.

Vieira (1987c, 1988, 1981b) cita além destes tipos acima citados, aqueles relacionados a veios de quartzo que ocupam as porções centrais de zonas de alteração hidrotermal e relacionados à zona de cisalhamento dúctil.

Ribeiro Rodrigues (1998) apresenta tabela que sumariza os tipos de minérios auríferos encontrados na região do Quadrilátero Ferrífero e agrupados segundo seu estilo estrutural (QUADRO 2.25).

As mineralizações auríferas do Lineamento Córrego do Sítio, segundo Ribeiro- Rodrigues (1998) e Vial et al (2007), hospedam-se em rochas metassedimentares arqueanas do Supergrupo Rio das Velhas associadas a zonas de cisalhamento, com a instalação de veios de quartzo com sulfetos. Maiores detalhes serão descritos nos capítulos de Geologia Local e Mineralizações do Lineamento Córrego do Sítio.

QUADRO 2.11(*):

dados até 1996: Quadro modificado de Ribeiro-Rodrigues (1998)

Tipo de depósito Estilo estrutural Hospedeiras Depósitos Mais importantes Idade

(Ga) Ocorrência de Au Tamanho (t Au)

Teor (g/t AU)

Au (t)* Au HOSPEDADO EM DEPÓSITOS CENOZÓICOS

Supergênicos Lateritos Ouro Preto ? Au livre em lateritos ? ? ?

Fazendão ? Aluvionar Cascalheiras Ouro Preto ? Au livre em placer e paleo placer >400 ? 400 Sabará ? Bento Rodrigues ?

Au HOSPEDADO EM ROCHAS METASSEDIMENTARES DE IDADE PROTEROZÓICAS

Shear zone Itabiritos

Gongo Sôco < 2.4 Au livre em discretas ( até 20 cm) zonas de cisalhamento >30 20:80 22 Maquine Cauê Conceição Shear zone (veios de quartzo) Rochas Metas- sedimentares Passagem de Mariana Santana < 2.4 Au em sulfetos >70 6:14 70 Paleoplacer (tipo Witwatersrand ) Meta- conglomerado s Gandarela ? Au livre 0.2 ? 0.2

Au HOSPEDADO EM GREENSTONE BELT ARQUEANO

Stratabound , dominado por

substituição

Lapa seca Morro Velho Bicalho sulfetos Au em >470 8:20 455

FFB e chert Cuiabá, São Bento. Raposos, Faria, Lamego Esperança III, Tinguá, Morro da Glória >2.4 sulfetos Au em >300 8:15 90 Disseminado em zonas de cisalhamento dúctil Rochas metas- sedimentares Córrego do Sítio ? sulfetos Au em >5 2:3 3 Vulcânicas félsicas Morro Velho , Bicalho Bela Fama, Paciência >2.7 sulfetos Au em >1 10:13 1 Vulcânicas máficas Juca Vieira, Pari Cuiabá, Tinguá ? sulfetos Au em >5 8:10 3 Veios de quartzo em zonas de cisalhamento dúctil Vulcânicas máficas Cuiabá ( corpo Viana) Juca Vieira ? Au em sulfetos e ouro livre >1 4 1

Vial et al. (2007) sintetiza que no Quadrilátero Ferrífero há dois depósitos de classe mundial (Morro Velho e Cuiabá), três de tamanhos intermediários (Raposos, São Bento e Passagem de Mariana) além de centenas de pequenos depósitos e ocorrências mais ou menos detalhadas na literatura geológica.

Vial et al. (2007) separa os depósitos auríferos hospedados no Supergrupo Rio das Velhas, de idade arqueana, daqueles hospedados nos Grupos Minas e Caraça, de idade Proterozóica, conforme QUADRO 2.26 abaixo:

QUADRO 2.12

Tabela sinóptica dos estilos de mineralização aurífera da região do QF

Estilo de

mineralização Hospedeiras Principais depósitos Minerais associados DEPÓSITOS HOSPEDADOS NO GREENSTONE BELT RIO DAS VELHAS DE IDADE ARQUEANA

A1 BIF do tipo algoma Raposos, Cuiabá, Lamego; Morro da Glória Farias, Carrapato de Cima, Bruacas, Luis Soares, Boa Vista.

Pirita, pirrotita e arsenopirita.

A2 Lapa seca* Morro Velho, Bela Fama,

Bicalho. Sulfetos maciços

A3 Veios de quartzo em zonas de alteração hidrotermal simétrica

Juca Vieira, Descoberto, Fernandes, e Carrapato de baixo. Pirita A4 Rochas metassedimentares e veios de quartzo

Córrego do Sítio, Moita,

Alto Gago.

Sulfetos

A5 Anfibolitos Pari Sulfetos e camadas de

anfibólios.

A6 Bico de Pedra Sulfetos de metais base

disseminados ou maciços. DEPÓSITOS HOSPEDADOS NOS GRUPOS MINAS E CARAÇA DE IDADE PROTEROZÓICA

B1 Filitos carbonosos e quartzitos do Grupo Caraça, itabiritos do Grupo Minas e quartzo-biotita xistos do Grupo Nova Lima

Passagem de Mariana; Rocinha, Morro Santana, Mata Cavalo, Veloso, Chico Rey, Taquaral, Cibrão e Lavras Novas.

Veios de quartzo com turmalina e arsenopirita.

B2 Itabiritos do Grupo

Minas, tipo Jacutinga Gongo Sôco, Maquiné, Itabira, Taquaril, Antônio Pereira.

Especularita, quartzo, caolinita, óxidos de

manganês, talco e ouro livre. Bonanzas de alto teor em Au.

B3 Conglomerados do

tipo Witwatersrand no Grupo Caraça

Mina Palmital Au livre, pirita, anomalias de urânio.

3

MINERALIZAÇÕES AURÍFERAS EM TERRENOS METAMÓRFICOS

3.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo, o autor sumariza as principais feições dos depósitos auríferos hospedados em terrenos metamórficos, abrigados sob a denominação “Depósitos de ouro orogênico”, no sentido de Groves et al. (1998). Por se tratar de tópico de revisão da literatura, o texto que se segue está em fonte de menor tamanho.

Os terrenos metamórficos constituem zonas complexas onde, por acresção ou colisão, há aumento e/ou espessamento da crosta continental (FIG. 3.1).

Depósitos auríferos podem ser formados em todos os estágios da evolução de um orógeno, e incluem zonas metamórficas que contêm diversos tipos de depósitos auríferos, particularmente aqueles formados, remobilizados e/ou superimpostos durante o evento compressional da orogênese, que modela a geometria final da zona metamórfica encaixante (GROVES et al., 1998).

Depósitos de veios de quartzo auríferos (lode gold) são uma das mais características feições das mineralizações em greenstone belts arqueanos, presentes nos maiores depósitos das grandes áreas cratônicas, a exemplo de Austrália, Brasil, Canadá, Índia, África do Sul, Tanzânia e Zimbabwe (FOSTER, 1984; MACDONALD, 1986; HO et al., 1990; LOBATO et al., 2001 a, b, c)

A formulação deste modelos foi desenvolvida a partir da década de 1970, com a aceitação generalizada da teoria de tectônica de placas.

FIGURA 3.1 – Ambientes tectônicos em que se desenvolvem depósitos minerais epigenéticos. Escala vertical exagerada para permitir a representação esquemática da profundidade de formação dos vários estilos de depósitos

Abreviações: VHMS = volcanic-hosted massive sulfide (sulfetos maciços hospedados em rochas vulcanogênicas).

Fonte: Figura extraída de Groves et al. (1998).