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Homicídios múltiplos

No documento Manual Operacional Do Policial Civil SP (páginas 72-74)

2. Investigação nos crimes contra a pessoa

3.5. Homicídios múltiplos

Com o crescimento desordenado das cidades, as favelas e as habitações precárias ganharam proporção, tanto na zona central quanto na periferia. Seus habitantes, quase sempre oriundos de outros Estados, integram grupo de risco comum nos dias atuais, ou seja, o do homicídio múltiplo, ou chacina, como vulgarmente conhecida a moda- lidade.

Nesses crimes, a ação dos autores é rápida, preferencialmente noturna, tendo como palco, botequins, casebres ou quartos de habitações coletivas. Na quase totalidade dos casos, os motivos dos homicídios múltiplos vinculam-se ao tráfico de drogas, sobretudo dívidas e disputas pelos pontos de venda.

A investigação, apesar de difícil pela escassez de informações, na maioria das vezes é bem sucedida. Os policiais civis da área de narcóticos acabam por esclarecê-los no curso normal de suas diligências.

3.5.1. Homicídios seriados e perfilamento psicológico na investigação

A importância do assunto em epígrafe torna necessária a repetição da lição doutri- nária de José Carlos Gomes, Professor da Academia de Polícia do Estado de São Paulo, que, sobre a questão, assim se manifesta: “Uma nova modalidade surge no Brasil, fala- mos dos serial-killers, que promanam a obscura visão da degradação humana como um sub-produto da civilização hedonista. Ícones da destruição, criam uma simbiose que vai desembocar no aproveitamento sensacionalista da mídia aliada à noção: “homicidas por natureza”, criando uma inevitabilidade do impulso criminoso. Francisco de Assis Pereira, “o Maníaco do Parque”, é um exemplo vivo desse perfil criminógeno, ao matar 9 mulheres e ser suspeito de outras mortes.

Fortunato Botton Neto, “o Matador do Trianon”, matou 7 homossexuais; Marcelo de Andrade violou e assassinou 14 garotos, Leonard Lake torturava e matava as víti- mas, depois gravava em vídeo; Henry Lee Lucas crucificou e estraçalhou 600 pes- soas; Albert de Salvo “o Estrangulador de Boston”, eliminou 18 vitimas; Jeffrey Dahmer esquartejou e comeu os corpos de 15 rapazes; psicopatas que cometem crimes em série, vivem os mesmos estados psicológicos – antes, durante e depois de liquidar suas vítimas.”

Prossegue o renomado professor: “No Estado de Virgínia, na cidade de Quantico, nos Estados Unidos, fizemos um curso na Academia do FBI, no qual estudamos a perso- nalidade do criminoso ao cometer homicídios em série.

De repente, um rapaz pobre, de aspecto comum, virou capa das principais revistas do país. Ninguém conseguia entender como aquele sujeito magro, de 25 anos, barba rala e a cabeça baixa podia ter feito o que fez. Mas ele fez. Responsável pela violação e morte de 14 meninos, Marcelo de Andrade descreveu para a imprensa, com requintes de cruel- dade, cada um de seus crimes hediondos.

Os pais das vítimas não puderam acreditar na frieza com que o psicopata praticou e relatou os assassinatos das crianças. A descrição em pormenores dos crimes é prática comum entre os assassinos que cometem crimes em série, ou seja, várias mortes com a mesma mecânica.

Esses criminosos seqüenciais apresentam um mesmo padrão de comportamento. É possível, a partir de dados colhidos nos locais do crime, obter o perfil psicológico do homicida, uma espécie de radiografia da mente psicótica, que pode ajudar a polícia a capturar o matador.”

Analisando a conduta dos homicidas seriais, alerta o apreciado doutrinador: “Os psicopatas passam geralmente por sete fases, entre a excitação para matar e o arrependi- mento por seus atos criminosos.

A primeira fase é conhecida como áurea. Nela, o psicopata é levado a altos graus de excitação. A compulsão para o crime é irreprimível. Ele sente uma espécie de sede incontrolável. Só saciada com o sangue das vítimas.

Excitado e dominado pelo desejo de matar, ele é arremessado para as ruas. Nada contém o impulso. O criminoso necessita urgentemente aliviar-se da pressão psicológica sobre sua alma inquieta.

Segue-se a segunda fase, a do cerco. O maníaco planeja a abordagem, escolhendo inclusive o cenário para o crime que vai praticar.

Ao contrário do que se imagina, os psicopatas costumam ser pessoas inteligentís- simas. E com sensibilidade suficiente para perceber as diversas reações de suas vítimas. A terceira etapa da psicopatia criminosa: o cortejo. Maliciosamente, atrai a vítima e a seduz, oferecendo coisas que ela gostaria de ter. Para os policiais, esse é um estágio importante para entender como funciona a sua cabeça doentia. O psicopata geralmente não queima etapas, seguindo um ritual completo de aproximação e conquista.

A quarta fase é a da captura propriamente dita. A vítima já foi seduzida, e ele revela suas verdadeiras intenções.

Na quinta fase do processo comum dos psicopatas, esquece sua dor e concentra-se na busca do prazer. Pelo menos, no intervalo do tempo em que está matando.

A sexta fase da mente psicopata é a do fetiche. Resolve guardar uma lembrança do crime. Quase sempre é assim. Alguns até gravam em vídeo seus atos criminosos, como é o caso do americano Leonard Lake e seu comparsa Charlie No. Outros voltam ao local do crime para rememorar. “O Monstro de Niterói”, por exemplo, retornou para “alimentar” o cadáver de um menino assassinado. Francisco de Assis Pereira, ao chegar à mata do Parque do Estado, indicou o local onde se encontrava o corpo de uma de suas vítimas aos policiais que investigavam seus crimes.

MANUAL OPERACIONAL DO POLICIAL CIVIL

Nesse estágio, ele já está passando da sexta para a sétima fase de sua loucura:

a expiação e o arrependimento.”

E encerra a sua lição nos seguintes termos: “Alguns procuram alívio na religião. Marcelo participava de cultos na Igreja Universal do Reino de Deus. Guardava folhetos e livros místicos ao lado de revistas pornográficas gays. Francisco de Assis Pereira, em recente reportagem no programa “Fantástico”, apresentou as mesmas características.

O maníaco não consegue viver com a culpa de seus crimes. Ele precisa se sentir perdoado.

Depois dessa última fase, ele pode passar meses e até anos sem matar. Consegue viver normalmente na sociedade, como cidadão comum.

De repente, volta o desejo de trucidar, esganar, estuprar. E ele volta novamente à primeira fase do processo da psicopatia. Mentes assim não têm cura.”2

No documento Manual Operacional Do Policial Civil SP (páginas 72-74)