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professoras (100%), de ambas as escolas, afirmaram ter uma religião, o que nos leva a concluir que, comparando a outros resultados anteriores, apesar da religião trazer “conforto” e “aceitação” na ocasião da perda, as representações que as professoras possuem do fato da morte não são unicamente influenciadas pela religião.

Também relevante mostra-se a palavra mistério, citada por pais e professoras da escola pública. Segundo Roosevelt Cassorla (2007), o fato da impossibilidade de saber o que acontece com a chegada da morte e o terror que sua proximidade traz, gera no indivíduo outro tipo de sofrimento, o de não saber. E esse não saber é vivenciado com pavor, um vazio que expõe a nossa limitação, pois se nada sabemos nada poderemos fazer. Uma citação para ilustrar o fato: “Tenho medo do desconhecido, morte é escuridão, preto. A sensação que eu tenho é que você está numa luta e perdeu a luta”. Essa citação, remete-se também a citação de Corbucci (2005) que fala a respeito das metáforas usadas pelo senso comum ao lidarem com a morte, as quais reforçam o sentimento da luta do homem contra a morte, mostrando o incessante desejo do homem em não morrer.

TABELA 9. Representações sobre a morte por professoras.

IDÉIAS CENTRAIS PROFESSORAS Pública Particular (N=7) (N=10) TOTAL (N=17) RELIGIOSA

- passagem para uma vida real e definitiva. - vida em outro mundo.

58% 40% 47%

REAL

- única certeza que temos na vida. - perda da vida. 14% 50% 35% MISTÉRIO - é um mistério. 14% - 6% NÃO RESPONDERAM 14% 10% 12% TOTAL 100% 100% 100%

Ainda com relação as representações da morte por professoras, para aprofundar a questão, tivemos a oportunidade de aplicar a técnica de associação-livre no grupo focal (p.127), obtendo os resultados do Quadro10.

É importante esclarecer que essa técnica foi composta de três perguntas:

1) Se lhe digo a palavra morte, quais as seis primeiras palavras que lhe vêm à mente?

2) Para você, das seis palavras citadas acima, escolha três e coloque-as em ordem de importância.

3) Para você, qual o sigificado da primeira palavra escolhida na questão dois? Dessa forma, obtem-se a palavra mais evocada, a mais frequente e a mais importante, como se vê no Quadro 10.

QUADRO 10. Representações da morte por professoras.

PALAVRAS PÚBLICA PARTICULAR

MAIS EVOCADA

(fala em primeiro lugar) Tristeza Perda MAIS FREQUENTE

(as três mais importantes) Tisteza e Perda Dor e Tristeza MAIS IMPORTANTE

(hierarquia de importância) Perda Perda

Daí decorre que, as representações que as professoras, de ambas escolas, possuem estão muito ligadas a sentimentos de perda, tristeza e dor. Nas suas respostas, o sentimento de perda é justificado nas seguintes citações: “Não ter mais algo que você ama, sem explicação e sofrer por isso”; “Saber que você não vai ver mais a pessoa, e ter que conviver com isso”; “Perder alguém muito importante em nossas vidas é como nos tirar a metade de nossa alegria ou se não toda”.

No fechamento dessa atividade, solicitou-se a discussão da terceira questão, com o intuito de explorar e aprofundar as representações sociais que as professoras possuem da morte. Nesse momento, houve grande emoção, principalmente das professoras da escola particular, que expuseram suas vivências com o fato, lembrando casos ocorridos na infância. Na escola pública a discussão foi mais voltada para os

sentimentos que a morte desperta. Pode-se perceber como é importante uma boa orientação e condução do fato na infância, pois como citado na parte teórica do trabalho, uma perda durante essa fase é certamente uma experiência traumática, mas não necessariamente trará danos na vida adulta se a criança receber suportes apropriados.

Solicitamos também, no grupo focal, a representação gráfica do que para as professoras lembraria a morte, conseguindo-se as seguintes respostas. O desenho da cruz foi o mais presente, em seguido nuvens, caixão e o cravo. Quando solicitadas a refletir sobre o desenho, na escola particular, percebeu-se um certo constrangimento das professoras, não sendo possível a discussão. Na escola pública, apenas duas professoras quiseram se expor, uma que desenhou a cruz e o cravo, cita: “Coloquei uma cruz. Cheiro de cravo eu detesto, porque desde criança, tenho horror, só me lembra a morte. E a cruz”. A outra, desenhou um pequeno círculo , pintado de preto com uma seta preta em cima, e com setas, cor de rosa, saindo com palavras: vida, morte, mistério, incerteza; e justifica o seu desenho: “Eu coloquei assim a vida que vai assim no oposto. É assim certeza, mas cheio de incertezas”. Dessa forma, percebe-se que as representações gráficas que as professoras, das duas escolas, apresentaram estão muito relacionadas aos rituais fúnebres, como também com os símbolos religiosos e com os sentimentos que o fato ocasiona.

Nas discussões, provindas do grupo focal, pode-se perceber diversas situações, inclusive ocorridas na infância das professoras, relacionadas a parte teórica desse trabalho, as quais ajudaram na identificação e compreensão das representações sociais da morte, as quais, citar-se-á algumas:

- as fases que os enlutados passam, como a raiva : “Quando meu falecido marido morreu, eu ficava brigando com ele, pra que você foi morrer, eu falei pra você não morrer que você precisa cuidar dos seus filhos...”; Como a agressão: “...essa criança tinha os dias dele de revolta, ele chutava, batia...”

- a mudança histórica de encarar a morte: “É engraçado que tinha na minha cidade, quando morria alguém o pessoal fazia o café, e eu nem conhecia o morto e ia para lá tomar chá”.

- a participação das crianças nos rituais fúnebres: “O velório foi em casa... o menino passando por debaixo do caixão, a viúva chorando no quarto”.

- a negação ao processo da morte: “A médica dizia que ele tava bem...Eles dizendo que ele tava bem e sabendo que não tava”.

- atitudes dos adultos para protegerem as crianças da morte: “Minha avó comprou outra cachorra quando a nina (cachorra) morreu. E ele perguntou: - por que a nina encolheu?...

- o uso de metáforas: “Uma hora a criança vai perguntar. E aí quando voltar? Se for falar que viajou...Se não explicar bem claro que viagem é essa...”

- a banalização da morte: “No Varjão, onde a gente trabalhou é normal. Os meninos ficam contando, normal.Falam morreu, rindo”.

- crianças que não recebem suporte apropriados: “...Eu não fazia idéia..do que eu ia ver...Até aí eu não chorava....Até hoje eu tenho ódio em voltar lá, eu não consigo”. - crianças absorvem tudo que vê, escuta e toca: “...eu percebi algo diferente em casa...eu percebi o que aconteceu, não era para mentir, quando cheguei todo mundo me olhando, tipo: o que é que eu falo? Percebi na hora que entrei em casa”.

- quando o luto não é bem trabalhado e pode gerar a depressão: “... meu pai morreu ela (irmã) reza todos os dias para Deus levar ela, ela não se trata”. “A mãe do meu namorado está sem trabalhar...tá afastada do emprego para se tratar com psicóloga, psiquiatra, toma remédio forte, mas não tem quem faça ela ter ânimo para viver”.

Como verificado, as representações sociais da morte foram se constituíndo de geração à geração, mas de maneira que os indivíduos vão tendo um papel ativo e autônomo de construção desse fato, pois ao mesmo tempo que é influenciado pela sociedade e cultura a qual pertencem, também participam dessa construção com sua percepção e conduta para com o fato, podendo ir modificando muitas de suas atitudes.

É neste nível portanto, que essa investigação procurou desvelar como a precepção da morte e suas representações podem ir se modificando, buscando uma atitude mais humana para os que ficam e para os que se vão.

CAPÍTULO V