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O art. 649, do CPC, apresenta o rol de bens absolutamente impenhoráveis. De acordo com o entendimento de doutrinadores como Theodoro Jr. (2011) e Donizetti (2012), a impenhorabilidade absoluta consiste em bens que não podem ser penhorados em nenhuma hipótese.

Contudo, doutrinadores como Didier Jr. et al. (2010) e Assis (2011) consideram que a impenhorabilidade absoluta, embora conste na redação do caput do art. 649, é aquela que atinge a todos os credores, sem exceção.

Destarte, imprescindível se faz a análise de cada inciso do referido artigo, alterados pela Lei nº 11.382/2006. Dessa forma, são absolutamente impenhoráveis, segundo o art. 649, do CPC:

I - Os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução – Os bens inalienáveis são aqueles que não podem ser vendidos ou cedidos. A inalienabilidade pode decorrer da lei, como é o caso dos bens públicos (art. 100, do Código Civil); ou ainda da vontade das partes, por meio de cláusula de inalienabilidade em atos unilaterais ou bilaterais, como nas doações e testamentos. Assim, se o bem não pode ser alienado, de igual forma não pode ser penhorado, pois a penhora é o primeiro ato do procedimento de alienação judicial do bem (DIDIER Jr. et al., 2010).

II - Os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida – Aqui se cuida da proteção aos bens que servem para garantia de um patrimônio mínimo ao executado e sua família sobreviverem com dignidade. Essa hipótese de impenhorabilidade é regulamentada pela Lei nº 8.009/1990 que prevê a impenhorabilidade do bem de família e estende a restrição aos bens móveis que guarnecem a residência.

Entretanto, ao final do enunciado o legislador impôs limitações a essa impenhorabilidade, permitindo a penhora dos móveis e utilidades domésticas quando verificado que ultrapassam as necessidades comuns indispensáveis a um médio padrão de vida (BUENO, 2010). Como a regra não estabelece parâmetros para verificar o que seriam bens de elevado valor excluídos da impenhorabilidade, o julgador deve analisar o caso concreto, levando em consideração as condições das partes envolvidas, definindo o que excluirá da regra de impenhorabilidade (DONIZETTI, 2012).

III - Os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor – O legislador, ao criar essa hipótese de impenhorabilidade, levou em consideração os mesmos critérios do inciso antecedente, ou seja, resguardar da penhora os bens indispensáveis à sobrevivência digna do executado. Bueno (2010) enfatiza que não se deseja preservar o padrão do executado, mas sim pretende-se garantir a ele um mínimo indispensável a um médio padrão em sua forma de vestir-se e apresentar-se em público.

IV - Os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3º deste artigo – Trata-se de rol amplo e exemplificativo de valores destinados à subsistência do executado, ou seja, qualquer verba de caráter alimentar não poderá ser objeto de penhora. No entanto, o § 2º do referido artigo apresenta exceção à impenhorabilidade de todas essas verbas, para torná-las penhoráveis quando o débito em execução se tratar de uma prestação alimentícia (THEODORO Jr., 2011).

Atente-se que o § 3º mencionado nesse inciso foi aprovado pelo Congresso, mas vetado pelo Presidente da República sob o argumento de que pela tradição jurídica do país as remunerações são impenhoráveis de forma absoluta e ilimitada. Este permitia a penhora de até 40% do total recebido mensalmente que ultrapassasse o valor de 20 salários mínimos, o que de acordo com Didier Jr. et al. (2010) seria muito razoável, pois considerar impenhorável qualquer parcela da remuneração seria inconstitucional por aniquilar o direito fundamental à efetividade, tendo em vista que há profissionais que auferem rendas mensais muito elevadas. Desse modo, com o veto ao aludido parágrafo qualquer valor decorrente de relação de trabalho não é passível de penhora.

V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão – Cuida-se da proteção aos bens necessários para o exercício da profissão do executado. Bueno (2010) aduz que nesses casos o executado tem o ônus de demonstrar que os bens penhorados são utilizados para exercer sua atividade profissional.

Como se pode observar na redação do inciso V, apenas os bens móveis são protegidos pela impenhorabilidade, enquanto os imóveis não são abrangidos pela regra. Da mesma forma, a regra só é válida para pessoas físicas, estendendo-se para pequenas empresas, embora isso não seja explícito em seu texto, de acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, aduzido por Theodoro Jr. (2011).

VI - o seguro de vida – “A razão da vedação repousa no caráter alimentar deste crédito em favor do beneficiário, isto é, quem recebe o pagamento do seguro” (BUENO, 2010, p. 265).

Nesse caso, portanto, há a proteção ao beneficiário do seguro que tem um direito expectativo à importância e não a proteção do segurado, pois o valor do seguro não compõe nem comporá o seu patrimônio.

Em sendo executado o segurado, não se aplica a impenhorabilidade, enquanto que ao ser executado o beneficiário e este já tiver recebido o valor, embora a doutrina seja divergente em considerar impenhorável o montante recebido, entende-se que também não se a aplica a impenhorabilidade, pois a quantia recebida faz parte do seu patrimônio e a regra só abrange o direito expectativo de crédito (DIDIER Jr. et al., 2010).

VII - Os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas – Segundo Donizetti (2012), embora os materiais ainda não empregados na obra sejam bens móveis, o legislador atribuiu-lhes a qualidade de impenhoráveis apenas permitindo sua penhora quando a obra já estiver penhorada. Sustenta Bueno (2010) que se fossem penhoráveis, a realização das obras ficaria comprometida.

VIII - A pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família – Este inciso é uma reprodução do art. 5º, XXVI, da CF/88, que prevê a impenhorabilidade da pequena propriedade rural. Didier Jr. et al. (2010) esclarecem que a sede da moradia rural é impenhorável por força do art. 4º, § 2º, da Lei nº 8.009/1990, sendo que este inciso protege outros bens, como as plantações e os móveis da casa rural. Os doutrinadores ainda acrescentam que a regra do CPC é mais ampla que a da CF/88, uma vez que prevê a restrição à penhorabilidade para execuções de qualquer dívida, exceto para cobrança do crédito concedido para aquisição do próprio bem (art. 649, § 1º, do CPC).

IX - Os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social – Trata-se da impenhorabilidade aos recursos públicos que algumas pessoas jurídicas privadas recebem para investir em educação, saúde ou assistência social, como é o caso das organizações sociais definidas pela Lei nº 9.637/1998 e das organizações da sociedade civil de interesse público (BUENO, 2010).

Salientam Didier Jr. et al. (2010) que somente são impenhoráveis as verbas originadas de dotações orçamentárias de pessoas jurídicas de direito público que tenham específica finalidade de educação, saúde e assistência social.

X - Até o limite de 40 salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança – Este inciso visa excluir da penhorabilidade a referida quantia depositada em poupança com o intuito de dar ao executado uma segurança alimentícia ou previdência pessoal e familiar. Acima de 40 salários mínimos é perfeitamente possível a penhora (THEODORO Jr., 2011).

Acrescenta Bueno (2010) que a lei protege somente a conta poupança e não outros depósitos, como as aplicações, os investimentos e até mesmo a caderneta de poupança utilizada pelo executado como conta corrente. Nestes casos, incide a regra do inciso I do art. 655, do CPC.

XI - Os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por partido político – Este último inciso foi introduzido pela Lei nº 11.694/2008, que dispõe sobre a responsabilidade civil e a execução de dívidas dos partidos políticos, e objetiva principalmente evitar que o partido como um todo seja prejudicado pelas dívidas contraídas por diretório estadual ou municipal (DONIZETTI, 2012).

Esclarecem Didier Jr. et al. (2010) que o Tribunal Superior Eleitoral distribui recursos para o fundo partidário diretamente aos diretórios nacionais dos partidos políticos. Ocorre que quando o diretório estadual ou municipal contraía uma dívida e o Judiciário determinava a penhora de bens do fundo partidário, a decisão repercutia em todo o partido e não somente ao órgão partidário obrigado.

Assim, pela Lei nº 11.694/2008, embora o partido político seja nacional, este foi fracionado entre os vários órgãos que atuam em seu nome no âmbito municipal, estadual e municipal, fixando-lhes responsabilidade exclusiva pelo cumprimento de suas obrigações, ficando assim cada órgão responsável individualmente pelos atos que praticar e sujeitos à execução os recursos e bens penhoráveis que lhe pertençam (THEODORO Jr., 2011).

Enfim, ressalta-se que de acordo com o § 1º do art. 649, a impenhorabilidade só afeta os bens que já foram quitados, permitindo-se a penhora na execução de créditos relacionados à sua aquisição.

Verificadas as hipóteses de incidência da impenhorabilidade absoluta entende-se que sua mais correta definição é aquela apresentada por Didier Jr. et al. (2010) e Assis (2011), ou

seja, de que se trata de bens que não podem ser penhorados por nenhum credor. Adiante, serão estudadas as regras de impenhorabilidade relativa constantes no Código de Processo Civil.

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