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5.3 O Argumento de Inclusão

5.3.2 Implantação e resultados

Para a implantação do AI, foi criado um indicador obtido a partir da divisão da proporção de alunos de escolas públicas inscritos no processo seletivo pela proporção de alunos de escolas públicas aprovados. Esse indicador, ilustrado na Figura 21, foi denominado “Indicador de Desigualdade no Acesso” (IDA).

Figura 21 – Indicador de Desigualdade no Acesso – UFRN

Indicador de desigualdade no acesso =

Proporção de alunos de escola pública inscritos

Proporção de alunos de escola pública aprovados

Quando o indicador é igual a 1,0 mesma proporção ( Desejável) Quando o indicador é menor que 1,0 a proporção inscritosda rede pública é menor que a proporção de aprovadosda rede pública (Desejável) Quando o indicador é maior que 1,0 a proporção de inscritos da rede

pública é maiorque a proporção de aprovadosda rede pública

SITUAÇÃOINDESEJÁVEL Fonte: Cabral Neto (2007, p. 6)

Esse indicador foi calculado para todos os cursos da UFRN, tomando como base os dados referentes ao PS 2004 fornecidos pela COMPERVE. Os principais resultados apontados no relatório da comissão a respeito da análise dos indicadores calculados foram:

 Para os cursos da área Tecnológica, o IDA apresentado foi 1,24, variando de 2,17 para o curso de Arquitetura e Urbanismo, a 0,99 para o curso de Matemática;

 Nos cursos da área de Humanas, o IDA calculado foi de 1,3, com o curso de Direito no patamar de 3,04 e outros 7 cursos (dentre os 43 dessa área) com IDA abaixo ou pouco superior a 1;

 Na área Biomédica não houve nenhum curso com IDA igual ou inferior a 1, e o valor máximo foi encontrado no curso de Educação Física, com 6,1; e

 Na análise global de todos os cursos da UFRN, a proporção de alunos da escola pública inscritos no PS varia muito, desde cerca de 90% para os cursos de Geografia e Matemática, até apenas 13% para o curso de Medicina.

A realidade completa apontada pelo IDA de todos os cursos da UFRN está apresentada a seguir na Figura 22.

Figura 22 – Distribuição dos cursos de acordo com as faixas de Indicador de Desigualdade no Acesso

Fonte: Cabral Neto e Ramalho (2004, p. 36)

Analisando a distribuição apresentada na Figura 22, verifica-se que apenas 9 dos 78 cursos de graduação existentes à época na UFRN apresentavam IDA igual ou inferior a 1, ou seja, a proporção entre alunos inscritos e aprovados da rede pública era aceitável, o que reforçava a necessidade de implantação do AI.

A partir de então foi sugerido que o AI passasse a fazer parte dos PS da UFRN, considerando duas restrições: os cursos que preenchiam pelo menos 50% de suas vagas com alunos da rede pública não seriam objeto dessa política de inclusão, e os alunos somente seriam beneficiados com o AI se obtivessem um argumento final igual ou superior à média do curso. Foram realizadas simulações com os cursos de Odontologia, Ciências Biológicas, Geografia (Caicó) e Direito, sendo que os resultados da simulação desse último curso estão apresentados na Figura 23.

Figura 23 – Simulação do processo de inclusão tendo como base o curso de Direito – PS 2004

Fonte: Cabral Neto e Ramalho (2004, p. 39)

Verifica-se nos resultados da simulação apresentado na Figura 23, que os 13 candidatos oriundos da rede pública que seriam inseridos ocupavam posições de classificação além da 80ª, uma vez que todas as 80 vagas foram preenchidas por alunos da rede privada, sendo o primeiro o aluno com classificação original na 83ª posição e o último na 199ª posição. Cabral Neto e Ramalho (2004, p. 40) concluem a apresentação da proposta de política de inclusão, defendendo as seguintes vantagens potenciais dessa proposta:

 Reconhece o padrão desigual de procura aos cursos por alunos de escola pública e trabalha na perspectiva de ampliar as oportunidades de acesso aos cursos com elevada demanda.

 A médio e longo prazos, contribuirá para um maior estímulo para que alunos de escola pública se candidatem a vagas para os cursos tradicionalmente mais competitivos.

 Não estabelece cotas lineares, o que traria dificuldades para alguns cursos e teria efeito bastante limitado na maioria deles.

 Associa critérios socioeconômicos e mérito, visto que estabelece a necessidade de os alunos atingirem, pelo menos, o argumento médio do curso para ser beneficiado pelo Argumento de Inclusão.

O AI foi implantado a partir do ano de 2005 (PS 2006), com valores diferentes dependendo do curso, de acordo com os resultados das simulações realizadas pela comissão que estudou e propôs sua implantação, conforme demonstrado no Anexo A. A partir do PS 2007 o critério de mérito foi alterado, obrigando o aluno a ser aprovado na primeira fase (provas de múltipla escolha) para ter direito de se beneficiar do AI. Atualmente o AI deixou de ser diferenciado por curso, passando a representar um acréscimo de 10% no argumento final dos alunos beneficiados. Os resultados globais da implantação do AI na UFRN verificados nos PS (Vestibulares) 2006 a 2010 estão demonstrados na Figura 24, e os resultados por curso podem ser verificados no Anexo B..

Figura 24 – Alunos da rede pública aprovados com AI – 2006-2010

Fonte: Elaborado a partir de COMPERVE (2010)

Os resultados apresentados na Figura 24 demonstram a efetividade da política de acesso do AI. Desde o seu primeiro ano, o número de aprovados com o benefício do AI aumentou mais de 2300%, passando de 31 para 765. O resultado do último vestibular (765 aprovados com AI) representou um crescimento de quase 270% em relação ao resultado do vestibular anterior (208 aprovados com AI), devido à alteração no cálculo do AI, que passou para 10% para todos os cursos. Com esse resultado, o AI passou a garantir o preenchimento de cerca de 12% das vagas ofertadas no último vestibular por alunos da rede pública. Em números totais, a

participação dos alunos da rede pública no preenchimento das vagas dos cursos de graduação da UFRN atingiu 42,5% no ano de 2010.

Também cabe ressaltar que o número de alunos da rede pública que requerem o benefício do AI, mas que conseguiriam ser aprovados no vestibular sem a necessidade do acréscimo desse no seu argumento final, tem crescido nos últimos cinco anos, passando de 188 em 2006 para 1012 em 2010, o que representa um crescimento de mais de 400%.

6 CUSTO DE OPORTUNIDADE NA POLÍTICA DE INCLUSÃO SOCIAL

Neste capítulo são apresentados os conceitos e classificações dos custos, apresentando os custos sociais e os custos de oportunidade no âmbito da educação superior, abordando o processo de escolha do curso superior.