Já tivemos oportunidade de mostrar a influência dos transportesna economia
em
geral, poisécertoe reconhecido pela ciência econômica, que o desenvolvimentotécnico dos transportestemum
efeito especialmente importante sôbre o progressoeconômico.Valem ressaltar,aqui asrecentes palavrasdeeminente economista Kenneth Boulding, quando,
em
sua obra"Aná-lisisEconômico",escreveu:"Laamplituddeimercado,es decir, einúmero depersonasque puedenintercambiarentresi, de-pende
em
gran partedelosmétodosdetransporte. Cuando el transporte es escaso,elmercado tienecaraterpuramentelocal;cuandoésbueno,elmercado puedeserhasta universo1 En consequência, los perfeccionamientosdei transporte pue-denhacerposibleelprogressodelosmétodos defabricación y distribuición que, deotra forma, no habriasido factible 42
—
a causa delalimitacióndeimercado. Inclusosin ningun des-cubrimientotécnicoenotras industrias,unamejora enel trans-porte, alpermitir una mayorespecialización, puededar por resultadounprogresotécnicoen estas indústrias,en eí sen-tido de aumentar la produccion por hombre y hora de tra-bajo. Eldesarrollo deitransporte influyeespecialmente sobre el crecimientode lasgrandes urbes. Losmédiosde comuni-cación escasossignifican ciudadespequenas; lasgrandes ur-bes de laactualidad deben en gran parte suexistência al progreso y baraturadei "transporte.
No
es hechocasual el quelasgrandes ciudadesesténen lascostasyrios,yelqueeltransporte poraguaseael másbarato".
Aspalavras doeminente economista inglêstão bem se ajustamàeconomiabrasileira,setivermoso cuidadode apre-ciar as diferentesetapasdesua evolução, atravésdo tempo e doespaço.
Como
nãoé ignorado,ainfluênciadecisivadocomércio português, quetanto se manifestava por intermédio desua aventureiranavegação,foidealtaimportânciaparao desen-volvimento da fasecolonialem
relação àterra descoberta;proporcionouos necessários meios para
uma
exploraçãoda maior parteda costabrasileira,comentrada pelos seusrios navegáveis.
Portugal lembrava a esplêndida Fenícia que, comprimi-da entreo mare a terra, seexpunha à natural tendência expansionista pelavia marítima,eque"para qualquerse
lan-—
43çarpelo
mundo
àfora,requerer-sealgumaindústria ecerta soma demística" (LuciodeAzevedo).Constituiprincípio reconhecidoque"à medida quea ci-vilização progride,diminueaestreitadependênciado
homem
aomeio geográfico" (RobertoSimonsen),cujo progresso civi-lizador é estabelecido por AlfredWeber
"comouma
linha de evoluçãoque, organizandoo saber técnico, confere aohomem um
crescentedomínio sôbrea natureza".Eno caso dasterrasdoBrasil nãofoi outraa manifes-tação civilizadora. Foi, precisamente, através dos meiosde transportes que se veioconstituir a marcha decolonização e éincontestávela suainfluêncianaevoluçãodenossa eco-nomia.
•
A
história registraas muitas viagens realizadaspor Por-tugal,duranteoprimeiro séculodadescobertadas novas ter-rasdoBrasil. Já nofinaldoséculo XVI,reconhecidos os ris-cos da navegação, determinava D. Sebastião, pela lei de 1571, a preferênciados navios portuguêses, nocomércio en-treas colônias de Portugal, que aqueles fossemarmadose viajassemem
comboios,assegurando prêmiospara a constru-çãodenavios. Eramasguerrasdeconquistas,eram as pira-tariasnascostas d'Áfricaqueimpunhamtaisprecauções.Em
tal oportunidade, fála-nos Severim de Faria
duma
viagem ocorridaem
1611, informando-nosque "doBrasilchegouuma
frotaa salvamento e foidas maiores queêsteanovieram.
Eram 74navios,afora os galeões
em
quevinhaa fazendada 44—
nauqueoanopassadolá foiaportar.Trouxeram 21.000 cai-xasdeaçúcar.
Adriano Balbi, atravésdeelementos históricos,focaliza asdiferentes etapasdo desenvolvimento docomércio portu-guês com a sua colônia, o Brasil, fazendo acentuarque a
"balança de comércio entre Portugal e Brasil era quase sempre favorável aêsteúltimo".
Consoantesedepreende, constituiu anavegação o pri-meiro sistema, e, consequentemente, o principal sistema de transportesutilisados parao incrementoda economia brasi-leira,desua colonização.
"Narealidade,escreveuJoãoLuciodeAzevedo,a Amé-ricoeranãosómanancial perenederecursospara otesouro régio, senãotambém o centro
em
tôrno do qual gravitava a vidaeconômicadetôda a monarquia. Delávinham o ouro e osdiamantes; pau brasil, monopóliodo Estado,-o tabaco quejáem
1716 produzia o quinto das rendasdo soberano,-o açúcar e a csoberano,-ourama,quenessa épocaconcorriamparaas receitas do Estado com maisde 200contos.Soma
a que acresciam os direitos de fazendas estrangeiras exportadas para acolônia. Para o Brasil iam os produtos de Portugal europeu edas ilhasdo Atlântico;os queseimportavam da índiaeosescravos deque Angola se sustentava.Da escra-vatura edotráfego para a Américasemantinha a navega-ção". (Aspectosde Portugal Econômico).Não
ésem justa razãoque a nossa história registra a importânciado acontecimento políticoda transplantaçãoda 45FamíliaReal paraoBrasil,o que iria"proporcionar aos bra-sileiros
uma
nova fase de maior autonomia política, jáem
harmoniacom oseupoderioeconômico".Além da poderosa influência exercida pela navegação portuguêsa,
em
tal oportunidade, muito veiorefletira Carta Régia de28 deJaneiro de 1808, do Condeda Ponte, que, abrindo os portos do Brasil ao comércio livre das nações amigas, admitiu que "não só aos Vassalos do Reino, mastambém
os sobreditos Estrangeiros,possamexportarpara os Portosquebem
lhes parecera benefíciodoComércio, eda Agricultura, quetanto Desejo promover, todos e quaisquer gêneros e produções coloniais".Calógeras,
em
"La Politique Monetaire du Brésil", faz ressaltara importânciaquerepresentou "olivrecomérciodas nações amigas", informando-nos que,em
1816, entraramno Rio398naviosdelongo curso,sendo181 portuguêses e217 estrangeirosecomotempofoise acentuandoo número de naviosdeorigemestrangeira,enquantoanavegação de ca-botagemficariaconcentradaem
poder dos portuguêses.Na
Bahia, o Arsenal Real da Marinha da Bahia,em
1811, lançava ao mardiversasembarcaçõesaliconstruídas, comofragata,escunas,bergantimdeguerra eváriasmenores.Em
1818, oMarquez de Barbacena utilizando-sede mo-tor e aparelhos adquiridos à Inglaterra, montou a primeira embarcaçãoa vapor noBrasil,realizandouma
viagem inau-ral a Cachoeira,naBahia, pelorio Paraguassu. Eraa nave-gação a motor, novomarco queseestabelecia,oriundodas 46—
_
realizaçõesdeFulton, naInglaterra,equeiriater
uma
gran-deinfluênciano Brasil,considerada a sua longa costa marí-tima,cuja exploraçãoatéhoje,constituium
sérioproblema.No
exame detodo o possível documentário das reali-zações portuguêsas noBrasil,sabe-sequea administraçãodo ReinodePortugalnãodeixoude demonstrar as suas grandes preocupaçõesem
dotar o território brasileiro deum
certo planodeviação,queadmitissea exploraçãode tôdas as suas regiões,em
relaçãoacujoplanotantos óbices surgiram, difi-cultandouma
açãoeficiente. Ascondições geo-topográficas, aculturasem maior expansão derendas, a inexistência de populaçãosatisfatóriaecapaz,a ausênciadecapital dispo-nível, os sistemas de transportes e meios de comunicações, tudoistoinfluiu poderosamenteparaum
estadode estagna-ção,derendimentoínfimo.Induzirama exploração agrícolae a exploração extra-tiva da colônia dereal proveitocom o aproveitamento dos atalhosseguidospelosbandeirantes,por ocasiãodacaça aos índios,aquesucedeu a construçãodecaminhosque condu-zissem àszonasde mineração. Em tão vastoterritório,era acentuada a pobreza dosistemadeviaçãoterrestre.
O
trá-fegose processava,em
todo o período, através dastropas.Antonil traça,
em
sua obra, as muitas estradas que deman-davam osertão brasileiro, muitoespecialmente na fase da buscadoouro,configuradasaoscélebresroteiros,destacando odo caminho dacidadedaBahia paraasminasdoriodas Velhas,considerado "muito melhorqueodo Rio deJaneiro—
47eda ViladeS. Paulo:porque pôstoquemais comprido, me-nos dificultoso, por ser mais aberto para as boiadas, mais abundantepara osustentoe maisacomodadopara as caval-gadurase para as cargas".
Como
se vê,a tropa era o meio detransporte, geral-menteadotado noBrasil.A
rêdede"trilhos"quecriava,em
sua passagem, nodizer de RoyNash, constituia o sistema venoso porondecirculavao sangue econômicodopaís, man-tendo a unidadedoImpério. Essascomunicaçõeseram boas, más, ou péssimasem
função direta da clemência ou incle-mênciadanatureza, nazona quecortavam.O homem
não sesentiamais responsável pelaconservação desses caminhos.Peiacomposição químicada atmosfera, atravésda mata
vir-gem,na zona das grandes chuvas,as viasde comunicação doBrasiligualavam,
em
precariedade, àspiores do mundo.O
cascodasalimáriasiatransformando a superfícieinstável doscaminhosem
terrívellamaçal.Caía mais chuva eo lama-çal setransformavaem
pântano.Em
certoslugares, com a lamapela barriga,o animal carregadocom cento evinte quilosou mais, tinha que dis-pender, acada passo,uma
energia tremenda. Havia a "es-cada", buracosequidistantes, cavadosa casco no caminho, onde asbestas de carga tinham que ir enfiando as patas para depois, avançando penosamente por sôbre os barran-cosdepermeio, metê-lasdenovoem um
poçodelama, logo à frente. Fora do mato, felizmente, existiam grandes áreas onde, paraa aberturadum bom
"trilho",nadamais era ne-48—
cessárioqueorastrodos animais.
Uma
delaseraazonados pampase a outra onordeste,durantea sêca.Mesmo,porém, no árido Ceará, havia épocasdoano,durante a estação das águas,em
que se tornava quase impossível transitaruma
tropa pelointerior".Os viajantes que percorriam êstes caminhos nunca