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Importa, neste contexto, apreciar os fundamentos da sentença, do recurso e da resposta a este recurso

2. Apreciação do mérito do recurso:

2.3. A reapreciação de direito:

2.3.2. Quanto à reapreciação de direito do dolo e dos limites da indemnização (pelos danos emergentes das obras e dos lucros cessantes da venda do

2.3.2.3. Importa, neste contexto, apreciar os fundamentos da sentença, do recurso e da resposta a este recurso

Por um lado, reapreciando a decisão quanto à consideração da existência de dolo, verifica-se que, apesar de não se poder perfilhar o entendimento da sentença para considerar que o Banco X agiu com dolo intencional ou consciente na celebração do contrato de compra e venda de bem alheio (declarado nulo com este fundamento no processo nº800/16.0T8BRG) com base nos factos indicados, verifica-se que não se encontram provados factos que permitam ilidir a presunção de culpa e de má-fé do Banco X pela venda de coisa alheia, nos termos do art.799º do C. Civil, para afastar os efeitos do art.898º do C. Civil e fazer aplicar o regime da responsabilidade objetiva do art.899º do C. Civil.

De facto, se coubesse ao comprador alegar e comprovar o dolo do vendedor Banco X e se este se definisse apenas através dos artifícios geradores de erros previstos nos termos do art.253º do C. Civil, é verdade que este dolo não se poderia reconhecer com os fundamentos da sentença (com base no facto do Banco X ter tido conhecimento da dedução de embargos de terceiro deduzidos pelas Infraestruturas ... à penhora realizada de um prédio que integrava o pavilhão vendido, extraídos dos factos 17 1 e 16 da sentença proferida no processo nº800/16.0T8BRG, julgada provada no facto 2 desta sentença), tendo em conta:

a) Que o facto 17 da sentença provada do processo nº800/16.0T8BRG, em referência ao facto 16 da mesma, ainda que estes se pudessem aproveitar, apenas refere que as Infraestruturas ... deduziram embargos de terceiro a 25 de julho de 2014 e não referem que o Banco X ou o Banco X foram notificados dos referidos embargos de terceiro. Ora, esta notificação não se pode

presumir judicialmente, nos termos do art.351º do C. Civil, uma vez que os embargos de terceiro são sujeitos a uma fase liminar que apenas é de conhecimento do requerente/terceiro (quer no controlo inicial da

tempestividade, nos termos do art.344º do C. P. Civil, quer na fase posterior de prova, nos termos do art.345º do C. P. Civil), e que, numa segunda fase, as partes primitivas da execução apenas são ouvidas se não houver rejeição dos embargos de terceiro (art.346º do C. P. Civil) e houver admissão dos embargos (arts.347º e 348º do C. P Civil).

b) Que o Banco X e o Banco X são, efetivamente, pessoas jurídicas distintas, conforme decorre das deliberações do Conselho de Administração do Banco de Portugal de 3 e de 11 de agosto de 2014 (28), e do Regime Geral das

Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras, aprovado pelo Decreto‐Lei n.º 298/92, de 31 de dezembro, com as alterações vigentes na data das

deliberações, nomeadamente em introduzidas pelos DL nº31-A/2012, de 10 de fevereiro, do DL nº114-A/2014, de 01.08 e do DL nº114-B/2014, de 4 de

agosto. De facto, a deliberação de 3 de agosto de 2014, às 20.00 horas:

constituiu o Banco X, SA, nos termos do nº5 do art.145-G do RGICSF (ponto 1 da deliberação); transferiu para o Banco X ativos e passivos constantes e não excluídos nos Anexos 2 e 2-A (sendo excluídos do passivo, nomeadamente, as responsabilidades decorrentes de fraude ou de violações de disposições ou determinações regulatórias, penais e contraordenacionais, nos termos do ponto b)-v) do Anexo 2, retificada pela deliberação de 11 de agosto de 2014), nos termos do nº1 do art.145-H do RGICSF (ponto 2 da deliberação); nomeou membros dos órgãos de administração e de fiscalização do Banco X, SA (ponto 3 da deliberação), que não perdeu personalidade jurídica.

Todavia, estando integrado o contrato de compra e venda celebrado entre o Banco X/vendedor e P. M./comprador no domínio da responsabilidade

contratual, em que se presume a culpa e a má-fé da venda de coisa alheia pelo vendedor, por conhecimento ou por dever de conhecimento da alienidade, nos termos do art.799º do C. Civil, importa apreciar se o Banco X ilidiu esta

presunção, alegando e provando factos que permitam concluir que esta venda de coisa alheia não era conhecida por si e que não tinha o dever de a

conhecer.

Ora, esta alegação e prova não foi feita, nem pode considerar-se realizada pelo facto de existir uma autonomia entre o Banco X face ao Banco X, apenas

invocada nesta fase de recurso.

De facto, apesar do Banco X ter declarado vender um prédio rústico, que tinha uma descrição predial própria, que teve a propriedade inscrita em favor do Banco X, propriedade que lhe foi transmitida por força da deliberação do Banco de Portugal de 3 de agosto de 2014 (factos provados, v.g., em III-1.2.1 supra)., descrição essa distinta do prédio expropriado (factos referidos em III-1.2..2 supra), matéria que poderia ser relevante para a ilisão da presunção de culpa ou má-fé, verifica-se: que o Banco X anunciou a venda de um prédio

com uma implantação urbana não constante da descrição predial (factos provados em 6 e 7), foi alertado, pela mediadora, a pedido do interessado comprador do prédio, de que estava anunciado para venda um prédio com um pavilhão e que os documentos do prédio não o tinham indicado (factos

provados em 8 a 10), após o que informou estes, através do seu colaborador, que o prédio a vender estava delimitado por um muro e que o pavilhão fazia parte do terreno, não estando apenas constante da matriz e do registo predial por ter sido construído ilegalmente (factos provados em 11 e 12); que o autor, após receber estas informações, verificou no local a localização e as

confrontações indicadas pelo Banco X, decidiu comprar o prédio de acordo com estas informações e diligências, assinando uma reserva do mesmo com indicação «se for o terreno com o pavilhão» (factos provados de 13 a 17); que a sentença declarou a nulidade do contrato por venda de coisa a alheia,

referida nos factos provados em III- 1.1.- 2 e 1.2.2., por julgar provado que

«19. O prédio referido em 18) corresponde à área onde está implantado o pavilhão tipo industrial, integrando a parcela nº 112 expropriada pela Infraestruturas ...» e que o Banco X tinha intervindo no processo de

expropriação e tinha nomeado à penhora o prédio expropriado numa ação executiva contra executado distinto da expropriante.

Este quadro de factos não permite considerar ilidida a presunção de culpa e de má-fé, uma vez que o Banco X, apesar de ser uma entidade distinta do Banco X, de quem recebeu património em fase de venda, por razões de boa fé-negocial protegidas no art.227º do C. Civil: não estava desonerado de obter informações precisas sobre os contornos dos prédios para venda, que foram da propriedade daquele e que lhe foram transmitidos, sobretudo quando conhecia a discrepância entre o anúncio da venda e descrição predial e matricial do prédio (apenas rústica), e foi alertado sobre a mesma, com conhecimento do interesse do comprador na compra de um prédio com a descrição anunciada (integrada de um pavilhão), prédio esse que se veio a provar-se integrar prédio de propriedade de terceiro; que o Banco X, que tinha intervindo no processo de expropriação do prédio onde se situava o pavilhão industrial e que nomeou à penhora o bem expropriado em processo executivo (como decorre da sentença provada em III-1.1.- 2 e 1.2.2. supra,

nomeadamente factos 1 ss, 16 e 19), tinha informação que permitiria esclarecer as discrepâncias e que podia ser transmitida ao Banco X; que o Banco X, sem alegar e provar que pediu esclarecimentos ao Banco X, de quem recebeu o bem, prestou informações ao autor sobre a composição e

delimitação do prédio a vender, integrativo de área que foi considerada integrada em prédio alheio.

Assim, não se encontrando ilidida a presunção de culpa e de má-fé do

vendedor, nos termos e para os efeitos do art.898º do C. Civil, deve aplicar-se este regime.

Por outro lado, reapreciando a aplicação do regime do art.898º do C. Civil feita na sentença, nos termos como esta norma foi interpretada em III- 2.2.3.2.

supra, verifica-se que o recorrido:

a) Tem claramente direito a obter o ressarcimento dos danos emergentes dos custos das obras (realizadas no prédio ao abrigo dos poderes de proprietário que julgou legitimamente ter adquirido com a aquisição, nos termos do

art.1305º do C. Civil), por os mesmos corresponderem a prejuízos que não teria sofrido se não tivesse celebrado o contrato declarado nulo, estando integrados no âmbito indemnizatório do interesse contratual negativo do art.898º do C. Civil.

Esta indemnização deve ser integral, uma vez que a matéria provada não é suficiente para considerar que existe concorrência de culpa do comprador nos custos com as obras realizadas, mesmo perante a prova que as obras foram feitas em área superior à da escritura (facto 19), uma vez que o registo predial e a matriz predial não fazem prova plena quanto às áreas dos prédios, as áreas registadas podem ser retificadas e não se provou que o comprador tivesse feito obras fora dos limites do prédio indicados pelo Banco X no facto 11.

b) Não se lhe pode reconhecer a indemnização por lucros cessantes

decorrentes do interesse contratual positivo, ao abrigo do regime vigente do art.898º do C. Civil, e sem que as partes tenham colocado à discussão do Tribunal ad quo e ad quem a indemnização pela não convalidação do contrato do art.900º do C. Civil. De facto, o autor/recorrido não pediu lucros cessantes decorrentes das «oportunidades de lucro que (…) perdeu por ter celebrado o contrato e que teria tido se não o tivesse celebrado», próprios do interesse contratual negativo, mas pediu apenas o ressarcimento por lucros cessantes que «teria recebido se, tendo o contrato sido celebrado, viesse a ser

pontualmente cumprido», do interesse contratual positivo (nas definições do acórdão do Supremo Tribunal de Justiça citado), reportados às expectativas de ganho do contrato válido, alegados e provados nos factos 25 e 26 da sentença recorrida.

Desta forma, improcede o recurso de apelação quanto à condenação no

pagamento das obras (ainda que com fundamentos parcialmente distintos dos da sentença recorrida) e procede quanto à condenação pelas expectativas de ganho frustradas, no que se viesse a liquidar (por razões distintas do recurso da recorrente).

IV. Decisão:

Pelo exposto, as Juízes da 1ª Secção Cível do Tribunal da Relação de Guimarães, julgando parcialmente procedente o recurso de apelação:

1. Revogam a sentença recorrida apenas no segmento de condenação do